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O trabalho foi conduzido no Setor de Ovinocultura do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras, em Lavras, MG. Foram utilizados 48 cordeiros machos inteiros procedentes dos cruzamentos SI X SI; BE X SI; IF X SI; TE X SI com peso vivo inicial de 15 kg.
No experimento, os animais foram divididos em 4 grupos: 12 animais, escolhidos aleatoriamente, sendo três de cada grupo genético, foram sacrificados no início do trabalho para avaliação do conteúdo de magnéBAIÃO, E. A. M. et al. sio, potássio e sódio corporais, servindo como animais de referência para o método de abate comparativo. Os animais remanescentes foram colocados em gaiolas individuais, onde receberam alimentação à vontade. A dieta experimental (Tabela 1) foi balanceada, de forma a atender às exigências nutricionais de proteína, energia e minerais, segundo as recomendações do ARC (1980), sendo fornecida duas vezes ao dia, às 8 e às 16 horas. O controle do desenvolvimento dos animais foi feito por meio de pesagens semanais, que foram efetuadas na parte da manhã, antes do animal receber a alimentação diária.
Ao atingirem os pesos pré-determinados de 15, 25, 35 e 45 kg de peso vivo, os animais foram abatidos com corte da carótida e da jugular, sendo submetidos a um jejum prévio de 16 horas, com acesso à água. No abate, determinou-se o peso corporal vazio, subtraindose do peso vivo o peso do conteúdo gastrointestinal, vesícula biliar e bexiga.
Para obtenção das amostras referentes ao corpo dos animais, todo o corpo do animal (carcaça, pele, vísceras, sangue, patas e cabeça) foi congelado, sendo esse material, posteriormente, cortado em uma serra de fita e moído em cutter de 30 HP e 1775 rpm. Posteriormente, todos os procedimentos citados acima foram novamente repetidos para, então, serem retiradas as amostras para as análises químicas. As análises químicas das amostras do corpo dos animais foram obtidas pela digestão nitroperclórica, obtendo-se, dessa forma, a solução mineral. Desse extrato, foram feitas diluições para determinação dos diferentes minerais em estudo.
Para o magnésio, as diluições foram obtidas adicionando- se cloreto de estrôncio, e as leituras, tomadas em espectrofotômetro de absorção atômica. Para as diluições do sódio e potássio, foi utilizado o nitrato de lítio, e as leituras, tomadas em espectrofotômetro de chama. As concentrações corporais dos minerais foram determinadas em função dos conteúdos percentuais desses nas amostras do corpo dos animais. Com base nesses dados, foram obtidas equações de predição da composição corporal em termos de macrominerais. As equações de predição do conteúdo corporal de magnésio, sódio e potássio foram obtidas por meio da regressão do logaritmo da quantidade do nutriente no corpo vazio em função do logaritmo do peso do corpo vazio (ARC, 1980).
Log y = a + b Log x
Em que:
Log y = Logaritmo do conteúdo total do macromineral no corpo vazio
a = intercepto
Log x = Logaritmo do peso corporal vazio
b = Coeficiente de regressão do conteúdo do macromineral em função do peso corporal vazio.
Foi realizada uma análise de comparação de equações lineares (Snedecor & Cochran, 1967) entre as equações de predição estimadas com todos os animais, para detectar possíveis diferenças entre os grupos genéticos.
As exigências líquidas para o ganho em peso corporal vazio (PCV) foram estimadas pela derivação das equações de predição corporal, obtendo-se equações do tipo y’ = 10ª x b x PCV(b-1) . As exigências líquidas desses minerais para o ganho de peso vivo foram calculadas dividindo-se as exigências líquidas de ganho corporal vazio pelo fator 1,25, calculado a partir das equações de conversão do peso corporal vazio em peso vivo. Para as exigências líquidas de mantença, foram utilizados os valores propostos pelo ARC (1980).
Para obtenção das exigências dietéticas totais, foram utilizados os valores de perdas endógenas de 3,0 mg e 25,8 mg/kg PV e de disponibilidade biológica de 17 e 91%, para o magnésio e o sódio, recomendados pelo (ARC, 1980). Já as perdas endógenas totais do potássio consideradas foram: perda fecal (1,0 g/kg MS consumida), urinária (37,5 mg/kg PV/dia), pela saliva (7,0 mg/kg PV dia) e pela pele (0,1g/dia), sendo a disponibilidade considerada de 100% (ARC, 1980).
Na Tabela 2 estão apresentados os resultados médios da composição corporal em magnésio, potássio e sódio encontrados para os animais SI e mestiços BE, IF e TE em diferentes pesos vivos (15, 25, 35 e 45 kg).
Quanto à concentração corporal de magnésio, potássio e sódio dos cordeiros SI e mestiços BE, IF e TE, observa-se que ocorreu decréscimo nas concentrações desses minerais com o aumento do peso vivo, o que pode ser explicado pelo aumento no teor de gordura corporal. Já para o magnésio, a possível explicação é a redução na proporção de ossos na carcaça à medida que aumentou o peso vivo dos cordeiros, pois aproximadamente 70% de magnésio estão presentes nos ossos.
Outros autores também estimaram valores decrescentes para o conteúdo corporal de magnésio, potássio e sódio (GERASEEV et al., 2001; TRINDADE et al., 2000; GRACE, 1983; ANNENKOV, 1982). Entretanto, o ARC (1980) considera os valores fixos das concentrações desses minerais de 0,41 g de magnésio, 1,8 g de potássio e 1,1 g de Na/kg de PCV.
Os valores estimados do conteúdo de potássio encontrados nesta pesquisa para cordeiros SI e mestiços BE, IF e TE foram diferentes dos estimados pelo ARC (1980). Para o sódio, os valores estimados nesta pesquisa foram superiores aos estimados pelo ARC (1980). Isso pode indicar diferenças na proporção de músculos, ossos e gordura nos animais utilizados neste estudo, quando comparados com os animais utilizados pelo ARC (1980).
Baseando-se na composição corporal dos animais e seus respectivos peso vivo e peso corporal vazio, foram determinadas as equações de predição da composição corporal (Tabela 3) para esses minerais para os quatro grupos genéticos estudados (SI, BE, IF, TE), com pesos variando dos 15 aos 45 kg de peso vivo, em que foi aplicada a análise de comparação de equações lineares (SNEDECOR e COCHRAN, 1967), que mostrou não haver diferença significativas para os grupos BE, IF e TE para estimar as quantidades de magnésio no peso corporal vazio. Assim, adotou-se uma equação geral obtida com todos os animais do experimento. Já para o grupo genético Santa Inês, detectou-se diferença para o mineral magnésio (P<0,05); logo, adotou-se uma equação específica. Para o potássio e sódio, foram detectadas diferenças significativas para o grupo genético IF, enquanto os outros grupos genéticos não mostraram diferença significativas (P>0,05). Dessa forma, foram adotadas equações específicas para estimar os valores de potássio e sódio para os animais IF, e equações gerais, para os outros grupos genéticos.
Os valores dos coeficientes de determinação encontrados para as equações foram significativos (P< 0,05) e mostram que houve um bom ajustamento, com baixa dispersão dos dados em torno da linha de regressão. A composição do corpo vazio em magnésio, potássio e sódio, em função do peso vivo, foi estimada a partir das equações gerais e equações específicas (SI e IF), para todos os animais estudados.
Na Tabela 4 são apresentadas as estimativas do conteúdo de magnésio, potássio e sódio por quilo de peso corporal vazio.
O ARC (1980) preconiza valores fixos de composição do ganho de 0,41 g, 1,8 g e 1,1 g para o magnésio, potássio e sódio, respectivamente.
Assim como ocorreu com a composição corporal, os valores de composição do ganho encontrados neste trabalho diferiram dos valores fixos apresentados pelo ARC (1980); os valores médios de magnésio para os quatro grupos genéticos deste trabalho foram maiores, os do potássio, inferiores, e os de sódio, semelhantes aos valores preconizados pelo ARC (1980).
As quantidades de sódio estimadas variaram de 1,29 g a 0,98 g de Na por kg de PCV, para animais SI, BE e TE, quando o PV passou de 15 para 45 kg. Esses valores são 17,27% superiores e 12,24 % inferiores ao valor fixo de 1,1g de Na por kg de PCV recomendado pelo ARC (1980).
É possível que essas diferenças na composição do ganho em magnésio, potássio e sódio são devidas às diferenças existentes na proporção de ossos e gordura corporal. Portanto, é possível que fatores como raça, peso e condições climáticas alterem as concentrações corporais desses minerais.
Quanto ao conteúdo de magnésio nos animais Santa Inês, observou-se uma variação de 0,606 a 0,514 g para os pesos vivos de 15 a 45 kg, respectivamente. Esses valores estão próximos dos valores estimados por Geraseev et al. (2001), e superiores aos estimados por Trindade et al. (2000), para dois grupos raciais deslanados e lanados.
Para a predição da composição do ganho em magnésio, potássio e sódio, derivaram-se às equações de predição da composição corporal, obtendo-se, então, equações que permitiram estimar as exigências líquidas desses minerais para o ganho em peso corporal vazio:
Magnésio (g) SI Y’ = 0,0018349.PCV-0,13793
Magnésio (g) BE, IF e TE Y’ = 0,001027.PCV-0,081971
Potássio (g) IF Y’ = 0,0073555.PCV-0,162648 Potássio (g) SI, BE e TE Y’ = 0,011012.PCV-0,200067 Sódio (g) IF Y’ = 0,0103.PCV-0,227881 Sódio (g) SI, BE e TE Y’ = 0,010339.PCV-0,223775
Na Tabela 5 são mostrados os valores da estimativa da concentração de magnésio, potássio e sódio corporal do ganho em peso de corpo vazio de cordeiros SI e mestiços BE, IF e TE, em função do peso corporal vazio.
As estimativas das exigências líquidas de magnésio, potássio e sódio para o ganho de peso vivo foram obtidas dividindo-se as exigências líquidas para o ganho de peso corpo vazio (Tabela 5) pelo fator 1,25. Para as exigências líquidas de mantença, foram utilizados os valores propostos pelo ARC (1980).
Para o cálculo das exigências dietéticas, foram utilizados os valores de disponibilidade dos minerais preconizados pelo ARC (1980). As estimativas líquidas e dietéticas de magnésio, potássio e sódio são apresentadas nas Tabelas 6 a 10.
Comparando as exigências líquidas de magnésio obtidas nesta pesquisa com os valores propostos pelo ARC (1980), observa-se que essas são semelhantes para os animais SI com 15 kg de peso vivo e 17,14% menores para animais com 45 kg de peso vivo. Já para os animais mestiços BE, IF, TE, observa-se que essas são aproximadamente 7,89% inferiores para animais com 15 kg e 24,24% para animais com 45 kg de peso vivo.
Analisando o potássio, as exigências líquidas obtidas neste trabalho são 31,38% inferiores para cordeiros com 15 kg de PV para os animais SI, BE, TE, quando comparadas com os valores preconizados pelo ARC (1980). Já para o sódio, as estimativas foram inferiores em 6,79% para animais com 15 kg de PV e 41,02% para animais com 45 kg de peso vivo, para os animais SI, BE e TE.
É preciso ressaltar que a composição corporal e, conseqüentemente, as exigências de Mg, Na e K irão variar, principalmente em função da proporção de ossos, músculos e gordura corporal, e qualquer fator que afete essas proporções irá afetar as exigências desses minerais.
Dessa forma, os valores de exigências de ganho de peso preconizados pelo ARC (1980) devem ser adotados com certas restrições, uma vez que essa tabela foi estabelecida utilizando animais diferentes dos nossos e sob condições climáticas diversas.
a) Existem diferenças na composição corporal de magnésio, sódio e potássio entre ovinos SI, ovinos mestiços (IF X SI) e os demais grupos genéticos.
b) O grupo racial deverá ser considerado ao estimar a composição corporal e as exigências nutricionais.
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GERASEEV, L. C.; PEREZ, J. R. O.; RESENDE, K. T.; PAIVA, P. C. A.; PRADO, O. V. Composição corporal e exigências nutricionais de magnésio, potássio e sódio de cordeiros Santa Inês em crescimento dos 25 kg aos 35 kg de peso vivo. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 25, n. 2, p. 386-395, mar./abr. 2001.
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TRINDADE, I. A. C. M.; RESENDE, T. K.; SILVA, A. M. A.; SILVA SOBRINHO, A. G.; PÉREZ, J. R. O. Composição corporal e exigências líquidas de Magnésio, Potássio e Sódio de cordeiros Lanados e Deslanados. In: SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 37., 2000, Viçosa. Anais... Viçosa: SBZ, 2000. p. 364.
(Recebido para publicação em 22 de novembro de 2002 e aprovado em 24 de julho de 2003)
Edinéia Alves Moreira Baião², Juan Ramón Olalquiaga Perez³, Afranio Afonso Ferrari Baião²,
Leonardo Alves Baião4, Luciana Castro Geraseev², Júlio César Teixeira²
Ivo Francisco de Andrade³, André Nunes de Oliveira²
lgeraseev[arroba]nca.ufmg.br
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