Este ensaio procura analisar a conjuntura política mundial a partir dos últimos fatos ocorridos nos EUA onde, no dia 11 de setembro de 2001, as cidades de New York e Washington foram alvos de ataques de "pseudos" terroristas. O ensaio propõe-se discutir, igualmente, o conceito de "terrorismo de Estado" que vem sendo implantado pelos EUA nos últimos 50 anos em diversas regiões do mundo. Para justificar tais atos, os EUA utilizam os conceitos "democracia", "intervenção humanitária", "paz universal" e "liberdade duradoura" para legitimar ideologicamente sua prática de dominação.
PALAVRAS-CHAVE
Democracia, Terrorismo, Terrorismo de Estado, Intervenção
As fortes imagens do desabamento das torres do World Trade Center e os gritos de horror oriundos das milhares de vítimas agonizantes e dos sobreviventes que fugiam atônitos ainda ecoam em nossas mentes. Passados mais de trinta dias do acontecido , especulações, suposições, perguntas e acusações surgem na mídia e nos centros universitários do globo: a quem se poderia atribuir a autoria do atentado? Qual seria a razão para um ato de tamanha crueldade? Quais seriam os motivos para justificar o ódio implacável a toda a nação americana? Por que Osama bin Laden, juntamente com o regime Talibã, estão sendo acusados de serem os autores do atentado sem nenhuma prova concreta até agora? Os EUA já teriam motivos suficientes para atacar o Afeganistão? Perguntas complexas para respostas hipotéticas...
Não se pode analisar o atentado aos EUA meramente sob a ótica da emoção e do romantismo. É preciso contextualizar os fatos e perceber que o que ocorreu no último dia 11 de setembro, é uma conseqüência direta das práticas arbitrárias e unilaterais da política externa norte-americana. Nos últimos 50 anos, houve inúmeras intervenções, assassinatos, financiamento de armas e apoio aos mais infames ditadores, tudo planejado pela CIA e patrocinado pelo governo dos EUA. Tais atos sempre foram justificados ideologicamente em nome da "democracia", da "intervenção humanitária", da "paz universal" e, agora, para justificar a operação militar contra o terrorismo, o lema dos EUA é Enduring Freedom (Liberdade Duradoura). Neste sentido, o atentado terrorista não se justifica, mas, seguramente, se explica. Os atos de terrorismo de Estado são em nada menos criminosos do que a chamada - por muitos, unilateralmente - "barbárie terrorista".
2.1. Uma história de intervenções no mundo
Inicialmente, a própria história da formação dos EUA é, no mínimo, controvertida, pois os americanos invadiram e tomaram a metade do México. Foram-se infiltrando no Texas e, após dois anos de guerra, com a capital tomada, o México teve que entregar o Texas, a Califórnia e o Novo México em 1848.
Em 1898, os Estados Unidos depuseram uma rainha do Havaí e simplesmente o anexaram.
Em Cuba, escondendo-se na Doutrina Monroe, os Estados Unidos intervieram na guerra da independência de Cuba contra a Espanha (reforçaram o pretexto fazendo explodir um velho navio seu no porto de Havana e acusando a Espanha como culpada). Dessa guerra resultou a anexação de Porto Rico e das Filipinas. Em 1961, exilados cubanos anticastristas, apoiados pelo governo de John Kennedy, invadiram a Baía dos Porcos, em Cuba, numa tentativa fracassada de derrubar Fidel Castro. Em dezembro de 1986, no Panamá, depois de fracassadas tentativas de depor Manuel Noriega, o presidente George Bush enviou 24 mil soldados ao país, derrubou o governo e empossou Guillermo Endara, eleito em pleito anulado por Noriega.
Os EUA intervieram militarmente inúmeras vezes em países latino-americanos com o objetivo de defender seus interesses econômicos e políticos. Esta política intervencionista foi denominada Big Stick (Grande Porrete) e iniciada pelo presidente Theodor Roosevelt. Já na década de 1980, em meio a uma onda de intervenções em países da América Central, numa luta de forças entre a esquerda e a direita, na qual os EUA insistiram em se envolver militarmente, o presidente Ronald Reagan enviou tropas à ilha caribenha de Granada, com o "objetivo" de impedir a expansão do comunismo na América Latina.
A política intervencionista de Ronald Reagan gerou 30.000 vítimas na Nicarágua. Tudo foi organizado, armado e financiado com a cumplicidade da máfia do narcotráfico à campanha dos "contras" nicaragüenses. Na Guatemala, mais de 200 mil pessoas, indígenas na maioria, foram exterminadas, sem que jamais algum meio de comunicação do mundo tivesse noticiado. Os guatemaltecos não foram assassinados por nenhum fanático muçulmano, mas por militares terroristas que receberam o apoio financeiro e inspiração dos sucessivos governos dos EUA.
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