A comunicação é um factor estratégico na transformação de qualquer sociedade. A contemporaneidade proporciona-nos sistemas de comunicação cada vez mais complexos, e que exigem da nossa parte reflexão aprofundada. Neste contexto, a presente comunicação tem por objectivo questionar acerca das implicações do uso das novas tecnologias em rede, como procedimento comunicacional, na dinâmica das relações entre os investigadores da comunidade lusófona. Será que os serviços telemáticos em rede, vulgo Internet, promovem a (in)existência de laços entre os investigadores conduzindo à geração de uma aldeia global da investigação? Esta problemática foi tema central de duas conferências da OCDE em que se reconhecia que as novas tecnologias em rede estão a alterar o modo como os cientistas comunicam entre si. Interessa, portanto, questionar e investigar acerca do que se passa, ou não, no cheio da comunidade lusófona. Deste modo, esta comunicação tem dois objectivos principais: i) reflectir sobre o potencial papel dos serviços telemáticos em rede (Internet) para promover novos laços e/ou consolidar laços já existentes entre os investigadores dos países de expressão portuguesa; ii) apresentar os resultados de um inquérito por questionário realizado junto da comunidade científica lusófona sobre o potencial da Internet ser usada para estabelecer laços e gerar redes sociais. O cerne deste trabalho baseia-se nos resultados obtidos no estudo empírico levado a cabo junto da comunidade científica lusófona. Partindo desses resultados tem-se por objectivo traçar a teia e a densidade das relações. Por fim, considera-se que dada a dispersão geográfica da comunidade científica lusófona seria de todo o interesse reflectir sobre a implementação de serviços digitais específicos que tivessem por objectivo aproximar aquilo que a geografia e, por vezes as vicissitudes históricas, tendem a afastar.
A comunidade científica lusófona tem um património cultural que advém do facto de ser uma comunidade linguística, a qual exerce o papel de plataforma identitária facilitadora da geração de redes de cooperação, investigação e desenvolvimento. A partilha do lastro linguístico, com toda a diversidade e riqueza vivida denota a existência de uma identidade plástica, em que a memória é um património e uma semente.
A Internet e as navegações virtuais criam a possibilidade de traçar caminhos e gerar sítios com potencial para reinventar a identidade, promover a cooperação usufruindo das diferenças como riqueza. Tal como Wolton (2004) sublinha o problema actual da Internet e da comunicação de cariz global não é um problema técnico, esse está ultrapassado, mas sim um problema cultural.
"O mundo transformou-se numa aldeia global no plano técnico, mas não no plano social, cultural e político. (...) Pensar as condições da globalização da informação e da comunicação de modo a que não se torne uma espécie de bomba-relógio." (Wolton, 2004:9-10).
Estamos face ao desafio da coabitação cultural. Esse é também um desafio no seio da lusofonia. Mas, o primeiro passo será o de dar maior visibilidade a esta comunidade no sistema mundial de comunicação e promover o heteroconhecimento dos cidadãos lusófonos.
"Na condição de ex-colônias de Portugal, os sete países de língua oficial comum pouco se conhecem, a não ser a referência sobre mitos e estereótipos difundidos nos meios de comunicação, estilo idêntico propagado na escola, onde se confundem os relatos dos fatos que fizeram a história dos povos com os interesses daqueles que conduzem os destinos das nações; Se, em nossa escola, a referência sobre o Outro enfatiza o período colonial, nos outros membros da comunidade a tónica sobre o Brasil não passa dos limites das grandes navegações." (Vitorino,2003:15).
O hibridismo (biológico, de costumes alimentares, de valores, etc.) esteve presente no processo que levou à geração da ideia de lusofonia, este hibridismo foi promovido pelo corpo, pela presença física no lugar, mergulho no espaço societal físico. E agora? Teremos um mergulho no noos-espaço, na esfera das ideias. Ou, tão simplesmente essa esfera, esse território, continua por materializar, existindo, na melhor das hipóteses arquipélagos (de ideias, de encontro).
Os serviços de comunicação disponibilizados pela Internet têm o potencial de gerar ciber-mestiçagem (sócio-cultural, interpessoal) e promover o heteroconhecimento das comunidades científicas dos vários países de expressão lusófona mas, também, das comunidades lusas espalhadas pelo mundo.
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