A space to understand the sacred: the school education process of the religious teaching in Brazil
História: Questões & Debates, Curitiba, n. 43, p. 103-121, 2005. Editora UFPR
O objetivo deste artigo é discutir na perspectiva histórica a crise epistemológica do Ensino Religioso ainda inconcluso no ambiente educacional do Brasil. Mesmo reconhecendo o pluralismo religioso no Brasil, é notável a disputa do espaço escolar pelas tradições religiosas, inferindo na alteração do foco de estudo deste componente curricular. Esta reflexão, articulada a partir do processo de escolarização do Ensino Religioso, demonstra o debate recente e o redimensionamento do objeto desta disciplina. Apresenta a discussão do pensamento e a análise do discurso religioso neste processo, pois a escola é um espaço privilegiado para a compreensão do sagrado em nossa sociedade.
Palavras-chave: sagrado; educação; ensino religioso; escola.
ABSTRACT
The objective of this article is to discuss in the historical perspective the epistemological crisis of the Religious Teaching unconcluded in the educational atmosphere of Brazil. Although recognizing the religious pluralism in Brazil is notable the dispute of the school space by the religious traditions, inferring in the alteration of the study focus of this curricular component. This reflection articulated starting from the school education process of the Religious Teaching demonstrates the recent debates and the new dimension of the object of this disciplines. It presents the discussion of the thought and the analysis of the religious discourse in this process, because the school is a privileged space for the understanding of the sacred in our society.
Key-words: sacred; education; religious teaching; school.
A discussão acerca do religioso ocorre no cotidiano da sociedade, onde nem sempre é possível uma reflexão mais aprofundada. Apenas se percebe a veiculação de colocações do senso comum sem permitir uma maior compreensão das manifestações religiosas que inundam o dia a dia das comunidades. No currículo escolar identifica-se um espaço formal para esta discussão denominado Ensino Religioso. Este componente curricular está presente no ambiente escolar brasileiro desde o século XVIII, inicialmente na perspectiva da instituição religiosa, mas progressivamente vem assumindo o rosto da escola com uma leitura e interação pedagógica integradas no conjunto dos processos educativos que a constituem. A história do Ensino Religioso auxilia na reflexão sobre o objeto de estudo desta disciplina, assim como na identificação de espaços/lugares para compreender o sagrado que se percebem circunscritos ao cotidiano escolar.
O processo de escolarização do Ensino Religioso no Brasil inicialmente ocorreu na transposição do trabalho religioso realizado nas paróquias para o espaço escolar. O modelo caracterizava-se antes de tudo por um código doutrinal (dogma, moral, sacramentos), de verdade sobrenatural diretamente revelada de Deus. O professor, com autoridade dada pela Igreja, utilizava um catecismo de linguagem neo-escolástica. A catequese era concebida, sobretudo, como uma introdução sistemática e orgânica desse complexo doutrinal do catecismo, onde sua finalidade primeira era o conhecimento exato e intelectual das verdades de fé. Essa atividade de catequese se desenvolvia a partir do aprender de memória e no recitar as perguntas e respostas do catecismo oficial. O caráter intelectual ou cognitivo desta catequese era absolutamente dominante, a formulação exata e integral des-te código doutrinal era reservada ao magistério da Igreja e vinha aprofundada pela teologia.
Ao longo dos períodos do Colonialismo e do Império brasileiro (séculos XV a XIX), é efetivado o Ensino Religioso como cristianização por delegação pontifícia, justificando o poder estabelecido. A educação foi implantada e ministrada sob os domínios dos Jesuítas. O governo não intervinha diretamente como primeiro interessado, nem propunha uma filosofia educacional, pois competia aos religiosos, controlados pelo governo, organizar e fazer funcionar o processo de escolaridade e catequização. A grande característica desta fase é uma educação humanista, que se evidencia por ser individualista, centrada nos valores propostos pelo Renascimento, e favorecer a ideologia reinante, empregando métodos tradicionais. O ensino da religião é questão de cumprimento dos acordos estabelecidos entre a Igreja Católica e o Monarca de Portugal. As leis, decretos e instruções em geral põem em primeiro plano a evangelização dos gentios. O caráter disciplinador de toda catequese concorre para a transmissão de uma cultura que visa à adesão ao catolicismo.
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