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Contudo, dentre os muitos elementos envolvidos no processo de constituição do indivíduo, apenas um é abordado por intermédio deste trabalho. Esse elemento é a disciplina, e esta escolha foi ocasionada por seu importante papel no que diz respeito ao âmbito social. Entretanto, devido à multiplicidade de aspectos na qual a disciplina poderia ser enquadrada, inter-relacionando-se com o sujeito em sua constituição, ela, mesmo enquanto elemento individual sofre delimitações de como é abordada neste estudo. Portanto, o que é tratado especificamente são as variações disciplinares que ocorrem dentro de uma sociedade.
As variações disciplinares irão aparecer no momento em que as normas disciplinares não mais apresentarem eficácia frente a um indivíduo, devido a uma mudança profunda que o mesmo tenha sofrido em sua constituição. Para realizar uma melhor exemplificação dessa teoria, será feita uma leitura foucaultiana acerca dos elementos disciplinares inseridos na trilogia Matrix. A escolha de Matrix não se deu ao acaso, afinal, o alto grau disciplinar existente e o índice de variantes do sistema de controle disciplinar para com os diferentes tipos de indivíduos, apresentados segundo sua constituição, encaixam-se de forma adequada nos objetivos realizados.
Entre os autores que fazem parte do embasamento teórico desta pesquisa, está Michel Foucault. Na verdade, a relevância contida por Foucault com relação à elaboração desse estudo é incomensurável, já que sua presença se dá não só de forma direta, uma vez que grande parte dos demais autores que corroboraram os aspectos teóricos têm em seus próprios trabalhos a influência dele. Quanto às variações disciplinares, Foucault trata do processo que desencadeia mudanças nas formas com que a disciplina se dá, entretanto, ele faz essas considerações focalizando um dispositivo disciplinar em si, o que conseqüentemente ocasiona uma percepção mais geral dessas variações. Foucault, portanto, lida com a alteração do sistema disciplinar a partir do âmbito social e não individual, embora especifique e valide a presença dos indivíduos como elementos inerentes de uma sociedade.
Neste trabalho, diferentemente do que ocorre em obras de Michel Foucault, o processo que resulta em variações das normas disciplinares, não apenas recebe ênfase, como é de fato, o foco central a ser averiguado. Além disso, como os elementos abordados se inter-relacionam sob o campo de constituição do indivíduo, é inviável utilizar-se de aspectos gerais como uma evolução a longo prazo das normas disciplinares, para se realizar uma pesquisa dentro do que está sendo proposto. Porém, isso não implica em dizer que tais aspectos não foram citados, mas sim que a utilização desmedida destes, ocasionaria um distanciamento considerável do foco pré-estabelecido.
Assim, o primeiro capítulo (A caracterização teórica dos elementos disciplinares), contém um suporte teórico que funciona como base para o que vem a seguir. Dessa forma, o primeiro capítulo antevem os elementos que estarão inseridos dentro do campo de análise contido no segundo capítulo (As variações disciplinares decorrentes da constituição do indivíduo na trilogia Matrix). Enquanto que no primeiro capítulo caberá fornecer um respaldo teórico para a validação deste trabalho, ao segundo restará o encalço de desenvolver, de maneira consistente e coerente, uma interligação entre o que foi explicitado no capítulo teórico em face ao objeto do estudo proposto (filmes da trilogia Matrix).
O que se espera é que a disciplina não apenas seja vista como um elemento essencial dentro da esfera social, e sim que a complexidade em sua forma de atuar, tanto sobre o indivíduo quanto sobre a sociedade seja percebida, primeiramente em sua forma de poder atuante e posteriormente através das variações ocasionadas em decorrência de alterações na constituição do sujeito.
2.1 Focault e a Disciplina
No livro "Vigiar e Punir" (1988 b) encontramos aquele que é, provavelmente, o trabalho de Foucault mais voltado à questões disciplinares. Segundo ele, o aspecto disciplinar está irremediavelmente conectado aos elementos que moldam a constituição do sujeito. Por sua vez "A questão do sujeito é um tema pertinente no pensamento foucaultiano somente na medida em que é colocada segundo os termos da problemática de sua constituição". (FONSECA, 1994, p.7) De fato, seria difícil imaginar que houvesse um modo de retratar a disciplina sem que ela causasse impactos ao sujeito que a recebe. Deste modo, quando se utiliza a leitura foucaultiana dentro de aspectos sociais inerentes como este, deve-se ter a consciência de sua influência no tocante à constituição que ela exerce, tanto sobre o sujeito, quanto ao meio ao qual este sujeito pertence.
Contudo, para se pensar em aspectos de caráter disciplinar, tem que se compreender que eles possuem eixos que os auxiliam no cumprimento satisfatório dos propósitos que lhes são atribuídos. Esses eixos são mecanismos que não apenas constituem, mas também validam o processo de um regimento disciplinar. Dentre os mecanismos mais eficazes em questão estão: a vigilância e a punição. O primeiro funciona a nível de inibição e serve para coibir uma ação tida como imprópria por dada sociedade. A idéia nesse ponto é impedir a transgressão das leis e normas sociais sem que haja a necessidade do uso da força.
Talvez a descrição mais completa do mecanismo de vigilância e de sua forma de atuação, ao mesmo tempo sutil e abrangente, seja a arquitetura do Panóptico. Descrita detalhadamente por Jeremy Bentham, no século XIX, esta figura arquitetural consegue materializar a funcionalidade das estratégias disciplinares e dentre elas, de maneira especial, o instrumento da vigilância. O modelo panóptico descrito por Benthan envolve duas construções básicas: uma em forma de anel, localizada na periferia do conjunto, e a outra, uma torre situada estrategicamente no centro. O bloco em forma de anel é dividido em celas individuais que atravessam toda a espessura da construção, contendo uma janela para o interior do conjunto, ou seja, de frente para a torre central, e outra para o exterior, permitindo assim que toda a cela seja iluminada. A torre, por sua vez, possui amplas janelas voltadas de frente para as celas. Está montado assim um esquema ao mesmo tempo simples e complexo de vigilância. Para que ele funcione basta que seja habitado corretamente. Isto significa colocar um vigia na torre e distribuir pelas celas os indivíduos sobre os quais esta vigilância deve incidir: condenados, doentes, loucos, alunos, operários. Pelo efeito da luminosidade nas celas, é possível, da torre, vigiar os indivíduos que nelas se encontram, em seus menores atos. (FONSECA, 1994, p.42)
O segundo, por sua vez, atua em uma outra instância. Sua função, muitas vezes, é atuar sobre a falha do primeiro mecanismo. Entretanto, a punição também possui a funcionalidade exercida pela vigilância, isto é, inibir e/ou coibir (a repetição de) transgressões disciplinares. Quando se pensa na eficácia do sistema punitivo inter-relacionando-o em evitar a realização de um ato transgressor, pode-se concluir que o suplício é a forma que melhor atende a esse objetivo. Isso acontece porque sua efetivação se dá de um modo mais aberto do que a do sistema punitivo exercido pela prisão. Conseqüentemente, a força visível do suplício consegue suscitar sentimentos de pavor e receio, o que nem sempre é conseguido através da prisão. Não obstante, o pensamento de Foucault (1988 b, p.76) é o de que se deveria;
[.] fazer da punição e da repressão das ilegalidades uma função regular, coextensiva à sociedade; não punir menos, punir talvez com uma severidade atenuada, mas para punir com mais universalidade e necessidade; inserir mais profundamente no corpo social o poder de punir.
A disciplina tem por objetivo central evitar a anarquia, isto é, regulamentar e estabelecer normas, regras e leis que atendam aos interesses comuns de uma sociedade. É evidente que não se podem criar normas capazes de se estender através de todas as camadas sociais de uma maneira satisfatória. Isso porque existem inúmeros fatores estabelecidos de maneiras diferentes na constituição de cada sujeito. Por exemplo, algumas normas disciplinares podem ter aspectos religiosos, políticos e sociais que se enquadrem a um determinado tipo de camada social. Nesse ponto, o que se tem é um tipo de camada satisfeita e que tem facilidade em cumprir as normas disciplinares estabelecidas. Por outro lado, essas mesmas normas disciplinares terão aspectos que não serão bem aceitos por outras camadas sociais, por não ser possível estender as regras sociais a um patamar que possa atender a todos de maneira plenamente satisfatória, uma vez que elas são formuladas por aqueles que têm a detenção do poder.
Ao se tratar a disciplina, torna-se inevitável retomar aspectos que estejam inseridos de um modo significante em sua composição. Desse modo, não é estranho que questões como vigilância e punição estejam constantemente sendo inseridas no âmago dos aspectos disciplinares. Em "Vigiar e Punir", Foucault utiliza como exemplo de sistema de vigilância o modelo de Jeremy Brenthan, já citado anteriormente, para intensificar a idéia de que a vigilância serve como um sistema que visa coagir atitudes anti-disciplinares. O modelo de Jeremy Brenthan, também é mencionado por Don Lathan (2004, p. 3) em "Discipline and its Discontents: A Foucauldian Reading of The Giver". Quando afirma que "This edifice serves as an apt metaphor for the workings of surveillance in any society".[1]; [2]
Em relação aos aspectos que envolvem a punição Lathan (2004, p. 5) argumenta que;
A highly disciplined society depends of an effective means of enforcing rules by punishing those who break the rules – by creating, in effect, a "culture of punishment," in which total control is achieved by a collective fear of retribution. In this kind of community punishment is seen as inevitable even if it is often invisible.[3]
Mesmo após passar por mudanças tão drásticas (do suplício à prisão), o propósito da punição de desencorajar os atos de transgressão continuam invariáveis.
Para Foucault seria possível pensar em uma espécie de evolução das formas de punição, não as considerando do ponto de vista de um aprimoramento das técnicas de correção ou da eficiência destas técnicas, mas uma evolução em função daquilo que chamará de economia do poder. Novas formas de exercício de poder suscitariam mecanismos de punição que pudessem ser integrados em sua dinâmica. A idéia de evolução estaria ligada assim à noção de adequação. A habilidade de ajustamento de um modo de punir específico a diferentes tipos de relações de poder com vistas a uma rentabilidade crescente, conseguida para estes diferentes tipos de relações, explica a idéia de evolução. (FONSECA, 1994, p.30)
Portanto, ao se conceber a proposta de Foucault de que a evolução das formas punitivas está ligada a um sistema de adequação à sua própria funcionalidade, é que começa-se a explanar qual a essência das variações disciplinares.
Especialmente nos capítulos finais de "Vigiar e Punir", o indivíduo moderno vai sendo delineado como um produto da disciplina. A análise dos mecanismos disciplinares, [...] permite chegar à conclusão da qual partimos para buscar uma caracterização do homem moderno: "a disciplina fabrica indivíduos". (FONSECA, 1994, p. 57)
A partir dessa concepção que denota a capacidade dos aspectos disciplinares face à constituição de indivíduos, é que se fundamenta a relevância contida ao se empreender estudos desse gênero.
O aspecto disciplinar em si possui um conjunto de elementos vitais para um bom funcionamento da característica atribuída inerentemente ao ser humano: a racionalidade. Por esta razão, Foucault (1988 b, p, 135) afirma que "a primeira das grandes operações da disciplina é a constituição de quadros vivos que transformam as multidões confusas, inúteis ou perigosas em multiplicidades organizadas".
E é justamente a organização das massas a prioridade dos aspectos disciplinares. Pode-se então perceber que para haver uma efetivação das normas disciplinares em uma sociedade, é de fato necessário, que elas sejam impostas pelos detentores do poder. Isso porque, sempre haverão grupos que não concordam, integral ou parcialmente com os regimentos estabelecidos. Entretanto, segundo Fonseca (1994, p. 38);
As disciplinas não devem ser identificadas a uma instituição, mas a uma conexão de várias técnicas diferentes que seriam aplicadas sobre os lugares institucionais, de tal forma que nunca seriam redutíveis a estas instâncias. São métodos que possibilitam um controle minucioso do corpo e de suas partes, das atividades, do tempo, das forças.
Por isso, o mesmo Fonseca (p.37) ainda diz que "Foucault entende o aparecimento dos mecanismos das disciplinas como a busca por uma definição de táticas de poder em relação às multiplicidades humanas".
Seguindo essa linha de pensamento, pode-se concluir que compreender as variantes que compõem a disciplina, ajuda-nos a entender a constituição do indivíduo através de "diferentes modos de subjetivação do ser humano dentro da nossa cultura." (FOUCAULT, 1988 b, p. 153)
Essa subjetividade característica dos indivíduos para com sua constituição sob a influência das normas disciplinares e suas variantes, serão tratadas correlacionando-as aos modelos de indivíduos apresentados dentro da trilogia Matrix.
2.2 O Discurso Disciplinar
"A linguagem é como um molde, que ordena o caos, que é a realidade em si. Como a linguagem dá forma a esse caos, determinando o que é uma coisa, um acontecimento etc. , cria uma imagem ordenada do mundo".
José Luiz Fiorin
Como já foi visto anteriormente, a disciplina possui como principal característica a manutenção da ordem. Sendo observada por esta perspectiva em face à citação acima, percebe-se que há semelhanças entre o propósito da disciplina e o da linguagem. Se concebermos a idéia que, de fato, a linguagem é também um mecanismo que possui a capacidade de ordenar o caos, não seria difícil atribuir-lhe características disciplinares. Essas características, por sua vez, estariam interiorizadas na linguagem e só tomariam forma, a partir do ato de sua concretização, isto é, o discurso.
Fiorin (2003, p. 55) ainda diz que;
A linguagem tem influência sobre os comportamentos do homem. O discurso transmitido contém em si, como parte da visão de mundo que veicula, um sistema de valores, isto é, estereótipos dos comportamentos humanos que são valorizados positiva ou negativamente.
Se para Foucault (1988 b), o aspecto disciplinar está inevitavelmente presente nos elementos que formam o sujeito em sua constituição, então não há dúvidas ao se atribuir à disciplina, o discurso, como sendo um importante mecanismo de sua própria efetivação.
O discurso assim, é tão importante para a disciplina quanto a vigilância e a punição. Na verdade, pela ordem de acontecimento dos fatores, ele recebe um lugar de primogenitura, pois o sistema de vigilância, na maioria das vezes, só é validado após a apresentação ou divulgação das normas disciplinares através de um discurso, pelo(s) detentor(es) do poder.
O discurso também aparecerá nas variações disciplinares, que de acordo com o que foi visto são adequações da disciplina sobre um sujeito ou uma sociedade, a fim de garantir a eficácia de sua funcionalidade em determinado contexto. Sua presença nessas variações de aplicabilidade das normas disciplinares deve-se à sua essência precedente em relação aos outros dispositivos disciplinares. Seu início, portanto, delimita a validação da disciplina, cabendo ao autor deste discurso a função de moldá-lo, para que o mesmo possa atender à suas expectativas. Orlandi (2003, p. 74) diz que: "Segundo Foucault (1971), há processos internos de controle do discurso que se dão a título de princípios de classificação, de ordenação, de distribuição, visando domesticar a dimensão de acontecimento e de acaso do discurso". Deste modo, percebe-se que a formulação de um discurso, assim como a de normas disciplinares, não ocorre ao acaso. Antes, visa atender aos interesses daqueles que lhe proferiram.
Dentro do âmbito disciplinar, o discurso ocupa um papel de grande importância. Isso porque sua utilização de forma eficiente, o torna grande aliado dos aspectos disciplinares. Por outro lado, cabe também a um bom discurso levantar questionamentos e sugerir mudanças no regimento disciplinar de uma determinada sociedade.
Uma forma clara de discurso disciplinar pode ser observada através do ato de confissão. Para Fonseca (1994, p. 72);
O efeito da confissão está diretamente ligado à sua forma de realização. Enquanto tecnologia supõe métodos apropriados aos objetivos em função dos quais se constitui. Em relação a seu mecanismo está implícita a idéia que a verdade só vai aparecer quando a confissão for produto de um exame de consciência e quando contiver um relato completo dos atos e pensamentos ocorridos.
A verdade é justamente o alvo pretendido ao se elaborar um ato confessionário. Por isso Foucault (1988, p. 243) diz que "a prisão, ao aparentemente fracassar, não erra seu objetivo". A razão disto, é que a verdade extraída por meio do sistema estabelecido pela prisão no processo confessionário é mais confiável do que aquele que se obtinha pelo ritual do suplício. Um dos motivos centrais para isso deve-se ao modo de execução pertencente ao suplício: a tortura. Muitas vezes, a verdade conseguida através do suplício, nada mais era, do que um escape para o supliciado em virtude da dor física, à qual o mesmo estava sendo submetido. Já a confissão mediante o interrogatório propiciado pela prisão, pode conseguir produzir um discurso que adentre de maneira satisfatória o território almejado de um modo mais confiável. Daí Foucault (1985, p. 62) afirmar que "esse discurso de verdade adquire efeito, não em quem o recebe, mas sim naquele de quem é extorquido".
O discurso como produto de um sistema disciplinar, irá se estender em dois aspectos, distintos, mas ao mesmo tempo unidos por um elo. Esses aspectos referem-se ambos ao indivíduo. Um a nível pessoal, muitas vezes apenas internalizado; o outro, a nível social, esse por sua vez, mais externalizado. Ambos constituintes de formações ideológicas e constituídos por dada forma de poder. Esse elo existente entre os discursos disciplinares individuais e sociais, ocorre pela relação intrínseca existente entre ambos. Afinal, o homem (indivíduo) é um ser social, enquanto a sociedade é composta por indivíduos.
Na trilogia Matrix, contudo, essa relação se dá de uma maneira um tanto quanto peculiar. Isso ocorre devido a não existência de um discurso disciplinar autêntico por parte da sociedade para com os indivíduos conectados a ela. Dessa forma, o elo de discursos disciplinares que norteiam o campo cognitivo do indivíduo conectado à Matrix, só se dará de forma eficaz entre aqueles que conhecem a verdade acerca do sistema disciplinar existente.
2.3 O Indivíduo Moderno como fruto de uma Sociedade Disciplinar
Em uma sociedade, os elementos disciplinares atuam como gerenciadores de ações. Muitas vezes, o sujeito apenas percebe a disciplina como uma forma de poder atuante sobre si próprio, ou ainda sobre uma pequena área delimitada que corresponde, geralmente, ao seu alcance de conhecimento social. Contudo, ao indivíduo é absolutamente necessário tornar-se ciente que, as instituições de normas disciplinares não se dão ao acaso ou visando alcançar pequenos grupos sociais. Pelo contrário, objetivam abranger o maior número possível de indivíduos, confirmando desse modo, suas formas gerenciadoras de poder atuante.
Em "Vigiar e Punir" Foucault mostra a constituição do indivíduo moderno enquanto dócil e útil como efeito e instrumento de certas formas históricas de poder. Ele estuda as práticas que dentro da nossa cultura tendem a constituir o indivíduo enquanto objeto. Das formas punitivas estudadas em "Vigiar e Punir", a prisão, enquanto instituição característica da sociedade disciplinar representa a forma de objetivação mais apurada, uma vez que toma à mão uma tecnologia política do corpo. É esta tecnologia, que tem no corpo do indivíduo seu principal ponto de aplicação, que possibilitará a constituição deste indivíduo enquanto objeto dócil e útil. (FONSECA, 1994, p. 63)
Para Foucault (1988 b), portanto, os elementos de caráter disciplinar são instituídos de modo a suprimir, ao máximo, as características individuais de cada indivíduo, no tocante ao processo de sua constituição. O objetivo é conseguir formar um tipo de indivíduo inerte, em outras palavras, conseguir formar um indivíduo que não questione e nem se rebele contra as formas de poder.
Sendo assim, a meta é constituir uma sociedade plenamente respeitosa e cumpridora das normas disciplinares através desse tipo de indivíduo: o indivíduo moderno. Porém, é preciso perceber, ao longo do processo em que objetiva-se a instituição de uma sociedade plenamente disciplinar por meio de um tipo de indivíduo moldado para tal fim, que existem variantes a serem consideradas. Ao mesmo tempo em que a constituição de uma sociedade disciplinar é o ponto onde se almeja chegar, tem de se observar que ela é também um dos pontos iniciais de partida para realização de tal fim. Não é difícil perceber isso quando se pensa nela (sociedade) influenciando ações e pensamentos, de forma direta ou indireta, dos indivíduos que a constituem. Então, antes de se esperar que indivíduos formem um tipo de sociedade disciplinar, é preciso perceber que, primeiramente, a sociedade, através de suas normas disciplinares, é que forma tipos distintos de indivíduos.
A pretensão de fazer dos indivíduos modernos seres obedientes, visa reprimir qualquer forma de resistência às normas disciplinares em vigor. "Foucault argues that in any society power structures are inevitable, but he also acknowledges that resistance is possible, and not only possible but necessary".[4] (LATHAN, 2004, p.7) Portanto, é necessário que haja aqueles que se contraponham ao poder, para impedir assim o totalitarismo abusivo das normas disciplinares.
O processo de constituição do indivíduo moderno tem seu foco voltado para o todo. Tenta-se substituir a individualidade pela unidade. A importância do papel que o indivíduo deve comportar nessa sociedade é comparada, por exemplo, a uma peça de algum aparelho eletrônico. Sem o funcionamento adequado, todo o sistema pode ser comprometido. Por outro lado, é possível substituir a peça danificada. Desta forma, o indivíduo moderno formado por uma sociedade disciplinar, apesar de ter sua importância, não possui entre suas características o status de insubstituível.
A idéia de sociedade disciplinar vai abranger todos os elementos que compõem o sistema de disciplina. Esse sistema, por si só, já possui uma funcionalidade à nível satisfatório, dentro de seu propósito. Contudo, não deve haver uma estagnação em relação as suas formas. Aqui, retoma-se a idéia de Fonseca (1994) sobre o pensamento de Foucault de que evolução está ligada à adequação.
A utilização desses dois termos: "evolução" e "adequação"; serão preponderantes na construção teórica deste trabalho. Isso se dá pelo fato de que, estes são os principais fatores que sublimam a necessidade da existência das variações disciplinares diante de uma situação de inadequação operacional da disciplina sobre o(s) indivíduo(s) em questão.
Segundo Fonseca (1994), com relação ao indivíduo moderno, sua utilidade e docilidade desenvolvidas por meio de um processo instituído por um sistema de controle, tentam cumprir de maneira amplamente satisfatória o propósito estabelecido pelo detentor do poder. Esse indivíduo é, portanto, um ser manipulado pelo sistema. Gerado e moldado a cumprir funções já pré-distribuídas, tendo assim, um papel de coletividade mais acentuado do que a individualidade. Sua função dentro desta sociedade disciplinar é devidamente ajustada para que não haja casos em que não se consiga substituir um indivíduo frente a uma situação de punição decorrente de uma transgressão das normas disciplinares. O indivíduo então se sente dependente, e conseqüentemente torna-se submisso ao sistema. É nesse ponto que se obtém o que Foucault (1988 b) chama de indivíduo dócil e útil (o fruto objetivado por uma sociedade disciplinar).
A utilização dos elementos disciplinares por esta sociedade formará um tipo de sujeito que é "o indivíduo tal como pode ser descrito, mensurado, medido, comparado a outros e isso em sua própria individualidade; e é também o indivíduo que tem que ser treinado ou retreinado, tem que ser classificado, normalizado, excluído, etc". (FOUCAULT, 1988 b, p.170) Esse indivíduo, conseqüentemente, terá a influência de inúmeros fatores sócio-culturais, que trabalharão no intuito de fortificar o seu senso de dever para com a sociedade onde vive e as normas disciplinares que a regem.
Isso também acontecerá dentro do sistema disciplinar de Matrix, no tocante aos indivíduos que, de fato, acreditam viver livres em uma sociedade autêntica e sem mentiras. Com relação aos outros indivíduos, que sabem sobre Matrix, a disciplina que funciona em primeira instância não possuirá validade sobre eles, necessitando assim moldar-se conforme a mudança sofrida pelo indivíduo em sua constituição.
2.4 Evolução e Adequação: Elementos Característicos das Variações Disciplinares
A disciplina, enquanto elemento inserido no âmbito social e que exerce grande influência na constituição do indivíduo, em decorrência de sua necessidade em atuar de forma eficaz para garantir sua funcionalidade, precisa adaptar-se às situações que lhe propiciarão isso. Essas variações em sua aplicabilidade, somente serão possíveis devido à utilização de dois elementos chaves: a evolução e a adequação.
No tocante à evolução das formas disciplinares, o que se busca não é um método eficaz de coibir que um indivíduo transgrida alguma norma disciplinar, pois, quando acontece uma evolução de um determinado segmento social, isto implica em considerá-lo obsoleto.
A idéia de evolução, geralmente, abrange grandes escalas, causando dessa maneira uma variação em nível social. Essa variação pode ocasionar uma mudança não em apenas uma sociedade, como também pode vir a se abranger em nível mundial, mesmo que seu processo ocorra de forma lenta e progressiva. Partindo da idéia de que, no aspecto disciplinar, a evolução não ocorre em pequena escala. Pode-se então suscitar a hipótese de que, por vezes, ela virá acompanhada por um elemento que a auxiliará. O elemento que propiciará o surgimento rápido de uma variação nas normas disciplinares será a revolução. Caberá a ela promover todo o processo de transição das normas disciplinares, exceto quando estes se derem através de processos não-imediatos.
Contudo, apesar de abranger níveis mais gerais do que centralizados, pode-se atribuir à evolução, quanto forma de poder, a idéia que, ela deve;
[.] partir dos mecanismos infinitesimais que têm uma história, um caminho, técnicas e táticas e depois examinar como estes mecanismos de poder foram e ainda são investidos, colonizados, utilizados, subjugados, transformados, deslocados, desdobrados, etc., por mecanismos cada vez mais gerais e por formas de dominação global. (FOUCAULT, 1988 a, p. 184)
A causa disso é que mudanças de grande porte não ocorrem ao acaso. O que acontece durante a fase preliminar de seu aparecimento, é uma série de discrepâncias acerca dos mais distintos elementos. Essas divergências, geralmente, não surgem com grande intensidade. Antes, vão ganhando proporção em decorrência do tempo e do número crescente de descontentamento social. Portanto, para se conseguir uma variação disciplinar em nível social é preciso considerar que ela não acontecerá "se os mecanismos de poder que funcionam fora, ao lado dos aparelhos de Estado a um nível muito mais elementar, quotidiano, não forem modificados". (FOUCAULT, 1988 a, p. 149-150)
A adequação, por sua vez, também possui o objetivo de sujeitar um indivíduo a uma norma disciplinar. Seu ponto diferenciador, frente às características possuídas pela evolução, está na dimensão em menor escala que esta abrange. Enquanto a evolução atinge toda uma sociedade, a adequação geralmente atua sobre indivíduos (isolados ou em pequenos grupos), podendo agir de uma forma mais ampla em pequenas castas sociais (isto porque quando se atingem grandes castas das camadas sociais, o efeito obtido já não é o de adequação, e sim o de evolução). No tocante à validação de seu processo sobre o indivíduo, a adequação das formas disciplinares não visa evidenciar falhas, antes procura encobri-las.
Ela entra em vigor no momento em que já não há a eficácia do sistema de controle disciplinar atuando diretamente sobre um indivíduo. Ocasionando deste modo, uma variação disciplinar em pequena escala. A adequação tenta evitar um crescimento descontrolado da ineficiência disciplinar, a ponto que seja necessário implantar um novo sistema para se obter os resultados esperados. Um sistema disciplinar, que a princípio possui uma funcionalidade satisfatória sobre um dado sujeito, começa a tornar-se ineficaz quando as relações de poder que vêm sendo carregadas com ele já não possuem efeitos sobre o indivíduo. O elemento necessário para anular uma relação exercida pelo poder, através das normas disciplinares, também deve possuir elementos semânticos que constituam um tipo de poder. Essa relação de poder do indivíduo ocorrerá, a princípio, de maneira internalizada em seu campo de saber. Machado (1988, p. XXI) diz que "não há uma relação de poder sem constituição de um campo de saber, como também, reciprocamente, todo saber constitui novas relações de poder".
Contudo, mais uma vez é necessário retornar à idéia de Fonseca (1994), lançada a partir dos pensamentos de Foucault, de que o processo disciplinar de evolução e adequação estão interligados. Apesar dos dois processos serem distintos, semelhanças entre eles são inevitáveis. De um modo geral, pode-se pensar em evolução como um conjunto de diversas adequações ocorrendo em um mesmo nível de intensidade social. Assim como também não parece ser difícil imaginar a adequação atuando sobre o indivíduo como um tipo de evolução em curta-instância. Entretanto, apesar das características análogas existentes entre estes dois elementos, é preciso que se reconheçam suas propriedades individuais como processos distintos.
Após tratar de elementos que são pertencentes ao âmbito disciplinar social, e enfocar sua necessidade de moldar-se a situações que lhes são adversas, o próximo capítulo deste trabalho tomará como exemplo, a sociedade disciplinar apresentada na trilogia Matrix, para melhor expor as variações disciplinares que ocorrem frente ao processo de constituição do indivíduo.
3.1 Matrix: Uma Sociedade Disciplinar
"What is the Matrix?" [5]
Andy Wachowski; Larry Wachowski
A famosa pergunta lançada no filme dos irmãos Andy e Larry Wachowski, pode não possuir apenas uma resposta que seja completamente satisfatória. Dentro do filme, Morpheus dá a Neo a seguinte definição do que é Matrix: "The Matrix is a computer-generated dream world built to keep us under control [...]".[6](WACHOWSKI; WACHOWSKI, 1999)
Contudo, devido às necessidades existentes para a concretização dos objetivos deste trabalho, em tratar dos aspectos disciplinares inseridos na trilogia, uma melhor resposta à questão o que é Matrix, seria aqui, considerá-la uma sociedade disciplinar. Para se conseguir realizar satisfatoriamente uma análise dos aspectos disciplinares em Matrix, é necessário "ampliar as dimensões de uma definição do poder se se quiser utilizar esta definição para estudar a objetivação do indivíduo". (DREYFUS; RABINOW, 1984, p. 298).
Quanto a uma sociedade disciplinar, Matrix possui um poderoso sistema de vigilância, embora este não seja infalível. Isso porque esse sistema de vigilância, apesar de funcionar em toda a parte, não possui o caráter onisciente. E é, precisamente na ausência de onisciência, que surgem as lacunas que ocasionam a quebra do sistema de vigilância disciplinar.
Ao se comparar o sistema de vigilância utilizado em Matrix, com o de Jeremy Brenthan, utilizado por Foucault em "Vigiar e Punir," percebe-se que apesar da eficácia de ambos, eles possuem características que se contrapõem. No modelo de Brenthan, a vigilância se dá de modo a fazer com que o indivíduo saiba que está sendo observado. A eficácia da vigilância neste sistema encontra-se em produzir no indivíduo, um sentimento de estar coagido às normas disciplinares. Em Matrix, por outro lado, o verdadeiro sistema de vigilância busca não ser percebido. Sob este prisma, a incógnita é o fator-chave almejado para o bom desenvolvimento dos elementos de vigilância.
Entretanto, enquanto sociedade disciplinar, Matrix não é composta apenas por um bem elaborado sistema de vigilância, ela também exerce o papel de uma prisão. Foucault trata a instituição da prisão como uma forma de punição a indivíduos que transgrediram normas disciplinares, mas o sistema disciplinar das máquinas, que em Matrix detém o poder, enclausura os indivíduos desde o seu nascimento. Desta forma, a punição de primeira instância em Matrix não ocorre pela quebra de alguma norma do sistema disciplinar, antes, ocorre para garantir a manutenção e hegemonia do poder e a sobrevivência de seus detentores. Outro objetivo de Matrix, atuando como prisão, é não permitir que os indivíduos se libertem. É como se cada pessoa inserida dentro do sistema tivesse obtido uma condenação perpétua, apesar de uma condenação desse porte usualmente ser requerida quando se comete um crime hediondo.
Embora haja uma simulação de normas disciplinares para as pessoas não-libertas em Matrix, o verdadeiro poder disciplinar permanece oculto. Os indivíduos vivem suas vidas sem ter noção de que se encontram numa prisão. Não há presença de um discurso disciplinar autêntico que oriente as ações dos indivíduos, e nem poderia já que Matrix tem por objetivo não ser percebida. O que existe são simulações de normas disciplinares que visam tornar a vida em Matrix mais autêntica. Assim, não importa a atitude que o indivíduo tenha frente às normas simuladas de disciplina. Pois, se ele não tiver acesso ao conhecimento do verdadeiro sistema disciplinar, não importa o que ele faça, será sempre parte do sistema de controle das máquinas.
O poder do sistema disciplinar implantado pelas máquinas tem um excelente nível de satisfatoriedade em seu funcionamento, isto, deve-se ao fato de que "o poder não é somente uma questão teórica, mas qualquer coisa que faz parte da nossa experiência". (DREYFUS; RABINOW, 1984, p. 299). Em Matrix, a existência da sociedade gerada por computadores é a maior comprovação da eficiência das relações de poder das máquinas sobre a humanidade. Mas não são apenas os humanos em Matrix, que são submetidos às normas disciplinares. As máquinas também se encontram inseridas em um sistema de controle disciplinar, que busca atender com eficiência seu propósito. No primeiro filme da trilogia, é possível constatar esse fato através das atividades atribuídas aos agentes dentro da Matrix e das sentinelas fora dela. Entretanto, até esse ponto, o que se pode observar são máquinas cumprindo, categoricamente, suas funções. Mas, em Matrix Reloaded (2003 a) e Matrix Revolutions (2003 b), são apresentadas máquinas que transgridem as normas disciplinares. Tratam-se de programas que ao tornarem-se antiquados, ou estarem apresentando mau-funcionamento, são substituídos por novos e recebem ordens de regressar à fonte, o que implica em seu desaparecimento. Muitos destes programas optam por continuar em Matrix, e passam a fugir de outras máquinas que buscam exterminá-los. O que ocorre em Matrix, então, é uma efetuação contínua e consistente das formas de controle disciplinar. Para Lathan (2004, p. 5):
Control is also accomplished through the regulation of knowledge, or discourse. Foucault"s concept of the "archive" serves to illuminate society"s relationship to knowledge and the collective memory. In using the term "archive," Foucault means "the set of rules which at a given period and for a given society defined: 1) the limits and the forms of expressibility . . . 2) the limits and the forms of conservation . . . 3) the limits and the forms of memory . . . 4) the limits and the forms reactivation" ("Politics and the Study of Discourse" 14-15) [7]
Como já foi ressaltado, em Matrix, o verdadeiro sistema de controle não aparece às claras. Antes, está disfarçado dentro de um outro sistema de normas disciplinares, que faz com que os indivíduos não percebam a prisão onde se encontram. Deste modo, o elo estabelecido por Lathan (2004) entre controle, conhecimento e discurso, e mesmo o conceito de "arquivo" proposto por Foucault (1978) não poderiam ser utilizados nesse âmbito. Contudo, isso não implica em considerar que esses conceitos não se apresentarão dentro da sociedade disciplinar em Matrix. Pelo contrário, mas para que isso de fato ocorra, é essencial que as variantes existentes no conjunto de indivíduos de uma sociedade sejam percebidas. Em Matrix, por exemplo, apesar da maior parte dos indivíduos se encontrarem em uma situação de obscuridade de conhecimento com relação às normas disciplinares estabelecidas pelas máquinas, existem outros que conhecem a existência dessas normas.
Em uma situação desse gênero, não se pode esperar que a disciplina exerça uma funcionalidade satisfatória sobre todos os indivíduos, sem considerar sua constituição e posição dentro da sociedade e atuando sobre eles com uma forma fixa, não flexível e não variável. É necessário, portanto, que ocorram variações nas formas e normas de sistema de controle disciplinar. Essas variações disciplinares devem enquadrar-se frente ao âmbito disciplinar social, visando moldar-se, para então, tornarem-se capazes de atuar de maneira eficaz sobre os mais diversos tipos de indivíduos existentes em uma sociedade.
3.2 As Variações Disciplinares Inseridas na Trilogia Matrix
Como já citado no tópico 2.4 deste trabalho, alguns elementos são fundamentais para que haja a constituição das variações disciplinares. Viu-se também que estes elementos são: a adequação e a evolução. Na trilogia Matrix, a evolução das normas disciplinares ocorre em três momentos. O momento inicial é apenas citado no primeiro filme da trilogia, e ocorre após a vitória na guerra das máquinas sobre os homens. Trata-se do sistema disciplinar em vigor, integralmente apresentado nos dois primeiros filmes e em boa parte do terceiro.
O segundo momento que propicia uma evolução das normas disciplinares acontece em Matrix Revolutions, quando Smith assume o controle total da Matrix, tornando-se o detentor do poder nela. Nesse momento, as máquinas não possuem qualquer forma de poder disciplinar dentro do sistema de Matrix. Esse fato é o que abre espaço e dá possibilidade para o terceiro momento de evolução disciplinar, que ocorre quando Neo, após ter ido à cidade das Máquinas propor o fim da guerra, destrói Smith no final de Matrix Revolutions, obtendo assim a paz entre homens e máquinas. Entretanto, apesar de haver evoluções disciplinares a serem consideradas em Matrix, com o intuito de proporcionar uma descrição mais clara das variações disciplinares, este trabalho irá se portar mais aos elementos de adequação do que aos de evolução.
Isso porque a adequação requer um tipo de observação mais centralizado, enquanto a evolução possui características mais gerais. A adequação, então, possibilitará que sejam percebidas as "práticas que dentro da nossa cultura tendem a fazer do homem um objeto". (DREYFUS; RABINOW, 1984, p. 209). Em Matrix, as variações disciplinares surgem em decorrência do nível de conhecimento em relação à verdade da sociedade, que conseqüentemente altera a constituição do indivíduo. Quanto àqueles que sabem sobre Matrix, a disciplina que atua sobre eles é a exterminação eminente, independentemente de serem homens (desconectados do sistema) ou máquinas (renegadas). Em relação aos indivíduos ainda conectados ao sistema de controle disciplinar das máquinas, pode-se utilizar a descrição de Foucault de indivíduos dóceis e úteis para caracterizá-los. A razão disto é que em Matrix qualquer indivíduo "haven´t unplugged is potentially an agent".[8] (WACHOWSKI; WACHOWSKI, 1999) Esse fator torna o sistema de vigilância muito eficiente, pois a qualquer instante, agentes podem surgir assumindo o corpo de alguém que ainda esteja conectado à Matrix. O que se tem então é um sujeito extremamente útil ao poder disciplinar, já que sua contribuição independe de sua vontade ou escolha. E como estes mesmos indivíduos vivem suas vidas sem ter a mínima idéia de que são prisioneiros em um grande sistema gerado por computador, construídos por máquinas com inteligência artificial, acabam tornando-se indivíduos dóceis, que não representam qualquer ameaça ao sistema.
A partir da idéia que existem "diferentes formas de subjetividade" (FOUCAULT, 1969, p. 160) com relação à constituição do indivíduo, é que se propiciam às normas disciplinares atuarem de formas variadas sobre ele para garantir a eficiência em sua funcionalidade. Portanto, serão abordados agora os tipos de indivíduos encontrados na trilogia, bem como as normas de sistema disciplinar e as variações que atuam sobre os mesmos nos diferentes contextos de Matrix, enquanto sociedade disciplinar.
3.3 O Indivíduo e a Disciplina em Matrix
3.3.1 O Indivíduo Conectado ao Sistema Disciplinar
O indivíduo não liberto do sistema de controle disciplinar de Matrix pertence integralmente ao detentor do poder. Sua vida constitui-se em obedecer a normas de controle disciplinar, e esse fato lhe é omitido. Ele se sente livre e de fato acredita que é o responsável pelas suas escolhas, e a idéia de estar em uma prisão não lhe parece possível. Essa é a forma estabelecida em Matrix (enquanto prisão) para sujeitar indivíduos às normas disciplinares, e como este é o modelo disciplinar em vigor, obviamente, todas as variações das normas disciplinares se darão a partir dele.
No primeiro capítulo do livro "Vigiar e Punir," Foucault trata de um típico ato de punição, o suplício. Depois, acompanha os passos que levam à delineação de uma mudança na estruturação das formas de punição, que o faz chegar à prisão. Essa forma brusca de variação dos elementos disciplinares em sua estrutura física, também ocorre no sistema disciplinar de Matrix. É importante salientar que, em ambos os casos, o objetivo é apenas um: eficiência. Não é difícil observar que essa semelhança citada vai ocorrer unicamente em forma ideológica e não em estruturação física, pois o sistema disciplinar de Matrix ocorre de um modo muito peculiar.
A mudança das formas disciplinares em Matrix, apesar de ocorrer, não chega a ser apresentada ao telespectador, na verdade, ela é citada por duas vezes na trilogia. No primeiro filme, após Morpheus ser capturado por agentes e levado para um prédio militar onde o agente Smith o interroga a fim de obter as senhas de acesso para adentrar na cidade de Zion, e no segundo, na cena em que Neo se encontra com o Arquiteto, que lhe revela que o escolhido, nada mais é, do que uma anomalia, também pertencente ao sistema disciplinar de Matrix. Em ambos os casos é explicitado que a primeira versão de Matrix foi constituida para ser um local onde os homens não sofreriam, contudo, o programa foi rejeitado. Quando se reflete acerca deste fato é possível enxergar uma grande falha de procedimento para com o propósito almejado. Afinal, parece um tanto equivocado tentar formar uma realidade onde se omite a existência de fatores tão comuns à vida como desgraças, dores e sofrimentos. Por isso, ao perceberem que a eficácia de Matrix, como uma sociedade disciplinar invisível, estaria intrinsecamente ligada à mais perfeita constituição artificial possível de um mundo real, ela foi refeita com todos os elementos que norteiam o dia-a-dia das pessoas. Portanto, tanto na evolução do modo de punição exercido pelo suplício até se chegar à prisão, quanto na reestruturação existente entre a primeira e a segunda versão de Matrix, mencionada na trilogia, o foco permanece invariável: sujeitar o indivíduo às normas de controle disciplinar.
Apesar de aspectos disciplinares, geralmente, não alcançarem todos os indivíduos plenamente, pois sempre existem quebras nas normas, eles se mantêm eficazes em conseguir propiciar leis que são obedecidas pela maior parte da população. Essa boa funcionalidade da disciplina requer não apenas um pensamento mais amplo visando a sociedade de um modo geral, e sim que se considerem também aspectos que a princípio podem não parecer importantes. É por esse motivo que:
Foucault define a disciplina como uma verdadeira anatomia do detalhe. E a colocação dos menores detalhes referentes ao corpo na coerência de uma estratégia é o que garante a sua enorme capacidade de difusão. Toda "uma observação minuciosa do detalhe, e ao mesmo tempo um enfoque político dessas pequenas coisas, para o controle e utilização dos homens, sobem através da era clássica, levando consigo todo um conjunto de técnicas, todo um corpo de processos e de saber, de descrições, de receitas e dados". Esse conjunto de técnicas e estratégias é o que constitui a disciplina. (FONSECA, 1994, p. 39)
A eficiência do sistema disciplinar em Matrix é tamanha que Morpheus explica a Neo a existência de uma regra de não libertar indivíduos a partir de certa idade, pois segundo ele "The mind has trouble letting go"[9] (WACHOWSKI; WACHOWSKI, 1999) A partir daí, se percebe o nível de realidade gerada por Matrix, e como aqueles ainda conectados tornam-se "dependent on the system".[10] (WACHOWSKI; WACHOWSKI, 1999)
Mesmo sendo uma prisão, Matrix proporciona um nível de vida de maior comodidade a seus prisioneiros do que o obtido por aqueles que estão "livres." Esse fato leva Cypher, um dos homens de confiança de Morpheus, a traí-lo e optar por ficar em Matrix. Nesse ponto, a trilogia oferece mais uma vez uma idéia não convencional, afinal, geralmente a prisão é um local de punição onde não há conforto. Por outro lado, Matrix propicia a seus prisioneiros o fato de não saber que estão presos, poder ter uma vida com certas regalias e viver em uma realidade em que aparentemente se vive em paz.
O indivíduo conectado a Matrix vive obedecendo as normas disciplinares que foram constituídas pelas reais normas disciplinares a fim de ocultar-se, garantindo deste modo, um alto grau de funcionalidade. Além disso, ele não possui direito sobre o próprio corpo e sua dependência frente às máquinas é total e absoluta.
Enquanto encontrar-se conectado ao sistema, o indivíduo receberá discursos disciplinares vindos da sociedade. Esses discursos, evidentemente, são elementos de complementação que visam a perfeita simulação de uma sociedade autêntica. Contudo, o indivíduo conectado não terá acesso às informações da real situação existente entre homens e máquinas, e isto o torna dócil, pois em Matrix o poder de um indivíduo está diretamente ligado ao seu saber. Matrix, portanto, possui "um sistema minucioso de coerções disciplinares que garante efetivamente a coesão deste mesmo corpo social" (FOUCAULT, 1988 a, p.189). O fator que lhe propicia essa situação é precisamente o sistema disciplinar implantado, e a eficácia com a qual o mesmo controla os indivíduos conectados dispersamente dentro dela.
3.3.2 A Disciplina Para o Indivíduo "Livre"
"The Matrix has you".[11]
Andy Wachowski; Larry Wachowski
A frase enviada a Neo no início do primeiro filme da trilogia é a chave que irá abrir portas e dar acesso para um determinado indivíduo se libertar de Matrix. Uma vez que a eficiência disciplinar em Matrix deve-se, a princípio, a um bem elaborado sistema invisível. É o aparecimento desse sistema que possibilitará um possível desvinculamento por parte de seus prisioneiros. Portanto, até que o indivíduo possua esse conhecimento, ele não representará nenhuma ameaça. Normalmente, para que a informação sobre a existência do sistema Matrix chegue a um indivíduo inserido dentro dele, se requererá que haja uma influência de caráter externo. Esse fato irá ocorrer com a intervenção direta de indivíduos já libertos do sistema disciplinar de Matrix.
É uma atividade esplendorosa perceber como, neste ponto precisamente, Matrix encaixa-se perfeitamente na idéia de Platão sobre "O Mito da Caverna." Em ambos os casos, o indivíduo se dá conta que vivia em um mundo onde se predomina a obscuridade e não a verdade. Um fator de comparação importante entre ambos está na tentativa daqueles que já se libertaram de seu enclausuro disciplinar social (A Matrix e a caverna), de voltar e resgatar outros de sua antiga sociedade, agora vista como uma prisão. Assim como no "Mito da Caverna," apenas aquele indivíduo que se libertou dos grilhões e saiu da caverna pode voltar e tentar convencer os outros prisioneiros acerca da real situação em que se encontram. Em Matrix, também é necessário que somente aqueles que um dia estiveram presos nela, voltem e tentem resgatar mais pessoas. Isso porque, somente os indivíduos que já viveram em Matrix possuem plugs em suas nucas, e serão esses plugs que possibilitarão a conexão para se adentrar nela. Desta forma, seres humanos nascidos fora do sistema Matrix, jamais poderão se conectar à ela.
Contudo, a partir do momento em que o indivíduo liberta-se do sistema de controle exercido por Matrix, as normas disciplinares em relação a ele não deixam de existir, pelo contrário, frente à nova constituição obtida pelo indivíduo em sua formação, o poder disciplinar sofre alterações desde sua essência. Ela já não irá mais atuar sobre um parâmetro óptico invisível, antes, assumirá um papel parecido com o do suplício relatado por Foucault, que pretendia enaltecer e validar o processo punitivo, estabelecido pelos detentores do poder.
Existe, portanto, uma idéia inversa da evolução dos métodos punitivos em "Vigiar e Punir" e na trilogia Matrix. No primeiro, a forma inicial de punição é o processo de dor e sofrimento que visa conduzir o transgressor das normas disciplinares à morte, apenas mais tarde aparece um método punitivo que se concentra em privar a liberdade do indivíduo. É claro que Foucault utilizou a ordem histórico-cronológica para tal descrição. Matrix, ao invés disso, tem como punição disciplinar em primeira instância a privação da liberdade, utilizando de maneira oposta os elementos disciplinares que visam ocasionar a morte de um indivíduo.
As mudanças acarretadas por essa variação disciplinar terão proporções grandiosas em relação à sua estruturação. Primeiramente, o indivíduo ficará ciente dos fatos que, outrora, eram encobertos pelo sistema disciplinar. Isso implica no surgimento de um discurso disciplinar. Será ele quem alertará o indivíduo, deixando-o a par de sua nova posição dentro da esfera social. Em Matrix, Neo recebeu esse discurso disciplinar em duas formas distintas. A primeira através de Morpheus, que lhe ensinou as normas de viver socialmente após ser libertado de Matrix. Esse discurso tem um caráter comum, pois é necessário emiti-lo a todos os que são libertos. A segunda forma de discurso disciplinar é apresentada a Neo pelo Oráculo. Diferentemente da primeira forma, esta possui características absolutamente fechadas. Ou seja, é um discurso disciplinar voltado para Neo, e apenas para ele, em decorrência de sua posição como "o escolhido," assim como funções, características e deveres que só caberiam a ele cumprir. Essa caracterização do conceito de "guias" existente em Matrix, indubitavelmente, vai de encontro ao pensamente de Trites (2000, p.80) de que "Many young adult novels also depict the strong influence of an adult whose wisdom serves as a guide to the adolescent protagonist."[12]
Uma vez desconectado de Matrix, o indivíduo já não pertence às suas complexas formas de disciplina indetectáveis. Contudo, essa variação disciplinar não deve ser concebida sob a óptica de uma evolução das formas disciplinares, e sim de uma adequação por parte delas. Para se empreender o termo "evolução," seria necessário que a mudança ocorresse em sua estrutura principal de modo a substituir sua antiga forma. Entretanto, em Matrix, quando se realiza o processo de desconexão do indivíduo, as normas disciplinares se moldam à sua nova condição, e não a todo o âmbito social englobado por elas.
Quando indivíduos já libertos excursionam dentro de Matrix, o sistema de vigilância não só passa a ser percebido, como também temido. Isso porque nessa condição, o indivíduo já detém o conhecimento de que a punição em vigor para seu desvinculamento do sistema disciplinar é a morte.
Porém, não é apenas a maneira com que as normas disciplinares irão se adequar a um sujeito para garantir sua funcionalidade, que delineará a estrutura obtida em todo seu processo de variação. Desta forma, o indivíduo desconectado de Matrix não apenas sofre as variações das formas disciplinares em vigor, como também começa a pertencer a uma nova sociedade, possuidora de suas próprias normas disciplinares.
3.3.3 Zion: Uma Nova Sociedade Disciplinar
Após ser desconectado do sistema disciplinar de Matrix, o indivíduo passa a pertencer a outra sociedade disciplinar. Apesar de ser mencionada no primeiro filme, Zion só é apresentada, de fato, em Matrix Reloaded. Independente do sistema de controle de Matrix, a cidade não possui qualquer norma disciplinar sancionada pelas máquinas, antes, são os humanos que se responsabilizam por toda a sua estruturação física, social e disciplinar.
Localizada no subterrâneo, perto do núcleo da terra, Zion é a última cidade humana existente no planeta. Ela é também o único lugar que oferece aos homens proteção frente ao poderio ofensivo das máquinas. No tocante à sua constituição quanto dispositivo social, apesar, evidentemente, de possuir uma homogeneidade no tocante ao pensamento com relação à guerra contra as máquinas, pode-se estabelecer a definição de Zion, como sendo;
Um conjunto decididamente heterogêneo que engloba discursos, instituições, organizações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas, morais, filantrópicas. (FOUCAULT, 1988 a, p. 244)
Com relação à cidade de Zion e Matrix, não haverá variações disciplinares entre elas. Isso porque uma variação disciplinar deve atuar em um mesmo espaço, sob variações distintas na constituição de indivíduos para com as normas disciplinares atuantes. Por outro lado, existem as mudanças disciplinares, que são acarretadas através da mudança para uma nova sociedade, possuidora de suas próprias normas disciplinares. Então, enquanto as variações disciplinares são ocasionadas por mudanças na constituição do indivíduo, as mudanças disciplinares acontecem em decorrência da alteração do indivíduo de uma sociedade para outra. Sendo assim, as variações disciplinares em Zion só ocorrerão dentro dela própria. Por este motivo é que Matrix somente atuará com características sob um indivíduo liberto, quando ele estiver conectado a ela.
O poder disciplinar de Zion atua de modo a garantir a paz dentro de seus limites, isto é, entre seus habitantes. Pelo ambiente de guerra estabelecido pela situação existente no mundo, a cidade vive em um regime disciplinar que pode ser classificado como militar. Entretanto, não são os militares que orientam as ações existentes em Zion. Para a efetivação dessa função, existem conselheiros. Esses conselheiros, apesar de estarem em constante contato com os militares, são quem definem as ações a serem cumpridas.
Pelo que é apresentado dentro da trilogia, entende-se que não há remuneração em Zion, pelos serviços prestados à comunidade. Todos os indivíduos recebem funções, sejam militares ou civis, e precisam desempenhar bem suas designações. A trilogia não apresenta um exemplo claro do que acontece a um determinado indivíduo que não cumpra satisfatoriamente suas tarefas, contudo, com base nas relações sociais apresentadas é possível supor que não haveria uma punição direta a tal ato, antes, provavelmente ocorreria um reposicionamento do indivíduo quanto à atividade a ser realizada. Com relação à não remuneração de atividades é absolutamente importante que haja uma compreensão dos elementos disciplinares existentes em Zion e de como:
As tecnologias disciplinares são diferentes da escravidão na medida em que não efetuam uma apropriação dos corpos no sentido de subjugá-los e impor-lhes algo por meio de uma força exterior à sua própria vontade. O mecanismo das tecnologias disciplinares se traduz por uma apropriação daquilo que o indivíduo produz, dos saberes, sentimentos e hábitos a ele relacionados, sem retirá-lo do meio que lhe é próprio ou em que se encontra. Tal apropriação incide sobre a constituição do sujeito de forma a não necessitar subjugar e impor, mas apenas dar os meios e instigar a sua ação. (FONSECA, 1994, p. 38-39)
Em Zion, as variações disciplinares ocorrem obedecendo a níveis hierárquicos estabelecidos pela sociedade. Primeiramente, os civis estão à disposição dos militares, os militares, por sua vez, dividem-se em subgrupos de poder interno. Soldados obedecem aos capitães e os capitães ao comandante. Este último obedece ao conselho da cidade, que finalmente, busca atender o melhor interesse da população.
Contudo, essas relações de poder inseridas na sociedade em Zion, são tratadas na trilogia como um pano de fundo. Nesse trabalho não será diferente, afinal a nossa proposta é tratar das variações disciplinares inseridas na trilogia, com o foco voltado para as relações que ocorrem dentro da sociedade disciplinar Matrix. E como já explanado nesse tópico, com relação à disciplina entre Matrix e Zion, não há de fato uma variação disciplinar e sim uma mudança das normas disciplinares. Portanto, a partir de agora será retomado o foco dos aspectos disciplinares inerentes ao sistema disciplinar de Matrix.
3.4 As Máquinas e a Disciplina em Matrix
3.4.1 As Máquinas Obedientes ao Sistema
Dentro do âmbito da trilogia Matrix, os elementos disciplinares são tão comuns, que seria uma ingenuidade atribuir-lhes eficácia apenas agindo sob os seres humanos. Mesmo as máquinas em Matrix irão ser englobadas no sistema disciplinar. Em Matrix Revolutions é apresentada, efetivamente, a "Cidade das Máquinas," uma sociedade onde se pode traçar paralelos com relação ao pensamento foucaultiano. As máquinas apresentadas fora de Matrix possuem um caráter de obediência disciplinar mais apurado do que aquele apresentado pelos programas que residem nela.
A operacionalização do funcionamento da "Cidade das Máquinas" assemelha-se a um grande formigueiro, pois a todo tempo parece haver funções pendentes sendo realizadas por inúmeras máquinas. Além disso, em sua constituição, os indivíduos pertencentes a ela também se enquadram na descrição de Foucault do sujeito pretendido por uma sociedade disciplinar. Isso porque parece não haver distinções entre os indivíduos, e sim uma formação social de um grande sistema disciplinar, criado com o intuito de gerar um alto índice de eficiência em seu funcionamento. Portanto, é possível retomar o pensamento de Fonseca (1994, p. 52) de que "através desta composição, a disciplina consegue extrair toda capacidade de cada indivíduo segmentarizado. A exigência sobre cada um reflete sobre todos. O não cumprimento da totalidade de uma exigência compromete todo o sistema."
Contudo, não são apenas as máquinas fora de Matrix que possuem atividades disciplinares a serem cumpridas. Em Matrix, de igual modo, máquinas também terão um papel específico a cumprir com o intento de sujeitar as formas de poder que vigoram. O primeiro filme suscita a idéia que apenas agentes garantem o cumprimento de normas disciplinares dentro de Matrix, entretanto, em Matrix Reloaded o Oráculo explica a Neo que todo o funcionamento em Matrix deve-se a programas construídos para efetivar a mais perfeita constituição de realidade. Nessa cena, Neo e o Oráculo conversam em um banco, observados por Seraph, guardião do Oráculo, é a partir desse ponto que pela primeira vez na trilogia toma-se consciência de que tudo em Matrix é gerado através de programas que possuem funções específicas, e de que o próprio Oráculo é um programa pertencente ao sistema.
Tratando as máquinas por esse ponto de vista, é de fundamental importância ter consciência que as variações disciplinares poderão ocorrer naturalmente sobre elas. Evidentemente, as máquinas, enquanto indivíduos não apenas pertencentes, mas também obedientes ao sistema disciplinar sofrerão variações disciplinares sobre um caráter funcional e não punitivo. Embora em muitas situações programas sejam deletados, ou por estarem com um mau funcionamento ou pela criação de um programa melhor. Ao se analisar esse fato, pode-se utilizar para reflexão uma questão levantada por Foucault (1985, p.130): "De que modo um poder viria a escrever suas mais altas prerrogativas e causar a morte se o seu papel mais importante é o de garantir, sustentar, reforçar, multiplicar a vida e pô-la em ordem?".
Provavelmente entre as máquinas em Matrix, isso ocorre devido à desvalorização do ser enquanto elemento individual, e uma contraposta supervalorização deste mesmo ser enquanto componente social. Desta maneira, o sistema detentor do poder em Matrix, apesar de aniquilar componentes que lhes são obedientes, não visualiza esse fato como sendo um ato cruel ou injusto, pelo contrário, o considera um aprimoramento de seu controle disciplinar. Apesar de também haver variações disciplinares para as máquinas que obedecem ao sistema de controle em Matrix, é essencial que se diferencie a natureza destas variações com relação às variações sofridas pelos seres humanos. Pois, enquanto os homens sofrem variações disciplinares, as máquinas as executam. Esse fator, indubitavelmente, está interligado com a questão da irremediável detenção do poder de controle disciplinar.
A execução das variações nas normas disciplinares por parte das máquinas (mais especificamente os agentes) em Matrix, será um produto resultante da constituição do indivíduo, a princípio ainda conectado ao sistema. Então, conseqüentemente, as variações disciplinares acompanharão as mudanças sofridas pelos sujeitos.
Quanto aos agentes, sua função inicia-se quando um determinado indivíduo começa a ser contactado por alguém liberto e a tornar-se ciente que existe "algo" denominado Matrix. A partir daí, os agentes que até então permaneciam invisíveis para aquele sujeito entram em cena. Sua primeira tarefa disciplinar é investigar a localização desse indivíduo liberto para exterminá-lo. O agente então procura utilizar o indivíduo contactado para chegar ao que está liberto. Até esse ponto, a tarefa disciplinar consiste em observar, e seu funcionamento para com esse indivíduo somente irá variar se o mesmo sofrer uma mudança brusca em sua constituição, tornando-se conhecedor da verdade.
Uma descrição que poderia ser atribuída a um agente do sistema em Matrix é a de um "indivíduo moderno, produto de uma tecnologia, constituído enquanto objeto de saber e resultado das relações de poder, marcado pela docilidade e utilidade que justificam o processo de sua constituição". (FONSECA, 1994, p. 57) Embora que nele, diferentemente dos homens, a docilidade e a utilidade diante das normas disciplinares não se darão através de indução e sim pela sua estreita conexão ao sistema de controle disciplinar detentor do poder e instituidor dessas normas.
Agentes são programas que possuem livre acesso para assumir qualquer corpo ainda conectado a Matrix. Quando alguém julga ter aniquilado um agente, conseguiu na verdade, matar o corpo que estava sob o domínio dele. Mas eles podem continuar utilizando outros corpos, e isso os torna praticamente invencíveis, uma vez que são indestrutíveis, exceto para o próprio sistema. De fato, a indestrutibilidade dos agentes não apenas fortalecem o conceito de poder disciplinar por parte das máquinas, como também consegue gerar um sentimento de receio àqueles que transgridem as normas disciplinares estabelecidas.
Dentre esses transgressores, não se encontram apenas homens e mulheres desconectados do controle das máquinas, também há programas que se rebelam contra o sistema disciplinar e procuram subsistir desapercebidos dentro de Matrix.
3.4.2 Programas Renegados e as Variações Disciplinares
Quando se pensa em uma imposição de leis que visam condicionar indivíduos a reações ou atitudes não genuinamente verdadeiras, mas que possuam um caráter pré-estabelecido, moldado e fabricado por alguma instituição que possua o poder de fazê-lo, não é difícil prever que grupos de protesto se manifestarão contra ela. Deste modo, não é atípico que em Matrix, os seres humanos enfrentem as normas disciplinares implantadas pelas máquinas. Contudo, existe uma outra forma de desobediência disciplinar, esta por sua vez, não possui um caráter tão previsível quanto àquela empreendida pelos homens. Trata-se de programas que subsistem dentro da Matrix, que foram construídos pelas máquinas para desempenhar alguma função específica, mas que em algum momento se rebelaram contra o sistema. Há um princípio bíblico proferido por Jesus Cristo em Mateus 12:25 que diz: "Todo reino dividido contra si mesmo ficará deserto, e toda cidade, ou casa, dividida contra si mesma, não subsistirá".
Em Matrix, esse princípio aplica-se satisfatoriamente no tocante a quebra da hegemonia do poder disciplinar por parte das máquinas, já que é a ação de Smith (ex-agente do sistema) que abre espaço para Neo obter a paz entre homens e máquinas.
Com relação à variação do aspecto disciplinar em decorrência da mudança de postura de programas para com o sistema, o que se observa é uma incomensurável variante da disciplina em sua forma de atuação. Atuando sobre os homens, as variações disciplinares ocorrem alterando sua forma, uma vez que sobre eles a disciplina sempre possui características punitivas. Entretanto, ao se tratar das máquinas, as variações disciplinares irão atingir níveis mais profundos, o que ocasionará alterações que partirão desde sua essência. Isso se deve a posição ocupada pelos programas antes da quebra disciplinar, pois até então a disciplina exerce um papel funcional sobre eles e não punitivo.
Quando os programas optam por não mais seguir as ordens do sistema, mudanças inerentes irão ocorrer em sua constituição. Primeiramente, as funções disciplinares às quais eles eram responsáveis já não lhes caberão, uma vez que o início de sua desobediência disciplinar ocorre com a substituição de seus deveres para programas aperfeiçoados. Eles, então, necessitam se esconder do sistema disciplinar para não serem destruídos. Muitas vezes, o melhor meio de conseguir permanecer incógnita e sentir-se seguro é com a proteção de outros programas, que lhes garantem sobrevivência em troca de serviços. Esse tipo de relacionamento entre programas é apresentado em Matrix Reloaded e Matrix Revolutions através de Merovingian e seus subordinados.
Ao se tratar dos programas que vivem ocultando-se do sistema disciplinar de Matrix, em comparação com os seres humanos desconectados, pode-se concluir que, devido "as mutações tecnológicas do aparelho de produção, a divisão do trabalho, e a elaboração das maneiras de proceder disciplinares mantiveram um conjunto de relações muito próximas." (FOUCAULT, 1988 b, p. 222 – 223) Especialmente no que diz respeito a posição que ambos ocupam frente ao sistema de normas disciplinares em Matrix, assim como a punição que lhes é cabível.
A constituição do personagem Smith permite que haja uma reflexão acerca da situacionalidade dos programas inseridos em Matrix, tanto os obedientes quanto os renegados. No primeiro filme da trilogia, quando atuava como um agente do sistema, Smith já se mostrava insatisfeito com as atividades atribuídas a ele. Na cena em que interroga Morpheus, ele se mostra frio enquanto os agentes Brown e Jones se encontram na sala observando o interrogatório, contudo, após pedir para que os dois deixassem a sala de interrogatório, ele admite que não suporta mais viver em Matrix devido o contato com seres humanos, que segundo sua concepção são repulsivos. Nesse momento, o receio das máquinas para com o sistema disciplinar (instituído por elas próprias) se evidencia, pois para fazer essa afirmação consistente com ares de desabafo, ele, primeiramente, retira do ouvido uma espécie de ponto eletrônico que mantém a conexão entre os agentes e o sistema, desligando-se assim momentaneamente da vigilância que as máquinas exerciam sobre ele.
Nas subseqüentes continuações, mostra-se que Smith já não é um agente da Matrix desde seu encontro com Neo, que aparentemente o destrói. Mas, ao invés de ser, de fato, destruído, Smith torna-se o que pode ser considerado um vírus dentro do sistema. Multiplicando-se velozmente, logo acaba se tornando o maior adversário das máquinas, que pela primeira vez perdem a obtenção do poder em Matrix para um de seus programas renegados.
Como explicitado anteriormente, os programas renegados em Matrix, geralmente intentam fugir de sua aniquilação eminente. Mas, contrapondo-se a este fator, Smith opta por transgredir as normas disciplinares sem que haja a ameaça do sistema deletá-lo. Deste modo, "quais seriam as relações de poder que estariam impulsionando todas essas modificações?" (FONSECA, 1994, p. 33)
Talvez a definição mais adequada a este impasse encontre-se na resposta do Oráculo para a questão: "What do all men with power want? More power".[13] (WACHOWSKI; WACHOWSKI, 2003 a) E após se pensar nas razões do porquê são elaboradas normas disciplinares para regerem as sociedades? Ou mesmo, por que sempre há aqueles que se rebelam contra essas normas? Ou ainda, por que essas normas disciplinares são adequadas a situações gerais ou específicas? Por que querer ser proferidor do discurso disciplinar? Por que vigiar? Por que punir? Para todas estas questões levantadas, irá ser lançada mais uma. Existiria outra resposta para qualquer uma dessas perguntas que não seja: para ser o detentor do poder?
Como pôde ser constatado, por intermédio da leitura foucaultiana empreendida acerca dos aspectos disciplinares na trilogia Matrix, a disciplina não é uma força que se desencadeia aleatóriamente sobre o indivíduo. Na realidade, ela é um elemento que necessita de um alto grau de complexidade, uma vez que será primordial no tocante à manutenção do poder. Desse modo, o indivíduo se depara com normas estabelecidas, não ao acaso, mas sim propositadamente, que possuem o intuito de inibí-lo e submetê-lo, enquanto ser social, às formas de poder atuante.
A eficácia com que se dá a implantação dessas normas é tamanha, que sua funcionalidade abrange níveis muito elevados frente à sociedade. Contudo, devido à subjetividade empreendida no processo de formação do sujeito, nem sempre as normas disciplinares atuantes irão exercer o efeito almejado sobre o indivíduo. Uma ausência, ainda que temporária, das normas disciplinares sobre um dado indivíduo poderia representar uma severa ameaça a quem detém o poder. Entretanto, pelo fato de a disciplina ser um elemento inerentemente social, situações que apresentem uma ausência total de disciplina sobre o indivíduo, praticamente não existirão.
O que ocorrerá, ao invés disso, é que as formas de controle disciplinar irão se moldar, a fim de que o indivíduo continue de uma forma ou de outra, a ser coagido pelo sistema de controle disciplinar. Como exemplificado através de situações apresentadas na trilogia Matrix, essas variações acontecerão a partir de uma mudança brusca por parte dos indivíduos em sua constituição. Dentro da trilogia, portanto, o indivíduo sofre, a princípio, um tipo de atuação das normas disciplinares que mudará de acordo com sua evolução.
No sistema disciplinar de Matrix, esta evolução é ocasionada através de mudanças no campo cognitivo dos indivíduos, ou seja, elas ocorrem à medida que os indivíduos começam a descobrir a verdade sobre seu mundo. Independentemente deste fato ter sido obtido após uma análise de obras de ficção, parece um tanto óbvio que ele se abrangerá nos demais contextos de uma sociedade autêntica. Já que uma vez que as escolhas e ações que são realizadas por indivíduos em uma sociedade passam primeiramente por seus campos cognitivos, onde são julgados, pesados e medidos pela sua própria cosmovisão, isto é, a maneira que cada um tem de observar o mundo. Será a partir de uma mudança na forma de ver o mundo à sua volta, que a constituição ideológica mudará, e desta maneira, o indivíduo sofrerá uma alteração significativa em seu campo cognitivo, que conseqüentemente, influenciará em suas ações.
É importante frisar que as variações disciplinares somente ocorrerão dentro de uma mesma sociedade disciplinar, quando o poder de controle disciplinar atuante mudar sua forma de atuação para não perder sua eficácia sobre um indivíduo. Elas não ocorrerão na mudança de uma sociedade, detentoras de suas próprias normas disciplinares, para outra. Neste trabalho, isso foi exemplificado no tópico 3.3.3 ao se falar de Zion e de como as variações disciplinares nela, se darão unicamente dentro dela e não em Matrix, pois nesse caso o que se tem são mudanças e não variações das normas disciplinares.
O indivíduo, então, estará sempre sendo sujeitado a normas disciplinares dentro do âmbito social, e esse fator independerá de suas escolhas, ideologias ou ações, a favor ou contra o sistema detentor do poder e criador das normas de controle disciplinar em vigor. Já as variações disciplinares são dispositivos que surgem para manter o indivíduo sempre submisso às normas que o vigiam e que estão prontos para puni-lo em caso de transgressão. A relação, portanto, entre disciplina e indivíduo é necessária, e suas variações inevitáveis.
Biblía de Estudo Almeida. Barueri – SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
DREYFUS, H. RABINOW, P. Michel Foucault. Un parcours philosophique. Tradução de Fabianne Durand-Bogert. Éditions Gallimard, 1984.
FIORIN, José Luiz. Linguagem e Ideologia - São Paulo, Sp: Ática, 2003.
FONSECA, Márcio Alves da. O Problema da Constituição do Sujeito em Michel Foucault. Puc – SP: 1994.
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TRITES, Roberta Seelinger. Disturbing the Universe: Power and Repression in Adolescent Literature. Iowa City: U of Iowa P, 2000.
WACHOWSKI, Andy, WACHOWSKI, Larry. The Matrix. Warner Bros. 1999. 1 DVD. Color/136 min.
_____________. The Matrix Reloaded. Warner Bros. 2003 a. 1 DVD. Color/138 min.
_____________. The Matrix Revolutions. Warner Bros. 2003 b. 1 DVD. Color/129 min.
AGRADECIMENTOS
? Agradeço primeiramente a Deus, o Dono da minha vida. Apenas palavras não serão suficientes para descrever a intensidade do meu amor a Ele. O sangue de Cristo derramado na cruz em favor da humanidade é uma benção incalculável, por isso lhe serei eternamente grato.
? Agradeço a minha família, ao meu lar. Que dia após dia eles possam estar crescendo e aprendendo como pessoas sábias e amáveis.
? Não poderia deixar de agradecer minha outra família, aquela em que comecei a fazer parte quando o sangue de Jesus foi derramado sobre mim. Irmãos amados, que O Senhor abençoe e multiplique bênçãos sobre suas vidas.
? Minha turma querida que me fez ter muitos momentos alegres. Espero que todos tenham sucesso, paz e vitórias em suas vidas.
? Aos meus professores, que tenham uma vida próspera e abundante. Obrigado por tudo, lhes sou muito grato. Um grande abraço ao meu querido orientador Prof. Ms. Evaldo Gondim.
? Gostaria aqui de fazer um agradecimento muito especial a uma pessoa fantástica, posta pelo próprio Deus em meu caminho: Lívia de Lourdes de Sousa Pinto. Lívinha, muito obrigado por ter me ensinado a levar meus estudos a sério e a me dedicar a eles. Tenho certeza de que o nosso Deus está olhando para nós e preparando grandes planos. Eu te amo muito. Obrigado por tudo.
Monografia apresentada ao curso de Letras e Artes, do Departamento de Letras – DL, Campus Avançado Prof.ª Maria Elisa de Albuquerque Maia – CAMEAM, Núcleo Avançado de Ensino Superior de Umarizal – NAESU, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, como exigência parcial para obtenção do título de Graduado em Letras – Habilitação em Língua Inglesa e Respectivas Literaturas.
Orientador: Prof. Ms. Evaldo Gondim dos Santos.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Ms. Evaldo Gondim dos Santos
(Orientador)
Profª. Esp. Maria Bevenuta Sales de Andrade
(Examinadora)
Profª. Esp. Maria Zenaide Valdivino da Silva
(Examinadora)
Umarizal – RN
2008
Autor:Francisco Vágner Fernandes Souza
vagner_flyingdutchman[arroba]hotmail.com
Umarizal – RN
2008
[1] Todas as traduções realizadas neste trabalho foram feitas por mim.
[2] Este edifício serve como uma metáfora adequada a trabalhos de vigilância em qualquer sociedade. (LATHAN, 2004, p.3)
[3] Uma sociedade altamente disciplinar depende de meios eficazes de se impor normas de punição áqueles que quebram as regras - criando efetivamente, uma "cultura de punitiva," em que o controle total é adquirido por um medo coletivo em retribuição. Nesse tipo de comunidade a punição é vista como inevitável, ainda que geralmente seja invisível. (LATHAN, p.5)
[4] Foucault argumenta que em qualquer sociedade, estruturas de poder são inevitáveis, entretanto, ele também admite que a resistência seja possível. E não apenas possível, mas necessária. (LATHAN, 2004.p.7)
[5] O que é Matrix? (Wachowski; Wachowski, 1999)
[6] Matrix é um mundo dos sonhos gerado por computador, feito para nos controlar. ( Wachowski; Wachowski, 1999)
[7] O controle também é obtido através do domínio do conhecimento ou do discurso. O conceito de Foucault sobre arquivo serve para clarear o relacionamento da sociedade para com o conhecimento e a memória coletiva. Ao se utilizar do termo "arquivo," Foucault se refere ao "conjunto de regras que em dado período e em determinada sociedade definem: 1) os limites e as formas de expressão. . . 2) os limites e as formas de conservação. . . 3) os limites e as formas de memória. . . 4) os limites e as formas de reativação" ("Políticas e Estudos do Discurso"). (LATHAN, 2004.p.5)
[8] Ainda não libertado, é um agente em potencial. ( Wachowski; Wachowski, 1999)
[9] A mente tem problemas em esquecer. (Wachowski; Wachowski, 1999)
[10] Dependentes do sistema. (Wachowski; Wachowski, 1999)
[11] A Matrix lhe domina. (Wachowski; Wachowski, 1999)
[12] Muitos romances voltados para um público jovem mostram uma forte influência de adultos sábios que servem de guias para o jovem protagonista. (TRITES, 2000,p.80)
[13] O que todos os homens poderosos querem? Mais poder. (WACHOWSKI; WACHOWSKI, 2003 a)
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