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O trabalho foi realizado no Campo Experimental de Coronel Pacheco da Embrapa Gado de Leite, localizado no município de Coronel Pacheco, Estado de Minas Gerais (altitude de 435 metros, latitude de 21o33´22" Sul e 43o6´15" Oeste). A classificação do clima é tropical chuvoso, com precipitação anual média de 1533 mm, apresentando amplitude térmica acima de 5oC, média anual de 19,5oC, verão chuvoso, inverno seco, nos meses de junho a setembro.
Nos dias de observação foram obtidos os seguintes dados: horários de temperatura ambiente, umidade relativa do ar, do termômetro de globo negro (ao sol e à sombra).
O sistema silvipastoril, no qual foi desenvolvido este estudo, é localizado em área declivosa (aclive suave) e constituído de leguminosas arbóreas distribuídas numa área de pastagem de Brachiaria decumbens de 0,8 ha (piquete), sem a presença de plantas invasoras. As árvores foram plantadas em linhas, com espaçamento de 10 metros entre linhas e entre árvores.
O sistema silvipastoril continha as seguintes espécies arbóreas: Acacia angustissima, Acacia auriculiformis, Acacia mangium, Albizia guachapelle, Albizia lebbek, Anadenanthera sp. (Angico vermelho), Dalbergia nigra (jacarandá da Bahia), Eritrina sp, Gliricidia sepium,, Enterolobium contortisiliquum (orelha de macaco), Caesalpinia ferrea (pau ferro), Piptadenia sp. (angico branco), todas constituídas de árvores de médio a grande porte, perenifólias, que forneciam, no máximo, 30% de sombra ao sistema.
O potencial de produção anual de forragem (matéria seca) da Brachiaria decumbens na área experimental ao sol foi de aproximadamente 13 t/ha, sendo 2,4 t/ha durante o período da seca. Na sombra, o potencial de produção de matéria seca dessa gramínea foi próximo de 10 t/ha, sendo 3,5 t/ha durante o período da seca.
Ao longo de alguns anos, anteriores à execução do presente estudo, esse sistema silvipastoril foi manejado de forma que animais entravam no piquete quando a pastagem de Brachiaria decumbens apresentava disponibilidade de forragem próxima de 3 – 4 t/ha de matéria seca no período das chuvas e de 1,5 a 2 t/ha na época da seca. Essas disponibilidades de forragem correspondiam a altura vegetativa ao redor de 50-60 cm na época das chuvas e 30-35 cm na época da seca. Os animais eram retirados da pastagem quando a disponibilidade de forragem se aproximava de 2 t/ha na época das chuvas (15 cm de altura) e de 0,5 t/ha (10 cm de altura) na época da seca. Nesses pastejos, adotava-se a taxa de lotação próxima de 16 vacas/ha, no verão, e 8 vacas/ha no inverno.
Durante a época das chuvas, ao sol, a pastagem de Brachiaria decumbens apresentava a condição vegetativa da Brachiaria decumbens com grande proporção de folhas verdes, enquanto que na época da seca predominava maior quantidade de folhas secas, com aspecto de cor amarelada. Sob as árvores, a Brachiaria decumbens mantinha o aspecto vegetativo com boa quantidade de folhas verdes ao longo de todo o ano.
O presente estudo compreendeu quatro fases para tomada dos dados: duas no inverno (junho e julho de 2000) e duas no verão (janeiro e março de 2001). Foram utilizadas, em cada uma das fases, oito vacas, secas, sendo 34% vazias e 66% prenhes, mestiças (Holandês x Zebu), com peso médio de 500 kg, e idade média de cinco anos. Para as avaliações, os animais eram colocados no piquete (sem bebedouros e cocho de sal), um dia antes e retirados um dia após cada fase de observação. No momento da entrada dos animais experimentais, as condições vegetativas do sistema silvipastoril correspondiam ao manejo usado anteriormente. Cada fase compreendeu três dias de observação (apenas durante o dia). Os animais eram levados, uma vez ao dia, ao bebedouro situado em piquete adjacente.
Durante os dias de coleta dos dados foram observados os comportamentos dos animais em pastejo, iniciando às 6h e finalizando-se às 18h. As medidas dos padrões comportamentais foram realizadas por colheita instantânea (método "scan-sampling", SETZ, 1991), a intervalos de 10 minutos, por três observadores que se revezavam e faziam as anotações em planilhas específicas. Por ocasião dessas observações, foi identificado, para cada animal, um dos seguintes comportamentos: posição, se em pé ou deitado; em atividades de alimentação e ruminação ou em ócio. Foi identificado também o local em que cada atividade foi realizada, se sob o sol ou à sombra, e, neste caso, sob qual espécie arbórea.
O ambiente foi monitorado diariamente, usando-se termômetros de bulbo seco, bulbo úmido e termômetro de globo negro (aparelho composto de um termômetro dentro de um globo metálico oco, pintado de preto que, colocado à altura do corpo do animal, simula a temperatura ambiente a que ele está submetido). Os termômetros foram mantidos estrategicamente na área, verificados a cada uma hora, para determinarem a temperatura local, a umidade relativa do ar e a radiação solar.
O tempo em que cada animal se manteve exercendo alguma atividade foi transformado em percentual do tempo total de observação por dia. Os dados assim obtidos foram submetido a análise de variância, usando-se o procedimento GLM do SAS (SAS INSTITUTE, 1995) e por análise gráfica, usando-se o Excel. O percentual do tempo em que os animais se mantiveram realizando alguma das atividades avaliadas, foi estudado em um modelo estatístico, que inclui os efeitos de época do ano (verão ou inverno), local (se ao sol ou à sombra), posição (se em pé ou deitada) e as interações entre esses efeitos. Foram consideradas significativas as diferenças iguais ou inferiores a 5% de probabilidade. Para esses casos, as diferenças entre médias foram avaliadas usando-se o teste t de Student.
yijk = μ + epi + locj + posk + (ep*loc)ij + (ep*pos)ik + +(loc*pos)jk + eijk
em que:
yijk é o percentual do tempo em que o animal se manteve
realizando as atividades (comendo ou ruminando), ou
em ócio;
μ = efeito comum a toda observação;
epi efeito da época i, (inverno ou verão);
locj (na sombra ou no sol);
posi (em pé ou deitada);
eijk erro aleatório associado a cada observação.
E as demais variáveis são as interações entre os efeitos principais.
Durante o inverno os animais ficaram mais tempo ao sol (p<0,05) do que à sombra (Tabela 1). Mas, quando é retirado o tempo em que os animais se mantiveram pastejando (Tabela 2), não se observou diferença (p>0,05) entre os locais, indicando que, no inverno, os animais permanecem no ócio ou ruminando tanto ao sol quanto à sombra. Esse resultado comprova que o sol do inverno não é fator estressante para os animais mestiços do padrão genético usado neste trabalho.
Quando se analisam os dados considerando-se apenas o ambiente que os animais buscam para descansar, independente da estação, verifica-se que permaneceram deitados tanto ao sol quanto à sombra (Tabela 4). Provavelmente, a dispersão das árvores torna o ambiente agradável como um todo, conforme mostram os dados de temperatura do termômetro de globo negro ao sol e à sombra (Tabela 3). Já, na posição em pé, os animais mostraram preferência pela sombra, uma vez que sob as árvores a Brachiaria decumbens mantinha o aspecto vegetativo com boa quantidade de folhas verdes ao longo de todo o ano, tornando-se um atrativo para que os animais permanecessem neste local pastejando.
Essa diferença entre as estações se fez mais contortisiliquum, Caesalpinea ferrea, Albizia lebbek, marcante quanto ao uso da Albizia guachapele. Os animais Dalbergia nigra, Gliricidia sepium, Enterologium demonstraram preferência por árvores de porte mais alto e contortisiliquum e Piptedenia sp) foram usadas, no com copa maior e globosa. conjunto, apenas 1,8 e 1,9% do tempo, no inverno e no
As demais espécies existentes no piquete verão, respectivamente. Desta forma, decidiu-se apresentar (Anadenanthera sp., Eritrina sp., Leucaena sp., Enterolobium os resultados das mesmas em conjunto.
O sistema silvipastoril constitui um eficiente método para criação de animais especializados para a produção de leite, fornecendo um ambiente de conforto térmico.
A procura dos animais por ambientes sombreados, durante o verão, mostra a necessidade da provisão de sombra, especialmente usando-se espécies arbóreas com copas globosas e densas, para que os animais possam viver em um ambiente mais favorável.
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(Recebido para publicação em 13 de Janeiro de 2003 e aprovado em 4 de fevereiro de 2005)
Tania Mara Soares Paes Leme2, Maria de Fátima Ávila Pires3, Rui da Silva Verneque3, Maurílio José Alvim3, Luiz Januário Magalhães Aroeira3
rsverneq[arroba]cnpgl.embrapa.br
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