Aspectos metodológicos do comportamento ingestivo de
cabras lactantes
alimentadas com farelo de cacau e torta de dendê
Objetivou-se definir o intervalo de registro do comportamento ingestivo de cabras Saanen lactantes alimentadas com dietas contendo farelo de cacau e torta de dendê em substituição ao concentrado. Ao final de cada período experimental, cinco cabras (41,6 kg de PV) alojadas em baias individuais foram observadas continuamente (24 horas/dia). O concentrado padrão (milho e farelo de soja) foi substituído por 0, 15 e 30% de farelo de cacau ou torta de dendê. O comportamento ingestivo consistiu dos tempos despendidos em alimentação, ruminação e ócio. Foram testados os intervalos de 10, 15 e 20 minutos contra o registro de observação a intervalos de cinco minutos. O farelo de cacau e a torta de dendê não provocaram alterações no comportamento ingestivo em nenhum dos intervalos avaliados. Não houve diferença entre os tempos médios despendidos em alimentação, ruminação e ócio nos diferentes intervalos de tempo avaliados, indicando que os animais podem ser observados a intervalos de até 20 minutos.
Palavras-chave: alimentação, observação, ócio, ruminação
A caprinocultura tem desenvolvido rapidamente nos últimos anos, todavia, as pesquisas têm sido direcionadas quase que estritamente às áreas de nutrição, melhoramento genético e reprodução.
Apesar de as abordagens contribuírem muito, trazendo inúmeros benefícios para os setores de produção de carne e leite, torna-se necessário o entendimento do comportamento dos caprinos, no intuito de ajustar seu manejo para obtenção de melhor desempenho. A resposta animal depende essencialmente da nutrição para responder aos anseios da produção. No entanto, essa situação demonstra despreocupação com a biologia do caprino, o que tem limitado o entendimento de algumas respostas encontradas nas pesquisas (Carvalho et al., 2004, Silva et al., 2005a).
De acordo com Fischer et al. (2000), ruminantes em confinamento arraçoados duas vezes ao dia apresentam duas refeições principais após o fornecimento da ração (durante 1 a 3 horas), além de um número variável de pequenas refeições entre elas. Os períodos de ruminação e descanso entre as refeições, sua duração e seu padrão de distribuição são influenciados pelas atividades de ingestão (Deswysen et al., 1993; Fischer et al., 1997ab).
Segundo Van Soest (1994), o tempo despendido em ruminação, influenciado pela natureza da dieta, é proporcional ao teor de parede celular dos volumosos (quanto maior a participação de volumosos na dieta maior o tempo despendido em ruminação). Contudo, a eficiência de ruminação ou mastigação pode ser reduzida em dietas com elevado tamanho de partícula e alto teor de fibra, tendo em vista a maior dificuldade para reduzir o tamanho das partículas originadas destes materiais fibrosos.
O estudo do comportamento ingestivo pode elucidar os problemas relacionados à diminuição do consumo em épocas críticas para a produção de leite, como a fase inicial de lactação, relacionados aos efeitos das práticas de manejo e dimensionamento das instalações e da qualidade e quantidade da dieta (Albright, 1993).
O uso de resíduos agroindustriais na alimentação, principalmente no sistema de confinamento, é fundamental quando o objetivo é reduzir o custo de produção. O farelo de cacau, resíduo obtido no processo de secagem da amêndoa do cacau, e a torta de dendê, resultante da extração do óleo de dendê, podem ser empregados na alimentação de ruminantes, no entanto, seus efeitos sobre o comportamento ingestivo animal ainda foram pouco estudados.
O registro do comportamento ingestivo pode ser feito continuadamente, mediante o acompanhamento de poucos animais, face ao enorme esforço de mão-de-obra exigido ou com o uso de aparelhos de registro automático, sem limite ao número de animais (Salla et al., 1999). Dessa forma, estudos de etologia têm sido largamente utilizados no desenvolvimento de modelos para suporte às pesquisas e às formas de manejo dos animais de interesse zootécnico.
O estudo do comportamento animal, principalmente daqueles mantidos em regime de confinamento (Damasceno et al., 1999), é importante, pois possibilita o entendimento das variações no consumo de alimento (Dado & Allen, 1994). No entanto, novas técnicas de alimentação modificam o comportamento, tanto alimentar como físico-metabólico, do animal (Armentano & Pereira, 1997).
Os padrões de comportamento constituem-se um dos meios mais efetivos pelos quais os animais se adaptam a diversos fatores ambientais, podendo indicar métodos potenciais de melhoramento da produtividade animal com a utilização de diferentes manejos. Entretanto, a correta compreensão de um fenômeno envolve primeiramente o estudo da metodologia de avaliação (Salla et al., 1999).
A escolha do intervalo para discretizar as séries temporais, ou seja, o tempo despendido em alimentação, ruminação e descanso, deve ser uma ponderação entre o poder de detectar mudanças na ocorrência das atividades e a precisão, sem, no entanto, incorrer em redundância. Rook & Penning (1991) utilizaram a forma contínua de registrar a discretização das séries temporais. No entanto, em muitos trabalhos, foi adotado o intervalo de cinco minutos (Bürger et al., 2000; Queiroz et al., 2001; Mendonça et al., 2004; Salla et al., 2003) e, em outros, o de sete (Deswysen et al., 1993), dez (Miranda et al., 1999; Gonçalves et al., 2001; Costa et al., 2003) e 15 minutos entre observações (Fischer et al., 1998; Portugal et al., 2000). Na maioria dos trabalhos, a escolha da escala foi realizada de forma totalmente aleatória e, como afeta a percepção do observador quanto à heterogeneidade do sistema, a adoção de uma escala inadequada pode comprometer os resultados (Dutilleul, 1997). Neste estudo, objetivou-se definir, em cabras lactantes recebendo farelo de cacau e torta de dendê como parte da dieta, um intervalo de observação ideal que proporcione resultados semelhantes ao de cinco minutos quando não há disponibilidade de dispositivos de filmagem.
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