A origem da mecânica clássica remonta a Galileu. Sua obra contém os principais alicerces sobre os quais se assentou a física newtoniana. As hipóteses fundamentais, a consubstanciarem o que chamamos modelo mecânico newtoniano ou clássico, são três e, da maneira como foram concebidas, logo adquiriram o status e/ou foram promovidas à categoria de leis ou de princípios.
Não tenho a pretensão de esmiuçar a evolução histórica da mecânica, mas, tão somente, resumir os avanços observados, sob uma ordenação lógica, de fácil compreensão e, acima de tudo, focalizar a atenção para possíveis recursos que, de alguma maneira, ficaram perdidos no tempo. Recursos esses, a meu ver, extremamente importantes e essenciais para quem quer que pretenda encarar seriamente a proposta de verificar se ainda há algo a ser desenvolvido em meio ao legado deixado pelos grandes físicos clássicos dos séculos XVII a XIX.
A proposta básica deste artigo será então a de tentar fornecer subsídios para que se possa responder ao seguinte questionamento: Existe algum sentido em procurarmos, hoje, por uma "moderna" física clássica? Acredito que a resposta será positiva e está à espera de ser encontrada em algum lugar do passado, ao vasculharmos o intervalo de tempo compreendido entre a apresentação do modelo mecânico newtoniano e o coroamento do modelo eletromagnético de Maxwell. Mesmo porque, as supostas fragilidades inerentes ao modelo mecânico clássico começaram a se evidenciar no final do século XIX, quando da tentativa de expandir o modelo eletromagnético para a interpretação dos fenômenos recém descobertos e relativos ao microcosmo, o mundo das partículas elementares.
Ao pensarmos em mecânica clássica e, em especial, na sua evolução de Newton a Maxwell, há que se distinguir pelo menos cinco características inter-relacionadas. São elas:
1. O modelo mecânico propriamente dito.
3. A matemática aplicável ao modelo mecânico.
5. O modelo newtoniano no contexto da mecânica.
7. A mecânica no contexto globalizante.
9. O materialismo mecanicista.
Aspectos relevantes e associados a esses tópicos, em especial aos três primeiros, serão abordados neste artigo, a ser complementado por artigos outros a serem escritos oportunamente.
O modelo mecânico newtoniano, enquanto modelo, é uma obra acabada e redutível a três leis de movimento. Estas, por sua vez, sintetizam conhecimentos passíveis de verificação através de experiências nas quais o fenômeno estudado é o movimento de objetos que, de alguma forma, sensibilizam nossos órgãos dos sentidos, diretamente ou através de equipamentos laboratoriais. As leis foram propostas, como hipóteses, sob um clima de realismo transcendental, ou seja, com a pretensão ¾daí a transcendência¾ de que se sujeitassem a uma universalidade espaço-temporal ¾e daí o realismo.
A mecânica genuinamente newtoniana, como veremos oportunamente, é bem mais abrangente, acomodando outras facetas e, até mesmo, pressupostos, a constituírem um verdadeiro pano de fundo a comportar o modelo. As leis, quando interpretadas fora desse contexto globalizante, via de regra denotam uma certa fragilidade. E isso ocorre com muita freqüência, pois o sucesso do modelo, com suas leis, chega a obscurecer o cenário no qual o mesmo teria sido plantado. A não observância do cenário, por um lado, denuncia pseudo fragilidades e, por outro, dá origem a interpretações dúbias.
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