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A Telemática no desenvolvimento de projetos pedagógicos: vivências da educação especial no CRPD (página 2)

Teófilo Alves Galvão Filho

Também como projeto cooperativo, foi criada uma Lista de Discussão para os alunos e professores do Programa, onde são debatidos diferentes assuntos, relacionados ou não aos demais projetos desenvolvidos.

Outro projeto cooperativo recente foi o início da publicação on line do "Jornal do CRPD", que já existia na versão impressa há 4 anos, cuja pauta, diagramação e redação é de responsabilidade de um grupo (aberto e variável) de alunos, com o acompanhamento de duas professoras do Programa.

Todos esses projetos cooperativos têm sido desenvolvidos tanto em forma presencial, com também à distância, através dos recursos telemáticos. Como destacam Almeida e Fonseca Junior, é justamente com esses projetos cooperativos e telemáticos que a educação se apropria de um dos recursos mais humanizantes das Novas Tecnologias. Enfatizam que:

A grandeza da informática não está na capacidade que ela tem de aumentar o poder centralizado nem na sua força para isolar as pessoas em torno da máquina"... "A grandeza da informática encontra-se no imenso campo que abre à cooperação. É uma porta para a amizade, para a criação de atividades cooperativas, para a cumplicidade de críticas solidárias aos governos e os poderes opressores ou injustos. Enfim, as redes informatizadas propiciam a solidariedade e a criação e desenvolvimento de projetos em parcerias. (ALMEIDA e FONSECA JÚNIOR, 2000)

III - Interação e aprendizagem através da construção de homepages pessoais

Em consonância com essa filosofia e metodologia de trabalho, a aprendizagem através de projetos, chegou-se, no início do ano de 2001, à proposta da construção e lançamento na rede das páginas pessoais e trabalhos dos alunos (ver em www.infoesp.net).

Se apresentará aqui, de forma mais detalhada, o desenvolvimento desse projeto, iniciado como uma modalidade de projeto individual, mas que gerou, e continua gerando, interações ricas e diversificadas, que aportam significativamente no crescimento e aprendizado dos alunos.

Inicialmente, o objetivo principal era proporcionar-lhes novos canais de comunicação e interação com diferentes pessoas. Mas, no decorrer do caminho, verificou-se que essas expectativas foram ultrapassadas. Diversas outras realidades e possibilidades se foram abrindo, ampliando expressivamente o leque de metas e resultados que foram sendo alcançados.

Foi possível perceber três momentos bem diferenciados no desenvolvimento desse projeto:

O primeiro momento foi todo o processo de construção das páginas. Nessa etapa, houve uma dificuldade inicial decorrente da falta de uma noção mais clara, por parte dos alunos, sobre o que significava a rede e quais as possibilidades e alcances reais da Internet. Embora todos os alunos envolvidos no projeto, uns mais, outros menos, já houvessem começado a ter alguma experiência na rede, vários ainda não percebiam, de forma mais clara, suas dimensões, possibilidades e recursos.

Naquele momento, com apenas um computador do laboratório conectado (hoje temos 13 computadores com acesso à Internet), procurou-se intensificar, na medida do possível, suas oportunidades de interação na rede.

E foram começando a surgir as idéias de cada um, para as suas páginas.

No processo de construção propriamente dito, além do aprendizado gradativo na utilização do software específico para montagem de homepages, percebeu-se que os alunos começavam a trabalhar, intuitivamente, com conceitos de diferentes domínios. Desde as decisões iniciais sobre cores, fundos, layout, organização de textos e imagens, gifs animados, até o conteúdo dos assuntos tratados em cada página, segundo as preferências e opções de cada um.

Foi possível verificar, na prática, a rica experiência de um aprendizado interdisciplinar, normalmente presente no processo de construção de conhecimentos através de projetos. Nesta fase também foi possível constatar a importância, para o aprendizado, das interações, tanto entre os alunos, quantos entre alunos e professores.

Um segundo momento importante foi quando cada aluno colocou no ar a sua página. Poder acessá-la já na rede, e ter na mão o endereço que a personalizava e a situava como um espaço só seu, foi um momento crucial em termos de crescimento da auto-estima, de sentimento de vitória, de sucesso e realização pessoal, na medida em que ficavam satisfeitos com os resultados dos seus esforços.

Um dos resultados mais evidentes e imediatos desse sentimento, nessa etapa, foi a motivação renovada e ampliada para o estudo e aprendizado por parte dos alunos, acelerando o seu processo de desenvolvimento.

Nesse momento, procurou-se evidenciar para os alunos que a publicação das homepages era apenas mais uma etapa concluída, e não o ponto final do projeto. Desejou-se também deixar claro, para quem acessava às páginas, que o objetivo principal não era alcançar uma suposta "perfeição", nem ortográfica, nem estilística, nem estética, mas sim o prazer da comunicação e da interação.

Os alunos têm sido estimulados a que, em decorrência de seus próprios processos de aprendizagem, façam, gradativamente, eles mesmos as correções e melhorias em suas páginas e trabalhos, o que tem gerado um processo continuado e permanentemente inacabado, como todo o processo de desenvolvimento humano.

A terceira etapa é a que se refere às conseqüências e resultados da publicação e a continuidade do processo interativo: os alunos iniciaram, então, diversos novos relacionamentos, através das trocas de e-mail.

A partir do lançamento e divulgação das páginas, várias mensagens começaram a chegar para os alunos, de diferentes cidades e estados. Era o "feedback" que cada um recebia, e que fazia com que "re-visitasse" a sua própria página com um novo olhar.

Para alguns, foi a oportunidade de compreender, de forma mais concreta, os alcances e possibilidades reais da Internet e da publicação de sua página.

Por exemplo, um aluno recebeu um e-mail de uma pessoa do sul do país, elogiando o seu trabalho, as suas iniciativas e idéias, divulgadas em sua homepage. Ele ficou muito contente com a mensagem, mas perguntou à sua professora:

"Mas por quê essa pessoa escreveu para mim?..."

Sintomaticamente, essa pergunta revelava uma percepção ainda parcial e incipiente do aluno, sobre o alcance e possibilidades de repercussão de sua publicação. A partir das mensagens recebidas e das perguntas que os alunos começavam a se fazer, era possível perceber seus progressos na construção de uma percepção mais ampliada e realista do sentido e possibilidades da telemática, da comunicação via Internet.

E continuam a chegar diversas outras mensagens, todas com repercussões positivas para cada um. Aqui alguns exemplos de trechos dessas mensagens, enviadas de diversos lugares, para diferentes alunos:

"A tua vida serve de exemplo para muitas pessoas que se acham "normais", mas desistiram de lutar, sufocados e desanimados pelas amarguras da vida..."

"Gostei demais do teu texto e da tua página em geral [...] Peguei um desenho animado que está na tua página e dei o arquivo para minha filha..."

"[...] fiquei maravilhada com sua vida e história de amor..."

"Amei o site do CRPD e a sua página está linda. Vou fazer propaganda para os meus amigos internautas..."

"Sou mãe de um menininho de 6 anos muito especial como você[...] Gostei muito de sua página[...] Se precisar de alguma ajuda, é só mandar um e-mail."

E assim, diversas outras mensagens. Não é difícil imaginar a ressonância das mesmas no interior de cada aluno que as recebia...

A repercussão desse novo canal de comunicação e interação para os alunos, já vem trazendo reflexos positivos em todo o processo de aprendizado e desenvolvimento de cada um. A renovada motivação para o aprendizado, o aumento da auto-estima, o desejo de comunicar-se mais e melhor, enfim, são alguns dos frutos desse projeto em construção. Como exemplo disso, parece significativo esse pequeno texto, escrito por um aluno, aqui reproduzido literalmente, sem correções:

"AMIZADE NA INTERNET. Eu fico muito feliz quando recebo e-mail de pessoas mim dando parabéns pela a minha página na internet. Quando recebo os e-mail eu leio e respondo e assim eu faço amizade na internet. essas pessoa gostam do trabalho e acham interessante, eu mim sinto importante."

Todo este caminho aponta para a necessidade de dar prosseguimento e aprofundamento cada vez maior ao trabalho, que, por sua própria metodologia e filosofia, preenche uma lacuna entre as atividades essenciais para o desenvolvimento e autonomia da pessoa portadora de necessidades educacionais especiais, em nossa comunidade, num mundo que cada vez mais exige do cidadão uma participação ativa e criadora.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Fernando José de e FONSECA JÚNIOR, Fernando. Aprendendo com projetos. Brasília, PROINFO/MEC, 2000.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo, Ed. 34, 1999.

GALVÃO FILHO, Teófilo A. Educação Especial e novas tecnologias: o aluno construindo sua autonomia. Revista INTEGRAÇÃO, Brasília, MEC, ano 13, n. 23, p. 24-28, 2001.

PRADO, Maria Elisabette B. B. O uso do computador na formação do professor. Brasília, PROINFO/MEC, 1999.

Anais do III Congresso Ibero-Americano de Informática na Educação Especial, Fortaleza, MEC, 2002.

 

Autor:

Teófilo Alves Galvão Filho

teofilo[arroba]infoesp.net

teogf[arroba]ufba.br

Mestre e Doutorando em Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), especialista em "Informática na Educação" e engenheiro. É coordenador do Programa InfoEsp das Obras Sociais Irmã Dulce, professor universitário e membro do Comitê de Ajudas Técnicas da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, da Presidência da República - CORDE/SEDH/PR

www.galvaofilho.net



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