Lênin e os meandros da questão camponesa



Resumo:

Com o surgimento de movimentos agrários significativos no Brasil, e em outros países da América Latina, a questão camponesa volta novamente à cena, imbricada agora com temas de identidade cultural, ambientais, de distribuição de recursos naturais e de utilização de novas técnicas agrícolas. Observando, ainda, que as grandes revoluções sociais do século XX contaram com o campesinato como um ator decisivo e considerando que Lênin foi o primeiro autor dentro do marxismo a esmiuçar essa questão, o objetivo geral deste trabalho é acompanhar a reflexão desse autor sobre a questão agrário-camponesa, através da análise de seus escritos mais importantes sobre este tema, entre os anos de 1893 e 1923.

Palavras-chave: questão camponesa, capitalismo, revolução.

Abstract

With the emergence of significant agrarian movements in Brazil and other Latin American countries, the issue peasant back again on the scene, have now with themes of cultural, environmental, distribution of natural resources and use of new agricultural techniques. Noting also that the great social revolutions of the twentieth century accounting for the peasantry as a decisive actor and considering that Lenin was the first author of Marxism within the investigate this issue, the general aim of this work is to monitor the reflection of the author on the subject -peasant agriculture, through analysis of their most important writings on this subject, between the years 1893 and 1923.

Key words: peasant issue, capitalism, revolution.

Lênin (1870-1923) foi o primeiro autor dentro do marxismo a pensar de forma mais resoluta a questão agrária e camponesa. Observando que seu pensamento influenciou ou influencia as propostas de alternativa social, política, econômico e/ou cultural existentes, de diferentes formas e conotações, torna-se relevante analisar sua obra para buscarmos sua importância ou não para a reflexão atual, uma vez que a questão da terra se coloca de forma recorrente.

Com o surgimento de movimentos agrários significativos no Brasil, e em outros países da América Latina, a questão camponesa volta novamente à cena, imbricada agora com temas

de identidade cultural, ambientais, de distribuição de recursos naturais e de utilização de novas técnicas agrícolas. Ressaltando, ainda, que as grandes revoluções sociais do século XX contaram com o campesinato como um ator decisivo e considerando que Lênin, segundo Florestan Fernandes (1978, p.07) foi um autor "[...] que produziu ou alimentou as revoluções do século XX – dentro e fora da Rússia", uma pesquisa sobre a evolução de seu pensamento a propósito da questão agrária e camponesa oferece uma contribuição importante para a ciência política.

No marxismo, a questão agrária se apresenta de duas maneiras: como análise das relações de propriedade e de produção vigentes no campo, que seria a questão agrária no sentido estrito; e como uma análise das estruturas sociais, onde o campesinato se apresenta de três formas, como uma classe em transição, ou como uma classe que provem da ordem econômico-social feudal que continua a existir no capitalismo, ou ainda, como uma classe social de transição entre a burguesia e o proletariado -classes fundamentais do capitalismo. Esta última forma da questão agrária pode ser apresentada como questão camponesa. Segundo Hegedüs (1984) a formulação da questão agrária e camponesa no marxismo se relacionou com as tendências constituídas dentro do socialismo europeu em torno da controvérsia que se convencionou chamar "Debate sobre a Rússia". No entanto, podemos observar alguns apontamentos sobre o papel do campesinato em Karl Marx (1977, p. 208; p. 277), quando este apontou a situação dos camponeses na França em 1848, no texto O 18 Brumário de Luís Bonaparte:

(...) as velhas forças da sociedade se haviam agrupado, reunido, concertado e encontrado o apoio inesperado da massa da nação: os camponeses (...) que se precipitaram de golpe sobre a cena política depois que as barreiras da Monarquia de Julho caíram por terra. (...) na medida em que existe entre os pequenos camponeses apenas uma ligação local e em que a similitude de seus interesses não cria entre eles comunidade alguma, ligação nacional alguma, nem organização política, nessa medida não constituem uma classe. São, conseqüentemente, incapazes de fazer valer seu interesse de classe em seu próprio nome, quer através de um Parlamento quer através de uma convenção.

De tal modo, em um primeiro momento, as observações de Marx (1977) com relação ao camponês conservador fizeram com que, no decorrer do século XIX, o movimento operário e socialista do Ocidente, nas suas fases iniciais, praticamente deixasse de lado a questão agrária e camponesa. O campesinato era visto como uma camada social em vias de extinção proveniente da ordem feudal que sucumbiria na medida em que o capitalismo se revelasse.

Destarte, os estudos de Marx e Friedrich Engels sobre a guerra da Criméia (1853-1856) trouxeram ao debate marxista questões relevantes à situação russa e conseqüentemente sobre o campesinato, visto que a massa camponesa constituía a maior parte da população desse país. Essas reflexões abriram caminho para o debate com os intelectuais russos, os narodiniks. Segundo Neto (2006) em torno desse debate se caracteriza a repulsa de Marx de entenderem sua reflexão n"Capital sobre os processos de desenvolvimento para a Europa Ocidental, como modelo único.


Página seguinte 



As opiniões expressas em todos os documentos publicados aqui neste site são de responsabilidade exclusiva dos autores e não de Monografias.com. O objetivo de Monografias.com é disponibilizar o conhecimento para toda a sua comunidade. É de responsabilidade de cada leitor o eventual uso que venha a fazer desta informação. Em qualquer caso é obrigatória a citação bibliográfica completa, incluindo o autor e o site Monografias.com.