Sobre o ponto cego de cada um

Enviado por Raymundo de Lima


  1. Introdução
  2. A definição física-oftálmica, considera o ponto cego
  3. O ponto cego psíquico
  4. O psicanalista é antes de tudo alguém que sabe escutar
  5. Conclusão
  6. Referências bibliográficas

1. Introdução

A guisa de introdução, começo com alguns exemplos aleatórios que presentificam a idéia de ponto cego: Uma mãe aponta os defeitos de educação no filho da vizinha, mas demonstra ignorar os defeitos de educação de seu próprio filho; Um teórico em educação que "falta com a boa educação" quanto entre colegas e também quando com seus alunos: Uma mulher que sempre inicia projetos, sem no entanto "ver" que nunca consegue terminá-los; Um criminoso não se considera devedor, mas sim, a sociedade. Da mesma forma, para um terrorista, não foi ele quem começou, nem seus atos são crimes hediondos; No jogo de xadrez, o observador externo tem visão mais abrangente para possíveis  jogadas e noção do perigo proveniente dos próximos lances do adversário; O motorista do carro não consegue ver um determinado ponto atrás do mesmo o que poderá ser-lhe causa de acidentes; No jogo perverso de ascensão ao poder, um candidato não quer reconhecer que, na verdade, o que há de autêntico no seu discurso é o que é velado: seus interesses pessoais de ganhos concretos ou abstratos de  prestígio social ou de gozo narcísico e compensador de seus fracassos íntimos. Um moralista que reprova nos outros o que está reservado para si mesmo como um gozo secreto. Não escapa até mesmo o psicanalista, que preventivamente precisa consultar um psicanalista supervisor, uma vez que não está conseguindo entender o porque seu cliente repete sempre a mesma história ou sofre no mesmo ponto.O que está acontecendo que escapa ao entendimento da análise clínica quando "o paciente comparece e fala, mas está ausente de sua fala, e o analista, conjuntamente, fica ausente de sua escuta". (NASIO, J.D., 1993, p.75).

2. A definição física-oftálmica, considera o ponto cego

"um fenômeno da  visão humana segundo o qual, conforme  convergência e refração, pode-se ver o que habitualmente permanece oculto: a possibilidade além da superfície, o concreto afirmado na miragem"

Já no campo psicossocial, esse fenômeno aplica-se, por exemplo, ao marido machista do livro de Lya Luft, quando diz: "minha mulher não faz isso", "minha mulher não freqüenta esses lugares", "isso é coisa de mulher. O "Menino", personagem nomeado sem nome na narrativa, quase onipresente no olhar decifrador da família enigmática e por isso mesmo sabe mais sobre seu pai que este de si próprio: "Meu Pai, tão cioso de sua propriedade, que sua posse [sua Mãe]  o mantinha preso, sendo o forte residiria  alí sua fraqueza. Ele vivia numa perspectiva de onde não se enxerga o essencial".

Do lugar de criança não contaminada com os pré-conceitos dos adultos, portanto, situada num ponto estrategicamente privilegiado "de baixo" ela vê o mundo dos adultos; ela pode reconhecer as contradições de sua família. Posicionado de modo estratégico, o Menino podia ver tudo sem ser visto.  Desse ponto camuflado, ele tudo via, as contradições de sua família iam diluindo-se, tudo ia ficando-lhe transparente, chegando mesmo a conseguir construir entendimentos dos sobre os assuntos não ditos e, por isso,  mais complexos de sua família. Por exemplo: as fraquezas  e as traições do seu pai severo; o estranho olhar de sua mãe ("como se soubesse muito bem o que queria: encontrar a hora e o motivo de dizer não e sim"); o por que da depressão do tio, a estrutura psicótica de sua avó que parecia destinada a ter a juventude acabada sem realização de seus desejos, o que quem sabe a levaria "ela enlouquecer de vez", etc.

 


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