"Olhar teu olhar
é pousar
sem parar de voar ".
Mário Pirata
Sabemos que a Psicopedagogia no Brasil está se consolidando, cada vez
mais, num movimento de busca concreta por respostas e alternativas aos problemas
vinculados ao aprender, que se avolumam no cotidiano da escola, cujas conseqüências
se fazem, cada vez mais, presentes no contexto social.
Enquanto campo do conhecimento em construção sobre a articulação
entre o psíquico e o cognitivo e suas profundas relações
com a gênese da aprendizagem, a Psicopedagogia tem se constituído
num espaço plural e multidisciplinar, na procura constante de aportes
teóricos construtores de sua epistemologia e propiciadores de sua fundamentação.
Minha proposta de reflexão neste trabalho é pensar como num mundo
repleto de idéias tão abrangentes e plurais, é possível
encontrar eixos fundadores desta epistemologia.
"Por que escrever? Para ser surpreendido".
O escritor senta-se com a intenção de dizer uma coisa e escuta
seu escrito dizendo algo mais ou algo completamente diferente.
A escrita surpreende, instrui, questiona e
conta sua própria história
e o escritor torna-se um leitor, imaginando o que acontecerá a seguir."
Donald Murray
As metáforas expressas aqui, "fio, rede, equilibrista", surgiram
com a releitura de algumas interessantes idéias expressas num trabalho
de Alícia Fernandéz, além do meu reconhecimento da existência,
entre nós, de uma densa teia de múltiplos saberes sobre o sujeito
como autor, o social como contexto e o aprendizado como processo.
Por uma opção didática, tratarei a seguir de cada uma das
metáforas citadas, propondo-me a vislumbrar as inter-relações
que perpassem o terreno da práxis psicopedagógica e, assim, refletir
sobre a busca permanente de uma ou mais teorias, que a fundamentem.
Etimologicamente a palavra texto possui uma aproximação com as
palavras tecer e textura. Na língua latina textus significa tecido. Para
tecer, precisamos de fios. À medida que nos dispomos a manuseá-los
e nos propomos a escolher com quais iremos tecer, é no entrelaçamento
de fios que o tecido se faz possível. Podemos optar por cores, matizes,
espessuras, pontos e formas de tecer. Dos fios, faz-se o tecido.
Para se fazer teoria, é preciso tecer, é necessários ter
fios. Fios que nos conduzam pela tessitura, que vá se constituindo um
corpo e assim ganhe uma corporeidade significativa, que surja, apareça,
configure-se. É preciso, para fiar na roca da teoria, conhecer os fios
com os quais se quer tecer, aproximar-se de sua essência, observar suas
particularidades, suas "consistências" e seus limites, sem esquecer
o todo.
No paradigma da complexidade, proposto por MORIN (1990), o todo é complexo
e a complexidade pode ser compreendida considerando um belo exemplo por ele
citado:
"Consideramos uma tapeçaria contemporânea. Comporta fios de
linho, de seda, de algodão, de lã, com cores variadas. Para conhecer
esta tapeçaria, seria interessante conhecer as leis e os princípios
respeitantes a cada um destes tipos de fios. No entanto, a soma dos conhecimentos
sobre cada um destes tipos de fios que entram na tapeçaria é insuficiente,
não apenas para conhecer esta realidade nova que é o tecido (quer
dizer, as qualidades e as propriedades próprias desta textura), mas,
além disso, é incapaz de nos ajudar a conhecer sua forma e configuração".
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