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O trabalho foi desenvolvido entre os meses de março a novembro de 2003 na Fazenda Rancho SS, no municípiodeAltaFloresta -MT,localizadoa9º53 02"de latitude sul, 56º 14 38" de longitude oeste, na altitude de 288 m. O clima predominante é o equatorial úmido e quente, com uma nítida estação seca e temperatura anual média de 26ºC com uma precipitação de 2750 mm por ano. O experimento foi implantado em uma área de 24,5 ha, com pastagem de braquiária (Brachiaria brizantha cv. Marandu), sem adubação ou outra prática de manejo, sendo pastejada desde a sua implantação, e dividida em cinco piquetes, com cochos cobertos de duplo acesso e aguadas .
Foram utilizados novilhos de três grupos genéticos, sendo 15 ½ Santa Gertrudis x Nelore, 15 ½ Simental x Nelore e 15 Nelores, com idade média de 10 meses, e peso médio inicial de 226 Kg. Os animais foram identificados, pesados e distribuídos, de forma homogênea e aleatória nos piquetes, a fim de se garantir as médias de peso vivo e os grupos genéticos semelhantes entre os tratamentos. As pesagens foram feitas a cada 21 dias.
Antes do experimento os animais foram mantidos em pastagem de Brachiaria brizantha, apenas com suplementação mineral. Todos os animais foram vacinados contra febre aftosa e desverminados com vermífugo a base de Moxidectina a 1% (Cydectinâ NF). A vermifugação repetiu-se a cada 60 dias, e o controle da mosca do chifre foi realizado com o uso de inseticidas a base de cipermetrina e organofosforados, a cada 21 dias, de acordo com as necessidades.
Os suplementos foram fornecidos com base no peso vivo dos animais, nas quantidades de 0,125%, 0,25%, 0,5% e 1,0% PV, mais o grupo controle que recebeu apenas suplementação mineral. Nas Tabelas 1, 2 e 3 estão descritos os suplementos utilizados.
A conversão de ganho para os suplementos foi calculada em função do consumo de suplemento apresentado pelos animais dividido pelo diferencial de ganho de peso em relação à suplementação mineral.
A disponibilidade da forrageira foi determinada no 1º dia do experimento, pelo corte de 10 áreas tomadas aleatoriamente e delimitadas por um quadrado metálico, de 0,5 x 0,5 m (0,25 m2 de área), por piquete. As amostras foram separadas em duas porções, para a avaliação da disponibilidade de matéria seca (MS) e das frações folha, colmo e material morto.
Todas as amostras foram armazenadas em sacos plásticos previamente identificadas, congeladas à -10ºC e transportadas para o Laboratório de Nutrição Animal da Universidade Federal de Viçosa, para análises laboratoriais futuras.
Após serem descongeladas à temperatura ambiente e secas em estufa ventilada a 65ºC, por 72 horas foram processadas em moinhos do tipo Willey, peneira de malha 1 mm, e determinado os teores de proteína bruta (PB) e extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA), cinzas e minerais conforme descrito por Silva & Queiroz (2002). A digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) foi determinada segundo Tilley & Terry (1963) modificado.
O delineamento experimental foi inteiramente casualizado (DIC), e o modelo utilizado Yij = ì + Ti + Rj + eij. Em que Yij é variável observada; ì, constante geral; Ti, efeito do tratamento; Rj, efeito da raça; eij, erro aleatório associado a cada observação. Os dados foram analisados por meio da análise de variância conforme o programa estatístico SAEG (UFV, 2000). As médias de ganho de peso foram comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.
Todos os animais tiveram acesso a alta disponibilidade de pasto, o que garantiu a seletividade por parte deles. De acordo com Euclides et al. (1998), esta deve ser de 2,5 Ton MS/ha. Os dados referentes à disponibilidade, percentagem de caule, folhas e material morto, e altura da pastagem em função dos tratamentos estão na Tabela 4.
Não ocorreram diferenças entre os grupos genéticos dentro de um mesmo nível de fornecimento, mas sim entre os níveis. (Tabelas 5 e 6).
Todos os animais responderam com aumento de peso a suplementação, não ocorrendo diferença entre os níveis de fornecimento de 0,5% e 1,0% do PV. Machos por apresentarem uma maior exigência protéica para ganho de peso, selecionam dietas com maiores níveis de proteína, o que justifica uma maior procura deste por suplemento (DETMANN et al., 2002; FORBES, 1995).
Condições como falta de alimento, altas temperaturas, incidência solar direta e falta de parasitas, acarretam diferenças nas taxas de crescimento entre animais de diferentes grupos genéticos, decorrentes de alterações no consumo voluntário dos animais (FRISCH & VERCOE, 1977). Detmann et al. (2002) demonstraram que animais zebuínos possuem um consumo de suplemento inferior aos animais europeus e seus mestiços; em função de apresentarem uma maior capacidade de digestão de forrageiras de baixa qualidade, decorrentes de uma capacidade para manter elevados níveis de amônia no interior do rúmen, e de um menor tempo de retenção da digesta (HUNTER & SIEBERT, 1985a, b), isto pode ter provocado a pior eficiência apresentada pelos animais da raça Nelore, para o período de transição, em função da menor ingestão de matéria seca.
Euclides Filho et al. (2001) ressaltam que independente da dieta utilizada; animais mestiços apresentam melhores desempenhos do que o Nelore. Neste trabalho os animais da raça Nelore apresentaram desenvolvimento e eficiência de utilização dos suplementos semelhantes para todos os níveis de suplementação fornecidos (Tabela 6).
Diferenças entre desempenhos nutricionais não são esperadas, Euclides Filho et al. (1997, 2002), não encontraram diferenças de conversão entre animais F1 Angus-Nelore e Simental-Nelore. Entretanto divergências, segundo Vercoe (1967) são bastante comuns entre estudos para a avaliação de eficiência alimentar envolvendo zebuínos e taurinos. Apesar do suplemento afetar positivamente o ganho de peso dos animais durante os períodos, a resposta para níveis altos de suplementação foi ineficiente em todos os grupos genéticos estudados. O aumento da quantidade de suplemento fornecida proporcionou uma pequena relação com o ganho de peso apresentado.
Uma eficiência inferior a 3:1 seria sintoma de deficiência de nitrogênio na pastagem (MCCOLLUM & HORN, 1990), com isso a maior resposta poderia ser atribuída ao fornecimento de proteína pelo suplemento, proporcionando o efeito positivo; similar aos resultados obtidos para os níveis mais baixos de suplementação. Já uma eficiência igual ou maior que
8:1 seria típica de uma suplementação energética, apresentando sintomas de substituição, ou uma ineficiência de utilização dos nutrientes presentes no suplemento, proporcionando assim um efeito associativo negativo (BODINE & PURVIS, 2003), o que pode ter acarretado as piores eficiências para o nível de 1,0% PV de fornecimento do suplemento.
A pastagem de Brachiaria brizantha disponível apresentou relação NDT:PB de 10,10 (Tabela 4). Valores superiores a 7,0 indica um déficit de proteína em relação à energia (MOORE et al., 1999). Nesse caso o fornecimento de pequenas quantidades de proteínas podem levar à melhora na performance animal, o que pode explicar a maior eficiência de ganho para os animais que receberam menores níveis de suplementação.
Durante a época seca onde os animais ½ sangue Santa Gertrudis e ½ sangue Simental responderam com 0,10 quilo de ganho/animal/dia para cada quilo de suplemento fornecido no nível de 1,0% PV. Lana (2000) e Lana & Gomes Júnior (2002), analisando dados de 25 publicações entre os anos de 1989 e 1995, encontraram eficiência para animais a pasto de 14,2 e de 10,1.
Capelle et al. (2001), avaliando o consumo e o ganho de peso, constataram uma eficiência de 9,0 para Nelore e 10,41 para seus mestiços com raças européias, com ganhos de peso de 0,85 e 1,00 kg/dia, semelhante ao apresentado no nível de 1,0% PV de fornecimento. Backes et al. (2001), determinaram que animais Santa Gertrudis, possuem relação de 7,44 kg de MS/kg de ganho porém para animais confinados.
Os melhores resultados parecem ser quando se fornece uma pequena quantidade de suplemento 0,125% PV, onde os animais se mostraram extremamente eficiente, com conversões médias entre os grupos de 1,62. Euclides Filho et al. (2003), encontraram que o fornecimento de menor teor de concentrado para animais confinados pode ser uma alternativa para ampliar a oferta de carne, em função de uma maior eficiência bionutricional.
A suplementação para todos os grupos genéticos proporcionou respostas em ganhos de peso quando foram fornecidos suplementos com proteína, e baixa para uma suplementação energética, indicando que o nitrogênio não foi deficiente em relação à suplementação energética (0,5% e 1,0% PV).
Os diferentes grupos genéticos não foram influenciados pelos níveis de suplemento, e apresentaram o melhor desempenho e maior eficiência de uso do suplemento para o nível de fornecimento de 0,125 % do peso vivo.
Ao Sr. Pedro Silvestre Silva e ao Sr. Mário Wolf Filho, que tornou este trabalho possível, fornecendo os animais e os componentes da ração necessárias para a sua condução.
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(Recebido para publicação em 27 de janeiro de 2005 e aprovado em 10 de junho de 2005)
Rafael Henrique de Tonissi e Buschinelli de Goes2, Antonio Bento Mancio3, Dorismar David Alves4,
Rogério de Paula Lana3, Daniel Moreira Lambertucci4, Alonso Thiago Silvestre da Silva5
rlana[arroba]ufv.br
1Parte do projeto financiado pelo CNPq.
2Zootecnista, DS, Professor do Curso de Medicina Veterinária/UEM Campus Regional de Umuarama, PR rgoes[arroba]elitnet.com.br rhtbg[arroba]uol.com.br
3Professores do DZO/UFV Viçosa,MG 36571-000 amancio[arroba]ufv.br rlana[arroba]ufv.br
4Estudantes de Pós-Graduação DZO/UFV Viçosa,MG 36571-000.
5Estudante de Pós-Graduação/UEMS Aquidauana,MS 79200-000.
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