Universidade e Especialização: O Ovo da Serpente

Enviado por Nildo Viana


  1. A Importância da Categoria da Totalidade
  2. Universidade e Divisão do Trabalho Intelectual
  3. Referências Bibliográficas

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Iremos, no presente texto, apresentar uma discussão acerca da relação entre universidade e especialização, isto é, entre as instituições de ensino superior e o processo de especialização profissional e intelectual. Para realizar isto iremos colocar o caráter da divisão social do trabalho em nossa sociedade e discutir a divisão do trabalho intelectual derivada dela e os problemas gerados por ambas no sentido de se ter uma compreensão da totalidade dos fenômenos, o que significa realizar uma discussão epistemológica. Também abordaremos a inserção da universidade no interior desta problemática e o que pode ser feito diante do quadro apresentado.

A Importância da Categoria da Totalidade

A compreensão da realidade social e natural é um processo que requer que procedimento intelectual? Sem dúvida, a categoria de totalidade e a visão do todo são fundamentais. Hegel destacou isto através de sua célebre frase: ao ver a árvore pode se perder de vista a floresta. "O verdadeiro é o todo", disse Hegel (1992, p. 31), mas a totalidade em Hegel ainda é metafísica, o que não lhe retira o mérito de ter destacado sua importância para a consciência humana.

Marx irá considerar a totalidade da forma mais adequada, colocando-a como uma das categorias fundamentais de seu método dialético, que ele também chama, em algumas passagens, de concreto (Marx, 1983) e é daí que alguns pensadores irão falar de "totalidade concreta" (Kosik, 1989). Mas Marx vai além disso, pois não só enfatiza a necessidade de chegarmos a uma totalidade concreta, de reconstituirmos o fenômeno pela mediação da abstração e descobrir as suas determinações, e assim compreendermos sua manifestação concreta, histórica, determinada, como também apontou as raízes históricas do abandono da visão da totalidade concreta.

A divisão social do trabalho é a chave para compreender a visão parcial e limitada da realidade. Não é sem motivo que Marx e Engels (1992) identificaram o nascimento da ideologia com o surgimento da divisão entre trabalho intelectual e trabalho manual. É somente com esta divisão social que os trabalhadores intelectuais poderão pensar que as idéias, a consciência, são autônomas, independentes. É o caso da filosofia, que só se torna possível quando a produção material permite que alguns indivíduos se dediquem tão-somente ao trabalho intelectual (Viana, 2000a). Daí a importância das idéias na filosofia platônica. Assim, a divisão social do trabalho faz nascer uma visão limitada da realidade, pois o indivíduo envolvido nestas relações passa a ver o mundo a partir de seu modo de vida, de seus valores e relações sociais oriundos daí. As representações cotidianas são expressões das relações sociais que os indivíduos travam em sua existência, o que significa que relações sociais limitadas (submetidas à divisão social do trabalho) produziram representações limitadas, ilusórias.

Na sociedade capitalista isto se agrava. Com o processo de ampliação cada vez maior da divisão social do trabalho, temos um indivíduo cada vez mais especializado. Na sociedade capitalista temos não só uma divisão entre trabalho intelectual e manual como uma divisão no interior do próprio trabalho intelectual. A divisão social do trabalho intelectual significa a formação de trabalhadores intelectuais que se dedicam apenas a determinados fenômenos, utilizando determinadas teorias, métodos e técnicas. Estes trabalhadores intelectuais formam categorias profissionais, com interesses próprios, com modos de vida próprios. Assim, a divisão social do trabalho intelectual possui uma base social, a categoria profissional, e uma base intelectual, a tradição da ciência na qual se fundamentam os profissionais de uma determinada área (abrimos um parêntesis aqui para explicar que entendemos por tradição científica uma determinada ciência particular – a biologia, a química, a física, a sociologia, a economia, a psicologia, a lingüística etc.). Esta dupla base acaba reforçando a especialização. O intelectual perde a visão do todo, vê apenas a árvore e nunca a floresta.


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