Sartre e o marxismo

Enviado por Nildo Viana


  1. Resumo
  2. Sartre: o projeto e a liberdade humana
  3. A crítica pseudomarxista a Sartre
  4. Limites do existencialismo de Sartre
  5. Marxismo: para além do determinismo e do voluntarismo
  6. Referências

RESUMO:

O presente texto apresenta uma análise do pensamento de Sartre em sua relação com o marxismo, abordando suas teses, as críticas dos pretensos marxistas a ele, bem como a refutação destes, além de apontar os limites e contribuições deste filósofo ao marxismo. A conclusão geral é a de que o existencialismo sartreano fornece uma contribuição importante ao marxismo e deve ser, assim, reavaliado pela teoria marxista, principalmente a sua análise da liberdade e do projeto, elementos fundamentais da filosofia de Sartre.

Palavras-chave: existencialismo, marxismo, projeto, liberdade, alienação.

Sartre and Marxism

ABSTRACT: The article analyzes Sartre"s thought in its relationship with Marxism. It discusses his theses, the critique by the would-be Marxists to him, as well their refutation of these. Additionally, it points to the limits and contributions of this philosopher to Marxism. The general conclusion is that Sartre"s existentialism makes an important contribution to Marxism and should, therefore, be reassessed by Marxist theory, particularly his analysis of freedom and project, which are essential elements of Sartre"s philosophy.

Keywords: existentialism, Marxism, project, freedom, alienation.

Sartre é considerado por muitos como o principal filósofo existencialista e desenvolveu um conceito-chave para a perspectiva existencialista: o conceito de projeto, que é onde ele encontra a expressão da liberdade humana. Sartre apregoa a liberdade humana. O homem, segundo Sartre, está condenado a ser livre. Veremos aqui as relações entre a concepção existencialista de Sartre com o marxismo. Em primeiro lugar, iremos fazer uma breve exposição da concepção sartreana; em segundo lugar, iremos apontar como algumas concepções pretensamente marxistas avaliaram o existencialismo sartreano; em terceiro lugar, iremos analisar critica-mente estas concepções; em quarto lugar, iremos apontar os limites do existencialismo sartreano; por fim, buscaremos resgatar o conceito de projeto e a idéia de liberdade em Sartre numa perspectiva marxista.

Em síntese, o objetivo do presente artigo é demonstrar que não existe incompatibilidade entre a idéia de liberdade em Sartre e a concepção materialista histórica de Marx, pois esta possui um caráter libertário. Partimos da perspectiva marxista para analisar a filosofia sartreana, e, por isso, se justifica a breve análise que faremos de dois dos principais autores considerados "marxistas" que dedicaram obras para analisar o existencialismo e também a análise dos limites do existencialismo sartreano, pois isto possibilita compreender mais adequadamente as relações de concordância e discordância entre marxismo e existencialismo. Por isso, não iremos abordar a totalidade das obras e textos de Sartre ou de Marx, mas apenas aqueles que são úteis para a discussão delimitada acima. Assim, a nossa problemática está circunscrita ao problema do determinismo e voluntarismo na relação entre marxismo e existencialismo, pois é aí que encontramos a ponte entre as duas concepções e a possibilidade de assimilação do existencialismo pelo marxismo.

Sartre: o projeto e a liberdade humana

A concepção determinista do ser humano coloca-o como um ser enclausurado na prisão da vida psíquica, da sociedade, do organismo ou qualquer outra. Jean-Paul Sartre questiona radicalmente este determinismo e declara a existência da liberdade humana.

O primeiro passo determinante na elaboração da concepção sartreana se encontra em sua obra O Ser e o Nada – Ensaio de Ontologia Fenomenológica (Sartre, 1998). Nesta obra, Sartre irá questionar a distinção entre ser e aparência. Para Sartre, o ser é o que se apresenta imediatamente, e, desta forma, ele postula a identidade entre ser e aparência contra a dicotomia entre ambos. Ele apresenta, em vez desta dicotomia, uma distinção no interior do próprio ser: o ser-para-si e o ser-em-si. O ser-em-si é o que é, algo bruto e preso em si mesmo, ou seja, é imanência. O ser-para-si é transcendência. A consciência contém em si uma abertura, sendo um "ser para o futuro", "espontaneidade criadora".


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