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As rações experimentais (Tabela 1) foram formuladas à base de milho e farelo de soja e suplementadas com minerais e vitaminas, de acordo com Rostagno et al. (2000), para atender às exigências dos animais, exceto de PB e lisina. Os tratamentos foram constituídos de uma ração basal sem suplementação de L-Lisina HCL e outras três rações suplementadas com L-Lisina HCL em substituição ao amido, resultando em rações com 0,80; 0,90; 1,00 e 1,10% de lisina digestível.
Para cada nível de lisina avaliado, procurou-se manter a relação entre os aminoácidos essenciais (metionina + cistina, triptofano e valina) e a lisina, considerando os níveis preconizados por Rostagno et al. (2000) para suínos dos 30 aos 60 kg. As rações e a água foram fornecidas à vontade.
As rações, as sobras e os desperdícios foram pesados semanalmente. Os animais, no entanto, foram pesados no início e ao final do período experimental, quando atingiram 60,44 ± 1,81 kg, para determinação do consumo de ração e de lisina, do ganho de peso e da conversão alimentar.
Ao final do experimento, um animal de cada unidade experimental com peso mais próximo da média da gaiola foi utilizado para avaliação da composição química e das deposições de proteína e gordura na carcaça. Após jejum de 24 horas, foram abatidos por sangramento, depilados com lança-chamas e faca e eviscerados. As carcaças inteiras, incluindo cabeça e pés, foram pesadas e a metade direita foi triturada em cutter comercial de 30 HP e 1.775 rpm por 20 minutos. O material foi homogeneizado e amostras foram retiradas para análise, conforme metodologia descrita por Donzele et al. (1992), e armazenadas a -12ºC.
O outro animal da unidade experimental foi mantido em jejum alimentar durante 24 horas e, em seguida, recebeu ração à vontade por 1 hora. Posteriormente, os animais foram submetidos a jejum alimentar e hídrico por mais 5 horas para a coleta de sangue via punção do sinus orbital. O sangue foi centrifugado a 3.000 rpm durante 15 minutos para obtenção do plasma, que foi armazenado em congelador para posterior determinação da concentração de uréia plasmática (UP) por meio de processo enzimático utilizando-se kit comercial.
Um grupo adicional de quatro animais da mesma linhagem (30,42 ± 0,91 kg) foi abatido para determinação da composição da carcaça no início do experimento. As amostras das carcaças foram pré-desengorduradas pelo método a quente em extrator tipo Soxhlet (4 horas) e pré-secas em estufa de ventilação forçada a 60ºC por 72 horas. Seqüencialmente, foram trituradas em moinho de bola, acondicionadas em vidros e conservadas em geladeira para análises. A água e a gordura retiradas durante o preparo inicial das amostras foram consideradas nos cálculos de água, proteína e gordura da carcaça.
As análises dos ingredientes das rações e da água e da proteína e gordura das carcaças dos animais foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal do Departamento de
Zootecnia da UFV, de acordo com as técnicas descritas por Silva (1990). As deposições de proteína e gordura nas carcaças foram calculadas comparando-se as composições das carcaças dos animais no início e ao final do período experimental.
As análises estatísticas das características de desempenho, das concentrações de uréia no plasma dos animais, da composição da carcaça e das deposições de proteína e gordura nas carcaças foram realizadas utilizando-se o Sistema de Análises Estatísticas e Genética - SAEG (UFV, 1997).
As estimativas de exigência de lisina digestível foram determinadas por meio de análises de regressão linear e quadrática.
Os resultados de desempenho, consumo diário de lisina digestível e concentração de uréia no plasma de suínos machos castrados dos 30 aos 60 kg recebendo diferentes níveis de lisina na ração encontram-se na Tabela 2.
Não houve efeito (P>0,05) dos tratamentos sobre o consumo de ração, o que está de acordo com os resultados obtidos por Donzele et al. (1994), que avaliaram níveis de lisina total (0,63 a 1,03%) e não constataram efeito dos tratamentos sobre o CRD dos animais. Outros autores, como Friesen et al. (1994), Souza (1997) e Fontes et al. (2000), também não observaram efeito dos níveis de lisina da ração sobre o CRD dos animais. Por outro lado, Fontes et al. (2005), avaliando níveis de 0,80 a 1,20% de lisina total, constataram efeito linear dos tratamentos sobre o CRD de leitoas de alto potencial genético na fase de 30 a 60 kg.
Segundo Edmonds & Baker (1987), suínos podem tolerar consideráveis excessos de aminoácidos, principalmente lisina, sem apresentar variações significativas no consumo alimentar.
O desbalanço de aminoácidos tem como um dos sintomas característicos a diminuição do consumo voluntário de alimento pelos animais (D'Mello, 1993). Neste estudo, esse desbalanço pode ter sido evitado pela suplementação das rações com aminoácidos sintéticos, mantendo-se as relações entre os principais aminoácidos digestíveis e a lisina.
Corroborando os resultados obtidos por Fontes et al. (2000, 2005), observou-se aumento linear (P<0,01) do consumo de lisina digestível (CLD) com o acréscimo no nível de lisina das rações.
O aumento do CLD esteve diretamente relacionado aos aumentos de suas concentrações nas rações, visto que o consumo de ração dos animais não variou significativamente entre os tratamentos.
Os tratamentos não influenciaram (P>0,05) o ganho de peso diário (GPD) dos animais. Donzele et al. (1994), Souza (1997) e Fontes et al. (2000) também não observaram efeito dos níveis de lisina sobre o GPD de suínos de 30 a 60 kg, enquanto Friesen et al. (1994) e Fontes et al. (2005), trabalhando com leitoas dos 34 aos 72 e dos 30 aos 60 kg, respectivamente, constataram efeito dos níveis de lisina sobre o GPD de leitoas. Em outro estudo, Warnants et al. (2003) avaliaram níveis de lisina digestível para suínos machos castrados híbridos dos 30 aos 49 kg e notaram que o GPD dos animais foi influenciado de forma quadrática pelos tratamentos, elevando até o nível de 1,09%.
A conversão alimentar (CA) melhorou (P<0,05) de forma linear com os níveis de lisina da ração (Figura 1). Do mesmo modo, Fontes et al. (2000, 2005) verificaram efeito linear decrescente dos níveis de lisina da ração sobre a conversão alimentar de leitoas de alto potencial genético na mesma fase de crescimento.
A concentração de uréia no plasma (UP) dos animais não foi influenciada pelos níveis de lisina na ração. Resultados semelhantes foram obtidos por Fontes et al. (2000, 2005) em leitoas de 30 a 60 kg.
Segundo Cameron et al. (2003), a lisina consumida além das necessidades de mantença e de deposição de proteína é catabolisada e o nitrogênio resultante desse catabolismo é excretado como uréia. Assim, a relação uréia plasmática × lisina na ração deve ser não-linear e deve ocorrer um ponto de inflexão no nível de lisina correspondente à exigência do animal. Neste estudo, não houve ponto de inflexão para a concentração de uréia plasmática dos animais em resposta aos níveis de lisina na ração. Duas hipóteses podem explicar esses resultados da UP: é possível que a exigência de lisina digestível dos animais tenha sido alcançada no último nível de lisina avaliado ou que esteja acima desse nível, conforme observado para a CA, não permitindo que ocorresse ponto de inflexão. De fato, o menor valor numérico da UP foi observado no nível de 1,10% de lisina digestível, parecendo indicar melhor utilização do nitrogênio da dieta à medida que se elevaram os níveis de lisina digestível.
Outra possibilidade é que a UP não tenha sido um parâmetro adequado para a determinação da exigência de lisina para suínos machos castrados dos 30 aos 60 kg, pois, segundo Cameron et al. (2003), o uso da uréia sangüínea na estimativa da exigência de lisina deve ser limitado para animais com peso superior a 70 kg. Da mesma forma, Friesen et al. (1994) concluíram que o teor de uréia no sangue não é um parâmetro adequado para estimar as exigências de lisina de suínos na fase de crescimento.
Segundo Fontes et al. (2005), o número de animais utilizados no estudo e o padrão de consumo de ração pelos animais durante o protocolo de coleta de sangue podem ser causas de variabilidade nos valores de uréia sangüínea, o que pode dificultar a utilização da uréia plasmática como parâmetro preditor da exigência de lisina para suínos de 30 a 60 kg.
Os resultados da composição química e das deposições de proteína e de gordura na carcaça de suínos machos castrados dos 30 aos 60 kg recebendo diferentes níveis de lisina na ração são apresentados na Tabela 3. De modo similar aos resultados obtidos por Fontes et al. (2000), os níveis de lisina não afetaram as porcentagens de água, proteína e gordura da carcaça dos animais.
Os tratamentos influenciaram de forma linear (P<0,05) a deposição de proteína (DP) na carcaça (Figura 2), indicando que, quando a energia da ração não é fator limitante, os suínos respondem a aumentos dos níveis de lisina da ração até o ponto de máxima deposição de proteína no corpo, determinado pela genética. Este ponto, segundo De Lange et al. (2001), corresponde ao nível que proporciona máxima eficiência alimentar. Neste estudo, o nível de lisina digestível que resultou nos melhores resultados de deposição de proteína coincidiu com aquele que resultou em melhores resultados de conversão alimentar.
Os resultados das deposições de proteína e gordura na carcaça dos animais (a relação proteína:gordura aumentou de 0,78 para 1,12 entre os níveis de 0,80 e 1,10% de lisina digestível) podem justificar a melhora na CA dos animais. Segundo Kyriazakis et al. (1994), a deposição de proteína, por agregar maior quantidade de água, é mais eficiente que a de gordura.
O valor de 1,10% de lisina digestível encontrado neste estudo, correspondente a um consumo de lisina digestível estimado de 21,94 g/dia, para os melhores resultados de CA e DP, foi superior ao preconizado pelo NRC (1998) e por Rostagno et al. (2005), respectivamente, para animais, dos 20 aos 50 kg e dos 30 aos 50 kg. Por outro lado, foi semelhante ao de 1,09% de lisina digestível obtido por Warnants et al. (2003) para melhor GPD de suínos machos castrados de alto potencial genético dos 30 aos 49 kg.
A deposição de gordura na carcaça dos animais não foi afetada (P>0,05) pelos níveis de lisina da ração. Este resultado é semelhante ao obtido por Fontes et al. (2000). Entretanto, em valor absoluto, constatou-se decréscimo de 11,5% na deposição de gordura na carcaça dos animais nos níveis de 0,80 a 1,10% de lisina na ração.
O nível de lisina digestível que proporcionou os melhores resultados de conversão alimentar e de deposição de proteína na carcaça em suínos machos castrados de alto potencial genético para deposição de carne magra na carcaça dos 30 aos 60 kg foi 1,10%, que corresponde a um consumo de lisina digestível de 21,94 g/dia (3,43 g de Lis digestível/Mcal de EM).
Agradecimento
À AGROCERES NUTRIÇÃO ANIMAL, pela cessão dos animais e das rações experimentais.
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Márvio Lobão Teixeira de AbreuI;
Juarez Lopes DonzeleII;
Rita Flávia Miranda de OliveiraII;
Alexandre Luiz Siqueira de OliveiraIII;
Douglas HaeseIV;
Adriana Aparecida PereiraV
IDZO/UFPI
IIDZO/UFV
IIIFiscal Federal Agropecuário
IVDoutorando DZO/UFV
VGraduanda em Zootecnia/UFV. Bolsista IC-PIBIC/CNPq
Revista Brasileira de Zootecnia v.36 n.1 Viçosa jan./fev. 2007
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