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Eficiência de uma barra de pulverização para aplicação de herbicida em lavouras de café em formação (página 2)

Luciana Castro Geraseev

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado em Viçosa-MG, utilizando um pulverizador construído para aplicar herbicidas não-seletivos, na linha de plantio do café e para ser transportado por animal. Esse pulverizador é formado por dois tanques de PVC com capacidade individual de 50 L; bomba de diafragma marca Flojet, acionada por uma bateria de 12 V e capacidade nominal de 40 Ah; barra de pulverização com dois bicos; e um dispositivo protetor contra deriva, projetado para passar sob os ramos da planta (Figura 1).

Os bicos utilizados foram os da série 80EF-015, por serem recomendados para aplicações em faixas, uma vez que promovem distribuição uniforme das gotas ao longo da faixa de aplicação (Jacto, 1998). Ademais, em testes preliminares, esses bicos apresentaram vazões e faixas de aplicação adequadas tanto agronomicamente como para sua utilização na barra de pulverização do equipamento.

Para se determinar a uniformidade de distribuição volumétrica proporcionada pelos bicos, sob diferentes pressões de trabalho, conduziu-se um ensaio, com três repetições, em uma mesa de distribuição padronizada, construída de acordo com a Norma ISO 5682/1 (ISO, 1986). Com a barra de pulverização fixada a uma altura de 0,4 m, coletou-se o líquido pulverizado durante 60 segundos, em provetas espaçadas a cada 5 cm ao longo da faixa de pulverização.

A uniformidade de distribuição volumétrica foi determinada calculando-se o coeficiente de variação da distribuição ao longo da barra, para cada pressão de trabalho. Os valores então obtidos foram submetidos a análises de variância e regressão, escolhendo-se um modelo com elevado coeficiente de determinação, significativo a 1% de probabilidade pelo teste t e, também, com lógica para esse tipo de ensaio. De acordo com a curva obtida, pôde-se estimar a pressão de trabalho que proporcionou o menor coeficiente de variação e, conseqüentemente, a maior uniformidade de distribuição volumétrica.

A densidade populacional de gotas (DP) foi determinada utilizando-se etiquetas amostradoras de papel "contact" de 6 x 9 cm, distribuídas aleatoriamente na faixa de aplicação, num total de cinco etiquetas para cada volume aplicado.

As aplicações foram feitas com a barra de pulverização trabalhando a 0,4 m de altura, às pressões de 100, 200 e 300 kPa, correspondendo aos volumes de aplicação de 110, 210 e 292 L ha-1, respectivamente. Para melhor visualização das gotas sobre o papel, adicionou-se um corante à calda. As etiquetas foram fotografadas e analisadas por meio do programa computacional "Image Tool" versão 2.0 (UTHSCSA, 1996). Adotou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado, com cinco repetições. Em seguida, foram ajustados modelos de regressão, relacionando a DP com as pressões de pulverização. Escolheu-se modelo significativo a 1% de probabilidade, pelo teste t, e com elevado coeficiente de regressão. As análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o programa computacional SAEG, versão 8 (Ribeiro Júnior, 2001).

Os ensaios de campo foram realizados em uma área com declividade média de 18%. Utilizou-se uma lavoura (Coffea arabica cv. Catuaí Vermelho) com 18 meses de idade e espaçamento de 2,5 x 1,0 m, com altura média de 0,45 m, diâmetro da projeção da copa de 0,60 m e altura de inserção do primeiro par de ramos de 0,20 m.

Foi utilizado o delineamento em blocos casualizados, com tratamentos dispostos em esquema fatorial, sendo três volumes de calda (110, 210 e 292 L ha-1), duas doses de glyphosate equivalentes a 960 e 1.920 g ha-1 do ingrediente ativo (i.a.) e a testemunha (0,0 g ha-1), com quatro repetições. As parcelas constituíram-se de uma linha de plantio, com 6 m de comprimento e 2,5 m de largura, sendo 1,25 m de cada lado da fileira. Entre blocos deixou-se uma linha de plantio como bordadura. A distância entre bicos foi ajustada para cada pressão de trabalho, a fim de manter a cobertura total da faixa de aplicação com a barra de pulverização mantida na altura de 0,4 m. No dia da aplicação dos tratamentos, realizou-se a amostragem das plantas daninhas presentes na área experimental (na linha de plantio), utilizando-se um arco de 0,1 m², lançado ao acaso cinco vezes em cada parcela, determinando-se a porcentagem de cada espécie em relação ao número total de plantas encontradas.

A temperatura e a umidade relativa do ar no momento da aplicação do herbicida variaram de 25 a 27 oC e de 64 a 70%, respectivamente. A velocidade média do vento foi de 0,8 m s-1, com picos máximos de 2 m s-1.

Aos 30 dias após a aplicação (DAA) do glyphosate realizou-se nova amostragem de plantas daninhas, determinando-se o número de plantas e a biomassa seca total. Para determinação da biomassa seca, as plantas foram cortadas rente ao solo, lavadas e secas em estufa de circulação forçada a 75 ºC, até massa constante. Realizou-se, também, nessa época, uma avaliação visual da eficácia de controle, comparando-se as áreas tratadas com a testemunha (sem tratamento), utilizando-se a escala da Associação Francesa de Proteção de Plantas (AFFP), citada por Teixeira (1997). Nessa escala, a nota 10 (dez) é considerada eficácia total e a nota 0 (zero) eficácia nula, sendo a nota 7 o limite inferior de eficácia agronomicamente aceito. Para melhor análise, esses valores foram convertidos em porcentagem de controle.

Para avaliar a possível ocorrência de deriva durante a aplicação do herbicida, foram afixadas etiquetas de papel hidrossensível em uma planta de café, escolhida ao acaso, dentro de cada parcela. As etiquetas foram afixadas nas folhas apicais de quatro ramos plagiotrópicos do terço inferior da planta, dispostos segundo os pontos cardeais, e, também, em folhas do ápice da planta. Obteve-se, portanto, o número de gotas por unidade de superfície que atingiram a planta e fez-se, ainda, uma avaliação visual da toxidez do herbicida às plantas de café, de acordo com as especificações da tabela da AFPP, que considera nota 0 (zero) ausência de fitotoxicidade e 10 (dez) morte das plantas, sendo a nota 3 o limite superior de fitotoxicidade agronomicamente aceito.

A partir do número e da biomassa seca de plantas daninhas, aos 0 e 30 DAA, foi calculada a eficácia de controle, usando as seguintes fórmulas:

em que EN = eficácia de controle em função do número de plantas daninhas em cada tratamento (%); T = número total de plantas daninhas presentes na amostra aos 0 DAA; P = número de plantas daninhas presentes na amostra aos 30 DAA; EBS = eficácia de controle em função da biomassa seca de plantas daninhas (%); Mt = massa seca total média de plantas daninhas da testemunha, aos 30 DAA (g); e Mp = massa seca total média de plantas daninhas em cada parcela tratada, aos 30 DAA.

Os resultados foram submetidos às análises de variância e de regressão, utilizando-se o teste t a 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O perfil de distribuição volumétrica e a variação dessas características, expressa pelo coeficiente de variação (CV), em função das pressões, são apresentados nas Figuras 2 e 3, respectivamente.

Os bicos apresentaram acentuada desuniformidade da distribuição volumétrica nas extremidades do jato, o que certamente contribuirá de maneira significativa para o aumento dos coeficientes de variação. A distribuição melhorou com o aumento da pressão.

Verifica-se na Figura 3 que, com o aumento da pressão, houve redução do CV, até atingir um valor mínimo. A partir desse ponto, com incremento da pressão, houve aumento do CV.

A melhor uniformidade de distribuição estimada foi obtida à pressão de 312,49 kPa, uma vez que essa pressão proporcionou o menor CV (19,38%) (Figura 3). Este valor é superior ao permitido pela norma EN 12761-2 (CEN, 1997), que estabelece o limite máximo de 9% quando o equipamento trabalha fora dos parâmetros recomendados pelo fabricante e de 7% quando lhes obedece. Os valores referentes à densidade populacional, em função da pressão de trabalho, são apresentados na Figura 4.

Houve aumento significativo da densidade populacional das gotas com o aumento da pressão. A população de gotas estimada variou de 148 gotas cm-2, a 100 kPa, para 260 gotas cm2, a 300 kPa. Esses valores mostram que o número de impactos por unidade de superfície, proporcionados pelo conjunto de bicos, em todas as pressões estudadas, é superior ao mínimo (30 a 40 gotas cm-2) recomendado para uma aplicação eficiente de herbicidas (Barthelemy et al., 1990).

O número de plantas daninhas e a porcentagem de cada espécie encontrada na área experimental são apresentados na Tabela 1.

A maioria das plantas daninha se apresentava em início de floração; Ipomoea aristolochiaefolia se encontrava em início de crescimento, com aproximadamente 20 cm. Amaranthus deflexus se encontrava difundido em toda a área, com plantas em todos os estádios de desenvolvimento. Digitaria insularis se apresentava com cerca de 70 cm de altura, e Cynodon dactylon, embora em menor porcentagem, exibia plantas com mais de 50 cm de comprimento, em estádio de florescimento. A densidade populacional de plantas daninhas se encontrava muito alta, apresentando plantas com altura superior à da cultura.

No estudo da biomassa, não houve diferença significativa da eficácia entre os tratamentos quanto ao volume de calda aplicado e quanto à interação dose x volume. No entanto, ela foi significativa quanto à dose do produto (Tabela 2).

Pela análise visual, aos 30 DAA não houve diferença significativa entre os tratamentos, conforme Tabela 3.

As avaliações da eficácia de controle quanto ao número de plantas e biomassa seca feitas aos 30 DAA são apresentadas na Tabela 4.

Todos os tratamentos apresentaram controle de plantas daninhas superior a 98%, para todas as espécies presentes. Houve diferença significativa da biomassa quanto à dose utilizada, porém, para ambas as doses, a eficácia foi considerada excelente. As plantas daninhas restantes foram muito danificadas, apresentando fortes sinais de intoxicação (Figura 5).

Nenhum sinal de impacto de gotas foi verificado nas etiquetas de papel hidrossensível, mostrando que cultura não foi atingida pelo herbicida, fato este confirmado com uma avaliação visual aos 30 DAA. Nessa época, nenhuma planta de café apresentou sinais de intoxicação característicos do herbicida, evidenciando a total proteção proporcionada pelo equipamento contra deriva.

A faixa de controle das plantas daninhas foi contínua e variou com o aumento da pressão; em média, situou-se em torno de 1,40 m ao longo da linha de plantio.

Houve perfeito cruzamento dos jatos sob a copa das plantas, possibilitando o controle nesta região, conforme Figura 5.

O equipamento foi eficiente e seguro, constituindo-se em uma importante ferramenta para aplicação de herbicidas não-seletivos ao longo da linha de plantio de lavouras de café em formação.

LITERATURA CITADA

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VICENTE, M. C. M.; COELHO, P. J.; LOPES JUNIOR, A. Programa de Segurança e Saúde do Trabalhador Rural - Banco de Dados. São Paulo: 1999. (CD Rom)

 1. Parte da dissertação de mestrado do primeiro autor.

 

Rodrigues, G.J.II;

Teixeira, M.M.II;

Ferreira, L.R.III;

Fernandes, H.C.II
haroldo[arroba]ufv.br
IEng.-Agrônomo, Doutorando em Mecanização Agrícola, Dep. de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Viçosa - UFV, 36570-000 Viçosa-MG, Fone: (31) 3899-1860
IIProfessor do Dep. de Engenharia Agrícola da UFV
IIIProfessor do Dep. de Fitotecnia da UFV, 36570-000 Viçosa-MG



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