18 Brumário, política e pós-modernismo



  1. Resumo
  2. Teoria social versus história
  3. Dois princípios explicativos
  4. Os discursos e seus tipos
  5. A primazia do econômico
  6. Aparência e essência
  7. Referências bibliográficas

The Eighteenth Brumaire, politics and postmodernism

RESUMO

A maioria das interpretações contemporâneas das análises de Karl Marx sobre a política européia da segunda metade do século XIX têm, em comum, a supressão de toda menção à "economia" e sua substituição, ou pela autonomia da política, nas versões heterodoxas, ou pelo caráter performativo da linguagem, nas versões pós-modernas. Neste artigo, sustenta-se que há n'O 18 Brumário de Luís Bonaparte uma interpretação da política que pode ser reduzida, do ponto de vista teórico, a dois princípios explicativos da concepção materialista da história: a primazia do econômico e a oposição entre essência e aparência. O artigo se propõe a verificar a incidência desses postulados naquele texto.

Palavras-chave: Karl Marx; O Dezoito Brumário de Luís Bonaparte; Materialismo Histórico; Pós-Modernismo.

ABSTRACT

Most contemporary interpretations of Karl Marx's analyses of European politics of the second half of the nineteenth century share both the suppression of all references to the "economy" and its substitution either for the idea of the autonomy of the political (in heterodox views), or for the idea of the performative aspect of language (in post-modern views). This article argues that Marx's Eighteenth Brumaire of Louis Bonapart contains an interpretation of politics that can be reduced, from the theoretical point of view, to two explanatory principles of the materialist conception of history: the primacy of economics, and the opposition between essence and appearance. The article seeks to verify the incidence of these two fundamental propositions within that text.

Keywords: Karl Marx; The Eighteenth Brumaire of Louis Bonaparte; Historical Materialism; Postmodernism.

Uma das questões centrais da Sociologia Política marxista é a das relações entre "política" e "economia". Como é amplamente conhecido, o trabalho de Marx, O 18 Brumário de Luís Bonaparte, tem sido celebrado como o texto canônico a respeito desse problema teórico e a retomada desse livro, na virada dos anos 1960 para os anos 1970, permitiu ao neomarxismo avançar em muitas direções novas: no desenvolvimento, por exemplo, de uma teoria do Estado contrária ao "instrumentalismo", que rebaixava as complicadas ligações entre as classes economicamente dominantes e o aparelho estatal a uma relação de controle estrito do segundo pelas primeiras; na reformulação de uma teoria da ideologia contrária ao "mecanicismo", que deduzia dos movimentos da economia a configuração e a função das superestruturas culturais; e na compreensão do problema das classes sociais contrária ao "economicismo", que definia as primeiras exclusivamente em função da sua inserção no processo produtivo. Essa manobra intelectual contra a ortodoxia tornou-se mais legítima à medida em que se reconheceu (na verdade, à medida em que não se ignorou mais) a prioridade das questões políticas nas "obras históricas" de Marx.1 No que diz respeito ao problema do "Estado" e das suas relações com a "sociedade civil", já em 1960 Maximilien Rubel sugeria que se considerasse o fenômeno do "bonapartismo" – precisamente: a autonomia que o aparelho do Estado francês desfrutava em relação à sociedade francesa na segunda metade do XIX – como correspondendo à idéia que Marx fazia do Estado capitalista em geral, e não como um fenômeno político particular.2

No final dos anos 1960, menos a aversão ao economicismo reinante e mais uma reação contra o desinteresse sistemático pelas questões relativas ao poder e à política na problemática marxista (de resto o traço básico do "marxismo ocidental"3), foi fundamental para repor o problema do "Estado" numa nova chave interpretativa. Ela deu aos neomarxistas a oportunidade para enfocar o nível jurídico-político (diante do nível econômico), o aparelho do Estado (em relação à "sociedade civil") e a prática política (frente à atividade econômica) enquanto objetos de conhecimento distintos. O retorno do Estado à cena intelectual foi provocado também pela tentativa desse marxismo renovado em responder teórica e empiricamente aos desafios postos pelo comportamentalismo da Ciência Política e da Sociologia norte-americanas. Esse movimento "revisionista" acabou por refletir também sobre o mainstream, retirando, de um lado, o assunto do domínio exclusivo dos estudos jurídico-constitucionais e, de outro, enfatizando, a partir de então, a diferença do conceito de "Estado" do de "governo" dos pluralistas. Como recordou Leo Panitch, "Within political science and political sociology, one of the legacies of the new Marxist theory [of the state] was actually that the state was firmly reestablished as part of the conceptual lexicon for the study of contemporary politics".4 No que diz respeito à teoria marxista, foi precisamente a partir dessa virada que ela deixou de ser filosofia e crítica da cultura para tornar-se novamente "teoria social, teoria sobre a sociedade contemporânea e sobre a política do nosso tempo".5


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