Uma proposta de análise interdisciplinar para os estudos do integralismo1



  1. Resumo
  2. Proposta
  3. Referências bibliográficas

RESUMO

Uma Proposta de Análise Interdisciplinar para os Estudos do Integralismo

Este artigo pretende mostrar aos estudiosos do Integralismo no Brasil a importância do investimento numa proposta interdisciplinar da História com a Lingüística, no campo da Análise do Discurso. Essa perspectiva de análise tornase ainda mais necessária quando se trata de compreender as condições de produção dos discursos que justificaram e legitimaram o processo de repressão contra os seus membros, depois de 1937, quando foram retirados do campo político no Estado Novo.

Palavras-Chave: Integralismo; Pernambuco; Análise do Discurso.

ABSTRACT

An Interdisciplinary Analysis Proposal on Integralism Studies

The object of this article is to demonstrate to students of Brazilian Integralism the importance of investing in an interdisciplinary proposal between History and Linguistics, in the field of Discourse Analysis. This analytic perspective becomes even more necessary when one tries to understand the conditions of production of discourses that justified and legitimized the process of repression against its members after 1937 when they were removed from the political arena of the Estado Novo.

Key-Words: Integralism; Pernambuco; Discourse Analysis.

Revista de História Regional 7(2)75-98, Inverno 2002

Proposta

O Integralismo, movimento doutrinário, cultural e político, constitui um tema da História do Brasil de grande complexidade e amplitude. Estudá-lo em sua profundidade requer uma postura teórica e metodológica flexível por parte dos historiadores que desejam compreendê-lo em sua estreita articulação do político com o cultural ou com o social. Por muito tempo, ele foi estudado como um movimento político, cuja explicação podia seguir as mesmas abordagens direcionadas para os estudos dos movimentos totalitários, dando-se, em alguns casos, o devido destaque a sua especificidade nacional. Neste sentido, uma das maiores preocupações dos historiadores era mostrar sua semelhança ou não com os movimentos nazi-fascistas europeus.

Nosso objetivo, no entanto, é mostrar outra opção de estudo do integralismo, indicando uma análise interpretativa e explicativa a partir das condições de produção e funcionalidade dos discursos no contexto interno dos anos 30. Com isso, pretendemos sugerir que o interessado em estudar o integralismo lucra mais quando amplia seus campos de análise para outros olhares, especialmente com o auxílio de outras áreas de conhecimento. Aqui destacamos a grande contribuição da Lingüística, no campo da Análise do Discurso, como uma proposta de estudo para uma maior compreensão do integralismo em seus vários aspectos, especial-mente no campo discursivo, onde se pode observar uma forte relação dos seus discursos com outros do período, especialmente com os do governo de Getúlio Vargas, bem como os desse em relação àqueles quando tratou de tirá-los do campo de competitividade política.

A preocupação central que norteou a pesquisa sobre o integralismo e o processo de repressão contra o mesmo em Pernambuco era compreender as condições de produção dos discursos integralistas que favoreceram sua ascensão política e como esses mesmos discursos depois foram utilizados pelo governo, no Estado Novo, para retirá-los do campo político com a mesma imagem subversiva antes construída para os comunistas. Ou seja, como os conhecidos "soldados da pátria" tiveram suas imagens transformadas para a de subversivos e conspiradores, identificados como traidores ou pior do que os "verdadeiros inimigos": os comunistas. No intuito de responder estas questões, investimos na utilização de algumas categorias da Análise do Discurso, com as quais passamos a ter algumas noções sobre a produção dos discursos integralistas e do governo em relação aos dos próprios integralistas, entre as quais destacamos: discurso2, interdiscurso3, memória discursiva4, efeito de sentido5, efeito metafórico6 e outras. Com o auxílio destas ferramentas teóricas e metodológicas, logo nas primeiras leituras e análises das fontes, chegamos a algumas considerações preliminares:

1. os integralistas não eram tão aliados assim do governo como se convencionou afirmar. A base argumentativa para tal conclusão vem justamente da análise dos seus discursos, pelos quais se pode observar que as criticas antiliberais eram tão ou mais fortes quanto os seus discursos anticomunistas. Com claras criticas ao governo pela sua incapacidade de resolver os problemas da desordem, apontada como conseqüência de um governo fraco;

2. mesmo sendo considerado aliado do governo na luta contra um inimigo em comum, os integralistas passaram a ganhar prontuários individuais e funcionais nas DOPS (Delegacia de Ordem Política e Social) em vários Estados do país, sendo observados numa lógica policial que os tornava tão suspeitos quantos outros grupos.

Disso resultou a conclusão de que, apesar dos integralistas terem surgido no campo político, com uma proposta de Estado centrada numa doutrina política que congregava muito dos ideais do pós-30, ganhando a simpatia de grupos católicos, conservadores e tradicionais da sociedade, eles logo passaram a constar nos prontuários da DOPS, sendo observadas e registradas todas as suas atitudes e discursos pela polícia de Getúlio Vargas. Por outro lado, não se pode omitir que trabalharam ao lado da polícia na luta contra o comunismo e receberam apoio para propagar suas propostas políticas, através de intensa atividade pública. Entretanto, após a implantação do Estado Novo, no qual são inseridos como um dos seus principais mentores, foram retirados da cena política com imagens opostas às que haviam construído no início dos anos 30, sendo perseguidos como subversivos e traidores da pátria.


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