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Gestão do Conhecimento e Convergência Educacional (página 2)

Estevam de Toledo

Despres&Chauvel (2000) propõem que a gestão do conhecimento pode ser analisada e cartografada com base em quatro eixos: o processo cognitivo, a natureza do conhecimento, o nível em que se desenvolve a atividade e o contexto no qual os conhecimentos são utilizados.

Karen Stepherson, da Universidade da Califórnia, entende que a chave para a gestão do conhecimento está nas redes humanas que existem no interior das organizações. As redes, segundo ela, não são apenas a chave para se entender a organização, mas são também um recurso que permite extrair os conhecimentos contidos nas cabeças dos indivíduos. Isso mesmo. Afinal, no início dos anos 80, os pioneiros dos sistemas especialistas perceberam que as pessoas não entregavam seus conhecimentos facilmente porque na maioria das vezes ignoravam possuir esses conhecimentos. 

Prusak entende ser necessário explicitar os conhecimentos para torná-los visíveis. E mais, para desenvolver uma estratégia centrada nos conhecimentos, é preciso colocar em evidência quais seus benefícios e manifestações concretas para a empresa.

Torna-se importante lembrar também que, afora a existência de uma variedade de abordagens, os estudiosos dessa área (Cardoso,2003) apontam a existência de três orientações, de pressupostos distintos: uma mais americana, outra mais européia e uma terceira mais japonesa. As organizações japonesas têm dado especial atenção ao processo de criação do conhecimento organizacional; as européias centram-se na possibilidade de medição do seu "capital intelectual" ou dos seus recursos de conhecimento; já no contexto americano enfatiza-se o processo de gestão do conhecimento mediante o uso das novas tecnologias da informação e da comunicação.

Dentre os japoneses, o destaque deve ser dado ás contribuições de Nonaka e Takeuchi (1995) que se inspiraram nos fundamentos da teoria do conhecimento formulada pelo húngaro Polanyi. Para este, todo conhecimento se funda numa dimensão tácita, um dado essencial hoje em dia para a compreensão do funcionamento das organizações, permitindo-lhes, por um lado, uma avaliação mais adequada dos seus recursos de conhecimento (tácitos versus explícitos) e, por outro, uma utilização otimizada desses recursos, em função dos elementos que os caracterizam.

Assim, segundo Nonaka, as organizações são concebidas como "entidades criadoras de conhecimento". E de acordo com  seu modelo teórico, a gestão do conhecimento refletirá a capacidade organizacional para criar novo conhecimento, disseminá-lo por toda a organização e incorporá-lo nos seus processos, produtos e serviços. Essas atividades definem a organização criadora do conhecimento, cuja orientação nuclear é a inovação contínua.  Esta capacidade só é alcançável mediante a ação individual e grupal, já que os atores organizacionais são a fonte e o motor de todo o processo criativo.

Capital Intelectual, um conceito emergente

Cardoso (2003), ao examinar a relevância e atualidade do conceito de capital intelectual, pondera que, dada a sua natureza intangível é difícil identificar e medir o valor do conhecimento incorporado nos bens ou serviços que uma organização produz, bem como nas competências e experiências dos atores que a fazem produzir e lhe possibilitam competir. E mais: uma vez que incorpora elementos tácitos, o conhecimento em utilização não se deixa com facilidade codificar ou quantificar, assim como escapa á maior parte dos procedimentos de avaliação ou não é tido em conta nos procedimentos contabilísticos que habitualmente são utilizados. Assim, torna-se necessário desenvolver formas de identificação, criação, avaliação e aplicação deste recurso, bem como conceber sistemas adequados á sua gestão.

Trata-se de uma abordagem á gestão do conhecimento, que tem merecido crescente atenção e tem sido utilizada para definir o conjunto de contribuições não materiais que constitui o principal ativo das organizações que privilegiam, mais do que nunca, o conhecimento. No que diz respeito a seus atributos gerais, como ressalta Cardoso(2003), o capital intelectual constitui a soma de tudo o que se sabe no interior de uma dada organização; é uma espécie de "força cerebral coletiva" - composta essencialmente por elementos tácitos que se combinam ou articulam (dentre os quais, o potencial criativo) - que permite o seu funcionamento e reflete a utilização e aplicação do seu conhecimento. Ainda no que diz respeito aos atributos gerais, salienta-se a natureza intangível do capital intelectual, decorrente de sua invisibilidade, imaterialidade e de seu caráter predominantemente tácito.   

O interesse em torno do capital intelectual surge associado ao aparecimento das chamadas "organizações virtuais", da "nova economia", trazendo em seu bojo o reconhecimento da importância do conhecimento, da inovação e da criatividade, enquanto fontes de vantagem competitiva sustentável. No final da década de 90, surgem as primeiras obras de pioneiros dessa abordagem. E segundo Cardoso, sinteticamente, pode-se dizer que a principal mensagem nelas contida é a de que a avaliação do valor das competências da organização e de outros valores intangíveis ( marcas, propriedade intelectual, grau de fidelização dos clientes, aprendizagem organizacional, empenho dos colaboradores,etc.) é mais importante do que o seu histórico financeiro, devendo passar a figurar no "painel de bordo" de qualquer gestor.

Entretanto, segundo Cardoso, não obstante os avanços já realizados no âmbito dessa tendência que para muitos é considerada como um movimento, ainda não foi feita a súmula do estado atual estado da arte.

Nesse sentido, o Danish Memorandum (1997), estudo realizado na Escandinávia e que incidiu sobre dez organizações, representa contribuição interessante. Trata-se de um estudo que opera uma categorização tridimensional do capital intelectual: recursos humanos, clientes e uma forma específica de capital estrutural, designadamente os processos e a tecnologia. Os resultados nele obtidos levam a concluir que: (a) o principal objetivo perseguido com a implementação de sistemas de medição e contabilização do capital intelectual não está ligado á captação de recursos, mas antes com a construção de uma base de sustentação para o desenvolvimento organizacional. Ou seja, pretende-se que os sistemas de medição de capital intelectual funcionem como ferramentas de comunicação que possibilitem e facilitem a apresentação e a manutenção de uma dada estratégia ou visão organizacional; (b) em segundo lugar, constata-se que apesar de os sistemas de medição não visarem a captação de capital intelectual, os mesmos são alvo de grande interesse por parte dos investidores. Neste contexto, o capital intelectual surge como estando associado a uma estratégia de marketing que, visando valorizar o fator humano, o apresenta como um ativo organizacional.

Entre nós brasileiros, um recente estudo de L.A. Jóia (2001) publicado na RAE, revela os detalhes de um modelo heurístico composto de um conjunto de fórmulas e seus significados  usados na  operacionalização de conceitos aplicáveis á medição do capital intelectual. Para além disso, o citado autor entende que, conquanto tenham sido feitos avanços na compreensão da natureza da conhecimento - tanto tácito como explícito - e seus mecanismos de transferência dentro de uma empresa (Nonaka e Takeuchi,1995) entre seus parceiros (Badaracco, 1991), ainda há um longo e árduo caminho de negociação antes que se possa ter medições confiáveis para esse capital intangível. ...Outra faceta muito importante a ser pesquisada é  o processo de depreciação do conhecimento da empresa. Argote et al. (1998) sugerem que existe um componente substancial de conhecimento organizacional que se deprecia rapidamente e indicam ser necessário mais pesquisa para identificar os fatores que estejam afetando a taxa de aprendizagem e "esquecimento" nas organizações. Essa compreensão pode superar a "Armadilha da Defasagem de Tempo" e permitir investimentos em treinamento e inovação que levem a resultados melhores e mais rápidos que os atingidos hoje.

Bibliografia

"Empresas são escolas ou escolas são empresas?" 1º Encontro Sucesu-MG de Convergência Educacional. SUCESU. Belo Horizonte, março, 2006.

Cardoso, Leonor. "Gerir conhecimento e gerar competitividade: estudo empírico sobre a gestão do conhecimento e seu impacto no desempenho organizacional". Dissertação. Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação. Universidade de Coimbra. Coimbra, 2003.

In http://www.ariadne-editora.com

Thomas H. and Marchand, Donald A. "De l"information á la connaissance", in http://www.lesechos.fr

Despres, Charles et Chauvel, Daniéle. "Cartographer lê management dês connaissances", in http://www.lesechos.fr

Stepherson, Karen  « Des logiciels spécialisés pour les managers du savoir », in http://www.lesechos.fr

Prusak, Larry « Expliciter les connaissances pour les rendre visibles », in http://www.lesechos.fr

Nonaka, I. and Takeuchi, H. "The knowledge-creating company. New York. Oxford University Press, 1995.

Jóia, Luiz A. "Medindo o capital intelectual", RAE  - Revista de Administração de Empresas, Abr-Jun, Vol. 41, n.2, (54-63). São Paulo,2001.   

 

 

 

Autor:

Estevam de Toledo

stevantoledo[arroba]terra.com.br

Consultor de Organizações



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