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Dados de 32.779 controles mensais, de 3.605 lactações em 305 dias, de 2.082 vacas da raça Gir, filhas de 281 touros, com partos ocorridos de 1987 a 1999, em 11 rebanhos, foram usados com o objetivo de verificar os fatores que afetam a produção de leite no dia do controle (PLDC1 a PLDC10) e em 305 dias de lactação (PL305). Foram realizadas análises univariadas, por meio do sistema MTDFREML (BOLDMAN et al., 1995), sob modelo animal, incluindo as três primeiras lactações como medidas repetidas da vaca, diferenciadas conforme o rebanho, estação e ano do parto (na PL305) ou do controle (nas PLDC), ordem do parto, idade da vaca e do intervalo parto-primeiro controle na PLDC1.
As médias observadas, os desvios-padrão e os coeficientes de variação (CV) para produção de leite no dia do controle leiteiro e para produção de leite em 305 dias de lactação podem ser visualizadas na Tabela 1.
Os CVs foram elevados e aumentaram com o avançar da lactação, com valor mais elevado na PL305. Foram maiores que os citados nos trabalhos de Gadini (1985), Machado (1997) e Ferreira (1999), os quais apresentaram valores de 20% a 30%. Os altos CVs encontrados refletem, principalmente, desuniformidade de produções entre os rebanhos estudados. A diferença entre as produções dos rebanhos chegou a 66% (de 5,80 a 16,84 kg), 64% (de 6,21 a 17,06 kg), 61% (de 6,14 a 15,77 kg), 59% (de 6,05 a 14,78 kg), 58% (de 5,85 a 13,96 kg), 56% (de 5,76 a 13,19 kg), 55% (de 5,62 a 12,41 kg), 53% (de 5,39 a 11,52 kg), 51% (de 5,23 a 10,56 kg) e 52% (de 4,75 a 9,84 kg) nas PLDC1 a PLDC10, respectivamente, e 63% (de 1.615,62 a 4.373,80 kg) na PL305. Teixeira (1998) verificou que o efeito de rebanho foi responsável por 20 a 30% das diferenças de produções de leite.
Em relação ao ano e à estação do parto ou do controle, houve grande variação conforme a característica considerada, sem haver tendência definida dos efeitos. Teixeira (1998) constatou que efeitos de ano e estação são responsáveis por 10 a 20% da variação entre as produções e estão associados às condições climáticas, mudança de manejo, fatores econômicos e genéticos.
Pode-se averiguar, também, que houve alteração conforme a fase da lactação, estando o pico de produção no primeiro controle. Observando o efeito do intervalo parto-primeiro controle sobre a PLDC1 (Figura 1), constata-se que a produção máxima ocorreu no 23º dia pós-parto. Danell (1982) e Machado (1997) consideraram a influência do intervalo parto-primeiro controle, tendo em vista esse ser muito variável no primeiro controle.
A diminuição, a partir do segundo controle, foi mais abrupta no terceiro e quarto controles (redução de 0,95 e 0,80 kg de leite em cada controle, respectivamente), mantendo declínio quase que constante a partir daí (queda de aproximadamente 0,50 kg de leite por controle). Cabe salientar que a PLDC10 (7,22 kg) foi elevada para considerar encerramento da lactação, principalmente em se tratando de animais zebuínos, representando queda de apenas 39,68% em relação à PLDC1, estando muito acima da produção média do rebanho nacional.
A curva de lactação, observada neste estudo, não segue a mesma tendência apresentada por Schutz et al. (1990), Stanton et al. (1992), Machado (1997) e Ferreira (1999) para a raça Holandês, em que o pico de produção ocorreu entre o segundo e terceiro controles. Os resultados deste trabalho estão de acordo com os de Rao e Sundaresan (1979), com rebanho Sahiwal e Bianchini Sobrinho (1984) e Gadini (1985) em rebanhos Gir, os quais encontraram pico da produção no primeiro mês pós-parto. Essa pode ser uma singularidade da raça Gir, um Bos taurus indicus, que atinge o máximo de produção leiteira já no primeiro mês da lactação.
FIGURA 1 – Médias esperadas para a produção de leite no primeiro controle (PLDC1) em função do intervalo parto-primeiro controle (Ipc).
FIGURA 2 – Médias esperadas para os controles mensais de produção de leite (PLDC1 a PLDC10), conforme a idade da vaca ao parto (i).
O efeito da idade da vaca (i, em meses) sobre as PLDC pode ser visualizado na Figura 2, conforme as equações: PLDC1 = 11,92 + 0,13 (i – 57,63) – 0,002 (i – 57,63)2; PLDC2 = 11,93 + 0,12 (i – 57,50) – 0,002 (i – 57,50)2; PLDC3 = 10,98 + 0,10 (i – 57,38) – 0,002 (i – 57,38)2; PLDC4 = 10,18 + 0,09 (i – 57,60) – 0,002 (i – 57,60)2; PLDC5 = 9,66 + 0,08 (i – 57,62) – 0,001 (i – 57,62)2; PLDC6 = 9,20 + 0,07 (i – 57,64) – 0,001 (i – 57,64)2; PLDC7 = 8,63 + 0,06 (i – 57,43) – 0,0008 (i – 57,43)2; PLDC8 = 8,08 + 0,05 (i – 57,55) – 0,0006 (i – 57,55)2; PLDC9 = 7,59+ 0,04 (i – 57,52) – 0,0004 (i –57,52)2; PLDC10 = 7,22 + 0,03 (i – 57,86) – 0,0004 (i – 57,86)2.
Afere-se que no início da lactação, nos primeiros quatro controles, a produção de leite dos animais foi mais afetada pela idade do animal que no restante dessa, e as vacas com idade entre 70 a 100 meses apresentaram produções mais elevadas no começo da lactação.
O efeito da idade da vaca ao parto (i, em meses) sobre a PL305 pode ser verificado na Figura 3. A PL305 aumentou com a idade da vaca até 88 meses, decrescendo a seguir.
FIGURA 3 – Médias esperadas para os controles mensais de produção de leite (PLDC1 a PLDC10), conforme a idade da vaca ao parto (i).
Da mesma forma, as produções de leite das terceiras ordens de parto foram mais elevadas em relação aos do segundo e primeiro (menor produção) partos, com diferenças de 29% (de 10,00 a 14,18 kg); 27% (de 10,16 a 13,93 kg); 25% (de 9,51 a 12,68 kg); 22% (de 8,95 a 11,55 kg); 20% (de 8,62 a 10,78 kg); 19% (de 8,26 a 10,18 kg); 16% (de 7,92 a 9,46 kg); 16% (de 7,48 a 8,87 kg); 15% (de 7,05 a 8,34 kg); 11% (de 6,86 a 7,72 kg) e 22% (de 2.416,52 a 3.120,22 kg), para PLDC1 a PLDC10 e PL305, respectivamente.
Corroborando esses resultados, Danell (1982) e Machado (1997) observaram decréscimo da influência do efeito da idade da vaca com o avanço da lactação. Machado (1997) também verificou um aumento da produção com a idade até um certo limite, na maturidade fisiológica do animal, diminuindo a seguir.
Os fatores considerados no modelo neste estudo são peculiares a todas as vacas; contudo, influenciaram de forma diferente as diversas PLDC e PL305.
Tendo em vista que a acurácia das avaliações genéticas dependem, além da utilização de metodologia apropriada, do modelo adequado, então, são necessários novos estudos com as PLDC para identificar fatores específicos a cada controle, os quais seriam assumidos como circunstanciais nos modelos de PL305 e que diminuiriam a precisão das avaliações.
Modelos mais refinados devem ser pesquisados para poderem agregar e conjugar múltiplas PLDC a PL305, visando a minimizar viés por descarte de lactações incompletas que não seriam consideradas nas avaliações somente com PL305.
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Ivan Luz Ledic2 Rui Da Silva Verneque3 Mário Luiz Martinez3
rsverneq[arroba]cnpgl.embrapa.br
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