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Uma relação com a linguagem e práticas discursivas que não se restringe apenas ao ponto de vista explanatório, explicativo, definitivo e absoluto (instrucional) mas, ao contrário, como atividade provisória, tipicamente humana, de (co)laboração de sentidos (interacionista). Ou seja: como uma maneira culturalmente característica da vida social das mulheres, homens e crianças.
A principal descoberta dos terapeutas sociais é a de que a pessoa só obtém verdadeiro auxílio emocional na medida em que ela se encontra sinceramente engajada na (co)laboração coletiva DE/EM um grupo clínico.
A terapia social da atuação concebe portanto o processo terapêutico como uma modalidade muito particular de atividade clínica: a (co)laboração DE/EM grupo. O terapeuta relaciona-se com o grupo enquanto um Coletivo, ou seja, como uma unidade clínica desenvolvimental que está a criar-se e a recriar-se continuamente a si mesma.
O pressuposto fundamental da terapia social da performance ou atuação é a natureza sócio-histórica e cultural da emocionalidade humana – sua dimensão relacional e atualizada (processual, dialética) - por mais privado que possa ser um determinado sentimento.
Algumas "palavras de ordem" podem auxiliar a traduzir os objetivos terapêutico-pedagógicos desta abordagem:
(1) – "Não cause dano a ninguem!"
(2) – "Vamos desenvolver!"
(3) – "Não queira explicar tudo!"
(4) – "Co-labore o grupo!"
Trata-se então da (co)laboração de zonas de desenvolvimento proximais emocionais (ZDPs emocionais) que auxiliam o sujeito a lidar com a natureza provisória e relacional dos seus marcos identitários pessoais: "o coletivo (o grupo de terapia) joga jogos de linguagem... O jogo de linguagem expulsa para longe alguns dos excessos da linguagem emocional reificada, da abstração e da interpretação de modo a mostrar/descobrir a atividade da fala/discurso (NEWMAN & HOLZMAN, 2002a, p. 215).
Em All power to the developing! [Todo poder ao desenvolver-se!] Lois Holzman e Fred Newman afirmam que cunharam o termozona de desenvolvimento proximal emocionalbuscando referir "os estágios terapêuticos PARA o desenvolvimento que são os grupos de terapia social." (NEWMAN & HOLZMAN, 2003).
Eles fazem questão de distinguir a expressão "estágios PARA o desenvolvimento" de "estágios DE desenvolvimento" (NEWMAN & HOLZMAN, 2003). E reconhecem terem chegado à uma concepção dialética do processo desenvolvimental auxiliados pelo conceito de zona de desenvolvimento proximal originalmente formulado por Vygotsky (1996):
Neste sentido, a zdp de Vygotsky transforma a teoria dos estágios
– a idéia de que o sujeito (à la Piaget e Freud) e de que a história humana (à la interpretações oficiais de Marx) seguem por uma progressão linear e teleológica. Estágios PARA o desenvolvimento parece ser mais adequado – e visivelmente mais pós-moderno – na caracterização do desenvolvimento (e revolução) humanos do que estágios DE desenvolvimento. (NEWMAN & HOLZMAN, 2003, p. 6)
Pode-se dizer que o impacto estético, clínico e educativo da terapia social da atuação ou performance - particularmente em suas conexões com as práticas ludopedagógica de ensino on-line - necessitam ainda serem melhor investigados, ao menos no Brasil.
Intervenções ludopedagógicas on-line na perspectiva da abordagem social da atuação certamente podem contribuir para elucidar as intrincadas relações que envolvem as noções de gênero, identidade, personalidade, deficiência, inclusão, exclusão, crescimento pessoal e desenvolvimento cultural na contemporaneidade.
A abordagem performática enfatiza a dialética Quem sou - Quem estou me tornando. Isso é: os sujeitos submetidos ao processo clínico/educativo são desafiados a atuarempara além de suas atuais possibilidades, abandonando aquela tradicional concepção da personalidade como algo "fixo" ou "definitivo".
Configura-se então a proposição de uma intervenção clínica/pedagógica de natureza "ativa" que pressupõe a atuação do sujeito para muito além do que este pode realizar por si mesmo - se e quando entregue à resolução solitária de problemas.
O núcleo "duro" da terapia social da atuação, diferentemente das técnicas psicoterápicas baseadas no psicodrama e sociodrama de Boal e Moreno, não é a catarsis. (BOAL, 1999; JAPIASSU, 2005a; JAPIASSU, 2005b e MORENO, 1974). Explico melhor: a terapia social da performance, na medida em que se propõe a criar zonas de desenvolvimento proximais emocionais-ZDPEs, converte-se em uma intervenção clínico-pedagógica que "não é concebida para ajudar os sujeitos a lidarem com seus problemas pessoais" (NEWMAN & HOLZMAN, 2003, p. 9).
O objetivo, antes, é outro: o desenvolvimento emocional do sujeito através da construção de relações mais flexíveis (não reificadas) da pessoa em um determinado grupo - no caso específico que interessa aqui, no e-coletivo.
Nas zonas de desenvolvimento proximais emocionais da terapia social, as pessoas são apoiadas pelo terapeuta [pelo professor] a fazerem o que se encontra além de suas possibilidades atuais (criar o grupo), a atuarem na perspectiva dequem estão se tornando. Ajudar as pessoas a criarem continuamente novas atuações para si mesmas é um caminho alternativo à rigidez de papéis, estágios e identidades, que causam tanta dor emocional (e que são denominados patologias). Na terapia social as pessoas criam novos modos de falar e de ouvir uns aos outros; elas criam sentido através do jogar com a linguagem. (NEWMAN & HOLZMAN, 2003, p. 7)
Evidentemente uma exposição e discussão exaustivas da abordagem terapêutica social da performance ou atuação escapa aos objetivos deste breve artigo. O intuito aqui é unicamente notificar o leitor deste fascinante caminho para a implementação de práticas ludopedagógicas on-line que tenham como objetivo sincero o desenvolvimento cultural e crescimento pessoal do sujeito na perspectiva de uma educação emancipadora.
A problemática que enovela ações afirmativas de sujeitos e grupos marginalizados, macropolíticas oficiais inclusivistasdigitais e micropolíticas consumistas excludentes do cotidiano pode encontrar nesta abordagem clínico-pedagógica uma poderosa aliada para a busca de um equacionamento destas complexas questões.
Uma evidência disso são os resultados obtidos pelo grupo de terapeutas sociais norteamericanos do Instituto da Costa Leste. Através, por exemplo, da participação do sujeito em performances ou atuações artístico-estéticas o Programa Todas as Estrelas de teatro-educação social ajuda pessoas a se desenvolverem culturalmente bem como a crescerem emocional e socialmente.
Este projeto de pesquisa e ação cênica/pedagógica/terapêutica (co)labora coletivos oportunizando a reunião de pessoas com diferentes experiências e históricos de socialização buscando libertar a atuação do sujeito dos confins de um estreito entendimento da teatralildade como fenômeno circunscrito apenas ao palco propriamente dito - ou ao interior das casas de espetáculo – ou ainda a um conjunto fixo, imutável e pré-determinado de papéis sociais.
Gordon e outros explicam-nos que o Programa Todas as Estrelas é guiado e inspirado pela terapia social, teoria histórico-cultural da atividade/CHAT, pelo jogo de identificação e pela teoria da performance. Esclarecem também que o jogo de identificação tem suas raízes na idéia de jogo de identidade do Dr. Kwame Anthony Appiah - que busca encorajar grupos não-hegemônicos a se distanciarem de uma concepção rígida de identidade, costumeiramente difundida pelas visões predominantes da psicologia tradicional e da sociedade hegemônica. (GORDON and others, 2003)
Appiah, através do conceito de jogo de identidade, desafia-nos portanto a levarmos uma vida melhor na medida em que nossas identidades deixam de ser estreita e unicamente entendidas através do "quem nós somos" e do "quem nós não somos":
Toda identidade humana é construída, é histórica; todos compartilhamos nossa cota de pressuposições falsas, de erros e preconceitos que chamamos no dia-a-dia de "mito", na religião de "heresia" e na ciência de "magia." Histórias inventadas, biologias inventadas, afinidades culturais inventadas que se encontram enredadas em toda identidade. Cada uma delas é uma espécie de papel que necessita ser representado e estruturado por convenções narrativas às quais o mundo quase nunca se cansa de aderir... Nós necessitaríamos revelar que essas estórias de raça e nacionalidade são lendas; que são lendas, na melhor das hipóteses, inúteis ou – na pior – perigosas: então que um outro conjunto de histórias nos auxilie a construir nossas identidades, e que através dessas novas histórias nós possamos realizar relacionamentos socialmente mais produtivos. (APPIAH, 1995, p. 174)
Investigar, pensar e discutir a "diferença" coloca-se então como desafio permanente aos terapeutas sociais na medida em que o ser "diferente" passa a conceber-se em sua dimensão cultural e sócio-histórica, ou seja, transcendendo os limites de uma abordagem exclusivamente biológica cuja ênfase, geralmente, recai na "diferença" enquanto patologia. (REY, 2002) .
A terapia social da performance ou da atuação, em resumo, e nas palavras de Lois Holzman e Rafael Mendez, é um método "improvisacional, investigativo e desenvolvimental que focaliza questões práticas que dizem respeito a clínicos [educadores] e estudantes das várias escolas de psicoterapia e aconselhamento" (HOLZMAN & MENDEZ, 2003, p. xv).
Trata-se de uma prática terapêutica que utiliza de modo sistemático a linguagem teatral, performance ou atuação como recurso para o crescimento afetivo e social do sujeito, objetivando o seu desenvolvimento cultural.
O uso da linguagem teatral no tratamento clínico-pedagógico do sujeito se justifica no e-learning então porque "na opinião de um número crescente de teóricos e praticantes [da psicologia], a capacidade humana deatuar – de criar infinitamente novas situações, cenários, histórias, personagens, caracterizações – é onde se encontra a excitação, o crescimento, o desafio e a ajuda." (HOLZMAN & MENDEZ, 2003, p. xiv)
A terapia social da performance ou atuação é também denominada psicologia performática. A psicologia performática configura portanto uma abordagem pedagógico-terapêutica à ATIVIDADE humana – e não ao "comportamento" humano -que apresenta possibilidades para a inovação educacional.
A abordagem performática ao aprendizado eletrônico começa a ganhar terreno nas práticas ludopedagógicas de ensino on-line particularmente no EducomLab do GEPAEad sob minha responsabilidade. Justifica-se portanto sua apresentação aqui como alternativa ao e-learning numa perspectiva emancipadora do sujeito:
A atuação é um modo de ir além de "quem nós somos" e criar algo novo... Particularmente em ambientes educacionais nós somos frequentemente relacionados muito mais a "quem nós somos" e raramente encorajados e apoiados a atuarmos para além de nós mesmos ou a fazermos o que não sabemos. Com isso, deixamos de continuamente criar "quem estamos nos tornando". Nós acabamos ficando tão amedrontados de experimentar outros papéis que desistimos de criar novas formas de atuação para a nossa pessoa. Então a gente agarra-se a uma identidade como "aquele tipo de pessoa" - alguém que faz determinadas coisas (e as faz de modo muito particular) ... Aí, qualquer coisa que fuja disso faz com que a maioria de nós – porque esquecemos que somos também o que estamos nos tornando – pense logo que não poderia se tratar de "quem nós somos" ou que aquilo não seria "verdadeiro". Criar ambientes para que crianças e adultos possam atuar pode (re)iniciar o seu crescimento. Participar da criação de um "palco" para a atuação e atuar nele [em ambientes virtuais de aprendizado] é como nós podemos ir além de nós mesmos para criar novas experiências, novas habilidades, novas capacidades intelectuais, novos relacionamentos, novos interesses, novas emoções, novos desejos, novos objetivos – o que é, no fundo, a essência do aprendizado e do desenvolvimento humanos. (HOLZMAN, 2005)
O sistema MOODLE de gerenciamento do aprendizado (SGA) encontra-se em experimentação na Uneb sob iniciativa da linha de pesquisa ensino on-line do mestrado Educação e Contemporaneidade do Departamento de Educação/Campus I.
Sistemas concebidos para o gerenciamento de cursos on-line (Learning Manager Systems/LMS) costumam ser denominados também sistemas de gerenciamento do aprendizado(SGA) ou ainda ambientes virtuais de aprendizado (AVA).
O Modular Object Oriented Distance LEarning/ MOODLE ou modulador de objetos de aprendizado para o ensino à distância é apenas um dentre vários sistemas para o gerenciamento de cursos (SGC) que se encontram à venda nas prateleiras do "aquecido" mercado do aprendizado eletrônico (e-learning). No Brasil, podem-se destacar os SGCs (1) AulaNet
O MOODLE é um programa (software) livre destinado à criação de cursos online – um projeto concretizado originalmente sob a responsabilidade de Martin Dougiamas na Curtin University of Tecnology em Perth, Austrália.
Provavelmente em razão disso - pelo fato de ser "livre" - o SGA MOODLE encontre-se em processo de uso e investigação por parte de algumas IES públicas e privadas com sede na Capital baiana (é o caso das Faculdades Jorge Amado/FJA
Sua característica de programa de fonte aberta (Open Source Software/OSS) permite que o MOODLE possa ser instalado, usado e modificado por diferentes organizações sem grandes custos. Pode-se inclusive até mesmo distribuí-lo -evidentemente nos termos da General Public Licence/GPL
Uma característicaimportante do MOODLE-se e quando comparado a outras plataformas SGC - é sua fundamentação pedagógica: o "MOODLE é orientado por uma particular filosofia deaprendizagem, uma maneira de pensar que pode ser simplificadamente chamada de "pedagogia socialconstrucionista."" (FILHO, 2004, p. 2)
O social-construcionismo , de acordo com o professor doutor Athail Rangel do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da UnB, postula que todo aprendizado eficaz sempre resulta na construção de algum artefato passível de uso por parte de outros -uma anotação, uma mensagem eletrônica, uma imagem ou programa para computador, por exemplo.
O professor Rangel informa-nos ainda que o MOODLE teria sido concebido originalmente para atender às solicitações de um aprendizado (co)laborativo reivindicado pela pedagogia social-construcionista: "um grupo de pessoas contruindo coisas umas para as outras, criando de maneira colaborativa uma pequena cultura de coisas compartilhadas com significados compartilhados" (FILHO, 2004, p.3)
É preciso também revelar ao leitor que o empreendimento pedagógico (co)laborativo MOODLE/Uneb encontra-se sob a responsabilidade da professora doutora Lynn Alves. E que esta pesquisadora, ao contrário daqueles habitantes do cyberespaço que eu costumo chamar de "cyberveranistas" porque não possuem "presença virtual", isto é, não "residem" em seus endereços eletrônicos - procura interagir intensamente com todos os que buscam dialogar com ela através da comunicação mediada por computador (CMC) na Rede (Web) (RECUERO, s/d)
Acessando-se o endereço MOODLE/Uneb em
São ao todo quatro salas de aula virtuais: (1) COM 034 Relações Humanas na Escola e na Empresa, (2) CIS 373 Psicologia das Relações Humanas, (3) e (4) Arte e Educação.
As duas primeiras salas foram criadas para atender aos alunos do curso regular de Pedagogia do Departamento de Educação-DEDC/Campus XV e as duas últimas organizadas para professores da rede pública municipal de Valença-Ba que se encontram inscritos em um programa institucional da Uneb voltado para a formação em serviço de educadores (Projeto Rede Uneb 2000) implementado em parceria com diferentes Governos Municipais em todo o estado da Bahia (A Uneb é uma IES multi-campi).
Todas as turmas possuem em torno de 40 cursistas cada uma. As salas de aula virtuais (1) COM 034 e (2) CIS 373 são no entanto dedicadas à disciplinas oferecidas ao mesmo grupo de acadêmicos.
Os cursos on-line referidos acima foram pré-configurados como "curso em semanas" – uma opção para formatação de ambiente virtual de aprendizado (AVA) disponível na plataforma MOODLE - e se desenvolvem sem qualquer prejuízo dos encontros presenciais, semanais, com os alunos.
Optou-se pela modalidade semi-presencial de EaD em razão de uma série de fatores dentre os quais podem-se destacar, por exemplo, (1) a dificuldade de acesso à internet por parte dos cursistas (alguns residem em localidades onde sequer existe luz elétrica!) e (2) a insuficiência de infraestrutura organizacional para o oferecimento do ensino à distância no DEDC/Campus XV da Uneb -hardware, software e "peopleware" (AZEVEDO, 2005).
Os procedimentos metodológicos da investigação sustentam-se no que se convencionou chamar de observação participante (OP) em pesquisa social (BATISTA, s/d; JAPIASSU, 2003; JAPIASSU, 1999, MAY, 2004; OLIVEIRA, 2003; SIQUEIRA, s/d) e encontram-se em perfeita sintonia com o paradigma eleito "baliza" para o desenvolvimento do corrente empreendimento investigatório (KUHN, 2003). Observações participantes em SGAs dizem sobretudo da natureza fundamentalmente qualitativa deste tipo de pesquisa. (ANDRÉ, 1995; ANDRÉ & LÜDKE, 1986; FREITAS, 2003; GARCIA, 2003; REY, 2002; TURATO, 2003)
Os resultados parciais apresentados adiante buscam revelar o modo "ativo" de interagir com a interface MOODLE que é encorajado pela abordagem performática ou da atuação a objetos de aprendizado.
Neste tipo de prática ludopedagógicao sujeito é solicitado a atuar para além do SER (quem ele é) experimentando, sem medo, o DEVIR (quem ele está se tornando). Em outros termos, trata-se de propor aos usuários das salas de aula virtuais a "futucação" (ALVES & PRETTO, 1999)da ferramenta SGA MOODLE -sem fornecer-lhe instruções prévias de como fazê-lo.
Evidentemente isso não exclui o repasse e a troca (co)laborativa de informações úteisno âmbito do e-coletivo para solucionar, de modo efetivo, problemas eventualmente enfrentados por um determinado cursista (e por que não também por parte do próprio professor?). Não se pode saber "tudo".
Conseqüentemente, a principal i déia do aprendizado (co)laborativo é a noção de "rede", isto é, de "focos" (nódulos) de competência presentes no "tecido" social rizomático ("trama" em forma de raiz se expandindo em múltiplas e variadas direções) de toda e qualquer interação tipicamente humana. (OLIVEIRA, 1986)
Este "tecido" hipertextual - tipicamente social - compõe-se de elos (links) entre diferentes "pontos" e configura nitidamente uma espécie de "teia" – com "buracos" e "encruzilhadas" que podem levar a incontáveis "caminhos", inclusive a becos sem saída ? Mas há sempre a possibilidade de voltar atrás e tomar-se nova direção ? Até porque nada é definitivo, viver IRL (In Real Life = na vida real) não é definitivo.
O "futucar" ao qual me refiro aqui busca então sinalizar aquela atividade do sujeito que privilegia as vivências sensoriais e cinestésicas, típicas da modalidade de pensamento em zapping (do clicar) que constitui a (co)construção de saberes (VASCONCELLOS & VALSINER, 1995) fundados sobretudo na inferência ou intuição, isto é, daquilo que pode ser "concretamente" experienciado pela pessoa. (ALVES, 1999; SCHOPENHAUER, 2005)
Serão expostos agora alguns dados produzidos a partir da implementação do curso on-line COM 034 Relações Humanas na Escola e na Empresa na plataforma SGA MOODLE em uso e experimentação na Uneb. Destacarei a atuação de um dos cursistas matriculados nesta disciplina particularmente no fórum LEITURA DAS IMAGENS. Este fórum foi criado pelo professor em 22 de outubro de 2005 e solicita aos cursistas suas interpretações das obras Olaria de Djanira
Estas obras de arte foram disponibilizadas no AVA da disciplina a partir
do repositório de objetos de aprendizado (ROA) da Fundação Iochpe denominado "midiateca"
Veja-se a seguir um trecho da resposta do aluno W, em 4 de novembro de 2005: -Eu vejo, nestes quadros, o que muitas vezes encaramos como natural na realidade, e que não é.No primeiro quadro, "Olaria" ( djanira ) vê-se um grupo de pessoas em um ENGENHO DE AÇÚCAR E NAS PLANTAÇÕES EM SEU TRABALHO ROTINEIRO. Acredito que, como todos os trabalhadores, aqueles retratados na figura também se tornam alienados de suas ambições/sonhos estando presos a uma engrenagem, a uma máquina. Eles fazem parte de um sistema e não sabem como podem estar fora daquela realidade. E nem tem essa consciência de classe oprimida e explorada. (Maiúsculas minhas)
Olaria de Djanira
No dia 11 Novembro o aluno W volta a registrar nova mensagem no fórum: -Estou fazendo uma pequena retificação do texto que escrevi onde nme referi ao quadro Olaria como se estivesse retratando uma casa de engenho. Abaixo segue uma nova cópia do meu texto constanto a retificação necessária ... No primeiro quadro, "Olaria" ( djanira ) vê-se um grupo de pessoas em uma OLARIA EM SEU TRABALHO ROTINEIRO... (Maiúsculas minhas)
Examinando-se o conjunto das mensagens registradas neste fórum não se constata nenhum comentário referente ao "ato falho" de W. Nem mesmo por parte do professor. Unicamente após o próprio cursista tomar consciência do "erro" cometido é que o professor "posta" a seguinte observação:- O que Freud diria a respeito deste "ato falho", W? Ó, S [cursista], vc que é nosso "foco de competência" em psicanálise, o que poderia nos falar sobre isso? Em PSICOPATOLOGIA DA VIDA COTIDIANA - o maior sucesso editorial de Freud - isso é tratado de modo exaustivo.
Acredito que os fragmentos de texto transcritos acima possam auxiliar o leitor no entendimento das implicações pedagógicas de uma abordagem performática a objetos de aprendizado. Neste tipo de empreendimento educativo o professor não é, a rigor, o único "mediador". A mediação pedagógica (a relação professor-cursistas e dos cursistas entre si) é instituída pela CULTURA de cada sujeito com auxílio da ferramenta SGA e dos signos icônico-verbais que se interpõe entre todos os enredados no/pelo aprendizado eletrônico. (JAPIASSU, 1997)Trata-se do que HOZMAN & NEWMAN denominam por método do instrumento-e-resultado (2002b).
Talvez em nova oportunidade seja possível aprofundar o que se disse aqui e discutir mais as implicações pedagógicas do instrumento-e-resultado (abordagem performática) aos cursos on-line. Por enquanto considero suficiente a exposição deste promissor e provocativo método de ensinoaprendizado.
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Autor:
Ricardo Ottoni Vaz Japiassu
Universidade do Estado da Bahia-Uneb
Departamento de Educação/Campus XV – Valença/Ba
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