Este texto trás alguns elementos sobre o entendimento do que são as Novas Relações de Gênero.
Quando se fala em "novas", obviamente, entendo que há "velhas", ou seja: aquelas que precisam ser superadas. Sabe-se, também, que o novo nasce a partir do velho[1]das estruturas cariadas de uma sociedade discriminatória, separatista e negadora de poder para uma parte dela. É preciso considerar, por conseguinte, que para nascer o novo, a partir da sociedade velha que vai sendo negada, é necessário o esforço de viver e constituir novas experiências. Sendo assim, o novo vai se colocando, de forma não tão tranqüila, se sobrepondo ao velho, porque nenhuma mudança/alteração de estrutura é tão pacífica, tampouco se dá de forma espontânea.
Logo, quando se começa a romper com paradigmas sacramentados em boa parte da história humana, temos que olhar para o próprio curso da história[2]para percebermos como é que tal paradigma se constituiu e como podemos fazer para rompê-lo.
Olhando, atualmente, para o mundo contemporâneo se percebe que não é mais possível desconsiderar as mulheres, porque a luta delas as colocou no cenário há alguns anos. E, muitas vezes, se faz de conta que elas estão inclusas, quando se diz "homens e mulheres, companheiros e companheiras", mesmo contra vontades particulares e pessoais. Refere-se às mulheres porque é feio esquecê-las e, a sociedade, já cobra isso. O "normal" foi sempre ignorá-las porque o lugar delas não é o mundo público. Então, agora, ter que citá-las, é um inconveniente por parte de alguns. Parece até que elas se meteram num espaço que estava tranqüilo e causaram o desequilíbrio.
A presença feminina exige uma postura diferenciada, que desacomoda e faz pensar, e, que faz fazer o exercício de se colocar no lugar de. É fácil, até, dizer "homens e mulheres", no entanto, é difícil conceber a idéia de colocar as mulheres no mesmo âmbito de poder que os homens[3]Isto porque: pelo menos nos últimos dez mil anos, às mulheres foi determinado papéis e lugares secundários. Da parte dos homens é cômodo se manterem na posição em que estão. (por que mexer em time que está ganhando?) O lugar é de vantagem. Para as mulheres, da mesma forma, talvez seja mais árduo ainda, a busca por um lugar que parece não ser seu, ocupar um lugar que é seu, mas está ocupado por outro.
Nós mesmas mulheres, muitas vezes acolhemos esta condição particular como se a natureza ou as forças divinas tivessem feito uma divisão de capacidades e papéis, de forma que só nos resta aceitar com submissão a evidente força masculina. (http://latinoamericana.org/2004/textos/portugues/Gebara.htm)
Então, é necessário fazer uma desapropriação do poder roubado[4]Isto significa bulir em algo enraizado, inclusive, como elemento de cultura[5]que questiona o Ser Mulher e o Ser Homem e seus papéis na história.
Questionar o lugar onde se está, exige desacomodamento, atitude sujeita a algum tipo de reação, isto porque, não se aceita mais o lugar de ser menos[6]por parte das mulheres.
O olhar sobre a sociedade é bastante revelador e para as mulheres saírem da posição do ser menos, exige mexer no complexo campo das relações estabelecidas. É neste campo, quando se colocam mulheres e homens, que elas estão como inferiores, incapazes, insignificantes e muitos "IN" ainda e por isto, que é neste mesmo campo que devem haver alterações. Tais alterações vão remexer tanto na esfera da cultura (relações) como da economia (espaço de poder). Consequentemente, a verdadeira mudança rumo ao socialismo para todos e todas, necessariamente, se dará quando se buscará, através da luta popular/social, por um socialismo que inclui as mulheres de fato. É por essa reivindicação de um socialismo que não seja pela metade que elas, no Movimento populares e/ou feministas afirmam que "sem feminismo não há socialismo".
Como já afirmei, anteriormente, o campo das relações é bastante complexo, o qual vai do simbólico à materialidade do cotidiano. Mexer nele, em vista de alterações, é bastante delicado, chegando a ser perigoso. As mulheres, pela sua condição de negação – do ser menos- têm se proposto ao debate das relações com mais ênfase, uma vez que elas buscam a mudança. Elas sentiram a dor de estarem no lugar de inferioridade e desconsideração que as leva á culpa, a submissão e a desqualificação do que fazem como trabalho ou tarefa, ou, mesmo, do que falam que acaba "valendo menos"por vir de uma mulher. Nascer e logo vir a saber-se menos, é dolorido por conta de todas as proibições que vem "naturalmente" da estrutura. Muitas vezes a consciência do saber-se menos dói mais do que a própria condição cotidiana do ser menos, por que a consciência de saber-se começa a exigir postura de cobrança de si mesma, de querer sair dessa para uma outra perspectiva possível, mesmo que não se saiba direito, como é.
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