Falar da construção de igualdade de gênero remete a um olhar para a trajetória das mulheres, e, como elas foram se colocando na história, visto que por muito tempo foram consideradas seres inferiores e incapazes. Para saírem da invisibilidade e do espaço considerado secundário, foi e é preciso luta, resistência e organização. Este artigo está dividido em três itens, fazendo, primeiramente uma breve contextualização, em seguida aborda mulheres construindo o feminismo rumo a superação das desigualdades e, por último, mulheres camponesas e a busca por igualdade. A tentativa é enfocar a luta das mulheres do campo, de forma especial, considerando a contribuição do feminismo no processo de libertação. Abordar-se-á o campesinato, como forma de vida e trabalho e, também, o patriarcado[1]pois este último está, intrinsecamente, ligado á existência da sociedade de classes.
Abstract: Talking about the construction of gender equality takes us to a look at the women's trajectory and how they have positioned themselves in history, once they have been considered inferior and not capable for a long time. In order to go out from the invisibility and that secondary position, it was and it still is necessary fighting, resistance and organization. This article is divided into three items: firstly, it has a brief contextualization; soon after, it approaches the way women are constructing the feminism aiming to overcome inequalities and, finally, it is about the peasant women and their search for equality. The attempt is to concentrate on the fights of the women who live in the field, considering, specially, the feminism contribution to the process of liberty. The article focuses on the peasant life and work, as well as the patriarchate, because it is intrinsically linked to the existence of a class society.
Palavras-chave: Gênero, patriarcado, igualdade, mulheres e feminismo.
Segundo Gebara (2001), as mulheres são consideradas seres para os outros, ao passo que, os homens, são considerados seres para si mesmos. Ora! Quantas pessoas consideram normal que as mulheres, com sua "docilidade", nasceram, mesmo, para servir? E, que quando se negam a cumprir tais funções estabelecidas "naturalmente", são consideradas revoltosas e mal- amadas? Dentre as pessoas que concordam com esta "normalidade", estão muitas mulheres, o que parece ser uma grande contradição. Entretanto, Freire (1989), deixa muito claro quando afirma que a mente do oprimido hospeda o opressor. É isto, em via de regra, o que acontece com grande parte das mulheres: acabam sendo vítimas e, ao mesmo tempo, reproduzem a sociedade machista.
A alusão à construção de igualdade entre homens e mulheres, desde já, mostra que foram dados passos importantes por parte delas. Tanto é que, agora, já sabem que podem e são dignas de igualdade. Por outro lado, se existe a busca por igualdade é pelo fato dela, objetivamente, não existir por mais que, legalmente, isto é garantido. Para Mészáros (2002), a igualdade entre os seres humanos, em se tratando tanto de classe quanto de gênero, no capitalismo é impossível.
Nessa perspectiva, o que está colocado não é uma questão que leva ao desânimo, mas, ao contrário, à possibilidade de reflexão e de não aceitação da sociedade tal qual. Logo, se a sociedade em que se vive é, essencialmente, capitalista, este é um motivo relevante e substancial para que as mulheres desencadeiem e continuem na luta para a superação das desigualdades que sofrem, na sociedade desigual.
Levando em consideração as contribuições dos autores e autoras acima citados (as), a tentativa é de um olhar para a história, na perspectiva de entender como surgiu e porque continua a desigualdade entre homens e mulheres.
Segundo MMTR/RS(1995), em primeiro lugar, é preciso dar-se conta que a sociedade nem sempre foi desigual, com opressão sobre as mulheres. Com o estabelecimento do patriarcado que a opressão e a exploração sobre as mulheres se constituíram, se enraizaram e se perpetuam até os dias atuais. Contribuindo na reflexão, Muraro (2000), fala da existência da sociedade matrilinear, ou matriarcalista, onde as mulheres eram, inclusive, endeusadas e reverenciadas. Segundo a autora, o período matrilinear compreende o maior tempo da história da humanidade. Sendo assim, a opressão sobre as mulheres é algo bastante recente, compreendendo 0,5% da existência humana.
De antemão, é preciso reconhecer, também, que o capitalismo aprofundou, ainda mais, o jugo sobre o sexo feminino. Desses últimos dez a vinte mil anos de patriarcalismo, enquanto mulheres, se tem muita poeira para ser retirada, em vista de retomar aquilo que lhes foi expropriado. E, Gebara assim diz:
O que propomos é uma coisa que ainda não existe, por isso é utopia e por isso é preciso trabalhar no nível pequeno. Propomos uma reapropriação do nosso poder, de nosso poder roubado. Não se rouba só casa. Não se rouba só terra, se rouba poder. Rouba-se poder quando se convence outros que eles não tem mesmo poder. Isto é roubo, diminuição. Nós mulheres não queremos entrar na estrutura da diminuição (...) queremos, reapropriar-nos de um poder que nos constitui (GEBARA, 2001, p. 67).
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