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O amor próprio das violetas
Reserva-as a um canto do jardim
Onde o sol não as vê
O vento não as encontra
Só indiretamente
A chuva toca suas raízes
E nisto mostram seu pudor e seu recato
Por isso lhe peço:
Nunca apanhe violetas
Para expô-las na sala da sua casa
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Chore
Porque hoje
Não há nada mais terrível
Que olhos secos
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As rãs cantam um uníssono
No jardim fronteiro à minha janela
Quem dera meus versos fossem
Essa respiração serena e murmurante
Pulsar de jade sobre o orvalho
Porque é verão e há lua
E no entanto tudo é tão terreno
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Abrigado apenas pela noite
Escuto
(Deixei no planalto
a sabedoria de professor)
Meu coração pela primeira vez
Atento
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Com o coração aos pedaços
Mas erguendo alto a viga do meu telhado
Orgulhoso da cara limpa
Da mesa posta
Das coisas como a vida
E minha insistência
Dispuseram
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Gosto do meu ... de manhã no ônibus
Por decreto da Prefeitura
Gestantes, idosos e deficientes físicos sentados
Os mais ou menos, como eu, em pé
E as crianças de colégio pintando o diabo
Gosto de tomar o ônibus de manhã
Nesse tempo confinado em que se rumina
O tempo a-temporal da vida
Ignorantes por quarenta minutos do percurso
De tudo que não seja história pessoal
Mágoas e sonhos tantas vezes em vão
Enlaçada na paisagem barrenta do Bairro
Do cinza sem fim das construções
Nunca acabadas
E depois no solo do centro
Mercantil e despótico
Gosto desse povo que fica a ver navios
Na Internet
Plugado no almoço em sites pornôs
E carente de um único amor verdadeiro
Gosto desse povo ...
Com alegrias às vezes suspeitas
Às vezes insuspeitas
O que alarma a polícia pé-de-chinelo
Mas com a metranca mais reluzente
Esse povo que em parte sabe
Em parte não
Que cala e consente tanto
Mas que agora no trajeto do ônibus
Está fazendo o balanço
Enquanto balança
E que ninguém o tenha
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Meu pai dirigia um hospital em Cáceres
No tempo em que só o CAN lá chegava
Teve giardia lâmbia
Lembro ao tomarmos banho junto
Do cheiro fedido de suas ancas
Um dia uma charrete veio buscá-lo
Após um desmaio por fadiga e anemia
Hoje ele assiste o Jornal Nacional
E robe vermelho
E ignora o quanto sua vida foi bela
Cabe a mim lembrá-lo
A este pai surdo
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Hoje as rãs estão silenciosas
No meu jardim
É verdade que os grilos cantam
Mas eu gostaria de saber
O que as rãs estão fazendo quietinhas
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Como Joseph Conrad,
Seu Barreto passara a vida
Como marinheiro de longo curso
Sempre que me encontrava dizia estar vindo da zona
Porque tinha necessidades com as quais já não podia
Importunar sua mulher
Não me contava aventuras antigas
Insinuava-as
Fazia alusões breves
Talvez pensasse que a um homem de terra firme
Não interessasse tudo que de vago e intenso
Tem o mar alto
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Escuta ó Israel
Os túmulos dos teus profetas estão perdidos
E o Deus que amaste
Há muito se foi
Deixando que os homens impusessem em seu lugar
Um simulacro
Nenhum servo do Senhor descerá por estas ruas
Não haverá perdão nem retorno para ninguém
Em vão choramos
Em vão chegamos
Em vão partimos
E não era assim
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O que é este tempo
Este tempo preciso
No qual o sabiá sai voando
E você vai embora?
Faz quinze graus em Curitiba
E meu coração talvez seja
Uma lâmpada fria
Ou uma estrela extinta
Seu calor se foi
Tornou-se inútil
Já não aquece
Já não abriga
Este tempo preciso
Já não é seu
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Gastei minha vida
Em dores vãs
Em sofrimentos
Que não valiam a pena
Eu teria me saído melhor
Construindo castelos de areia
Com suas geometrias frágeis
Teria talvez tocado melhor
O amor delicado dentro das pessoas
E que mesmo em mim
Descubro tão inexato e evasivo
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Há uma gota de sangue
Em cada gota de sangue
E um lar arruinado
Em cada lar arruinado
Eles sabiam disso desde o início
E reconstruíram Babel
Para um encontro de cúpula
Impondo a Deus
Um acordo de ajuste estrutural
Desvalorizando sua palavra
E privatizando suas atividades
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Meu avô às vezes dizia
Que estava se sentindo meio bichofre
Eu sorria
Achava que ele estava melancólico
Mas não é que hoje também eu
Me sinto às vezes tão bichofre?
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Não posso levar de ti
Tomá-la para mim
A dor que é tão exatamente tua
Posso guardar em mim
Para sempre
Teu olhar esmeralda
Que às vezes queria fulminar-me
Em outras me acariciava
Na véspera de um beijo
Que as coisas não permitiam
Porque o lugar das coisas é poderoso
Posso guardar teus cabelos pálidos
Que punham reflexos na sala
E iluminavam o dia claro
O cabelo que fazias aos sábados de manhã
Relaxadamente comentando
A vida dos filhos e dos vizinhos
Posso guardar tua figura magra e vigorosa
Encapuzada num casaco
Que te fazia parecida
Com o chapeuzinho vermelho
Posso guardar tua inteligência pronta
Com que fazias tremer
Nossa jovem estupidez
Posso guardar mil coisas mais
Que percebo agora
Com se percebe uma porrada
Bem depois de a receber
Posso guardar em mim
Minha dor por ti
Que também desconhecerás inteiramente
E posso no meu coração te abençoar
Porque as bençãos se partilham
Melhor que as dores
E neste momento queria que elas
A nós envolvessem
Aconchegassem
E nos bastassem
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Preciso ligar logo
Pois em um minuto
Você poderá estar saindo
E o telefone tocará numa casa vazia
Vazia demais para mim
Sabe, ontem tive um pensamento
Desses que se lêem em livros
De máximas e reflexões:
Nunca se é suficientemente grande
Para o que é grande
Mas sempre somos bastante pequenos
Para o menor
Mas claro, não se trata de tantas palavras
Mas do modo como tomamos juntos o café
Ou como nos despimos ao deitar
Por isso, deixe-me falar ainda um instante
Enquanto não aprendemos a amar
Menos o amor
Que a solidão
E a amargura
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Todos os meus amigos
Pensam de mim isto ou aquilo
Mas entre todos passo como sombra
Sem mostrar jamais meu corpo
Todos tem uma opinião
Ele é triste ou tolo
Fez isto ou deveria fazer aquilo
Mas entre todos sou sempre eu mesmo
E passo por eles ...
Para poucos sorri de fato
Para poucos entoei lamentos
Sei que um dia estarei só e quieto
E a terra úmida será minha confidente
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Não pratiquei o bem nem o mal
Passei de viés
Atravessado
Sem atirar ao certo
Para o que acontecia
O bem me deixou confuso
E o mal maravilhado
Nunca compreendi
Metade do que vi
E me ocorria
Não nasci para as coisas grandes
Que dia e noite disputam o mundo
Nasci para os pequenos
E com eles
Passo
Ignorante
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É tarde
E apesar do dia cheio
No meu quarto tudo está pela metade
O cigarro
O café
O livro
O estado geral das obsessões com a vida
Em Curitiba os mendigos congelam com o frio
E os doidinhos vendem chicletes
Na porta dos cinemas
Amanhã tenho de dar aulas
Sobre um eminente economista
Que explicou com lógica e rigor
O colapso iminente
Mas eu passo longo tempo orando
Pedindo que o Messias venha
Salvar seu puro
Enquanto há puro
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Você tirou a agenda da bolsa
Com um poema em letras trêmulas
E sentimentos tão delicados
Que me emudeceram
Depois foi para um canto da sala
Com um cigarro trêmulo
E o olhar tão delicado
Enquanto minha nudez
Não saberia dizer
Qual de nós dois
Na sala vazia
Sob o neon impertinente
Estava mais embaraçado
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Não deveríamos fazer tantas promessas
Como fazemos e fazemos
Não saberíamos cumpri-las
Seria desumano e injusto
Para nós mesmos
Achamos que as mais importantes
Sim, honraremos
Que as demais
Os outros, esquecerão
Ou ficarão como sementes
Que caíram à beira do caminho
E servirão
Quem sabe
De alimento a pássaros e peregrinos
Tantas pessoas cruzam minha vida
Todos os dias
E em algum canto de mim
Ficam para sempre
Significando
Deus saberá o quê
E plural
A todos me prometo
Depois
Inconseqüente
Passo
Esqueço
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No silêncio possível frente ao mar
Em Bertioga
Bem cedo
Fujo como esse caranguejo
Para a porta dos fundos
E a obscuridade para que vem de fora
Da casa onde mal se coou o café
E você prende o cabelo
Aí
Porque prende o cabelo
Porque me deixou toda a noite
Adormecido no forte?
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Eu não sou
Nem a metade
Do que você diz que eu sou
Só se me escondo tão bem
Que não me acho
Mas nem eu
Nem você
Temos de achar qualquer coisa
Que eu não estou mais brincando não
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Nesta noite em que me ponho estrangeiro e só
Numa noite como esta
Que me assombra desde a infância
Por sua insônia e seu sonambulismo
Leio piedosamente textos raros e quase perdidos
Publicados por pessoas piedosas e raras
Que sabem mais intuir que traduzir
Os princípios do Mantra
Ou as obras complexas de Ludwig F...
E sem querer meus poemas tomam a cadência lenta
De quem tocou o coração do seu tempo
E do seu País
Ao vir de longe e há pouco
Da sua ignorância sobressaltada
Dos serões paternos
Dos beijos de boa noite de mamãe
Verdadeiros e irreais
Como sorvetes derretidos na calçada
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Com a falta de ternura dos heróis
Você diz que foi
Que viu
Que venceu
Mas me quer como testemunha
Talvez escrita ou cantor
E como os pássaros que voam alto
Ignorantes de todo poderio teu
Eu só desejo o sol
Que aonde vais não me importa
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Que sofrimentos sem fim
Teu coração te conta
Injúrias irreparáveis
Dívidas sem fiador possível
Dores que não redimem ninguém
E no entanto
Aqui estou
Aqui sempre estive
A teus pés
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A casa está há tanto tempo fechada
E tão bem fechada
Que a poeira aí não se juntou
Nada se quebrou
A boneca sobre a cama
Parece ter sido ganha ontem
E te surpreende não ouvir
A zanga de papai
E o doce consolo de mamãe
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Tudo se passa tão depressa
Como se alguém a nós
E às coisas destinasse
E chegássemos tarde demais
A esse tudo
Que surge azulado na tela
No canto da sala que se entedia
Assim não descobri
As duzentas tumbas egípcias no oásis
Não vi de fato Marcelinho lançar Luisão
Não impedi a chacina
Não matei
Não julguei
Não condenei a nada
De nada fui absolvido
Estou atrás
Ou adiante
E nunca comigo
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Havia um doidinho
Empurrando num carrinho
Sua mulher doidinha
Entre as paredes de Coca-cola
Num mercadinho
Tão rápidos
No meu domingo lento
Que eu perdi de vista
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Por amor continuamos a conversar
Com o pai velho
De cabeça meio vazia
Por amor
Trocamos fraldas sem contar
Em madrugadas que se arrastam por anos
Por amor
Buscamos que o amor não se gaste
Que não nos desgastemos
Para aqueles que amamos
E a cujos anjos oramos
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Ontem imaginei um poema
Falando
Lembro-me bem
De algo crucial
Mas estava frio
E eu já enrolado na cama
Achei que dormi quentinho
Era melhor que aumentar
Minha pilha de papéis
Mas talvez haja outros motivos
Que o pecado capital da preguiça
Quem sabe
Eu hoje só escreva
Por desenfado e desencanto
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Será que restaria algo em mim
Sem essa menina
Que poda cautelosa
Uma rosa
Num jardim inexistente
E se incomoda porque o peixinho de plástico
Não quer comer
E assim ficará magro e doente
Será que restaria nesta casa
Um quarto respirável
Se o seu quarto não rescendesse
A linho passado e a alfazema
Se o seu sono leve
Não adormecesse a casa
Que se engasta na paisagem da rua
Como a água-marinha no anel em sua mão
Frágil
Mas imbatível
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Não sou um punhado de restos mortais
Porque ainda
Graças a Deus
Vou vivendo
Mas sou em suas mãos
Um trapo humano
Que você usa para lavar
E dar brilho
Em pisos e azulejos
Tornei-me melhor nisso
Que a cera Poliflor
Um excelente trapo humano
Em suas mãos diferentes
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São Francisco...
Deixe que eu me vá
Como uma folha solta no ribeirão
Não me prenda às suas margens
Não me apanhe em suas mãos
Não sei para onde vou
Mas sei que quero partir
Que não quero prender-me
A esta paisagem
Tão natural
Tão cômoda
Os quartos
Os rostos
O jardim
Não quero mais o mundo
Que para sempre levarei
Em mim sonhador
Toma Senhor
Em tuas mãos
Minha vida errante
Autor:
Igor Zanoni Constant Carneiro Leão
igorzaleao[arroba]yahoo.com.br
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