Os estudos históricos possibilitados por dados arqueológicos são dificultados por vivências transpostas em palavras escritas ou peças já sem sua utilidade originária. O contexto dos dados só faz sentido após um estudo antropológico da visada cultura ou de uma suposta relação com os "impulsos humanos universais". O presente estudo busca dar o entendimento de uma divindade estudada desde os inícios da sociedade moderna, constituindo uma das principais referências de autores contemporâneos à sociedade antiga. Dioniso, esta divindade conhecida como deus do vinho e do desejo, percorreu um grande caminho e se manifestou em várias civilizações sob vários nomes, sendo aqui abordado em três perspectivas, tentando a coesão dos vários escritos consultados, que por mais que variassem de visões e detalhes históricos, se referiam ao mesmo deus que conduzia comemorações extáticas despertadas por necessidades ainda hoje vigentes. As elucubrações a respeito de Dioniso visam captar suas idéias e fatos mais comprovadamente aceitos juntamente com a mensagem essencial de sua representação, deixando de lado as divergências e oposições entre visões paralelas e os detalhes arqueológicos e documentais correspondentes às culturas estudadas.
Em primeiro lugar será visada uma abordagem de cunho histórico, visando introduzir um contexto que permita entender quais as condições mundanas básicas que permitiram o surgimento de tal divindade, onde pode ter primeiro aparecido e algumas de suas diferentes máscaras sobre deuses que poderiam ser fundamentalmente o mesmo. As construções factuais ajudam a entender como se manifesta um conjunto de idéias que parecem arraigadas a um plano fantástico sem limites, estabelecendo relações concretas e influentes sobre a vida comunitária de uma civilização permeada por mitos.
A visão de Dioniso como um deus que participava ativamente das mitologias será feita em segundo lugar, colocando-o em relação com outros deuses e demonstrando suas metamorfoses que correspondiam a outros fatores humanos. Seus atributos como deus e os epítetos que ele ostentava serão relacionados aos seus mitos e ligações ou oposições teológicas. Esse aspecto das religiões mostrará como seus mitos são ligados a manifestações cultuais e atividades práticas da vida humana, mostrando um conjunto de deuses que demonstravam comportamento diretamente humano.
Por último, será dada uma interpretação de Dioniso enquanto representação humana, um deus que é idéia colocada em prática por um sentimento que se torna comum quando se vive impulsionado por um instinto comunitário. Sua posição como deus das orgias e estados sem normatizações, a expressão espontânea da humanidade em seu estado mais cru, a sua possível representação das necessidades básicas humanas e a tentativa de unificação de entendimentos diversos. O espírito dionisíaco mostra como se tornou comum a várias culturas, se tornou expresso em analogia ao vinho e deveu suas grandes manifestações ao inconsciente coletivo dos cidadãos comuns do mundo antigo.
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