A Educação por Vir

Enviado por Sergio Espinosa Proa


  1. A fuga do presente
  2. A autoridade do projeto
  3. O tempo do projeto
  4. A hora atual
  5. Enganar o destino
  6. A substituição do sagrado
  7. A educação que vem
  8. Questionário sobre a educação por vir

Antes mesmo de prescrever, de esboçar um futuro, de dizer o que deve ser feito, antes mesmo de exortar, ou somente dar o alerta, o pensamento, na raiz de sua existência, de sua forma mais matinal, é em si mesmo uma ação - um ato perigoso. 1

A fuga do presente

Indagar pelo futuro da educação, pela educação "no século XXI", é uma dessas tarefas que, confessemos, quase nunca compensa o investimento. Poderíamos escrever" provavelmente alguém, neste exato momento, o esteja fazendo " uma história ou um compêndio das brilhantes profecias que vêm engrossando o já imenso arquivo composto pelas tolices e disparates travestidos de projeção científica.

Não há como fugir a uma constatação preliminar, por amarga que pareça: o futuro não existe " a não ser na imaginação de certos primatas que, se alguma coisa têm de diferente em relação ao resto da natureza, é precisamente o fato de não se conformarem em não tê-lo. Junto com tal evidência, porém, é preciso levarmos em conta uma outra coisa, ainda mais amarga, se é que é possível: no fundo, toda cultura é uma negação do presente em nome daquilo que " por enquanto, como diriam, fazendo coro, o sonhador e o "homem de ação" " não existe.

Suprimir, comprimir ou reprimir o imediato, guardá-lo para depois, pô-lo a trabalhar para que continue havendo tempo: é isso a cultura, é isso o espírito. Perder o que está ganho, ganhar o que está perdido. Pois, se perguntamos pelo futuro, é também porque o presente se tornou inabitável, é porque não sabemos o que fazer com ele, porque o presente é excessivo, porque não podemos pensá-lo, porque a rigor, e como logo veremos, ele nem sequer "é".

Sem dúvida que é mais fácil (e menos comprometedor) adivinhar como serão as coisas do que dizer como são e como poderiam ser agora " e de que modo elas estão deixando de ser o que são.

Não sabemos, nem podemos, pensar o presente. Mas convém acrescentar logo que inúmeras estratégias nessa linha foram testadas para não ficarmos sem fazer alguma coisa de útil a respeito. Uma delas parte da idéia de que o presente só se explica pelo passado. Tudo o que é tem uma razão, ou melhor: uma causa. Os problemas se herdam, as coisas são sempre resultado e efeito de coisas ou estados de coisa que as antecederam. Pensar o presente equivale a saber como ele veio a ser o que é (agora). O presente nada mais é do que o que resta do passado.

Uma outra estratégia, contrária, é a que parte do futuro: o presente se explica pelo ponto ao qual tende, pelo que (necessariamente) será, pelo horizonte para o qual aponta. São os fins que ordenam, desde sua inexistência, o que (agora) há. O presente existe em virtude do Projeto, as coisas precisam submeter-se ao Plano, independentemente de que tal Plano seja divino ou seja humano.

Quer dizer: ou somos o que a história fez de nós (conosco), ou somos aquilo a que nos propusemos chegar a ser - é assim que se apresenta, em termos bem gerais, a alternativa. Mas, num ou noutro caso, aquilo que (agora) somos continua não sendo " propriamente " pensado. Do futuro há imagens (cenários, como preferem os entendidos), e do passado há restos, ruínas, folhas mortas, inércias. Como se costuma dizer, o passado pesa. Se pesa, entretanto, é porque as forças que o conduziram até o presente já não estão operando agora, ou não operam mais do mesmo modo e com a mesma intensidade. Aquela força passou. O presente é a única coisa que (efetivamente) há; mas... podemos sabê-lo? Podemos (efetivamente) fazer algo com ele? Podemos discernir as forças que o constituem " e o dissolvem, ao mesmo tempo?

O presente, o instante, é (o) impensável. Ou, para usar um tom menos dramático: a única coisa que se pode fazer é pensar a fuga do presente, a perda do tempo. Pensar é essa perda.

A autoridade do projeto

Não existe um presente, não

" um presente não existe

Stephane Mallarmé

Reunimo-nos neste presente, e neste espaço, para considerar algumas perguntas básicas: Como há de ser a educação? Como serão as instituições educacionais do futuro? Como poderão ter futuro os dispositivos educacionais? O poder ser, neste caso, confunde-se irremediavelmente com o dever ser: o presente se manifesta e deixa-se discernir por aquilo que não é, ele se mede com a régua do que teria que chegar a ser ou evitar de todas as maneiras ser.

Claro que são perguntas interessantes; verdadeiramente inquietante, porém, é perguntar, previamente a qualquer profecia e a qualquer prognóstico, antes mesmo de misturar o dever com o poder ser, de que modo imaginamos o poder sabê-lo? Como saberíamos, agora, o que será dentro de cinco, dez, cinqüenta, cem anos? Como podemos nos acreditar capazes de sabê-lo? é possível ver o que não é? Sabemos o que existe agora? Como nossas expectativas de futuro se entrelaçam com o que imaginamos tratar-se agora de um "fato"?


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