Fides et ratio: notes for a critic to the religious discourse
ABSTRACT
The religious discourse is revealed different in its genesis and performance. The symbolic effectiveness of the language is the base in which we built the world in its social dimension. We recognized more properly in the religious discourse the accomplishment of the symbol in the connection of the sacred with the social plan. We used as example the Encyclical Fides et Ratio in the attempt of recognizing a typology of the pertinent discourse to the specific character of the text and its dynamics in the current history.
KEY WORDS Religious Discourse, Faith and Reason, Religion
O discurso religioso revela-se distinto em sua gênese e performance. A eficácia simbólica da linguagem é a base na qual edificamos o mundo na sua dimensão social. Reconhecemos mais propriamente no discurso religioso a realização do símbolo no enlace do sagrado com o plano social. Utilizamos como exemplo a Encíclica Fides et Ratio na tentativa de reconhecer uma tipologia do discurso pertinente ao caráter específico do texto e sua dinâmica na história atual.
PALAVRAS-CHAVE Discurso religioso, Fé e Razão, Religião.
O objetivo do presente texto é apresentar uma alternativa à análise do discurso religioso. Neste sentido, apresenta como referência a Carta Encíclica Fides et Ratio do Papa João Paulo II, publicada em 14 de setembro de 1998 pelo Vaticano. Essa opção se justifica pela contemporaneidade da discussão sobre Fé e Razão na realidade atual. O contexto do fim do século XX reitera a dificuldade do homem ante as condições de fragmentação do saber e da crença, em um turbilhão onde o malogro entre o permanente e o obsoleto revigora o debate da manutenção dos atuais paradigmas da Fé e da Razão.
A ponte analítica buscada reporta a categorizar o discurso religioso como parte indissociável do sagrado e cerne que evidencia qualitativamente uma autonomia do campo religioso em relação ao plano secular do discurso.
Sendo a eficácia simbólica da linguagem o arcabouço no qual edificamos o mundo na sua dimensão social, reconhecemos mais propriamente no discurso religioso a objetivação do símbolo no enlace do sagrado com a realidade social.
Esta conjunção entre a prática social da religião e o sagrado permeia sobremaneira o discurso religioso tradicional. Note-se que a eficácia simbólica do discurso religioso reside muito mais na apreensão da institucionalidade consagrada dos atos de enunciação do que propriamente no conteúdo que eles propõem.
Por outro lado, reconhece-se que o capital simbólico da Igreja Católica Romana é conhecido e reconhecido mesmo no plano do interdiscurso[1]afora os grupos que a ela estão ligados. Sendo assim, a legitimidade e a autoridade do discurso são proporcionais a este capital simbólico construído e reconstruído em diversos contextos históricos[2]
Quando nos referimos a uma Carta Encíclica, o Sumo Pontífice personifica o poder pleno de enunciar e mesmo agir em nome da Instituição. Ele é a própria Igreja que fala. Há, por assim dizer, um poder fora da palavra que rege o argumento e nos faz conhecer a performática do discurso.
Muito além da pura descrição dos enunciados -que no dizer de FOULCAULT nos remete aos princípios de regularidade de uma mesma formação discursiva e nos possibilita, na construção enunciativa, materializar os conteúdos -, o discurso religioso preconiza uma continuidade através de um sujeito fundador ideal[3]
Assumimos o pressuposto de que todo e qualquer discurso religioso tradicional tende ao discurso da verdade ou para a verdade, sendo esta revestida do caráter de permanência em contraposição à obsolescência crescente do discurso laico.
Assumimos a tese de que o rito da linguagem está intimamente ligado à posição social da autoridade investida, sendo esta o ator da performance pela qual a própria Instituição é reconhecida.
A condição da Igreja Católica Romana diante das questões que a realidade atual constantemente enseja em muito se deve à tentativa de reassumir a mais pura lógica da unicidade da verdade religiosa inculcada pela fé e em muito instrumentalizada pela razão.
Cabe reconhecer que a História da Igreja é permeada por uma dialética entre tradição e missão:
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