Excerto da dissertação "Níveis de prevenção: conceito e contributo do médico de saúde pública", efectuada na Administração Regional de Saúde do Norte, IP, no âmbito do Internato Médico de Saúde Pública
É difícil estabelecer unanimidade quanto ao número de níveis de prevenção a distinguir e ás "fronteiras" precisas que separam cada um deles. A posição mais abrangente reconhece cinco níveis: primordial, primária, secundária, terciária e quaternária.
Tem por objectivos evitar a emergência e o estabelecimento de estilos de vida que aumentem o risco de doença. Ao prevenir padrões de vida social, económica ou cultural que se sabe estarem ligados a um elevado risco de doença, promove-se a saúde e o bem-estar e diminui-se a probabilidade de ocorrência de doença no futuro.
Para tal, procura-se elaborar e aplicar políticas e programas de promoção de "determinantes positivos de saúde", na população em geral e em grupos seleccionados. Temos como exemplos:
· legislação para criação de espaços livres de fumo do tabaco
· plano nacional de saúde escolar (PNSE)
· plano nacional para a acção ambiente e saúde (PNAAS)
· regulamentação para a segurança alimentar com implementação obrigatória do sistema de análise e gestão do risco HACCP - "Hazard Analysis and Critical Control Points".
Através destas medidas, prevê-se e pretende-se que o impacto na saúde pública seja notável, já que os programas e políticas têm como alvo um grande número de indivíduos e porque um mesmo "determinante positivo" ou comportamento saudável tem efeitos benéficos múltiplos na saúde (protecção de várias doenças). Por exemplo, a prevenção do tabagismo contribui para a prevenção de doenças respiratórias, oncológicas e cardiovasculares.
Visa evitar ou remover factores de risco ou causais antes que se desenvolva o mecanismo patológico que levará á doença. Recorre a meios dirigidos ao nível individual, a grupos seleccionados ou á população em geral. Desta feita, espera-se a diminuição da incidência da doença pelo controlo de factores de risco ou causas associadas, bem como a diminuição do risco médio de doença na população.
Como exemplos deste tipo de prevenção, temos:
· imunização (vacinação) contra algumas doenças infecto-contagiosas
· toma de vitamina D pelas crianças para prevenir o raquitismo
· uso de preservativos para a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis
· uso de seringas descartáveis pelos toxicodependentes, para prevenir infecções como VIH/SIDA e hepatites.
Corresponde á detecção precoce de problemas de saúde em indivíduos presumivelmente doentes, mas assintomáticos para a situação em estudo. Pretende-se, ainda, que haja uma aplicação imediata de medidas apropriadas, com vista ao rápido restabelecimento da saúde ou, pelo menos, um condicionamento favorável da evolução da situação, com cura e/ou redução das consequências mais importantes da doença.
Este nível de prevenção pressupõe o conhecimento da história natural da doença, a existência de um período de detecção precoce suficientemente longo (período pré-clínico ou assintomático) e facilmente detectável, e que seja passível de tratamento que interrompa a evolução para estádios mais graves. Assim, espera-se que haja diminuição da prevalência da doença, essencialmente pela diminuição da duração da mesma.
Temos como exemplos:
· rastreio dos cancros do colo do útero, da mama, da próstata, do cólon e recto
· rastreio da fenilcetonúria no recém-nascido
· rastreio e vigilância da pressão arterial, glicémia ou dislipidémia
· realização dos testes de avaliação de acuidade auditiva e visual no âmbito da saúde ocupacional
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