Página anterior | Voltar ao início do trabalho | Página seguinte |
Antonio Augusto Faria e Edgard Luís de Barros, no livro "Getúlio Vargas e sua época", falam sobre essa tomada de poder de Getúlio Vargas, enfocando suas estratégias, razão pela qual a partir daí ficou sendo visto como o "Grande Malandro", a quem todos tentavam derrubar, mas que sempre escapava das situações mais difíceis:
"Sem perder de vista o objetivo de produzir mudanças,
Getúlio procurava evitar que fosse transformado em um mero
peão de qualquer das forças em jogo, e assegurava que
os grupos que inevitavelmente se tornariam contrários não
chegassem a construir uma força preponderante".( FARIA, Antonio Augusto; BARROS, Edgard Luiz de. Getúlio Vargas e sua época. p. 28.)
Os militares foram a base de sustentação da tomada de poder do governo por Getúlio Vargas, tanto que chegaram a governar em alguns estados, impondo o seu ponto de vista de organização social. Carone, fala sobre os ideiais nacionalistas dos militares na pós-revolução de 30 na sua obra intitulada "O tenentismo", a qual transcreveu-se o trecho a seguir:
A partir da revolução de 30, as concepções nacionalistas e
autoritárias foram difundidas com maior intensidade. É nesse
momento que se assinala a presença de alguns setores mais
radicais do movimento tenentista, como aqueles organizados
no Clube 3 de Outubro, que se caracterizavam,
basicamente, pela preocupação com o engrandecimento
do Brasil, numa postura nacionalista de legítima
defesa contra o imperialismo material e espiritual. (Manifesto do Clube 3 de Outubro de 2-4-1934, apud CARONE, Edgard. tenentismo,p. 428.)
O governo provisório instalou-se em 1930 e terminou em 1934. Esse período foi cercado por problemas: crises no Nordeste, em Minas Gerais e em São Paulo, geradas pela inexperiência político-administrativa dos tenentes que ganharam de Vargas as interventorias estaduais. Em todos esses momentos, Vargas, com agilidade, se sobressaiu bem.
Como se vê, a tomada de poder por Vargas não foi o último dos seus obstáculos. Além da inexperiência dos militares, o cenário tinha ainda como agravante a depressão dos anos 30, que se mostrava bastante significativa em relação à perda do poder aquisitivo no mercado externo, um problema relevante para um país cuja economia, se baseava na exportação de produtos agrícolas e dependia de produtos industrializados advindos do exterior, para atender suas necessidade.
Carone, fala ainda sobre o aumento da dívida externa alertando sobre a necessidade de se evitar a fuga do capital nacional: O aumento da dívida externa tornava urgente a necessidade de reter o excedente de modo a possibilitar sua reinversão na economia e assegurar a reprodução do capita.(CARONE, Edgard. Op. cit., pp. 97 a 104)
Esse alerta de Carone, chama a atenção para o surgimento da consciência das barreiras ao desenvolvimento da economia nacional, uma vez que grande parte dos rendimentos da produção eram investidos em benefício do capitalismo internacional.
Nesse mesmo período, o modo de produção capitalista encontrava-se desenvolvido. E teve o caminho livre para se estabelecer no Brasil, uma vez que o movimento operário, de maneira geral, praticamente não apresentou contestação à posição do capital. Suas oposições se limitaram à observação alguns dos problemas do modo capitalista como: jornada de trabalho, baixos salários, elevação do custo de vida. Interesses que os setores dominantes, dentro de limites, poderiam atender sem prejuízo da realização dos seus próprios. Quanto às classes médias, grupo que desde a revolução de 30 já vinha ganhando força dentro da sociedade, não fez qualquer contestação ao desenvolvimento do modo capitalista no Brasil.
2.1 Defesa do novo governo
Diante de tantas diversidades, que Vargas encontrou à frente de seu governo, tornou-se necessário criar mecanismos que atenuassem ou mesmo paralisassem as oposições ao projeto de seu governo, que não tardariam a aparecer.
Apesar do apoio de algumas camadas da sociedade, como intelectuais, políticos militares e religiosos, que há muito tempo, ansiavam por transformações políticas, o novo governo enfrentou ainda dificuldades com alguns Estados. Um exemplo foi o Nordeste, nele os problemas se davam por dois pontos, excluindo-se aí a falta de experiência dos tenentes, já citada. O primeiro era falta de recursos que deveriam vir do governo federal.O outro segundo foi a seca, uma das mais longas da história brasileira, o que dificultou os governos dos interventores.
Contudo, mesmo com todas as dificuldades na instauração do novo governo, a marcha rumo ao poder trilhada por Vargas, aproximava-se cada vez mais: no dia 17 de julho de 1934, a força de Vargas foi confirmada. Ele venceu, através de uma eleição indireta( já que todos os votos-secretos- foram dados pelos membros da Assembléia Constituinte). Vargas venceu com 175 votos a favo, contra 59 dados a Borges de Medeiros e 4 ao general Góis Monteiro. (CALDEIRA, José de Ribamar Chaves. As interventorias estaduais no Maranhão: um estudo sobre as transformações políticas regionais no pós-Revolução 30. p.57)
Não tardaria a aparecer as oposições a Vargas. Nesse mesmo período, surgiram dois novos grupos contrários em sua gênese que, de certa forma, mostravam as tendências dos novos tempos: a Aliança Integralista Brasileira (AIB) e a Aliança Nacional Libertadora (ANL).
A AIB era liderada por Plínio Salgado e tinha características fascistas e por lema trazia as dizeres "Deus, Pátria e Família". Que parecia contar com a simpatia do presidente Vargas. A ANL, apesar de não ser reconhecidamente um partido comunista, recebia apoio total dos comunistas. Luís Carlos Prestes era seu presidente honorário.
Contudo, Vargas prevendo uma possível oposição ao seu governo por parte dos partidos que se formavam, optou por neutralizar as novas forças. O governo federal, vendo crescer a influência da ANL, baixou uma lei assinada por Vargas a 11 de julho de 1935, que colocava na ilegalidade qualquer partido com ideologia internacional. Uma curiosidade: a AIB continuou a existir, apesar de utilizar ideologia nazi-fascista, ou seja, ideologia germânico-italiana.
No intuito de acabar com a ditadura na qual se transformou o governo Vargas, várias revoltas explodiam nos diversos cantos do país. Os levantes ocorridos em Natal, no Recife e no Rio de Janeiro não foram suficientes para efetuar a revolução e foram rapidamente debelados. Em 1936, os políticos preparavam-se para a eleição presidencial marcada para 3 de janeiro de 1938. Vargas achava prematura a data, porém a Constituição assim determinava e o presidente nada (pelo menos não constitucionalmente) poderia fazer. Estaria aí a solução para o fim da ditadura Vargas.
2.1 A conjuntura maranhense
Durante o período pré-Estado Novo, 1930/1936, o cenário político econômico do Maranhão apresentava-se desestruturado. No setor econômico pelos constantes abalos na exportação, e as freqüentes oscilações nos preços dos produtos agrícolas maranhenses. No setor político, pelos conflitos entre os grupos que controlavam o aparelho estatal, principalmente na fase das interventorias (1930/1935). Quando os grupos políticos representados pela oligarquia, tiveram que se unir a setores subalternos para conseguirem enfrentar politicamente os interventores, e também garantir a sua volta ao controle do governo, através das eleições de 1933 e 1934. Durante o governo Vargas, Martins de Almeida era o interventor.
A Oligarquia conseguiu retornar ao poder em junho de 1935, e permaneceu no governo até junho de 1936. Nesse período o governo do Maranhão estava sob a tutela de Paulo Ramos.
Sobre a economia, o que se pode perceber, através das pesquisas em jornais da capital, é que o Estado também sofreu com os reflexos da crise que atingia a exportação.
No período de 1931 a 1935, a produção maranhense permaneceu estática, tanto pela falta de modernização dos meios de produção, quanto pela preservação das relações de produção pré-capitalista, tendo como base as atividades econômicas, apoiadas na grande propriedade.
De acordo com pesquisas do José Caldeira, contidas em sua obra sobre as interventorias no Maranhão, a produção dos principais produtos agrícola na época apresentava o seguinte quadro:
Produtos |
Medidas |
Quantidade-Anos |
||||
1931 |
1932 |
1933 |
1934 |
1935 |
||
Algodão (caroço) Algodão(rama) Arroz Feijão Mandioca Milho |
Ton. Ton. Sacos* Sacos* Ton. Sacos* |
32.270 13.830 450.000 40.000 200.000 266.660 |
17.927 7.683 416.650 70.000 160.000 186.660 |
24.525 10.511 466.650 20.00 200.000 100.100 |
17.974 7.703 666.680 22.000 219.9000 83.300 |
18.670 8.000 674.000 22.000 217.500 84.000 |
Fonte: CALDEIRA, José Ribamar CALDEIRA, José de Ribamar Chaves. As interventorias estaduais no Maranhão: um estudo sobre as transformações políticas regionais no pós-30.p.243
*Sacos de 60 kilos.
Em seu editorial do dia 05 de novembro de 1937, que tinha como título "Exportação", O Imparcial dá uma noção do que acontecia com a economia maranhense na época:
"Cimo no volume dos negócios da Praça de S. Luís, nos últimos
18 meses, o que não deixa de ser uma auspiciosa conclusão.
A exportação, quer no peso , quer no valor sobrepujou numa
regular porcentagem, a realizada em igual período antecedente.
Figuraram, em primazia, nesse quadro, o algodão, cujo preço sofreu
por último grande depressão e o babaçu: este servindo felizmente de
apoio às transações de maior vulto na praça.(O Imparcial- 5 de novembro de 1937, pág. 01)
Como se pode observar nas "entrelinhas", apesar do editorial acima comemorar o regular aumento nas exportações, cita também a baixa no preço do algodão no mercado. O algodão, que na época, era um dos principais produtos de exportação do Estado. Completando que o babaçu, serve como apoio aos negócios de maior volume.
O jornal Pacotilha, do dia 11 de novembro, também cita a crise que atingia os setores primários da economia maranhense na seguinte nota, com o título, "A Pecuária":
A situação de nossa pecuária é, ninguém o ignora, de grande, senão extrema, decadência.
Os nossos rebanhos estão devastados, quer do ponto de vista do número, quer quando à qualidade do gado. Pestes sucessivas flagelaram
o gado, sem que, na ocasião de nenhuma dessas epidemias os governos passados houvessem tomado a menor providência sobre a extinção do mal. Hoje consumimos muito gado do Piauí e Goiás e não temos para exportar.(Pacotilha- 11 de novembro de 1937, pág. 01)
É importante atentar-se para a crítica ao governo contida no editorial, quando o jornal cita que pestes sucessivas flagelaram o gado, sem que, na ocasião de nenhuma dessas epidemias os governos passados houvessem tomado a menor providência sobre a extinção do mal.Nesse ponto fica claros a insatisfação com o governo. Contudo é relevante atentar-se para o fato do editorial ter incluído a palavra passados, o que coloca que a culpa não é do governo Vargas, que vigorava na época, mas sim de antigos governos. Mais uma vez demonstrando a moderação do jornal quando o assunto é governo Vargas.
De acordo com a Constituição de 1934, estava previsto para janeiro de 1938 novas eleições. Assim, o Brasil entrou em clima de sucessão presidencial. Em janeiro Plínio Salgado foi lançado como candidato a presidência pela Ação Integralista Brasileira. Seguido por Armando de Salles, que foi lançado oficialmente pelo Partido Constitucionalista, em março. Diante do fato consumado da candidatura paulista, Getúlio manteve-se aparentemente a favor das eleições, enquanto em segredo preparava, juntamente com Góis Monteiro e Dutra, a intervenção de Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Sul, principais resistências ao seu governo na época.
Armando de Salles Oliveira, engenheiro civil, e ex-governador de São Paulo, iniciou sua trajetória no Partido Democrático (PD). Em 1932 participou da Revolução Constitucionalista, que buscava a deposição do governo Vargas através de ação armada. Na política participou do reordenamento do quadro partidário estadual com a criação do Partido Constitucionalista, que absorveu o PD, extinto em fevereiro de 1934.
No fim de 1936, Armando de Salles comunicou a Vargas seu desejo de concorrer às eleições de 1938, no que foi desestimulado pelo presidente. Desentendeu-se com o governo paulista e acabou sendo apoiado em sua candidatura pelo governador gaúcho Flores da Cunha, principal opositor de Vargas.
O político mineiro, Benedito Valadares, foi designado por Vargas para articular a campanha de um candidato da base governista. O nome escolhido foi o do escritor e político paraibano, José Américo de Almeida e sua força concentrava-se no Nordeste, no Distrito Federal e nos grupos pró-Vargas em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Advogado, de família influente, José Américo era conhecido no meio literário, por sua obra A Bagaceira. Nas eleições de 1930, apoiou a candidatura de Vagas, chegando a participar ativamente da deposição de Washington Luís. Como candidato à presidência, José Américo recebeu apoio da maioria dos governadores e de membros do governo federal.
Contudo, apesar do apoio dado à candidatura de José Américo, Vargas nunca pensou em ceder o seu lugar a outro, muito pelo contrário, toda a eleição não passava de um plano arquitetado, que tinha por objetivo sua permanência no poder. Em 1937, Vargas agiu com maior resolução, intervindo nos Estados do Maranhão, do Mato Grosso e por duas vezes no Distrito Federal, eliminando as oposições vindas dos estados mais fracos, para só então poder intervir nos Estados de maior força oposicionista, como foi o caso do Rio Grande do Sul.
Antonio Augusto Faria e Edgard Luiz Barros em seu livro "Getúlio Vargas e sua época" falaram sobre as táticas utilizadas pelo Presidente Getúlio Vargas para conter as oposições mais ferrenhas ao seus planos de continuar no governo:
"O grande problema do governo Getúlio Vargas, continuava sendo o Rio Grande do Sul, crescendo as pressões militares para liquidar,
de vez, as pretensões de independência de Flores da Cunha.
A luta particular entre Flores e os militares preparou o cenário para a deflagração do Estado Novo, ou seja, para a outorga de uma carta constitucional já em preparação pelo jurista Francisco Campos, com o conseqüente cancelamento das eleições presidenciais e a eliminação definitiva do sistema federativo. Os militares traçaram uma bem elaborada estratégia para "domar" o Rio Grande: ao invés de agir isoladamente contra Flores da Cunha, arriscando uma guerra civil, seria completada a intervenção federal em todos os estado que se opunham a Vargas. O isolamento do governador gaúcho significaria sua derrota e um passo fundamental para a instauração do Estado Novo. ( FARIA, Antonio Augosto; BARROS, Edgard Luiz. Getúlio Vargas e sua época. p.54)
3.1 A corrida presidencial
A campanha presidencial foi iniciada oficialmente em julho de 1937. Tiveram início aí as inúmeras investidas em busca de aliados. Armando Salles Oliveira fez uma campanha típica dos candidatos que não querem se indispor com o governo. Pregou um governo constitucional, sobriedade econômica e administrativa e dirigiu insistentes apelos às Forças Armadas, apoiando o re-equipamento da tropa, o aperfeiçoamento da instituição militar e a manutenção desta como garantia da Constituição. Em junho, as forças favoráveis ao candidato reuniram-se no Rio de Janeiro criando a União Democrática Brasileira, instrumento nacional de Campanha.
As surpresas nessa corrida presidencial ficaram por conta de José Américo. O candidato que surgiu apoiado pelas forças governistas, mas logo em seguida, assumiu uma postura esquerdista. Nas suas aparições públicas declarava-se "candidato do povo". A reviravolta na candidatura de José Américo foi tão grande, que este chegou a acusar, implicitamente, o governo Vargas, quando disse: "Eu sei onde está o dinheiro!". Nesse momento José Américo falava sobre a economia brasileira, que reinvestia seu capital no exterior. Vargas, que nunca esteve satisfeito com a sucessão presidencial, ficou seriamente contrariado com os ataques do "seu" candidato, dando ainda mais motivos para a suspensão das eleições, já planejada pelo presidente.
O sucesso da campanha de Armando de Salles, que inclusive levou sua campanha para o Estado gaúcho, obrigou os golpistas a precipitar os acontecimentos. No dia 22 de setembro, os jornais publicavam o "Plano Cohen", suposto plano de ação revolucionária organizado por comunistas, que previa assassinatos em massa, o caos e a subversão total do governo.
O episódio relativo ao Plano Cohen foi o exemplo mais gritante de como as bases anticomunistas surtiram efeito, divulgas por jornais impressos e rádios. O plano havia sido forjado pelo então capitão Olímpio Mourão Filho, membro da polícia particular da Ação Integralista. O general Góis Monteiro, com a concordância do Alto Comando e do Ministro da Guerra. Dutra apresentou o texto ao público como um plano comunista capturado pelo serviço secreto do Estado-maior. Diante da ameaça comunista, criou-se um clima favorável a que Vargas solicitasse ao Congresso um novo Estado de Guerra, para combater mais esse obstáculo. E a solicitação foi prontamente atendida pelo Congresso.
Nelson Garcia em sua obra O Estado Novo: Ideologia e propaganda política fala sobre o poder de convencimento das elites sobre as classes mais baixas, fazendo com que estas adotem idéias que lhes são estranhas, nesse caso, o que se objetiva demonstrar é como um pequeno grupo formado por Vargas e seus aliados se articularam para que o Congresso e toda a sociedade concordassem com mais uma intervenção dele na política brasileira, chegando a acolher falsas ideologias, como foi a campanha anticomunista :
...Para realizar seus intentos, esse grupo precisa obter um consenso mínimo em torno de suas concepções. Torna-se necessário, então, elaborar a ideologia de forma que permaneçam ocultos ou deformados certos aspectos das condições de existência e das relações dos indivíduos com essas condições e entre si. Através da elaboração é possível tornar imperceptível a relação da ideologia com os interesses daquele grupo, bem como criar a aparência de que, as idéias, encontram-se incorporados os interesses dos demais. (GARCIA, Nelson Jahr. O ESTADO NOVO. p. 29)
Armando Salles de Oliveira e José Américo, sentindo que o golpe estava próximo, começaram, cada um, a articular-se contra o fim da eleição. No dia 9 de novembro de 1937, Armando de Salles Oliveira apelou para as Forças Armadas, pedindo a manutenção da legalidade. Inutilmente, pois Francisco Campos, de tendência integralista e futuro ministro da Justiça, já tinha sido encarregado de redigir a nova Constituição.
No dia seguinte, tendo como pretexto a necessidade de se colocar fim aos conflitos, Vargas decretou o fechamento do Congresso e anunciou a nova Constituição, antecipando assim, do dia 15 para o dia 10, o início do Estado Novo. Em 2 de dezembro de 1937, os partidos forma dissolvidos.
Por fim, após a implantação do Estado Novo, o perigo do comunismo não passou de um fantasma a ser usado para atemorizar as classes dominantes e reprimir as iniciativas populares.
3.2 As bases para o Estado Novo no Maranhão
A perseguição ao comunismo teve início em 1935. Essa "caçada" tinha como principal arma os meios de comunicação (entendam-se jornais impressos e rádio). Diariamente eram publicadas, nos jornais da capital, notas, editoriais, artigos, alertando a população sobre o perigo comunista. De acordo com que era transmitido pelos meios de comunicação da época, o comunismo iria destruir as bases da sociedade. Essa mesma propaganda sobre o perigo do comunismo ira dar base à implantação do Estado Novo, que teve no plano Cohen seu álibi.
Nos Jornais da capital maranhense, esse caráter de perseguição comunista, estava claramente exposto em suas páginas, como podemos conferir nas três nota transcritas abaixo, publicadas no jornal O Imparcial do dia 05 de novembro de 1937:
Semana evangélica anticomunista
As igrejas Evangélicas de S. Luís estão reunidas desde segunda-feira, 2 do corrente, nos diversos Templos desta capital, em cultos de orações a Deus, intercedendo em favor da pátria tão terrivelmente ameaçada pelo nefando credo de Moscou11.(O Imparcial- 05/11/1937. p. 02)
Sugestões para uma comemoração do dia da bandeira
no sentido anti-comunista
Expedir ordens para todo o Brasil de que todas as escolas se reúnam as crianças pela manhã, às 9 horas, por exemplo, para a cerimônia do culto à Bandeira da Pátria .
Compor um modelo de oração à Bandeira de sentido expressamente anti- comunista, para ser lido, pelos professores.
Organizar um programa de procissão cívica para todas as capitais de Estados, conduzindo-se nela a bandeira ao Altar da Pátria que será armado numa praça pública, idêntico ao que se fez aqui no ano passado.
De nenhuma comemoração cívica se pode tirar maior partido para combater o comunismo, do que da festa da Bandeira a 19 de novembro.(O Imparcial do dia 05 de novembro de 1937.p.05)
Nos jornais analisados se constatou até mesmo um cunho religiosos para justificar a perseguição aos comunistas, como se pode constatar na nota abaixo:
Onda de ateísmo
Uma onda de ateísmo sopra por sobre o mundo e ameaça destruir toa a civilização
Entretanto, mesmo esses males e perigos não devem abalar a confiança dos bons cristãos...(O Imparcial- 05/11/1937 pp. 01 e 02)
Na época, eram comuns as realizações de campanhas contra o comunismo. Os jornais eram os meios utilizados para convocar a população a aderir ao movimento. Notas publicadas diariamente comunicavam sobre as ações anticomunistas e convidavam o povo a aderir aos movimentos, como se pode ver nas notas abaixo citadas:
"Semana Anti-Comunista
A Frente Nacionalista vem realizando com grande brilho
a anunciada campanha anti-comunista. ntem foram
realizados grandes "meetings" no Lyceu e Normal Primaria...(O Imparcial- 05/11/1937. p. 02)
"Semana Anti-Comunista
O grande comércio de hoje- as delegações colegiais- os oradores- a "parada do fogo".
Encerra-se hoje, entre o entusiasmo vivificante da intrépida mocidade naionalista, a "Semana Contra o Comunismo" um empreendimento que, no gênero, honrará sobremaneira a geração nova do Maranhão...
Será, em resumo, uma parada de força. De vitalidade e de nacionalismo, porque é, sobretudo, uma parada de mocidade".(O Imparcial- 10/11/1937. p. 01)
Os atos realizados para promover o anticomunismo eram festejados como verdadeiros eventos em comemoração à pátria. O jornal Pacotilha de 09 de novembro de 1937 trouxe uma matéria intitulada Contra o Comunismo, que descreve, esse ambiente de marcha contra os comunistas:
A parada de hoje da Frente Nacionalista Estudantil¾
o grande interesse público em torno do comício da mocidade
patriótica. Após dias de intensa agitação patriótica em que
os circuitos estudantinos de S. Luís viveram momentos
de vibrantes entusiasmo cívico será encerrada hoje, a "I Semana
contra o Comunismo", promovida pela Frente Nacionalista
Estudantil. Na hora angustiosa que atravessamos, em luta aberta
com o comunismo destruidor e sanguinário, é confortador
ver-se um pronunciamento dessa maneira, espontâneo e incisivo". (Pacotilha- 09/11/1937. p. 01)
O editorial que vem a seguir retrata bem o caráter anticomunista que era publicado diariamente nos jornais maranhenses. São dadas receitas de como proceder para evitar a "infiltração" comunista. Nesse quadro o comunismo é pintado como um "bicho papão", que deve se combatido tanto pelos menores, na própria escola, quanto pelos pais de família, que desejam manter a paz no seu lar. Como pode-ser ver no Editorial a seguir, publicado no jornal O Imparcial sob o título de "O Exército e a Universidade".
Unamuno, o notável pensador espanhol, logo depois de sufocado
o levante comunista da Catalunha..., declarou,.... que para
eliminar a hidra comunista do território de sua pátria não
bastava a repressão violenta das forças armadas. Era mister
ir bem mais longe. Plasmar uma nova ordem espiritual. Reeducar a juventude em obediência aos sadios padrões morais de amor à pátria...
Pelo mesmo diapasão afinou o Sr. Armando de Salles Oliveira, quando, ainda no Governo de São Paulo, teve o ensejo de dirigir-se às classes armadas do Brasil. "Não nos contentaremos com o paliativo de simples medida de repressão, que resolvem apenas os embaraços do presente. O que sentimos, na raiz de todas as nossas dificuldades e de todos os nossos desentendimentos, é que o problema brasileiro é um problema de educação. Reagindo contra a indiferença geral e corrigindo um sistema pedagógico, que tem como principal objetivo o desenvolvimento do indivíduo, com célula independente no organismo social, cabe-nos estabelecer um largo programa de educação nacional....(O Imparcial- 08/11/1937. pág. 01)
Nos jornais pesquisados, diariamente eram publicadas matérias insuflando a população a reprimir a "ameaça comunista". Nessas mensagens, o comunismo era colocado como idéias contra a paz, a ordem, a família e a igreja. Nessas publicações é possível verificar, que sempre é ressaltado que o comunismo vai acabar com a ordem de toda a sociedade.
O que se pode concluir da publicação de um vasto material sobre o comunismo, é que o governo e as classes dominantes da época, percebendo que os jornais, por serem uma fonte primária de informação, se constituíam num importante formador de opinião. Aproveitando assim, para através desse veículo incutir seus interesses nos vários setores da sociedade. Era através dos jornais que as pessoas sabiam o que estava acontecendo. Não havia outro meio. O que dava ao jornal impresso uma força ainda maior de persuasão.
Nos jornais analisados aqui, o que fica evidente é que se buscou eliminar o comunismo através de mensagens que representavam o movimento como um "mal", e por outro lado exaltava-se o governo Getúlio Vargas, como se este fosse o grande salvador da nação. Assim, o Estado Novo teve na divulgação de suas mensagens sobre o comunismo, uma das importantes bases para a legitimação de seu poder.
3.3 A participação Integralista para o Estado Novo
Os integralistas, que tiveram participação ativa no golpe do Estado Novo, acreditavam, que o movimento colocaria o partido no poder juntamente com Vargas. Apoiaram o governo em vários momentos de crise, e foi inclusive um elemento ligado à Ação Integralista o redator do "Plano Cohen".
A Ação Integralista Brasileira tinha como representante maior, Plínio Salgado, ele era também o candidato da AIB à presidência para as eleições de 1938. Este sempre esteve informado sobre as verdadeiras intenções de Vargas e dava-lhe, inclusive, apoio. Prevendo o desfecho das eleições e no intuito de colocar o partido num dos pilares da base governista, Plínio Salgado, logo no início do mês de novembro retirou sua candidatura e manifestou apoio à luta que Vargas dizia travar contra a ameaça do comunismo e os efeitos desagregadores da democracia liberal. A expectativa de Plínio Salgado é que o Ministério da Educação do novo governo fosse entregue a um dirigente da AIB.
Ao ser decretado o Estado Novo em 10 de novembro, porém, Vargas não fez qualquer referência ao integralismo em sua mensagem à nação. Mesmo assim, Plínio Salgado declarou apoio à nova ordem e afirmou que a AIB deixava de ter um caráter político e passava a limitar sua atuação ao âmbito cívico e cultural, concordando até mesmo em mudar o nome do partido, que oficialmente passou a chamar-se Associação Brasileira de Cultura. Apesar disso, a AIB acabou sendo incluída no decreto em que Vargas determinava o fechamento de todos os partidos políticos. Assim, logo ficou claro que, a reaproximação com o governo nunca aconteceria.
Antonio Augusto de Faria e Edgard Luiz de Barros em sua obra "Getúlio Vargas e sua época", fala sobre como se deu a repentina e inesperada mudança nos planos integralistas com o decreto de 02 de dezembro, dissolvendo todos os partidos:
... qual não foi a surpresa e frustração de Plínio Salgado quando Vargas, depois de 10 de novembro, negou-se a repartir o poder
com a Ação Integralista. No dia 2 de dezembro de 1937, decretou
a dissolução dos partidos políticos a AIB, e, no mesmo dia, era reformado discretamente o general Newton Cavalcanti, expressão
maior do integralismo dentro das Forças Armadas.(FARIA, Antonio Augusto de; BARROS, Edgard Luiz de. Getúlio Vargas e sua época. p. 35)
3.5 O movimento integralista no Maranhão
Um dos primeiro indícios do movimento Integralista no Maranhão foi em 26 de novembro de 1933, em O Imparcial, a publicação de um artigo de autoria do advogado, jornalista e poeta Ribamar Pereira. Ele anunciou que o movimento integralista era vitorioso, segundo sua ótica, em quase todas as partes do Brasil e já se organizava também no Maranhão.
Em São Luís, o médico Cássio Miranda fora o organizador do núcleo maranhense, e se tornara Chefe Provincial.
De acordo com José Caldeira, em sua obra sobre as interventorias, AIB no Maranhão tinha as seguintes lideranças:
Secretários Provinciais
Organização Política- jornalista, Manuel Sobrinho
Educação e Cultura Artística- Prof. Lafayte de Mendonça
Propaganda- Olavo Leite
Estudos- Prof. Cecílio Lopes
Finanças- Herbert Vieira da Silva
Educação Moral e Cívica- Olando Leite. (CALDEIRA, José Ribamar CALDEIRA, José de Ribamar Chaves. As interventorias estaduais no Maranhão: um estudo sobre as transformações políticas regionais no pós-30.p. 42)
Em São Luís os camisas-verdes dispunham de jornal próprio, O Integralista, editado em São Luís, e em grande parte financiado por comerciantes e profissionais liberais.
Entre o final de 1936 e dezembro de 1937, as ações dos integralistas e a expansão do seu movimento no Maranhão seguiram livremente sem a intervenção do governo. Entre os fatores que contribuíram para a expansão do movimento em 1937, além três novos jornais, destacam-se a montagem e manutenção de estação de rádio instalada em São Luís- a Rádio Sigma
Entre os jornais, o mais importante era o jornal diário Ação, fundado em fevereiro de 1937, em São Luís. Em agosto de 1937, ele se torna o único jornal integralista da região a ser incorporado à rede nacional de jornais da AIB- Sigma- Jornais Reunidos. Circulou de 20 de fevereiro a 30 de setembro de 1937.
Os três jornais constituíram importantes veículos para as disputas políticas do partido na região, em 1937, contribuindo na campanha nacional da AIB, para eleger Plínio Salgado, Presidente da República.
Padres e toda a hierarquia da Igreja, nas diferentes partes do Maranhão, explicitaram suas simpatias pelo integralismo. Também militares incluíram-se entre os simpatizantes do integralismo na região, especialmente nesse ano.
Contudo, os camisas-verdes também encontraram no Maranhão seus opositores. Incluíam-se, entre os principais adversários da AIB no Maranhão, as forças políticas constituídas pelos marcelinistas; URM4 chefiada por Genésio Rego; o grupo liderado por Astolfo Serra; e os comunistas.
Contudo, nada impediu que o movimento Integralista avançasse em outros municípios do Maranhão.
No início de março de 1937, nas eleições municipais para Prefeitos e Vereadores, os integralistas maranhenses já tinham seu movimento razoavelmente difundido no Estado.
No caso das eleições de São Luís, o Núcleo da AIB dessa cidade inscreve-se sob a legenda Deus, Pátria e Família, e apresenta 11 candidatos à Câmara Municipal. Essas candidaturas incluíam tanto pessoas influentes na direção do movimento (Francisco Solano Rodrigues, Lilah Lisboa de Araújo, Raimundo Corrêa de Araújo), quanto outras menos expressivas. A Legenda Deus, Pátria e Família, todavia não consegue eleger nenhum dos seus candidatos à Câmara Municipal de São Luís.
Com a instauração do Estado Novo em 10 de novembro de 1937, ocorre um enfraquecimento das ações integralistas. Um clima de insegurança se instalou no movimento, que já não era tão próximo do Presidente Vargas. O temor dos integralistas foi confirmado com o lançamento do decreto de 02 de dezembro de 1937que colocou todos os partidos políticos na ilegalidade. Inclusive a Ação Integralista Brasileira.
A instalação do Estado Novo foi seguida por várias mudanças no cenário político brasileiro. Umas das principais modificações foi quanto ao fechamento das Câmaras e Assembléias em todo o país. As decisões ficavam assim centralizadas no Poder Executivo, mais precisamente nas mãos de Getúlio Vargas. A partir daí várias outras ações passaram a acontecer de forma a justificar a intervenção do governo Vargas, nos diversos setores da sociedade.
Francisco Campos, um dos formulares do decreto do Estado Novo, em sua obra "O novo Regime", fala sobre o processo de legitimação desse projeto:
O processo de legitimação do Estado Novo realizou-se pela
difusão de um conjunto de mensagens, através das quais se
procurava demonstrar a compatibilidade da estrutura e
funcionamento do regime às concepções e objetivos
apresentados e propostos.(CAMPOS, Francisco. O Novo Regime., p. 35).
Dessa forma, justificava-se o golpe e o regime pela sua adequação à realidade nacional, pela capacidade do Chefe, pelas obras realizadas e pelo apoio da população.
A tão insistentemente mencionada situação caótica do país legitimava o golpe de 37 como inevitável para instituir um clima de ordem e de paz ou, no "slogan" de Francisco Campos, como "imperativo de salvação nacional".
Procurando dar a idéia de que a situação anterior ficava
superada por uma mudança radical, adotavam-se expressões
que sugeriam a imagem de um corte histórico: "Estado Novo",
"Brasil Novo", "novo regime", "ordem nova", "nova
política" e outras.( Idi. Ibdem., p. 45.)
A obra centralizadora que Vargas vinha realizando desde 1930 foi plenamente concretizada no Estado Novo. Os centros responsáveis pelo processo de decisões no aparelho governamental eram o Presidente, seus ministros, a alta burocracia civil, os representantes dos grupos de pressão nos órgãos técnicos e, especialmente, a cúpula das Forças Armadas. Estas, através de suas lideranças, foram o grande sustentáculo do Estado Novo e fizeram sentir a influência nos vários órgãos técnicos, por intermédio dos Estados-Maiores e do Conselho de Segurança Nacional.
Como as medidas exigiam soluções rápidas que não podiam ficar a cargo de um Legislativo inoperante, legitimavam-se as atribuições legislativas transferidas ao Executivo.
O autoritarismo era apresentado, ainda, como uma tendência histórica cujos germes sempre estiveram presentes na história do país
e que agora se desenvolvera, de forma adequada à realidade
nacional.5
Essa ênfase na inutilidade do Legislativo era divulgada com grande veemência pelos jornais de São Luís, que como sempre, estavam do lado do governo. O jornal O Imparcial do dia 12 de novembro de 1937, traz uma matéria intitulada "Legislativo Inoperante", na qual busca reafirmar a decisão de Vargas de fechar as Assembléias estaduais e câmaras municipais em todo o país:
...Os quadros políticos, que em todos os setores do pais se desmarginavam em lutos logarenhas, emperrando a marcha do progresso nacional, e, acelerando, a mais e mais, os ritimos da barbárie avassaladora de uma política rastacuêra, conduziam o país para uma situação de desespero,
que infalivelmente iria deflagrar nos horrores da guerra civil.
Em tudo isso, a maior soma de responsabilidade cabia às assembléia....
O Presidente Getúlio Vargas só por este golpe merecia os mais francos aplausos de todos os brasileiros que trabalham, que produzem e engrandecem com o seu merecimento próprio o nome do Brasil".(O Imparcial. 12 de novembro de 1937. p. 01)
----------------------------
5. Essa tese, de que o autoritarismo constituía uma tendência histórica no Brasil, era defendida especialmente por Cassiano Ricardo. Nesse sentido, ver: VELHO, Otávio G. Capitalismo autoritário e campesinato, p.130.
Os jornais de São Luís "cumpriram" bem o seu papel, de legitimar o novo regime através de suas matérias, tentanto explicar os motivos que levaram ao golpe que deu início ao Estado Novo. Um exemplo foi os elogios ao discurso proferido por Vargas, logo após o anúncio do Estado Novo, o qual foram publicados em todos os jornais pesquisados. O jornal O Imparcial em sua matéria chamada "O Discurso do Presidente Getúlio Vargas", faz um resumo dos pontos abordados por Vargas e ainda endossa suas colocações:
Ontem às 20 horas, o Dr. Getúlio Vargas, Presidente
da República falou à nação.
S. Exc. começou dizendo, que o homem de Estado, quando graves circunstâncias lhe impõem também deveres graves e que se firmam na consciência, não pode deixar de assumir uma atitude
decidida, nem se recusará em tomá-la perante a nação...
Para comprovar a desorganização política fez S, Exc, judiciosas crítica das várias correntes, que , no país, se agitam criando os mais sérios embaraços aos poder constituindo, armando lutas ingratas...
Por outro lado um exame conscencioso das realidades nacionais, evidenciará de logo de logo que a Constituição de 1934 já
não correspondia às necessidades do país.
S. Exc. fez aqui numa impressionante síntese, um magnífico estudo dos vários aspectos do problema econômico...apreciando, com muita precisão as iniciativas e medidas tomadas pelo governo na solução de todos os
problemas atinentes a economia nacional.( O Imparcial. 11 de novembro de 1937.p.01)
Até mesmo para a dissolução dos partidos, os jornais maranhenses buscam uma forma de "comprovar" a razão de Getúlio Vargas em sua decisão.
O Imparcial em seu Editorial do dia 12 de novembro intitulado "Os partidos vão descansar...", encontram-se explicações para a dissolução dos partidos, determinadas pelo governo Vargas:
Depois de criar pelejas era preciso que lhes dessem
um nirvana, como suprema consolação.
Eles, ao tempo da monarquia tiveram seus dias de glória. O gabinete dos conservadores, o gabinete dos liberais, nunca jamais serão esquecidos. Ao depois, os partidos enrolaram as suas bandeiras, ou elas se puíram ao sol dos combates ou nas longas invernias do oposicionismo. Desorganizaram-se. Passaram a servir às ambições de alguns com o sacrifício da maioria".
(O Imparcial.12 novembro de 1937. pág. 01)
Esse argumento, do fim da intermediação, adequava-se à mentalidade daqueles que, provenientes do meio rural, estavam condicionados a um sistema de relações pessoais e afetivas. Quando se afirma que a extinção dos partidos permitiria ao Governo, personalizado em Vargas, relacionar-se diretamente com o povo, a frase deveria soar familiar e persuasiva.
Esse quadro era completado pela afirmação da dívida que os diversos setores passavam a ter para com o governo e Getúlio. Os trabalhadores deviam a legislação do trabalho, profissionais das mais diversas categorias deviam a regulamentação de sua profissão, a criação de entidades em seu benefício; toda a população, enfim, assumia alguma espécie de dívida cujo meio de resgate era a submissão e o apoio irrestrito.
Há uma extensa "síntese" das "grandes realizações" do governo Getúlio Vargas, com dados fornecidos pela Agência Nacional. Além disso, a descrição das realizações é encontrável em inúmeros discursos, livros, revistas, jornais, documentários cinematográficos da época. Em todos esses documentos está contida a mensagem do governo sobre a necessidade do apoio irrestrito ao novo regime:
Vargas, em seus discursos, insistia no apoio dado ao regime e suas realizações, expresso em ‘generalizadas demonstrações de simpatia’, ‘inequívocas provas de uma perfeita comunhão de idéias e de
sentimentos’ ‘manifestações entusiásticas’ e ‘espontâneas’ de
apoio geral, ‘aplausos gerais’ e ‘compreensão e simpatia do país
inteiro’, ‘manifestações de solidariedade’ ‘integral e edificante’, ‘recepção entusiástica cheio de calor patriótico.(VARGAS, Getúlio, Op.cit., v. V, pp. 115, 121; v.VI, p. 26; v. VII, 242; v. VIII, p. 95; v. IX, p.96)
Alguns exemplos de como eram organizadas e divulgas as comemorações nacionalistas durante o Estado Novo, são encontrados nas notas abaixo, publicadas no jornal O Imparcial:
O Dia da Bandeira
No próximo dia 15 do corrente será celebrada no pátio da Catedral Metropolitana, uma missa campal em ação de graças pela paz do Brasil e amparo espiritual ao chefe da nação, o eminente Dr. Getúlio
Vargas e às forças armadas de terra e mar".( O IMPARCIAL- 13 de novembro de 1937.p. 01)
O Dia da República:
A comemoração da data de amanhã- missa em ação
de graças pela paz no Brasil- Recepção em Palácio.
A data de, amanhã assinala o 48o aniversário da
implantação do regime republicano no Brasil.
É o dia da República.
A evocação do feito memorável de 15 de novembro, desfila na lembrança dos brasileiros, a roda luminosa dos grandes obreiros da República....
O dia é feriado nacional e será comemorado com as manifestações
de civismo de todos os brasileiros republicanos sinceros.
S. Excia. Dr. Paulo Ramos, governador do Estado, por nosso intermédio, convida as autoridades civis, militares e consulares, o funcionalismo público da União e do Estado, classes proletárias, comércio, estabelecimentos escolares e o povo em geral, a tomarem parte nessa manifestação
de fé e de civismo.( O Imparcial. 14 de novembro de 1937.p. 01)
Um fator relevante, que deve ser observado nas notícias sobre o novo regime, transmitidas tanto pelo próprio Vargas, quanto pelos jornais impressos da época, era a da presença da teoria hipodérmica6 em todas essas mensagens. Onde se percebe que as notícias publicadas sobre o novo regime parecem seguir um padrão, como se fossem destinadas a apenas um tipo de pessoa, não considerando as diferenças inirentes ao próprio ser humano ou advindas das diferenças geográficas que cada indivíduo ocupa. Um claro exemplo disso era a própria expressão, "união nacional", muito utilizada pelos jornais do período.
A própria observação do fenômeno das comunicações de massa e também a formulação da teoria hipodérmica, coincide com o período do Estado Novo. Aliás, esse fenômeno esteve ligado à maioria das experiências totalitárias ocorridas nesse período. O Estado Novo, graças à sua propaganda teve toda a repercussão que fez do regime um marco na História do Brasil.
--------------------------------
6. A principal característica da teoria hipodérmica, era a presença explícita de uma teoria da sociedade de massa, onde os indivíduos são considerados homogêneos, com pouca ou nenhuma possibilidade de interaçãoe reação, portanto passíveis de serem monopolizados pelos meios de comunicação. ver ais em: WOLFF, Mauro. Teorias da Comunicação. p.20
Para melhor compreensão das mensagens publicadas nos diários de São Luís no período da instauração do Estado Novo, é imprescindível não dissociar a ideologia da realidade material do signo.
O signo surge a partir da interação social dos indivíduos, sendo marcado pelos acontecimentos e idéias dominantes em cada época. Sendo assim, deve-se estudar as mensagens publicadas nos jornais pesquisados, considerando sempre que nelas se encontravam um grande teor das ideologias vingentes no período do novo regime.
Pode-se dizer, que as publicações relativas ao governo Vargas estavam imbuídas de um índice de valor social. O conceito de índice de valor está relacionado à consciência de que para que o signo faça parte do horizonte social e desencadeie uma reação, é necessário que este esteja ligado às condições sócio-econômico de dada sociedade.
É importante considerar no presente trabalho, que cada um dos jornais estudados foram o canal através do qual os grupos sociais, com pretensões ao consenso social, exteriorizam seus índices de valores contidos nos signos de suas mensagens.
Nas palavras de Bakhtin o signo se torna a arena onde se desenvolve a uta de classes (BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem, p.46). Pode-se confirmar essa afirmação nas mensagens citadas neste trabalho, que mostram que nos jornais eram travadas as lutas entre os diversos grupos sociais em evidência em São Luís durate o período de instalação do novo regime. Principalmente nas mensagens divulgadas durante as campanhas presidenciais, em que cada veículo de comunicação buscava conquistar a aprovação de seus interesses ( a escolha de um candidato em detrimento do outro).
A linha política dos três jornais se assemelha por constituírem veículos que sempre estiveram ao lado do governo, apresentando pouca ou quase nenhuma contestação às mudanças políticas. Podem ser caracterizados portando, como veículos de opinião moderada. Ora apoiando alguns partidos ou movimentos políticos, como foi o caso de O Imparcial, que possuía uma página para a divulgação das ações e opiniões da União Democrática Brasileira.
Apresenta-se a seguir algumas características da posição política dos três jornais pesquisados de São Luís. Estes veículos também se tornaram fatores de influência na cunjuntura maranhense da época, uma vez que cada qual defendia as posições de grupos políticos diferentes:
Diário do Norte- Circulou de 1937 a 1945. Sob a direção de Maurício Pereira, o jornal apresentava uma postura apática quanto à política mranhense Defendia os interesses da oligarquia, composta por senhores de terra e donos de prédios na capital, que ainda tentavam retornar o poder no Estado.
O Imparcial- Entre os demais jornais pesquisados é o jornal mais antigo e o único que continua a circular até hoje, desde o dia 1o de maio de 1925, quando foi criado. Embora fosse um jornal que tinha como base a produção de um jornalismo informativo, que buscava a imparcialidade em suas publicações, na divulgação das notícias, no período do Estado Novo assumiu uma postura pró-Getulista e recebia apoio da União Democrática Brasileira. Era um dos poucos veículos impressos que, além das publicações tradicionais matutinas, chegava a publicar edições extras à tarde. Durante o período do governo Vargas estava sob a direção de José Pires Ferreira, que foi o fundador do jornal. Este tinha afinidades com a classe burguesa e parcelas da classe média, que desejavam a transformação no cenário político nacional.
Pacotilha- Era o veículo que apresentava maior moderação quando o assunto era política. Em suas publicações buscava não dar opiniões explícitas sobre os conflitos políticos. No período que antecedeu o Estado Novo, era dirigido por Theodoro Rosa. Como veículo de pouca conotação política, tendia mais para os interesses dos dirigentes do poder da época, sendo representado como um veículo de poucos embates políticos.
Falou-se anteriormente da influência desses veículos na conjuntura maranhense, por estes terem se constituídos no canal através do qual a população era informada sobre as mudanças políticas e econômicas no Brasil e no Maranhão. Era através desses jornais que ficava explicito o posicionamento de cada um quanto à instalação do Estado Novo, pois cada qual apresentava em suas páginas palavras de apoio ou oposição (o que era mais difícil) sobre o novo regime. Através da análise de Editoriais, notas, artigos e matérias publicadas nos três jornais pesquisados, publicados entre 05 a 15 de novembro de 1937, pretende-se demonstrar as mudanças de discurso nesse breve período.
É importante ressaltar que as mensagens não se resumem à escrita ou à fala. Para que se possa compreender na sua totalidade as matérias analisadas sobre o Estado Novo, publicadas nos jornais de São Luís, é preciso utilizar o conceito de linguagem mais amplo, que não se refira apenas a uma língua, mas a grande variedade delas; e que se relacione com a disciplina mais abrangente do que a Lingüística. Considerando que a linguagem seria um subsistema de uso da língua, subconjunto de itens do dicionário e subconjunto de regras de determinado idioma selecionadas para emprego em situação particular.
Esta disciplina foi chamada de Semiologia por Ferdinand de Saussure, no início do século XX. Semiologia pode ser conceituada, portanto, como a ciência que estuda os códigos e considera-os tanto separadamente como membros de um sistema de significações ou linguagem. A estrutura do signo para Saussure é binária e comporta um significado e um significante.
Sobre essa relação semiologia/linguagem/comunicação, Gonzalo Peltzer fala em seu livro Jornalismo Iconográfico que:
Comunicação e linguagem são, portanto, como dois co-princípios que e reclamam mutuamente, não podendo existir um sem o outro. A semiótica é precisamente o conhecimento e capacidade de manejar os diferentes códigos e sistemas de códigos ou linguagens. A semiologia estuda os processos culturais como proecessos de comunicação; tende a demonstrar que sob os processos culturais há sistemas ou linguagens, ao mesmo tempo em que a dialética entre sistemas e processos nos leva a afirmar a dialética entre código e mensagem. (PELTZER Gonzalo. Jornalismo Iconográfico.p.20)
A informação gráfica apareceu na imprensa praticamente com os primeiros jornais, mas sempre foi considerada como uma arte decorativa. Ao afirmar que se trata de uma linguagem é preciso demonstrar que também participa de todas as características de qualquer linguagem jornalística, com todo o sistema de códigos e subcódigos: gêneros, estilos, etc.
Bastaria a definição de Saussure para considerar o visual não lingüístico como linguagem:
"A língua é um sistema de signos que exprime idéias diferentes e por isso comparável à escrita, ao alfabeto dos surdos-mudos, aos ritos simbólicos, às formas de cortesia, aos sinais militares, etc".(SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. p. 80)
Pode-se considerar como linguagem não-verbal os seguintes elementos, que irão servir para análise da linguagem dos jornais de São Luís:
As manchas e blocos de letras decidem, com os claros, o equilíbrio ou movimentos estéticos. Os grupos de letras guardam certa hierarquia: maiores ou menores; no alto ou pé da página; em aglomerados compactos ou com claros em volta; de hastes finas ou grossas, com ou sem acabamento nas pontas; maiúsculas (versais) ou minúsculas(caixa-baixa); verticais (redondas) ou inclinadas (cursivas, itálicas, grifo)
No projeto gráfico, a diferença se sobrepõe à semelhança e a novidade se integra na identidade. Ele deve ser capaz de preservar a individualidade do veículo.
b) Sistemas analógicos-São fotografias, ilustrações, charges, cartoons. Fixam e comentam momentos e por isso são unidades semânticas autônomas de grande valor referencial. Sua sintaxe, no entanto, é relativamente pobre, e isto os torna passíveis de conceituação variável, ambíguos como a própria observação da realidade. As legendas, títulos e balões cumprem a função de reduzir ambigüidade conceitual.
Embora a fotografia tenha sido reproduzida, pela primeira vez, em jornal há mais de cem anos, o descaso pelo processo retardou sua adoção em maior escala. O fotojornalismo começou modestamente, mais para romper a monotonia gráfica das páginas cheias de texto do que para informar alguma coisa. O nome ilustração dá bem idéia desse papel secundário atribuído à foto diante do texto.
Esses signos não visuais ajudavam a compor a mensagem publicada nos jornais analisados. Bakhtin em sua obra Marxismo e Filosofia da Linguagem, fala sobre a formação e compreensão dos signos, colocando que um signo não existe apenas como parte de uma realidade; ele também reflete e refrata uma outra. Ele pode distorcer essa realidade, ser-lhe fiel, ou apreende-la de um ponto de vista específico, etc. Todo signo está sujeito aos critérios de avaliação ideológica.(BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. p.32)
Ainda falando sobre o signo, Bakhtin ressalta que o domínio do ideológico coincide com o domínio dos signos. A ideologia vai ter a função de explicar o significado do signo. Resumindo-se, o signo por si só, não tem significado, ele adquiri um significado a partir do momento em que é relacionado a uma ideologia, a um conhecimento anterior.
A partir desse referencial faz-se aqui primeiramente uma análise da linguagem visual utilizada em 3 jornais diários de São Luís, no período de 5 a 15 de novembro, que engloba o anúncio do Estado Novo. Posteriormente fazer-se-á uma análise da mensagem em si.
Quanto ao sistema gráfico dos jornais analisados o que se pode constatar é que os três diários (Diário do Norte, O Imparcial e Pacotilha), se utilizam abundantemente destes recursos para chamar à atenção do leitor, ou mesmo delimitar suas matérias. São utilizados box, linhas, subtítulos, sutiã, manchetes em Caixa Alta,em negrito, Letras Capituladas em início de matéria, tudo para diferenciar uma matéria da outra e ainda estabelecer a hierarquia entre elas.
Quanto à utilização de sistemas analógicos (não-verbais), o único dos jornais que chega a utilizar a fotografia com mais freqüência é O Imparcial, mesmo assim somente na sua primeira página.
Geralmente quando publicadas, as fotografias traziam uma figura ligada ao governo Getúlio Vargas, quando não o próprio, de perfil. No tamanho5x8 cm, em média. Sendo que nunca era apresentada mais de uma fotografia na mesma página. Em seus anúncios O Imparcial utilizava ilustrações.
O jornal Diário do Norte e Pacotilha por outro lado, utiliza charges e cartuns, ilustrações, principalmente nos anúncios, como se pode ver na foto seguinte: foto 2
Quanto à utilização do sistema lingüístico os jornais analisados utilizam todas as técnicas possíveis para a época: Machetes em letras garrafais e em negrito, mudaça de estilo de letra para diferenciar os assuntos, títulos de notas e capitulação de letras. Embora simples, esses recursos conseguem fazer um contraste de uma matéria para outra, tornando a leitura menos cansativa.foto 4
4.3 Leitura lexo-sintática das notícias publicadas nos jornais de São Luís
Em São Luís, durante o período de campanha presidencial, os jornais pesquisados, diariamente publicavam notas e editoriais demonstrando sua aprovação e contentamento com o pleito que se aproximava. Sendo que cada um dos jornais aqui analisados, exceto o jornal Pacotilha, explicitavam sua escolha quanto ao candidato à presidência. Tendo, no entando, o cuidado de não demonstrar insatisfação com o governo Getúlio Vargas. Muito pelo contrário, exaltando o governo, como se esse estivesse concedendo benevolentemente ao país, a possibilidade de escolher outro presidente.
O jornal Diário do Norte em seu editorial entitulado "A sucessão presidencial", deixa claro como as eleições de 1938 eram tratadas como um "presente" dado por Vargas à Nação:
O mais dilatado mandato presidencial que se conhece, nas
Repúblicas modernas, não vai além de sete anos.
O Sr. Getúlio Vargas é um democrata. Mais de uma vez tem lutado pela democracia no país. Em nome da democracia e para salvar a pureza
dos seus princípios, quando estavam sendo conspurcados,
tomou a frente da revolução de 30.
Confiemos no espírito democrático do atual presidente S. Exc. há de dar ao Brasil, na hora difícil que atravessamos, o exemplo de respeito à integridade do regime... Não é lícito duvidar disso um só instante.(Diário do Norte- 05 de novembro de 1937.p. 01)
Observem-se as palavras finais do editorial, que além de realçar que Vargas é um democrata, o que não constitui a realidade, coloca o Presidente como um exemplo de respeito à integridade do regime. Completando ainda que não se deveria duvidar da capacidade "salvadora" de Vargas. O que podemos concluir através do estudo desse editorial é que nessa mensagem, o jornal Diário do Norte tentava delegar ao Presidente os "louros" pela eleição que se aproximava. Que era graças ao consentimento de Vargas, que iria se realizar o pleito. Logo a responsabilidade de Vargas quanto ao pleito foi confirmada, mas não pela realização das eleições e sim por sua suspensão.
Ainda quando se pensava que as eleições de fato ocorreriam, O jornal Diário do Norte, "adotou" como seu candidato Armando de Salles, e em sua homenagem teceu em suas páginas os mais religiosos artigos sobre o candidato, um dos quais foi transcrito parcialmente abaixo, sob o título "Paladino da Democracia":
Pugnar pela democracia é defender o Brasil...
Armando de Salles é o paladino dos ideais democráticos. Com ele a nação há de seguir no caminho da felicidade e da ordem.
O eleitorado, de cuja consciência o Brasil não duvidou jamais, votará em Armando de Salles, certo de que cumprirá um nobre dever patriótico...
(Diário do Norte-09 de novembro de 1937.p. 01)
Nesse editorial, é importante atentar-se novamente para as palavras finais, pois nelas está contido o objetivo de toda a mensagem, ou seja, votar em Armando de Salles. Quando é colocado que o eleitorado, de cuja consciência o Brasil não duvidou jamais, votará em Armando de Salles, a mensagem que está implícita aí, é que o eleitor ciente das dificuldades do país e patriota deve votar em Armando de Salles. Aquele que não seguir esse caminho não é nem consciente, nem patriota.
O jornal O Imparcial por sua vez apoiou o candidato José Américo. Em seu artigos e matérias é claramente identificável o apoio do jornal ao candidato. Em um artigo do dia 07 de novembro de 1937, do jornalista Cândido Tormenta, que tinha como título "José Américo" fica claro a posição pró-José Américo do veículo impresso:
A candidatura do Sr. José Américo continua a ganhar terreno. Adunam-se ao redor do iminente paraibano quase todas as classes de trabalhadores.
O Sr. José Américo, tem sem dúvida, todas as probabilidades para fazer um governo que corresponda à expectativa do povo.
O Norte também está empolgado pela candidatura do honrado nordestino, que é, sem contestação, uma das glórias da nova geração de políticos brasileiros.(O Imparcial-07 de novembro de 1937, p. 01).
O jornalista, Cândido Tormenta, foi um dos importantes colaboradores do jornal O Imparcial, portanto em nenhum momento se mostrou contra as opiniões do referido veículo. Com isso quer se dizer, que se o jornalista se colocou a favor da candidatura de José Américo, é porque o jornal também demonstrou sua aprovação ao paraibano. Observe-se no citado artigo que como já havia sido colocado anteriormente, José Américo buscava apresentar-se como o candidato de quase todas as classes de trabalhadores. O artigo ressalta ainda o fato de José Américo ser nordestino, um motivo a mais para que todos os maranhenses estivessem a favor do candidato.
Quando do anúncio do novo regime os três jornais buscaram demonstrar o seu apoio ao presidente, mudando completamente o seu discurso. Se ante a prioridade eram as eleições de 03 de janeiro de 1938, agora o mais importante era que todos estivesse de acordo com as regras do novo regime. E para isso os impressos contribuíram enormemente nos dias que se seguiram ao Estado Novo.
As notícias do Estado Novo só foram publicadas no dia seguinte ao anúncio, no dia 11 de novembro de 1937: foto 3
De início os três jornais tentaram manter neutralidade, já que não conheciam as bases do novo regime, mas não tardou para que demonstrassem o seu total apoio ao Estado Novo.
Como demonstra os dois editoriais do jornal Diário do Norte, intitulados "A Terceira República" e "O Novo Regime", publicados respectivamente nos dias 12 e 14 de novembro de 1937, o jornal de primeiro assumiu uma postura cautelosa sobre o novo regime, para logo em seguida demonstrar seu apoio ao Estado Novo:
Que dizer do novo regime adotado para a República?
De antemão não é possível julgá-lo.
Vamos ver o que ela nos dirá...
Só uma coisa vantajosa trouxe, incontestavelmente (a revolução de 30): o Código Eleitoral, apesar de muito complicado...
A reforma da Constituição para suprir as suas lacunas ou desbastar o liberalismo presidencialista dos seus excessos
, preferiu-se, agora, um novo regime...( 40. Diário do Norte- 12 novembro de 1937, p. 01)
A nova situação em que se encontra o país impõe a todos os
brasileiros acatem as deliberações das altas autoridades
que orientam os destinos da República
Todos aqueles que não compreenderem ou não quiserem
compreenderesse dever se desviarão do caminho do civismo.
Trocamos um regime de incertezas por um regime de
segurança e de tranqüilidade para a naca....
Apoiar a ação do chefe do governo, do ministério e das Forças
Armadas, eis o que deve fazer o povo.(Diário do Norte- 14 de novembro de 1937, p. 01)
O jornal O Imparcial também se pronunciou quanto ao novo regime logo após a notícia ter chegado a São Luís. Em sua coluna diária "Momento Político Nacional", o veículo foi mais explícito em seu apoio a Vargas, do que o Diário do Norte, chegando até mesmo a dar a sua aprovação ao Estado Novo.
...O presidente da República, falou, à noite, a Nação, pelo microfone, explicando a situação política do Brasil. Referiu-se à atitude das forças armadas, elemento construtor da nacionalidade, que
decididamente, manterá a paz e a ordem dentro do país.
As palavras do Dr. Getúlio Vargas foram, como sempre, medidas,
pensadas e cristalizadas no crivo da serenidade...
E mais uma vez afirmamos nestas colunas que nunca deixaram de
lhe enaltecer os gestos que todos os brasileiros que amam o Brasil, que trabalham pelo seu progresso, devem estar de espírito e de coração,
com as atitudes do Dr. Getúlio Vargas, presidente da República.( O Imparcial- 11 de novembro de 1937,p. 01)
As palavras publicadas nessa coluna, acima do apoio ao novo regime, demonstram o apoio ao Presidente Vargas, quando cita que mais uma vez afirmamos nestas colunas que nunca deixaram de lhe enaltecer os gestos... O que se pode entender dessas palavras é que, qualquer que fosse a atitude tomada por Vargas, teria total apoio do jornal.
Na matéria intitulada "A nova constituição" publicada no dia 13 de novembro, que ocupou 6 colunas, um espaço significativo dentro do jornal.. São citados inúmeros elogios e justificativas ao novo regime, deixando evidente o total apoio do jornal ao novo regime.
O presidente da República dos Estados Unidos do Brasil:
Atendendo às legítimas aspirações do povo brasileiro à paz política e social, profundamente perturbada por conhecidos fatores de desordem..., e da extremação de conflitos ideológicos, tendentes, pelo seu desenvolvimento natural, a resolver-se em termos de violência, colocando a
Nação sob a funesta iminência da guerra civil.
Com o apoio das forças...
Resolve assegurar à Nação a sua unidade,
o respeito à sua independência, e ao
povo brasileiro, sob um regime de paz política
social, as condições necessárias
à sua segurança, ao seu bem estar e à sua prosperidade.( O Imparcial- 13/11/1037. p. 06)
Na notícia acima citada, além do explícito apoio dos jornais ao novo regime, pode-se perceber uma atenção exacerbada a Getúlio Varga. Como se este tomasse para si a responsabilidade pela ordem no país, quando o editorial é citado que, resolve (ele, Getúlio Vargas) assegurar à Nação a sua unidade, o respeito à sua independência, e ao povo brasileiro. É importante ressalta que o novo regime foi retratado como sendo instalado não pela vontade exclusiva de Vargas mas sim atendendo às legítimas aspirações do povo brasileiro à paz política e sócia. Mais uma vez aí, percebe-se o mecanismo de legitimação do Estado Novo, uma vez que através desse tipo de mensagem, a população absorvia um interesse alheio às suas experiências, ou seja, acolhia um regime que em nada lhes traria benefício, somente a uma pequena parcela do governo comandada pelo Presidente Getúlio Vargas.
O jornal Pacotilha, como já foi citado, politicamente não adotava posições nem contra nem a favor sobre o que quer que seja. Somente quando era impossível ignorar os fatos, o jornal Pacotilha dava pequenas notas sobre o que acontecia na política brasileira, como é o caso das notas transcritas abaixo, publicadas na coluna "Situação Nacional", que para agravar o quadro de indiferença do jornal, ainda eram mensagens enviadas por agências de notícias. Essas notas narram os últimos acontecimentos de forma simplificada sem qualquer aprofundamento no assunto:
Nova Constituição
Rio, 10- Regressando da reunião realizada hoje, pela manhã no palácio da Guanabara, o Sr. Ministro da Justiça declarou aos representantes da imprensa acreditados junto ao seu gabinete que acabava de ser promulgada a Nova Constituição da República. "Ipso Facto" acham-se dissolvidos o Senado e a Câmara Federa, bem como as Assembléias Legislativas dos Estados e as Câmaras Municipais.(Pacotilha-11/11/1937. p.01)
O presidente Getúlio falou à nação
Rio, 10- O presidente Getúlio Vargas falou à Nação às 20 hs, sobre os últimos acontecimentos políticos.(Pacotilha-11/11/1937. p.01)
Como se pode constatar, como não era possível o jornal deixar de publicar o anúncio do Estado Novo, então fizeram notas e transcreveram as mensagens enviadas pelas agências de notícias.
Com o anúncio, já confirmado da suspensão das eleições de 1938, poucos dias depois da publicação dos editoriais e artigos acima citados, os jornais cuidaram de mudar também seu discurso.
Após o estudo de notas e editorias dos referidos jornais, fica claro o posicionamento sempre à favor do governo Getúlio Vargas. Enquanto este "parecia lutar" pela sucessão presidencial, cada um dos jornais apoiava o pleito, escolhendo inclusive seu candidato. Quando ficou confirmada a suspensão das eleições e foi anunciado o novo regime, esses mesmos veículos não mais fizeram qualquer referência ao pleito, passando logo a demonstrar o apoio ao novo regime, e acima de tudo ao Presidente Vargas.
A produção desta monografia foi um apanhado dos fatos que culminaram com o Estado Novo. A pesquisa documental, nos jornais de São Luís, foi essencial para a compreensão do contexto pelo qual o Maranhão atravessa e constitui-se também na base de toda a construção deste trabalho.
O que se pode constatar na análise dos três jornais pesquisados é que todos se posicionavam a favor do governo, nunca utilizando em suas publicações palavras que contrariassem o governo tanto antes quanto depois a instalação do Estado Novo.
Embora cada um dos jornais tivesse suas tendências políticas, colocadas de forma implícita, ainda assim defendiam o poder de classes sociais vigentes na época.
Um exemplo já citado foi o Diário do Norte, que tinha como grupos que o apoiavam representas da oligarquia rural, senhores de terra, que encontravam no jornal, uma forma de legitimar a permanência do grupo no poder.
Outro exemplo de posição mais explícita, é o jornal O Imparcial, que defendia os interesses da burguesia e de algumas parcelas da classe média, que embora desejosos de mudanças no quadro polítoco, buscaram não criar conflitos com o novo regime, chegando até a apoiar abertamente a ação de Vargas.
Os jornais de São Luís refletiam, portanto, a posição governista. Ou seja, enquanto o presidente Getúlio Vargas parecia apoiar a sucessão presidencial, os jornais ressaltavam a importância do pleito que se aproximava, escolhendo, inclusive, cada qual o seu candidato. De acordo com a mudança dos acontecimentos políticos, os jornais iam se adequando às mudanças no cenário político. Muitas vezes contradizendo o que já havia sendo publicado anteriormente.
ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológiocos do Estado. Trad. Walter José
Evangelista e Maria Laura Viveiras de Castro. 2.ed.Rio de Janeiro: Edições Grall,1985.
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem.: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução: Michel Lahud e Yara Frateschi Viera. 6.ed. São Paulo: Editora Hucitec, 1992.
CALDEIRA, João Ricardo de Castro. Integralismo e política regional: a ação integralista no Maranhão. São Paulo: Annablume, 1999. 135p. ISBN. 85. 7419 0594
CALDEIRA, José de Ribamar Chaves. As interventorias estaduais no Maranhão: um estudo sobre as transformações políticas regionais no pós-30. Dissertação de mestrado apresentada ao IFCH da UNICAMP. São Paulo:[s;n], 1981.
CAMPOS, Francisco. O Novo Regime.
CARONE, Edgard.O tenentismo: acontecimentos, personagens programas: São Paulo: Difel, 1975. 518p.
CONY, Carlos Heitor. Quem matou Vagas?. Rio de Janeiro: Bloch, 1974.
ELLUL, Jacques. Histoire de la propagande.
FAUSTO, Boris. A Revolução de 30: História e Historiografia. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1970.
FAUSTO, Boris.História do Brasil: Negócios e ócios. São Paulo: Edusp, 1994.
FAUSTO NETO, Antonio et. Al. Brasil, Comunicação, Cultura e Política. Rio de Janeiro: Diadorim Editoria, 1996.
FARIA, Antonio Augosto; BARROS, Edgard Luiz. Getúlio Vargas e sua época. 3.ed. São Paulo: Ed. Global, 1983. p.108(História Popular; n.º8)
FERREIRA JÚNIOR, José Ribamar. A arena da palavra: Parlamentarismo em debate na imprensa maranhense, 1961-1963. São Paulo: Annablume, 1998. 82p. ISBN 85-7419-028-4
FIGUEIREDO, Adiel Tito de. O Estado Novo e a educação no Maranhão: (1937-1945). São Paulo: Edições Loyola, 1984.
GARCIA, Nelson Jahr. O ESTADO NOVO: Ideologia e propaganda Política- A legitimação do Estado autoritário perante as classes subalternas. São Paulo:
Edições Loyola. 1982 (Série Comunicação).
GOLDESTEIN, Gisela Taschner. Do jornalismo político à indústria cultural. São Paulo:Summus Editorial, 1987.
HIRST, Mônica.História da Diplomacia Brasileira: A era Vargas, Política Interna e Política Externa. O Estado Novo
JAKOBSON, Roman. Lingüística e comunicação. Trad. Izidoro Bliskstein e José Paulo Paes. São Paulo: Ed. Cultrix. 1994. p.162
LAGE, Nilson. Linguagem jornalística. 5.ed. São Paulo: Ed. Ática, 1997. p. 78. Série Princípios. ISBN 85 08 01659
MARCONDES F.o, Alexandre. Estado de Getúlio Vargas.
MACHADO, Irene A . O romance e a voz: a prosaica dialética de M. Bakthin. Rio de Janeiro: Imago Ed. , 1995. 340 p. (Série Diversos)
MELO, José Marques de. Teoria e política. São Paulo: Summus, 1985.
MORTENSEN, C. David. Teorias da comunicação. : textos básicos.Trad. Nelson Yamamoto. São Paulo: Mosaico, 1980. 495p.
PELTZER, Gonzalo. Jornalismo iconográfico. [S;l]: Planeta Editora. 1997.
PIGNATARI, Décio. Informação, linguagem, comunicação. 7.ed. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1976.
SAUSSURE, Ferdinand de . Curso de lingüística geral. São Paulo: Cultrix, 1977.279p.
SCHILLER, Herbert. Los manipualdores de cérebros.
TORRES, Alberto. O problema nacional brasileiro.
VELHO, Otávio G. Capitalismo autoritário e campesinato.
VARGAS, Getúlio. Quem foi que disse? Quem foi que fez?. Rio de Janeiro: [S;n]: 1938
VIEIRA, Luís. Getúlio Vargas, estadistas e sociólogo.
VARGAS, Getúlio. A nova política do Brasil: O Estado Novo 10 de novembro de 1937 a 25 de julho de 1938. v.5. Rio de Janeiro: José Olympio Editora.
WEBER, Max. Ensaios de Sociologia.5.ed. Rio de Janeiro: Jahar, 1982.530p.
WIRTH, John D. A Política do desenvolvimento na era de Varga.Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1973.
WOLF, Mauro. Teorias da comunicação
ZEMOR, Fernando. História do Brasil: Estado Novo e Fascismo. [S;l]:[S;n].1996
AGRADECIMENTOS
A Deus
A meus pais, que tudo fizeram para que eu chegasse a esse momento
Aos meus irmãos, Max, Anderson e Michelle, pelo grande amor e carinho que nos une.
À minha grande amiga Lívia Cristina, que muito contribuiu para o meu ingresso na Universidade
Aos amigos que conheci na UFMA, em especial Amarílis Cardoso e Emanoel Pascoal
Ao Professor Ferreira Júnior pelo apoio e correta orientação na produção deste trabalho
À ami ga e irmã Karla, pela sua presença em todos os momentos da minha vida
À querida Rutinéia, por seu auxílio na conclusão desse trabalho.
E a todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a elaboração desta monografia, em especial aos amigos do Sistema Difusora pelo incentivo neste início de carreira jornalística.
Monografia apresentada ao Curso de
Comunicação Social da UFMA, como requisito
parcial para obtenção do grau de Bacharel em
Comunicação Social- Habilitação Jornalismo
Viviane Rodrigues Franco é jornalista, formada pela Universidade Federal do Maranhão, tem 29 anos, e trabalho com Assessoria de Comunicação.
E-mail: lindafranco[arroba]bol.com.br
Viviane Rodrigues Franco
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
HABILITAÇÃO: JORNALISMO
São Luís
2002
Página anterior | Voltar ao início do trabalho | Página seguinte |
|
|