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As histórias da literatura brasileira de Sílvio Romero e de José Veríssimo podem ser consideradas as mais importantes criações do gênero até o início do século XX. Até então, vários autores já haviam esboçado relatos da produção literária brasileira, dentre os principais, alguns autores (estrangeiros) tomaram a literatura brasileira como um ramo da literatura portuguesa: M. M. Bouterwek (alemão, em História da literatura portuguesa, de 1804), Sismonde de Sismondi (genebrino, Literaturas do meio-dia da Europa, 1819).
Outros já identificavam certa autonomia da produção brasileira e mesmo alguma linha de criação, como Ferdinand Denis (francês, Resumo da história da literatura de Portugal, 1825) e Ferdinand Wolf (austríaco, O Brasil literário, 1863). Os brasileiros também se empenharam na tarefa, alguns analisaram somente a produção poética, como Norberto Silva ("Bosquejo da história da poesia brasileira", em Modulações poéticas, 1841), Gonçalves de Magalhães ("Ensaio sobre a história da literatura no Brasil", na revista Niterói, 1836); outros abordaram a produção literária de modo localizado, como Antonio Joaquim de Melo (Biografias de alguns poetas e homens ilustres da Província de Pernambuco, 1858), Antonio Henriques Leal (Panteon maranhense, 1873) etc.
Outros tantos ainda se limitaram a juntar biografias, nomear um punhado de autores e, principalmente, enfileirar autores sem uma linha de análise que desse coesão à produção em termos de períodos, escolas, estilos, influências e relações com o país e suas condições histórico-culturais. Uma possível exceção, apontada por José Veríssimo (1977: 130), seria Varnhagen -"o instituidor da nossa história literária" -em sua monumental História geral do Brasil, de 1854, e em Florilégio da poesia brasileira, ou coleção das mais notáveis composições dos poetas brasileiros falecidos, contendo as biografias de muitos deles, tudo precedido de um ensaio histórico sobre as letras no Brasil, de 1850 (ROMERO, 1953; VERÍSSIMO, 1977; CANDIDO, 1969; NUNES, 1998)[3].
Sílvio Romero produziu "a primeira visão orgânica das nossas letras" (BOSI, 1997: 281; NUNES, 1998: 230), sendo seguido por Veríssimo que, aproveitando-se da experiência daquele, promoveu uma mais cuidadosa seleção e organização dos autores conforme períodos e estilos. Escritas por críticos de ofício e instrumental, as histórias de Romero e de Veríssimo distinguiam-se por abordar a história literária brasileira com vistas à análise e síntese, compor uma totalidade orgânica a partir da imbricação de todos os seguintes componentes:[4]
I - separação da literatura brasileira da portuguesa, concedendo autonomia -ainda que restrita ou problemática em dado período ou autor -à criação cultural nacional;
II - menção a razoável número de escritores da literatura brasileira;
III - menção a autores não necessariamente prosadores, poetas e teatrólogos, mas cronistas, oradores, críticos etc.
IV - seleção e organização representativa dos autores;
V - organização cronológica, evolutiva e hierarquizada em termos de méritos literários e importância cultural;
VI - visão das obras e de seus autores alicerçada em instrumental teórico-crítico e canônico;
VII - disposição, classificação e agrupamento dos autores de modo a organizá-los em períodos literários, escolas, estilos e fases (dos autores);
VIII - relação da produção literária com a vida social;
IX - visão totalizadora – orgânica -de modo a esboçar, ainda que de modo incipiente, uma explicação do processo de formação (criação, evolução e autonomização) da literatura brasileira como complexo cultural particular.
No que se refere à obra de Machado de Assis, a importância das histórias de Romero e Veríssimo na análise da produção do escritor fluminense reside no fato de abordá-la, de modo amplo e sistemático, a partir de um instrumental teórico-crítico conforme os cânones da época (obviamente adaptados à realidade brasileira), gestados como coroamento do exercício crítico ("amadurecido") daqueles autores e imbricados com as leituras que fizeram da evolução da literatura brasileira -de modo a inserir a obra machadiana no que consideravam ser seu lugar nessa evolução.
A História da literatura brasileira (HLB), de Sílvio Romero, data de 1888; o seu primeiro esboço foi a Introdução à história da literatura brasileira, publicada em 1881 nos três volumes finais da Revista Brasileira (2ª fase). Na 1ª edição da HLB, Machado de Assis não era objeto de análise, era mencionado numa passagem (no 2° volume, página 1233), quando Romero se refere a ele como "o autor de Iaiá Garcia", contra quem havia escrito algo em uma de suas contendas em 1870, em Recife-PE. Machado só passou a fazer parte da HLB a partir da 3ª edição – póstuma, de 1943, organizada e aumentada por Nelson Romero, filho do autor. O filho acrescentou (entre outras mudanças) um capítulo sobre Machado, incluído no último tomo, no capítulo "X -Terceira época ou período de transformação romântica (prosa) – teatro e romance".
Nessa 3ª edição, Machado aparece depois de José de Alencar, Agrário de Sousa Meneses, Manuel Antonio de Almeida, Francisco Pinheiro Guimarães, Franklin Távora e imediatamente após Afonso D"Escragnolle Taunay, praticamente encerrando a análise da prosa literária romanesca e teatral, já que se seguem as "manifestações na prosa" na historiografia e entre os publicistas e oradores, e as "reações antirromânticas", que só se referem à poesia. Assim, Machado de Assis está colocado como o momento final do romance brasileiro. Com isso, o filho quis amenizar o juízo do pai. Nesse capítulo sobre Machado de Assis, Nelson Romero inseriu o texto (sobre o mesmo tema) anteriormente escrito por Sílvio Romero para o Compêndio de história da literatura brasileira, publicado em 1909, em parceria com João Ribeiro -o capítulo do Compêndio foi concebido somente por Sílvio Romero, a partir do texto do livro Machado de Assis (1897), expurgadas as comparações com Tobias Barreto (ROMERO, Nelson, 1954a)[5].
Sílvio Romero foi – e talvez seja até hoje! – o mais duro crítico da obra de Machado de Assis[6]Polemista feroz, vaidoso e ácido, Romero foi temido por sua pena afiadíssima, não economizando nem nos impropérios que julgava necessários; seu desprezo por Machado só era proporcional à sua admiração por Tobias Barreto, sergipano como ele e seu mentor na Escola de Recife. O livro que escreveu sobre o escritor fluminense – Machado de Assis, escrito em 1897 (ROMERO, 1992) -é um trabalho de comparação entre Machado e Tobias, do qual o último é – obviamente – exaltado[7]
Na leitura de Romero -presente na HLB -Machado teve uma evolução "natural", "sem saltos" em sua obra; poeta de "obras muito corretas, mas algum tanto frias" (ROMERO, 1954: 1621-2, tomo quinto,), "plácido" e "tranqüilo", de estilo correto e sóbrio mas sem vida, de um "colorido sem intensos brilhos"; como comediógrafo e crítico, então, seria mesmo inútil de ser estudado: as comédias seriam "contos dialogados", não teriam vida; já as críticas seriam ainda "contos, menos a espontaneidade da narrativa", sem possuir a destreza necessária e nem dominar os sistemas de pensamento científico – essenciais para o ofício (ibidem: 1633).
A produção machadiana digna de atenção seria a relacionada à prosa, na qual vigoraria certo naturalismo, um psicologismo baseado em ironias veladas e num "pessimismo sossegado". "Artista da frase-média", cadenciada, medida (ibidem: 1626), seria um romântico sem coragem de mudar; o humor e o pessimismo -dos quais lançaria mão -seriam algo artificiais, inadequados à nossa psicologia étnica, nosso caráter nacional, este mais propenso ao cômico e avesso ao "desalento mórbido" (ibidem: 1630).
Teria pretensão ao "horrível", do qual teria sido mestre inigualável no Brasil ou em Portugal; entretanto, mesmo nesse quesito, lhe faltaria uma "espécie de impavidez na loucura", da qual Edgar Alan Poe seria perito (ibidem: 1632). Já a ironia, presente em seus livros, teria o gume prejudicado pelo temperamento pacato do autor. Os melhores momentos de Machado seriam aqueles nos quais exerceu o psicologismo, observou os costumes e esboçou tipos humanos; seria grande escritor quando narrador, mas se apequenaria quando metido a filósofo e humorista. Enfim, seria um "moralista complacente e doce" (ibidem: 1637), o que não o teria impedido de ter ficado na literatura brasileira "[...] como prosador, como quem mais fundo, no Brasil, penetrou no romance e no conto os abismos d"alma humana". "Não é pequena glória", o próprio crítico admite (ibidem: 1624).
Nas palavras de Sílvio Romero: "Machado de Assis pode e deve ser também julgado pelo critério nacionalista, que aliás, não reputamos o único critério nestes assuntos", operação da qual o escritor não sairia "amesquinhado" (ibidem: 1619-20). Adverte, porém, que o espírito nacional não estaria na escolha do tema, no assunto, mas na índole, na intuição, na visualidade interna, na psicologia do escritor. Assim, Machado, um "genuíno representante da sub-raça brasileira cruzada" (ibidem: 1620), com sua "índole indecisa", teria produzido uma "obra de mestiço", de brasileiro (ibidem: 1636), que primaria pelo efêmero e pelo indefinido:
O Machado de Assis dos últimos anos era fundamentalmente o mesmo eclético de trinta ou quarenta anos atrás: meio clássico, meio romântico, meio realista, uma espécie de juste-milieu literário, um homem de meias tintas, de meias palavras, de meias idéias, de meios sistemas, agravado apenas pelo vezo humorístico, que não lhe ia bem, porque não ficava a caráter num ânimo tão calmo, tão sereno, tão sensato, tão equilibrado [...]. (ibidem: 1628).
A História da literatura brasileira é o testamento crítico-literário de José Veríssimo: faleceu pouco antes de ver a obra publicada, em 1916. Na dedicatória à memória dos pais -escrita em 1915, uma passagem quase premonitória indicava o caráter de amadurecimento e síntese que o autor legava ao texto: "[...] consagro este livro, remate de minha vida literária". Tais palavras, com o falecimento do autor logo em seguida, adquiriram uma ambigüidade mórbida.
José Veríssimo encerra sua HLB com um capítulo sobre Machado de Assis[8]segundo ele, "escritor que é a mais alta expressão do nosso gênio literário, a mais eminente figura da nossa literatura" (VERÍSSIMO, 1963: 304). A obra do escritor fluminense seria o ápice da literatura brasileira, seu maior prosador e já um "clássico", "o único talvez da nossa literatura" (ibidem: 312). Mais ainda, seria – naquele momento – o maior escritor da língua portuguesa, pois superior até mesmo aos portugueses seus contemporâneos. No juízo sobre Machado, Veríssimo concede uma glória única a um escritor brasileiro (superar os portugueses) que, também, é um atestado de autonomia e maturidade da literatura brasileira: a criatura tornavase superior ao criador, excedia em qualidade os que nos legaram a língua[9]
De modo geral, Machado – segundo Veríssimo (ibidem: 318-9) – teria sido um poeta cuidadoso da forma e "profundeza de sentimento", um crítico sem formação específica, "impressionista", todavia, mesmo "sem ter ofício de crítico", seria "um dos mais capazes e mais sinceros", sensível e respeitoso sem condescendência, bem informado, com uma visão própria das coisas literárias e "desconfiado de sistemas e assertos categóricos". Na parte reconhecida – até pelo próprio Machado -como mais frágil de sua criação, o teatro, afirma que lhe faltariam qualidades, "sobretudo as inferiores", para ter "[...] sucesso na arte inferior que é o teatro" e agradar à platéia, "em sua maioria composta de ignaros ou simples", para os quais não bastariam "as qualidades propriamente literárias" (ibidem: 317-8).
Na prosa, para o crítico paraense, estaria o melhor da produção machadiana. Os primeiros livros teriam "ressaibos românticos", mas Machado não caberia no Romantismo, sua ironia, seu pessimismo, seriam inabarcáveis por aquele movimento literário. Ressalta-lhe ainda o humorismo, a percepção da "tolice e malícias humanas" (ibidem: 315) e o "ceticismo sem desespero do pessimismo benevolente" (ibidem: 312). Memórias póstumas de Brás Cubas, de 1881, que marcaria a ruptura com os resíduos românticos, seria o romance maior da literatura brasileira (ibidem: 314).
Posta como ápice da literatura brasileira, entretanto, não seria a obra machadiana produto de uma acumulação anterior, já que não se encaixaria em nenhuma corrente literária e não teria predecessores: Machado "fez-se a si próprio" (ibidem: 305). Avesso às modas, esse nosso primeiro e único self made man teria heroicamente revolucionado a literatura com uma atitude simplesmente plácida:
Porque este sujeito tímido, apagado, pequenino, modesto, que parecia deslizar na vida com a preocupação de não incomodar a ninguém, de não ser molesto a pessoa alguma, era, de fato um homem com energias íntimas, caladas, recônditas, mas invencíveis. Assim como fazer-se uma posição social, nunca transigiu com a sociedade e suas mazelas, também, nunca, como escritor, condescendeu com as modas literárias que não dissessem com o seu temperamento artístico, ou seguiu por amor da voga as correntes mais no gosto do público. A este pode afirmar-se que não fez em toda a sua obra a menor concessão. (ibidem: 316).
Antes adepto de critérios nacionalistas para o exercício da crítica literária, José Veríssimo assinala na obra de Machado de Assis justamente a dificuldade de aplicação de tais critérios na análise das criações do escritor fluminense[10]Machado, crítico de primeira hora do indianismo (romântico), segundo Veríssimo, não teria "vislumbre de brasileirismo", sua "clara intuição das nossas íntimas peculiaridades nacionais" (ibidem: 312) o levaria a não se distrair com o pitoresco e se ocupar sim com a "alma humana" (ibidem: 310).
O sempre progressivo exercício desta faculdade de análise do ambiente, estreme das suas fáceis representações pitorescas, faria de Machado de Assis não obstante o seu desprendimento do brasileirismo, qual o entendiam aqui, porventura o mais intimamente nacional dos nossos romancistas, se não procurarmos o nacionalismo somente nas exterioridades pitorescas da vida ou nos traços mais notórios do indivíduo ou do meio. (ibidem: 313, grifos nossos).
Machado de Assis, Sílvio Romero e José Veríssimo foram contemporâneos, conviveram – no final do século XIX e início do século XX – no Rio de Janeiro, capital político-cultural da República, e freqüentaram a mais prestigiosa instituição cultural do período, a Academia Brasileira de Letras[11]Os autores marcaram época e fizeram história na literatura brasileira levando adiante os ideais da "Geração de 1870", movimento cultural que teria trazido "um bando de idéias novas" (ROMERO, 1979: 163), no qual a questão nacional teve centralidade (ALONSO, 2002)[12].
Aos intelectuais brasileiros dessa geração, críticos do romantismo e de sua ingenuidade nativista, era imperativo assentar as bases da nacionalidade, fincar os pilares que sustentariam a unidade (nacional) na diversidade e desigualdade reinantes, estabelecendo os liames entre o litoral e o sertão, entre o país aparente e o profundo, entre as "raças" (o branco, o índio e o negro) e entre as diferenças culturais e regionais. Era mister encontrar o que havia de necessariamente comum e culturalmente original, o que nos definisse, caso contrário, persistiria a sina de sermos uma sociedade transplantada, herdeira bastarda (e colonizada) da cultura européia. A literatura, nesse contexto, foi tomada pela crítica como documento histórico e instrumento de afirmação social[13]
A crítica atual aponta na obra de Machado de Assis, além de um "instinto de nacionalidade", certa desconfiança quanto aos rumos da nação e da comunidade possível a partir de uma sociabilidade baseada no favor, na aparência, na dissimulação etc.[14] Já nas leituras de Sílvio Romero e José Veríssimo sobre a obra de Machado nota-se a busca – manifesta ou latente – do ingrediente da nacionalidade, seja na figura do mestiço romeriano, seja na do "herói" literário em Veríssimo.
Sílvio Romero indica em Machado de Assis o âmago e o estigma da nacionalidade, o mestiço Machado é – como o Brasil, com suas "raças" em mistura – algo ainda descaracterizado, nem branco, nem negro, nem europeu, "meio romântico", "meio realista", de "meias idéias", indefinido, impreciso, vago, que, na acidez de Romero, rapidamente descamba (na crítica do gosto) para o insípido. Como o herói Macunaíma -de Mário de Andrade (1978) -não tem caráter, daí o equívoco (generalizado) dos comentaristas ao indicar a repulsa de Romero à obra machadiana; na verdade, Romero não afirma simplesmente a falta de qualidades estéticas como privação de talento ou mau-gosto, observa a ausência de definição como forma essencial do autor e da obra, produto genuinamente brasileiro e mestiço, volúvel, inconstante. Daí, também, Romero afirmar que Machado – como prosador -foi quem mais fundo penetrou na alma humana, o escritor de origem pobre conhecia os meandros da vida pois compartilhava suas mazelas: o mestiço de "índole indecisa" sabia do que falava.
Todavia, se -para Romero – Machado encarnava tão bem o tipo brasileiro e mestiço, por que não encontrou nele as virtudes da alma nacional? Por que não o saudou como o escritor nacional por definição? Porque para Romero a mestiçagem não era o cerne mas o húmus da nacionalidade, a nação se ergueria com a mestiçagem e apesar dela, era uma sina e não uma dádiva[15]
De outro modo, José Veríssimo vê em Machado de Assis o "herói" incondicionado: alheio às imposições "sociais", avesso aos modismos, sem predecessores, indecifrável pelos "critérios nacionalísticos", demiurgo de si ("fez-se a si próprio"). Universal, ocupar-se-ia da alma humana acima de todo traço de brasileiro; incolor -em momento algum Veríssimo faz referência à cor de Machado[16]-e motivo de orgulho, pois não parecia "simplesmente" brasileiro, não carregava os estigmas do seu lugar e da sua origem. Entretanto, Machado não deixava de se identificar com a idéia de nacionalidade projetada na obra de Veríssimo, encarnava a aspiração nacional justamente por destoar do meio, por fazer uso da "linguagem" de modo cosmopolita, porque não se parecia em nada com a nação existente, Machado se tornava – para Veríssimo – ícone da nação pretendida.
Sílvio Romero e José Veríssimo identificaram na obra de Machado de Assis a chave da nacionalidade, seja como fato da mestiçagem (Romero), seja como forma de aspiração ao universal: ambas, cada qual a seu modo, negavam a nação existente e projetavam os anseios daquela geração.
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Trabalho apresentado em conferência no I Colóquio da Faculdade Santa Rita (FASAR) "Machado de Assis, cem anos depois", 2007.
Autor:
Edison Bariani
Doutor em Sociologia pela UNESP, Araraquara-SP
[1] Parte substancial de sua produção crítica foi editada nos volumes Crítica literária e Crítica teatral (ambos publicados no Rio de Janeiro, pela Editora Jackson, em 1946).
[2] Capistrano de Abreu, embora tenha esboçado uma teoria da literatura nacional, é notoriamente um historiógrafo da civilização brasileira - malgrado as finíssimas (e talvez ilusórias) linhas que separam tais realizações -, sendo escassa sua produção como crítico.
[3] Segundo Veríssimo (1977: 130), Francisco Adolfo de Varnhagen não teria se limitado a mencionar nomes, mas se ocupado "[...] da incipiente vida literária da colônia, nomeando obras e escritores de todo o gênero, estabelecendo as suas relações com o meio e as suas dependências literárias, informando de muita coisa que antes dele se ignorava ou sabia mal"; além disso, teria sido precursor de Sílvio Romero quando "[...] nas páginas consagradas á literatura, trata de historiadores, cronistas, oradores, economistas etc. e, até, justamente como o sr. Sílvio Romero, mas trinta anos antes deste, de artistas, músicos, pintores etc." Araripe Jr. também afirmou -em seu estudo sobre Gregório de Matos, de 1894 -que caberia a Varnhagen a primazia no tratamento cuidadoso da história literária brasileira. Tais considerações de Veríssimo e Araripe foram alvo da fúria de Sílvio Romero que, vendo ameaçado seu pioneirismo, respondeu agressivamente, mormente a Veríssimo, em seu Compêndio de literatura brasileira (em parceria com João Ribeiro, 1906); Veríssimo, malgrado sua aversão á polêmica, ostensivamente atacado, retrucou em "Sobre alguns conceitos do sr. Sílvio Romero" (em Que é literatura? E outros escritos, 1906). A polêmica entre Veríssimo e Romero estendeu-se até as sessões da Academia Brasileira de Letras e terá em Zeverissimações ineptas da crítica, de 1909, peça singular de acidez e ira literária de Romero, sua culminância. Acrescentam-se ainda ás principais motivações da notória contenda o apreço de Veríssimo por Machado de Assis e seu desprezo por Tobias Barreto, do qual Romero era discípulo na "Escola de Recife" e o tinha como o maior escritor brasileiro, relegando - de modo sardônico - Machado de Assis a um plano inferior.
[4] Com isso, ressaltamos que outros autores não desconsideraram esse ou aquele componente, porém, nenhum os tomou a todos, menos ainda, de modo articulado. Às "histórias" de Sílvio Romero e de José Veríssimo seguiu-se a Pequena história da literatura brasileira, de 1919, de Ronald de Carvalho, que embora imediatamente posterior áquelas obras, era criação de um escritor da nova geração, que não teve uma experiência literária comum aos outros e que se juntará aos modernistas de 1922 - produzindo, a partir dali, suas obras de maturidade.
[5] Roberto Ventura (1991: 175) julga que a elaboração de Nelson Romero "adulterou" a HLB, sendo imperativo reeditá-la conforme a 2ª edição, de 1902, revista pelo próprio Sílvio Romero. De nossa parte, consideramos legítimas e plausíveis as alterações, vez que reeditam as formulações do autor e vêm a reparar uma grave lacuna da HLB, fruto da juventude tempestuosa de Sílvio Romero; também, reeditando o texto, repõe fidedignamente as considerações do autor sobre a obra de Machado, uma vez que aproveita a análise mais detida (Machado de Assis) e a última apreciação sistemática (capítulo do Compêndio de história da literatura brasileira, 1909) de Sílvio Romero sobre a obra de Machado. Nessa 3ª edição, Aurélio Buarque de Holanda reviu os textos e cotejou com os originais (ROMERO, Nelson, 1954b).
[6] Acompanha-o um escritor muito influenciado por Romero e que, como este, viu em Machado um escritor talentoso, mas "conservador", distante do brasileirismo, "anti-mulato", que "traiu bastante a sua e a nossa realidade": Mário de Andrade (citado por SCHNEIDER, 2005: 219).
[7] Há indícios de que tal animosidade de Romero contra Machado teve início quando este escreveu artigo de crítica sobre a nova geração na Revista Brasileira, em 1879; nele abordou os novos poetas, dentre eles Sílvio Romero (que publicara Cantos do fim do século, 1878), julgando de modo desabonador a proposta teórica e poética cientificista do autor; não bastasse isso, afirmou ser exagerada a importância que Romero atribuía aos poetas ligados á Escola do Recife (Tobias Barreto e Castro Alves). Isso teria estimulado a ira de Romero (SCHNEIDER, 2005: 100-1; VENTURA, 1991: 96; RODRIGUES, 2006), que, entretanto, já havia (em 1870) criticado o romantismo tardio das Falenas de Machado (MORAES FILHO, 1985: 210). Sobre a obra de Sílvio Romero ver ainda: Candido (1978, 2000, 2006), Leite (1969) e Mota (2000), Rodríguez (2006).
[8] O texto data de poucos anos após a morte de Machado de Assis, do qual Veríssimo era amigo e íntimo. Veríssimo esteve ao lado do leito em que Machado agonizava, foi ele que ouviu as últimas palavras do enfermo: "A vida é boa" (MONTELLO, 1986: 208). O crítico, abalado pela morte do amigo, releu toda a obra do escritor e, pouco tempo depois, escreveu sua HLB e o capítulo sobre Machado.
[9] Assim como Silvio Romero, José Veríssimo já havia tido uma experiência (embora positiva) com o crítico Machado de Assis que, na Gazeta de Notícias (do Rio de Janeiro), elogiou um trabalho de Veríssimo (Cenas da vida amazônica, 1886); do Pará, onde ainda residia, Veríssimo escreveu agradecendo a Machado e, anos depois, elaborou artigo exaltando Iaiá Garcia (1878); então foi a vez de Machado escrever-lhe em agradecimento. Quando Veríssimo se mudou para o Rio de Janeiro, procurou Machado em busca de referências literárias e então se tornaram amigos (MONTELLO, 1986: 198).
[10] De início, Veríssimo (como a maior parte de seus contemporâneos) baseava-se em "critérios nacionalísticos" para interpretar a criação literária, tais critérios - em geral - perseguiam as similitudes entre o conteúdo das obras e as condições mesológicas (meio, 'raça', clima, influência no 'caráter nacional' etc.) do país. Mais tarde, enveredará para uma análise crítica mais aberta, um tanto impressionista e com valorização do uso da língua e estilo (PASCHOAL, 2006), dos recursos literários estrito senso, passando então o elemento nacional a ser um dentre outros critérios (BARBOSA, 1974, 1977). Há indícios de que a própria obra de Machado tenha sido fato marcante para a mudança de atitude do crítico.
[11] Um panorama cultural do período pode ser encontrado em Broca (1960, 1991), Renault, (1987), Bosi (1997), Sevcenko (2003) e Ventura (1991).
[12] Entre os intelectuais dessa geração estavam, entre outros: Tobias Barreto, Joaquim Nabuco, André Rebouças, Rui Barbosa, Clóvis Beviláqua etc.
[13] "Se, para Sílvio Romero, o padrão de julgamento de uma obra literária é a nacionalidade, para Veríssimo esse padrão é a linguagem. Com as devidas diferenças, o raciocínio é o mesmo: a literatura é considerada como representação fiel de uma realidade maior que a condiciona, seja ela a nação, conforme o quer Sílvio Romero, ou a língua, como o quer Veríssimo" (VELLOSO, 1988: 241, grifos da autora).
[14] Ver algumas leituras da obra machadiana, entre outros, de Bosi et al. (1982), Faoro (1988), Schwarz (1990, 1992).
[15] Em suas palavras: "1ª -O povo brasileiro não corresponde a uma raça determinada e única; 2ª -é um povo que representa uma fusão; é um povo mestiçado; 3ª -Pouco adianta por enquanto discutir se isto é um bem ou um mal; é um fato e basta" (ROMERO, 1953: 133, grifos nossos). Lembremos ainda que Romero partilhava da idéia de Gobineau de "desigualdade das raças". Para uma visão do cientificismo e questão racial em Sílvio Romero, ver Ramos (1953, 1957) e, para um exame da questão racial na ciência brasileira do período, ver Schwarcz (1993).
[16] O crítico, porém, quando aborda outros autores, freqüentemente faz referência á cor deles: Tobias Barreto é caracterizado como "mestiço impulsivo e malcriado" (VERÍSSIMO, 1963: 242), Cruz e Souza é o "negro bom, sentimental, ignorante, de uma esquisita sensibilidade" (idem, 1977: 232).
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