Quando o Abade SIEYÉS escreveu, há quase duzentos anos, "Qu'est-ce que le Tiers État?", assim enunciou, em seu exórdio, o plano dessa obra:
"Nós temos três perguntas a fazer:
1. O que é o terceiro estado? Tudo.
2. Que tem sido ele até o presente na ordem política? Nada.
3. Que deseja ele? Tornar-se algo."...
Tratava-se, então, de problema interno, dentro do âmbito de um Estado (França), com a exploração de uma classe (o povo) pelas demais (clero e nobreza), tendo SIEYÉS defendido, como precursor da Revolução Francesa, a titularidade do Poder Constituinte para o povo, enquanto que agora pretendemos abordar o chamado CONFLITO NORTE -SUL, ou da inexpressividade política dos Países pobres , subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento, dentro do contexto das relações internacionais e das tentativas de integração da América Latina (representativa do Terceiro Mundo).
Os pontos de semelhança são de tal maneira flagrantes, contudo, que pedimos vênia para, inicialmente, tomando os problemas - e soluções- da época, traçarmos um quadro sintético dos atuais.
No Capitulo I de sua obra, SIEYÉS afirma que o Terceiro Estado (o povo)
"é uma Nação completa e que nada poderia funcionar sem ele. Os privilegiados, longe de serem úteis à Nação, só servem para enfraquecê-la e destruí-la. O mais mal organizado de todos os Estados seria aquele no qual uma classe inteira de cidadãos quisesse ficar imóvel em meio ao movimento geral e consumir a melhor parte da produção, sem haver em nada concorrido para fazê-la nascer."
Em verdade, torna-se evidente que, se para os franceses, a nobreza se tornara estranha à Nação, por sua preguiça e por seus costumes dissolutos, no Mundo de hoje os Países ricos estão ocupando posições privilegiadas em matéria de riqueza e poder que em nada poderão contribuir para a manutenção da paz mundial.
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