A internet como meio facilitador (ou não) da visibilidade internacional da comunidade científica do nordeste brasileiro



  1. Resumo
  2. Introdução
  3. Comunidade Científica e a visibilidade internacional
  4. Comunidade Científica do Nordeste Brasileiro: usos e representações da Internet
  5. Resultados
  6. Observações finais
  7. Bibliografia

Resumo

O objectivo principal deste artigo é apresentar os resultados de um estudo empírico sobre os usos e representações da comunidade científica do nordeste brasileiro a respeito da Internet como meio facilitador da internacionalização do trabalho de investigação realizado pela referida comunidade. Este trabalho insere-se num plano de investigação mais abrangente que tem como meta a geração de um conhecimento aprofundado sobre as implicações cognitivas e sociais do uso da Internet pela comunidade científica do nordeste brasileiro.

Palavras Chave: Internet, Comunidade Científica, Brasil, Nordeste Brasileiro, Internacionalização.

Introdução

Desde o advento da Internet surgiu a ideia de que, sendo um espaço libertário, com sua característica de rede, sem um gerenciamento central, seria este o espaço público mediático desejado por cientistas para atingir um ideal universal e igualitário, onde eles poderiam ver e serem vistos, ler e serem lidos. Este espaço seria para a exposição do discurso de cada um perante os outros como uma Ágora virtual, servindo também para a produção, difusão de conhecimentos, facilitando a coordenação e cooperação de equipas de investigação. Mais que uma simples ferramenta encarou-se a rede como instrumento que potencialmente recria e amplifica a relação entre ciência, tecnologia e sociedade, que dilui as diferenças regionais no acesso e difusão de informação, renova os hábitos de trabalho cooperativo alterando o próprio conceito de grupo que se torna globalmente distribuído, enfim, gerando implicações na inter-subjectividade do cientista no que tange ao ciclo de vida da produção de conhecimento (apropriação, processamento, geração, difusão e discussão) e nas estruturas sociais de organização do trabalho científico, gerando-se novas solidariedades, novos mecanismos de participação, novas formas de democracia, de negociação, de decisão, de cooperação, de sociabilidade que potencializam a emergência de sujeitos colectivos ou de inteligências colectivas conectivas. A Internet representa de um lado um território simbólico abrangente associado à ideia de globalidade, onde se promove a diluição das fronteiras geográficas, enquanto que de outro lado a possibilidade da rede representar territórios individuais e /ou privados, quer a nível grupal, quer pessoal.

Reflectindo sobre o quotidiano da rede, fica claro porém, que, dentro deste mar de informações, onde não existe mais o impacto das barreiras geográficas, emergem novas barreiras que recriam territórios claramente definidos, provocando assim o surgimento de um novo status de exclusão, que reflecte o sistema científico actual e seus excluídos. Observa-se a repetição das estruturas hierárquicas encontradas na Comunidade Científica central, com a existência de Comunidades Científicas que, mesmo nesta nova socio-média, continuam à margem do sistema mundial científico, reforçando seu estado periférico.

Verifica-se que, se em princípio, não existem maiores problemas nas publicações de conteúdo na rede, qualquer cientista, de qualquer lugar do mundo, a qualquer momento, pode publicar seus trabalhos, a posteriori, reproduzindo as leis da comunidade científica tradicional, o real reconhecimento do que é publicado e muitas vezes até mesmo o seu acesso, continuam condicionados a uma série de critérios que, mesmo nesta socio-média, são excludentes, transformando-se em filtros que reproduzem a actual marginalização do sistema científico periférico.

No Brasil, antes da popularização da Internet, em 1985, o relatório ICSOPRU[1]diagnosticou:

Dois fatores ambientais têm influencia clara no desempenho das unidades de pesquisa, ou seja, o tipo de instituição e a região geográfica em que estão localizadas. Alta produtividade, no entanto, não é explicada por fatores institucionais, mas por "geografia" uma condição quase essencial para publicações internacionais é a unidade estar localizada no Estado de São Paulo ou no centro-sul para publicações nacionais (Schwartzman,1985:82).

A reflexão e resultados aqui apresentados têm como base um estudo empírico realizado através de inquérito por questionário efectuado através de correio electrónico junto da comunidade científica do Nordeste Brasileiro vinculada aos programas de pós-graduação das Universidades públicas e Institutos de Investigação desta região.


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