Problemas, de certo modo injustificáveis, têm surgido na escola superior, que merecem uma análise mais profunda. Certas situações têm levado os alunos a reagir de forma inadequada a uma população que, pelo grau de desenvolvimento físico e mental esperado nessa faixa de idade, deveria apresentar um comportamento mais amadurecido. Leda Massari Macian (1977) [1]
A problemática Universidade-Realidade Nacional insere-se num contexto bem amplo. Os caminhos que podem nos levar a sua solução estão infestados por uma erva daninha que se instalou na terra em que em se plantando, tudo dá. Três são as suas raízes principais: a ideológica, a da ingenuidade e a da ignorância. Analisemos então em que consistem estes paradigmas que locupletam o que podemos chamar A Síndrome dos Três i's.
Com a falência das doutrinas ideológicas que polarizaram o mundo no século XX, emergiu um conjunto de idéias díspares que denotam uma saudável, porém ingênua, preocupação com a recuperação da credibilidade nos sistemas políticos. De saudável realça a procura por uma saída; de ingênuo destaca-se a crença na elaboração de uma ideologia sem princípios. O ingenuologismo congrega os saudosistas do ideologismo que, no decorrer do século, se polarizou em capitalismo de direita, ou falso liberalismo (quem tem dinheiro tem poder) e capitalismo de esquerda, ou falsa social-democracia (quem tem poder tem dinheiro). A dialética ficou restrita à práxis, ou seja, à prática objetivada pela teoria ou à "atividade que precisa da teoria" [2]. Nem mesmo os pseudo-socialistas se deram conta de que o pretenso socialismo científico, a ser válida a receita de seus precursores, deveria se sujeitar a uma constante e indefinida mutabilidade, incentivando desta forma o que poderíamos chamar teorexis, ou seja, a prática da teorização, ou a atividade que precisa da prática, ou ainda, a teorização objetivada pela prática. Não foi à toa que Leandro Konder, um dos estudiosos do assunto, ao perceber esta falha nos princípios da dialética de Engels, comentou: "Como poderiam ser fixadas em artigos as leis de uma filosofia da mudança, de uma concepção do mundo segundo a qual existe sempre alguma coisa de nova sob o sol?" [3]. A bem da verdade, há mais de 60 anos Gramsci [4] observou que este caráter (mutabilidade) estava implícito no que se convencionou chamar filosofia da práxis. É importante que não se confunda teoria (estática) com teorização (dinâmica), assim como não se deve confundir prática (ação qualquer, incluindo a ação irrefletida e inconseqüente) com práxis (ação pensada e portanto adaptada ao espaço e/ou tempo em que acontece) [5]. Não se pode pretender uma revolução (práxis revolucionária) numa sociedade que não esteja devidamente preparada para suportar as conseqüências deste processo; e não se pode confundir revolução com guerra. Não se prepara um povo para uma revolução semeando-se a discórdia, mas sim através da educação. A guerra tem como finalidade imediata o domínio de uns sobre outros; a revolução, por outro lado, presta-se a promover a evolução da espécie humana. Vista sob este ângulo, a práxis revolucionária não é uma ideologia e sim uma opção de ação. Esta opção não se deve tomar sem que se saiba o que deve e o que pode ser mudado; e o que pode e deve ser mudado hoje não se resume a uma disputa de classes, mas é algo que jamais foi sonhado pelo mais pessimista dos filósofos do século passado.
Com raríssimas exceções, os cientistas políticos, tanto de direita quanto de esquerda, a exemplo dos cientistas naturalistas que assimilaram o comodismo consensual de Thomas Kuhn, fossilizaram-se a ponto de observar a nossa realidade com o olhar complacente das estátuas de filósofos mortos há mais de cem anos; e o que se vê hoje nada mais é do que a crise prenunciada por Thomas Kuhn [6] e que se segue ao que ele chama de "período de ciência normal", conquanto os dicionários possuam termos mais apropriados: período de estagnação ou de marasmo. Em meio a estes pseudo-ideólogos mesclaram-se os aproveitadores nada ingênuos, dispostos a transmutar esta má filosofia em oportunistas aplicações da decrépita lei consensual da mídia, ardilosamente e mui injustamente batizada como "lei do Gerson". A lei consensual da mídia nada mais é que a generalização do "oportunismo taticista" de Stalin, conforme interpretado por Leandro Konder [7] a partir dos estudos de Lukács.
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