O ser que envelhece: técnica, ciência e saber



  1. Resumo
  2. Introdução
  3. Gerontologia. Ciência e técnica
  4. Gerontologia. Ciência e saber
  5. Considerações finais
  6. Referências

RESUMO

Abordamos a Gerontologia, que se pretende ciência do envelhecimento. A partir de Bachelard e Canguilhem, discutimos as perspectivas da Gerontologia como ciência naquilo que se refere à Fisiologia do Envelhecimento, da Genética do Envelhecimento ou da Biogerontologia e como um conjunto de técnicas de cura, de alívio da dor, de ação sobre a vida do ser que envelhece através da Geriatria, da Psicogeriatria, da Enfermagem Geriátrica, do Serviço Social, por exemplo. A partir do pensamento de Foucault, consideramos que a Gerontologia inclui os saberes sobre este ser único que pensa sobre si mesmo e sobre suas próprias representações por meio da Antropologia, da Psicanálise, entre outras. Quanto a ter por objeto o envelhecimento, entendemos que se trata de um projeto absolutamente ambicioso, que praticamente coincide com as Ciências Humanas e da Vida quando tematizam a juventude e o envelhecer. Hoje, parece-nos, a Gerontologia corresponde a um conjunto de ciências, técnicas e saberes voltados, principalmente, para esse ainda nebuloso domínio que é a velhice.

Palavras-chave: Envelhecimento, Pesquisa, Tendências, Gerontologia

The being that ages: technique, science and knowledge

ABSTRACT

We address Gerontology in its perception as the science of aging. Based on Bachelard and Canguilhem, we discuss the perspectives of Gerontology as science in terms of Aging Philosophy, Aging Genetics or Bio-Gerontology, and as a set of techniques for cure such as pain relief, action on life of the being that ages through Geriatrics, Psycho-geriatrics, Geriatric Nursing and Social Service. Based on Foucault, we consider that Gerontology comprises all knowledge on that unique being who thinks about himself and about his own representations, through Anthropology, Psychoanalysis, and so on. As to the fact that aging is the object , we see this as an ambitious project, which almost coincides with Human Sciences and Life when these deal with youth and old age. Gerontology is today a set of sciences, techniques and knowledge, mainly concerned with the still indefinite domain of old age.

Key words: Aging, Research, Tendencies, Gerontology

Introdução

A ciência ocupa lugar privilegiado no mundo moderno. Seu desenvolvimento, em particular no que se refere aos aspectos tecnológicos, coloca-a em posição de destaque por conta do estatuto de verdade que confere às conclusões sobre os mais diversos fenômenos que aborda. Outrora esse valor de verdade já foi estabelecido predominantemente pela magia e/ou pela religião, por exemplo. Hoje, toda a infra-estrutura institucional que cerca alguns campos como a física, por exemplo, toma caráter de grandioso poder, que envolve a produção de conhecimentos e os aparatos técnicos, os equipamentos, os procedimentos, importando investimentos e realizações espetaculares, de grande visibilidade e credibilidade. Tudo isso vem caracterizando a alegação da ciência como detentora de enormes poderes. Stengers1 nos alerta para os perigos de leituras que a tomam integralmente identificada com um projeto oculto de dominação do mundo e nos convida a aprofundar a singularidade de cada uma de suas manifestações e a especificidade de cada campo científico na construção de poderes diversos, grandes ou pequenos, enganadores ou verdadeiros.

Num cenário contemporâneo em que discursos especializados brotam em intensa multiplicação2, a busca por sua legitimação como campos da ciência é intensa. No caso da Gerontologia brasileira, tal processo fica bem evidenciado no trabalho de Lopes3 sobre a trajetória da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) em sua busca de estabelecer-se como autoridade cientifica, o que se dá de forma particularmente intensificada de 1990 até os dias atuais. Essa tendência, parece-nos, perdurará ainda por décadas. Procurando combinar discurso científico e defesa dos idosos, a Geriatria e a Gerontologia vêm crescendo no mercado de trabalho, firmando-se como autoridade no estabelecimento de normas e condutas na velhice4.

O investimento em esforços que conduzam à constituição de bases teóricas que permitam afirmar o caráter científico de determinado discurso especializado também corresponde à estratégia para legitimação de novos campos que tratam de ser reconhecidos como ciência. Stengers assinala a existência de movimentos que buscam na epistemologia, no atendimento a critérios epistemológicos, as referências para seja possível afirmar que tal ou qual prática seja científica.

No campo do envelhecimento, Sá5 propõe referências epistemológicas, buscando estabelecer a que tipo de ciência corresponde a Gerontologia, se formal ou se técnica, e que teorias e metodologias a sustentariam.

Temos, portanto, que são bem claras as iniciativas dirigidas a consolidar argumentos em favor da Gerontologia como campo da ciência; seja por meio de uma entidade de classe a SBGG, que investe na aproximação com a universidade, espaço reconhecido por excelência como de produção de conhecimento científico , seja através da construção de uma fundamentação teórica apoiada numa epistemologia que apresenta a Gerontologia como uma ciência técnica, tal qual a Medicina ou a Arquitetura ou o Serviço Social, e que deve voltar-se de forma enfática para a ação, para a intervenção.


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