Cibercorpo: Interface e (In)Formação



  1. Resumo
  2. Interface e interação
  3. Interface, interação e corpo na cibercultura
  4. Referências

RESUMO

No atual cenário tecnológico, para o qual a interface tem um papel determinante ao possibilitar relações de interação e troca no ciberespaço, discute a emergência do cibercorpo e de um movimento de expansão da consciência, espécie deprojeção dos "eus" nas telas de computador. Sobre a importância da interface, propõe contribuir coma perspectiva de que, na cibercultura, o estatuto de corporeidade física não deve ser abandonado. Enfatiza as possibilidades comunicacionais que existem entre um cibercorpo passível dese desmaterializar e um outro que pode potencializar as redes de comunicação e de interação, territorial e virtual, através da (in)formação.

Interface e interação

Os objetos artificiais que surgem ou são desenvolvidos, desde os primórdios, propõem uma nova ordem para a relação de interação entre o sujeito, a tecnologia e a cultura/sociedade. Ao absorver a funcionalidade e a praticidade desses objetos, enquanto ferramentas ou instrumentos mediadores, o sujeito passa a estabelecer com eles uma relação simbiótica, de interdependência, naturalizando-os ou tornando-os imanentes à própria existência – é instituído e ao mesmo tempo o institui ou vice versa, a partir do magna de significações que constitui o imaginário social (Castoriadis, 1982; Johnson, 2001; Fróes Burnham, 1998).

Pode-se inferir que a técnica e a tecnologia apresentam-se como um aguilhão para o relacionamento entre o sujeito e o meio, pois, na medida em que se faz necessário produzir conhecimento – para o desenvolvimento de objetos técnicos e artificiais – há a necessidade de objetos e processos que possam mediar essa relação de produção de conhecimento. Os objetos e processos, técnicos e artificiais, mediadores para a relação de interação sujeito-meio, da qual se produz conhecimento e se desenvolve, inventa ou aperfeiçoa a própria técnica e a tecnologia, podem ser considerados como interface, ou o que "permite revelar o potencial instrumental de artefatos materiais e comunicativos" (Bonsiepe, 1997:144). É possível, ainda, entendê-los como imagem produtora de sentidos, a partir da relação significante-significado, ao traduzirem-se em (in)formação – utilidade, funcionalidade e comunicabilidade, através da linguagem.

Observa-se a partir das formas de relacionamento e interação que o sujeito estabelece com os seus semelhantes e como meio-ambiente como um todo, a importância que tem a linguagem nas relações sociais e de poder, pois "a linguagem é o software que conduz a psicologia humana" (Kerckhove, 1997:61). A técnica, a tecnociência e ou a tecnologia, enquanto fenômenos de linguagem, apresentam formas de enquadrar o mundo, modificando o modo de ver as coisas – percepção, pensamento e comportamento – através do corpo e sua forma de se manifestar, de Ser no/com o mundo, pois,

"Ao contrário do corpo como propriedade privada de cada um, afirmo que nosso corpo nos pertence muito menos do que costumamos imaginar. Ele pertence ao universo simbólico que habitamos, pertence ao Outro; o corpo é formatado pela linguagem e depende do lugar social que lhe é atribuído para se constituir" (Kehl, 2003:243).

Para a autora, vive-se sob resultados de processos civilizatórios que escravizaram o corpo com normas e regras de como se portar diante das sociedades. Dessa forma, o pertencer ao Outro pode ser compreendido, por exemplo, com um simples pedir as horas a alguém – pertencer comas mínimas ações do cotidiano. Nesta situação, toma-se o corpo do Outro emprestado – o corpo também como uma interface – diante de uma necessidade de sentir-se útil, aceito e digno de merecimento, através da ação solidária do Outro. Isto reforça o papel das tecnologias em fazer sentido, ao instituir que, "[...] se os corpos não existem fora da linguagem, as práticas da linguagem determinam a aparência, a expressividade e até mesmo a saúde dos corpos" (Kehl, 2003:245).

De acordo com o entendimento sobre os objetos técnicos e artificiais, como interface e como imagem produtora de sentidos, e conforme a análise dos níveis de interação técnica que proporcionam[1]é importante agora considerar que as interfaces digitais, de  uma era ciber, promovem mudanças ou transformações no corpo (sujeito/objeto) e nas relações sociais, ao despertarem para uma outra qualidade de participação social – através das possibilidades de (in)formação e comunicação. Para tanto, Considera-se aqui, posicionamentos distintos de autores que abordam o hibridismo humano-máquina, de modo a contribuir para uma reflexão sobre as relações de interação e troca, nomeadamente as relações de produção do conhecimento e de sociabilidade, ao tempo emque pretende sinalizar comuma preocupação quanto ao devir do corpo e do sujeito.

Interface, interação e corpo na cibercultura


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