O mst e a mídia: o fato e a notícia



  1. MST e a mídia: o fato e a notícia (Resumo)
  2. MST: cenário dos acontecimentos
  3. Situando a discussão: ideologia, discurso e geografia
  4. MST no jornal O Imparcial: uma leitura das contradições
  5. Considerações finais
  6. Bibliografia

Toda Linguagem é politicamente contaminada.
Haiden White

O MST e a mídia: o fato e a notícia (Resumo)

Nosso texto se detém na análise das reportagens do Jornal O Imparcial, de Presidente Prudente, sobre as ações do MST. O discurso veiculado pelo jornal nos revela a tendência da imprensa em noticiar os fatos a partir de construções semanticamente negativas ao Movimento, o que por sua vez nos leva a indagar sobre as relações de poder estabelecidas pela imprensa. Na mesma medida em que noticia os fatos, a imprensa o faz a partir de "modalidades do dizer" que não permitem ao leitor uma interpretação favorável ao MST, ao mesmo tempo em que expressa formas de violência contra os trabalhadores rurais sem-terra. Nesse sentido, o discurso jornalístico revela, em seus componentes lingüísticos, um tratamento discriminatório das ações de reivindicações do MST, que muitas vezes são abordadas como caso de polícia e não questões sociais. É partir dessa discussão que buscamos analisar as formações discursivas do jornal, tendo em vista as determinações e práticas sociais manifestas na produção e reprodução do espaço.

Palavras-chave: Imprensa, ideologia, discurso, MST.

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Este texto apresenta algumas reflexões sobre as relações e articulações que se dão no espaço a partir da constituição da linguagem. Partimos do pressuposto de que a atividade vital humana, sendo coletiva, exige a atividade comunicativa. Essa atividade de comunicação se objetivou em processos que geraram a linguagem. A gênese da linguagem, portanto é apropriação e objetivação do pensamento humano, isto é, a história da apropriação pelo pensamento das estruturas de comunicação que vão sendo objetivadas na linguagem.

Nesse sentido, se somos determinados pelas relações de trabalho, entendido como atividade vital, pensamos que ser possível afirmar que a linguagem é um produto do trabalho, e é também, atividade mediada pelo trabalho, compreendido enquanto categoria mais ampla que determina o ser social. Assim, da atividade vital do homem resultam objetivações, entre as quais se incluem a linguagem.

Posto isso, podemos dizer que o trabalho que realizamos gira em torno das condições de produção do discurso, as quais nos remetem a noções de ideologia, práticas sociais e poder. O nosso exercício de análise faz-se sobre o que a imprensa local, especificamente o jornal O Imparcial, de Presidente Prudente, diz do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, cujo intento é verificar o que o texto do jornal evidencia e, também o que silencia sobre o Movimento. Ao mesmo tempo em buscamos compreender as pistas ideológicas que determinam a produção do discurso e estratégias presentes na construção do espaço, entendido como expressão da materialização da dinâmica social.

O texto, então, apresenta a seguinte estrutura: na primeira parte situamos o surgimento do MST no contexto nacional e no Pontal do Paranapanema, no Estado de São Paulo; na segunda parte contextualizamos a discussão no âmbito da produção do discurso, buscando discutir conceitos de ideologia, discurso, os quais nortearão a nossa análise; na terceira parte analisamos alguns títulos de notícias do jornal em que se evidencia a forma pela qual os modos de dizer do jornal contribuem para uma representação negativa do MST, em que se manifestam formas expressivas de representar a violência contra os trabalhadores rurais sem-terra, por meio de um discurso articulado e eficiente em perfeita sintonia com os interesses do poder econômico (agrário) local.

MST: cenário dos acontecimentos

O mundo, na década de 1990, passou por uma série de mudanças e, com ele, a realidade nacional brasileira: o avanço da globalização da economia, das políticas neoliberais, aumento do desemprego, a informatização tecnológica com desdobramentos no mundo do trabalho e conseqüentemente a precarização das relações de trabalho. Com essas mudanças, intensificou-se o processo de exclusão social, o qual se alastra, atingindo não só as camadas populares, mas também as camadas médias da população que passam a conviver com o fantasma do desemprego. Na década de 1990, os sindicatos perderam poder como conseqüência dos novos rearranjos e configuração do trabalho, que minam as bases do sindicalismo. É nesse contexto também, que vamos presenciar no Brasil, o acirramento das lutas no campo, que remontam às Ligas Camponesas dos anos de 1950/1960, as quais ganham novas roupagens no cenário político brasileiro, a exemplo dos sem-terra e, com eles o surgimento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST.

À medida em que o Movimento Sem-Terra ganha força no cenário nacional reivindicando direitos, a grande imprensa atua de forma ambígua, pois ao mesmo tempo em que dá visibilidade ao Movimento, por outro lado irá deformar e obscurecer as suas reais intenções. O papel que a imprensa desempenha irá contribuir para reforçar o discurso sobre o radicalismo do Movimento e a (im)possibilidade de discussão da questão da luta pela reforma agrária. Assim é que o MST irá figurar na imprensa nacional, ora como movimento de reivindicação, ora como "marginal" que congrega em torno de si um "bando de desordeiros".

E isso se dá, a partir do momento em que o MST definiu suas formas de luta por meio das ocupações de terras e acampamentos; tomadas de prédios públicos, como Banco do Brasil, praças públicas, caminhadas com interrupção de rodovias, greves de fome, entre outras estratégias de luta.

Com isso manifesta-se um novo elemento subjacente à implantação de uma nova forma de enfrentamento, pois esta direção do MST demanda novas articulações dos proprietários de terra do país. Os ruralistas que, inicialmente, contavam para sua defesa apenas com seus "homens" para ameaçar ou expulsar os sem-terra, em seguida passaram a necessitar da Polícia Militar para os expulsar e da Justiça para lhes negar o direito de posse. Isso vai se configurar em uma nova necessidade de expressão de força, representada pela União Democrática Ruralista (UDR) a qual é sustentada no Congresso, pela bancada ruralista (Cf. Bruno, 1997, p. 43-62).


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