Texto elaborado para uso do Comitê de Educação, do Programa Mineiro de Qualidade. Belo Horizonte, agosto, 2006.
Em recente evento intitulado "Convergência Educacional" (1), seus organizadores argumentavam textualmente que a convergência tecnológica, já bem conhecida, faz-se cada vez mais presente e se manifesta na medida em que um equipamento "aprende" e incorpora funções próprias de outros. Assim, no universo da educação, algo similar se passa: cada vez mais intensamente, empresas aprendem a ser escolas - implementando portais de treinamento e universidades virtuais que incorporam preocupações pedagógicas ás ferramentas tecnológicas - e escolas aprendem a ser empresas, na medida em que implementam metodologias e instrumentos de gestão empresarial. Daí poder-se falar de convergência educacional.
Mantida essa linha de raciocínio, e consideradas as limitações deste texto, bem que poderíamos conjeturar que, no que se refere á questão da gestão do conhecimento, ambas, escola e empresa, certamente muito terão o que intercambiar, sobretudo em termos de ajuda mútua. Afinal, se o exame de estudos recentes sobre a gestão do conhecimento mostra-nos que no mundo empresarial o que predominou até recentemente foi a gestão da informação, o mesmo certamente terá ocorrido com o mundo escolar. Tudo isso em meio a uma certa confusão terminológica, resultante sobretudo dos avanços das tecnologias da informação e da comunicação, o que fez com que muitos pensassem estar fazendo gestão do conhecimento quando de fato faziam gestão da informação.
Por isso mesmo, antes de nos determos no significado e relevância atual da gestão do conhecimento enquanto considerada como objeto de estudo de alto interesse tanto para empresários quanto para educadores, torna-se necessário esboçar, ainda que de forma sintética, reflexões que nos levem á diferenciação de alguns conceitos básicos pertinentes a essa temática.
Com efeito, as noções pertinentes a dados, informação e conhecimento são fundamentais para que se possa melhor examinar a importância da gestão do conhecimento enquanto fator de competitividade para as organizações. E, conquanto o significado exato de cada um desses termos permaneça ainda não de todo resolvido, as metáforas surgem como recurso de ilustração para nos revelar a relatividade do significado de cada um dos termos quando colocados em justaposição.
Cardoso (2003), por exemplo, citando Snowden (1999), utiliza a metáfora do mapa e do guia humano para diferenciar os conceitos de dados, informação e conhecimento. O mapa surge então como um conjunto de dados organizados de forma coerente e inteligível, traduzindo-se, portanto, em informação; já o guia constitui conhecimento em si mesmo. Ele não necessita de consultar o mapa porque, recorrendo á evocação das suas experiências, possui a capacidade de relacioná-las entre si. Assim, o recurso ao guia, neste caso, é a forma mais rápida de atingir determinado objetivo, desde que nele se deposite confiança; na sua ausência, resta o recurso á informação, ou seja, a utilização do mapa. Nesse contexto, só alguém que possui conhecimento acerca do território pode criar o seu próprio mapa, sendo este mais facilmente legível e interpretável por indivíduos pertencentes á mesma cultura. Para indivíduos que dispõem de outro mapa (cognitivo) ou se inserem numa outra cultura, o mapa constitui apenas um conjunto de dados que integram informação inútil e descontextualizada.
Davenport (1999), por sua vez, ao comentar as possíveis relações existentes entre dados, informação e conhecimento, prefere situá-los em um continuum em cuja base encontram-se os dados, seguidos das informações e tendo ao topo o conhecimento. Isso evidentemente sugere a existência de uma escala ascendente de valores.
Segundo o citado professor:
· Dados são sinais dos acontecimentos e das atividades humanas de todos os dias e têm pouco valor em si mesmos, são fáceis de se manipular e de se estocar.
· Informação é a resultante dos dados quando o homem os interpreta e os contextualiza. A informação é também o suporte do qual nos servimos para comunicar e expressar os conhecimentos no interior das organizações e no quotidiano de nossas vidas. A informação é de valor maior que os dados e pode revelar-se ambígua por razões de interpretação.
· Conhecimento consiste nas informações contidas no cérebro humano; seu valor é elevado. é que, graças a ele, o homem tem novas idéias, novas intuições e novas interpretações que aplica diretamente no uso das informações e na tomada de decisões. Para os gerentes, torna-se difícil gerenciar os conhecimentos de seus colaboradores, pois são de ordem mental, invisíveis, e sua extração, compartilhamento e utilização dependem de motivação e boa vontade de seus detentores.
Segundo Davenport, cabe ás organizações evitar se centrarem demasiadamente na classificação desses elementos, e sim alocar o máximo de energia para agregar valor áquilo que já se possui, sejam dados, informações ou conhecimentos e tratar de fazê-los progredir ao longo do continuum.
A julgar pela variedade de abordagens sugeridas e encontradas na literatura especializada, pode-se mesmo inferir que as organizações ainda não possuem de modo claro a forma de como gerar e gerir seus conhecimentos. A título de ilustração, examinemos de forma sintética as linhas gerais de algumas propostas.
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