Melipona marginata obscurior Moure (Hymenoptera, Apidae)

Enviado por Betina Blochtein


  1. Resumo
  2. Material e métodos
  3. Resultados e discussão
  4. Referências bibliográficas

Atividades externas de Melipona marginata obscurior Moure (Hymenoptera, Apidae), em distintas épocas do ano, em São Francisco de Paula, Rio Grande do Sul, Brasil

External activities of Melipona marginata obscurior Moure (Hymenoptera, Apidae), in distinct times of the year, at São Francisco de Paula, Rio Grande do Sul, Brazil

RESUMO

Propõe-se a análise das atividades de vôo de Melipona marginata obscurior Moure, 1971, em diferentes épocas do ano. Atividades de vôo de abelhas de duas colônias foram estudadas no Centro de Pesquisas e Conservação da Natureza Pró-Mata, em São Francisco de Paula, RS. Na primavera-verão, a amplitude diária de atividade de vôo foi de nove e 13 horas para colônias A e B, respectivamente, com maior intensidade de vôo entre nove e 11 horas. A temperatura mínima para vôo foi de 14,3°C e a partir desta tornaram-se mais intensas. A maior intensidade de vôo ocorreu na faixa de 81-90% de umidade relativa e radiação solar a partir de 300 W/m2.

Para a colônia A, apenas a temperatura influenciou significativamente as atividades de vôo das abelhas, enquanto que para a colônia B foi somente a radiação solar. No outono-inverno, a amplitude diária de atividades de vôo foi de 10 horas, e entre 10 e 15 horas estas atividades foram mais intensas. A temperatura mínima para vôo foi de 13,7°C, e a partir desta temperatura as atividades tornaram-se mais intensas. Assim como na primavera-verão, a maior intensidade de vôo neste período ocorreu a partir de 300 W/m2 de radiação solar. A temperatura e a radiação solar exerceram influência significativa nas atividades externas das abelhas das duas colônias no outono-inverno. As atividades de coleta de pólen pelas abelhas, na primavera-verão, ocorreram desde as primeiras horas da manhã, enquanto no outono-inverno o forrageamento foi tardio.

Palavras chave: Coleta de pólen, manduri, fatores meteorológicos.

ABSTRACT: It is proposed a seasonal analysis of the external activities of Melipona marginata obscurior Moure, 1971, in different times of the year. The flight activities of the bees of colonies were studied in the Centro de Pesquisas e Conservação da Natureza Pró-Mata, at São Francisco de Paula, Rio Grande do Sul. In the spring-summer period, the diary amplitude of the flight activity was about 9 and 13 hours to the colonies A and B, respectively, with more flight intensity between 9 and 11 o'clock. The flight minimum temperature was about 14,3°C and from this one they became more intense. The most flight intensity has occurred about 81-90% of relative humidity and 300 W/m2 of solar radiation. For the A colony, the bees flight activity was significantly influenced only by the temperature, while for the B colony it was influenced only by the solar radiation. In autumn-winter period, the diary amplitude of the flight activities was about 10 hours, and between 10 and 15 o'clock these activities were more intense. The flight minimum temperature was about 13,7°C, and from this temperature the activities became more intense. As in the spring-summer period, the most flight intensity in this period had occurred in about 300 W/m2 of solar radiation. The temperature and the solar radiation had exertised a significant influence in the external activities of the bees on both colonies in the autumn-winter period. The collect pollen activities by the bees, in the spring-summer period, occurred in the first hours of the morning, while in the autumn-winter period the foraging was delayed.

Key words: Manduri, meteorological factors, pollen, stingless bees.

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Operárias de abelhas sem ferrão, durante suas atividades externas, coletam pólen (fonte protéica) e néctar (carboidratos) além de outros materiais para construção dos ninhos (ABSY & KERR 1977, GUIBU et al. 1988, RAMALHO et al. 1989, 1991, MICHENER 2000). Estas atividades podem ser influenciadas pela oferta de recursos florais, pelas condições internas das colônias (reserva alimentar, produtividade das rainhas) e por fatores abióticos, tais como temperatura, umidade relativa, intensidade luminosa, precipitação e velocidade do vento (IWAMA 1977, SZABO 1980, KLEINERT-GIOVANNINI 1982, IMPERATRIZ-FONSECA et al. 1985, KLEINERT-GIOVANNINI & IMPERATRIZ-FONSECA 1986, HEARD & HENDRIKZ 1993, FREITAS & WITTMANN 1997, HILÁRIO et al. 2000, 2001, PICK & BLOCHTEIN 2002a, b).

Ecologicamente, as atividades de vôo das abelhas fornecem dados fundamentais para o conhecimento da biologia das espécies e sua aplicação na conservação das espécies e planejamento efetivo da polinização de plantas agrícolas (IWAMA 1977).

No Rio Grande do Sul, os trabalhos sobre Meliponinae (SILVEIRA et al. 2002) registram a ocorrência de espécies (WITTMANN & HOFFMANN 1990. WILMS et al. 1997. ALVES-DOS-SANTOS 1999), a arquitetura de ninhos (WITTMANN 1989), o comportamento reprodutivo (WITTMANN et al. 1991, Freitas & Wittmann 1997) e atividade de vôo durante a diapausa e postura da rainha (PICK & BLOCHTEIN 2002b). No Rio Grande do Sul apenas Plebeia saiqui (HOLMBERG, 1903) foi estudada quanto às atividades externas em distintas épocas do ano (PICK & BLOCHTEIN 2002a, b).

Melipona marginata obscurior Moure, 1971, assim como a maioria das espécies de Meliponina, é generalista quanto à obtenção de néctar e pólen (KLEINERT-GIOVANNINI & IMPERATRIZ-FONSECA 1987) e, até o momento, no Rio Grande do Sul foi relacionada a 59 espécies de plantas (MARQUES et al. 2004). Conhecida popularmente como manduri, nidifica em ocos de árvores de médio e grande porte, em alturas superiores a 4 m (KERR et al. 1996) e em paredões de taipa (PIRANI & CORTOPASSI-LAURINO 1994).

A entrada do ninho é típica e destaca-se no centro de estrias convergentes de barro, por onde passa apenas uma abelha (NOGUEIRA-NETO 1970).

Melipona m. obscurior apresenta ampla distribuição, com registro para o estado da Bahia e regiões Sudeste e Sul do Brasil (SILVEIRA et al. 2002). Sua ocorrência no Rio Grande do Sul foi registrada para as localidades de Canela, Cambará do Sul, Caxias do Sul, Osório, Planalto, São Francisco de Paula e Tenente Portela (WITTMANN & HOFFMANN 1990, MARQUES et al. 2004).

Apesar do reconhecimento da efetividade das abelhas como agentes polinizadores, o número de colônias de abelhas nativas nas matas brasileiras tem diminuindo acentuadamente em consequência das alterações de seus ambientes, como desmatamentos, queimadas, uso de agrotóxico e ação predatória de meleiros (AIDAR 1996, KERR et al. 1996, AIDAR & CAMPOS 1998, MARQUES et al. 2002, SILVEIRA et al. 2002).

Melipona m. obscurior foi incluída, como espécie vulnerável, na Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas do Rio Grande do Sul (MARQUES et al. 2002). Além dos aspectos da conservação, o conhecimento da ecologia das espécies é essencial para seu manejo na polinização e produção de mel (KERR et al. 1996, MARQUES et al. 2004). No entanto, no Rio Grande do Sul, ainda não foram realizados estudos a respeito da biologia de M. m. obscurior.

O presente trabalho tem como objetivo ampliar o conhecimento sobre a biologia de M. m. obscurior, em ambiente de distribuição natural, com a análise das atividades externas das abelhas durante os períodos de primavera-verão e outono-inverno.


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