"A nova Constituição, colocando a realidade
acima dos formalismos jurídicos, guarda
fidelidade às nossas tradições e mantém
a coesão nacional, com paz necessária ao
desenvolvimento orgânico de todas as
energias do país".
Getúlio Vargas
O Estado Novo no período de 5 a 15 de novembro de 1937. Apresentam-se fatos que culminaram com o golpe que deu início ao Estado Novo. Ressalta-se a forma como três jornais de São Luís se posicionaram antes e depois do anúncio do Estado Novo. Analisa-se o aspecto da linguagem utilizada por essas publicações, considerando os elementos textuais e gráficos.
No presente trabalho, pretende-se mostrar como os jornais impressos de São Luís se posicionaram diante da notícia do Estado Novo. Para isso, fez-se uma pesquisa documental em três jornais diários da época: Diário do Norte, O Imparcial e Pacotilha.
Como corpus da pesquisa foi escolhido o período de 05 a 15 de novembro. Ou seja: 05 dias antes do golpe e 05 dias depois. A intenção era exatamente constatar como os jornais abordavam o assunto: governo Vargas. No qual foi instituído o Estado Novo. Para se chegar a esse momento, contudo, é necessário se fazer uma contextualização dos fatos que antecederam o 10 de novembro, ressalta-se o momento político pelo qual o Brasil atravessava.
Para contar a História do Estado Novo, foi dividido em quatro partes, cada qual com suas subdivisões, que fazem um resumo da tragetório do governo Vargas, quando da instauração do Estado Novo, abordando as questões nacionais relativas ao novo regime, e seus reflexos no cenário político, econômico e social de São Luís. Ao longo de todo o trabalho é citada, através de matérias dos jornais impressos de São Luís, a posição destes no antes e depois do Estado Novo.
A primeira parte, trata do contexto em que se encontrava a política nacional no período que antecede o Estado Novo e a conjuntura maranhense na mesma época.
No segundo momento, são abordados os fatores que contribuíram para a preparação do golpe do Estado Novo. Um resumo do que foi o Plano Cohen e os personagens que fizeram parte desse plano. Além das bases para a instalação do Estado Novo, que no Maranhão pode ser representada pelas notícias sobre o comunismo, que justificava a necessidade de um regime autoritário.
A terceira parte apresenta um resumo dos acontecimentos que sucederam-se a decretação do Estado Novo e conseqüências desses atos na política e local.
A quarta e última parte do trabalho, apresenta uma análise de como quatro jornais impressos de São Luís, abordavam em suas páginas o governo Getúlio Vargas e como se pronunciaram diante da notícia do novo regime. Para essa análise foram abordados não só os aspectos textuais como também gráficos, ressaltando a visão de alguns pensadores como Saussurre e Bakhtin.
O período que antecede o Estado Novo é caracterizado como um momento de tensão política e econômica. Aonde novos grupos sociais vinham se formando, baseados em idéias elaboradas nas décadas de 20 e 30. No setor econômico, as crises eram advindas principalmente dos constantes abalos do modelo exportador e pelo crescimento urbano-industrial, já em curso desde o século XX. O que era fato que não poderia passar despercebido, uma vez que o Brasil possuía uma economia dependente, principalmente dos Estados Unidos.
O jornalista Alberto Torres, já na primeira década do século XX, denunciava os males da situação nacional afirmando que:
"um país ao qual tem faltado: organização e educação
econômica, capital, crédito, organização do trabalho, política
adaptada às condições do meio e à índole da gente, um país desgovernado em suma".(TORRES, Alberto. O problema nacional brasileiro, p. 269).
Alberto Torres pregava a necessidade de organização nacional através da reforma da Constituição liberal de 1891, de modo a possibilitar a adequação das instituições à realidade brasileira. Suas teorias eram caracterizadas por um pensamento constante de crítica à absorção de outras culturas, alheias às características naturais do Brasil e oposição à exploração estrangeira das riquezas nacionais.
A percepção da existência de novos grupos sociais se dá principalmente a partir da década de 20, quando fica mais evidente a concepção nacionalista, para logo evoluir a oposições de atitudes mais extremadas. Um exemplo foi as revoltas tenentistas. Eram oficiais que tinham como objetivo moralizar o país e torná-lo mais desenvolvido. Esses militares se revoltaram várias vezes contra os governos dos presidentes do pacto da política café-com-leite. Uma das revoltas mais conhecidas, foi a dos 18 do Forte de Copacabana. 1
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1. Esse episódio marca a revolta debelada logo no início da marcha, quando 17 tenentes revoltos e mais de um civil partiram de encontro às tropas governistas pelas areias da praia de Copacabana, na tarde de seis de julho de 1922.
Outro fato marcante tanto pela ousadia como pela duração, durante esse período pré-Estado Novo, foi a Coluna Prestes. Sob o comando do capitão Luís Carlos Prestes, a marcha saiu de Assis Brasil, no Paraná, em abril de 1925, e foi até a Bolívia, concluindo a jornada em 3 de fevereiro de 1927.
Contudo, não permitindo admitir uma redução de suas forças com mais esse movimento revoltoso, o governo Washington Luís reagiu e enviou centenas de homens para impedir o progresso da coluna. No combate ao movimento, o Exército Federal contou com o auxílio de milícias estaduais, e ainda, com maior eficácia, por grupos de cangaceiros, que tinham a sua disposição dinheiro e armas, tudo financiado pelo governo. O que contribuiu para o sucesso do movimento governista, que conseguiram conter os militares revoltosos.
Após o fim das revoltas tenentistas, o clima ficou mais tranqüilo, pelo menos até o crack da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929. Com esse forte abalo econômico, que teve reflexos no Brasil, devido à dependência financeira do país, a aliança de São Paulo e Minas Gerais, conhecida como café-com-leite, se desfez. Diante desse novo quadro de insegurança nacional, os cafeicultores buscaram manter o seu poder, através da permanência de um representante da política paulista, de forma a manter os incentivos fiscais em benefício da classe, como acontecia anteriormente.
O presidente Washington Luís, paulista, segundo o pacto café-com-leite, deveria indicar um mineiro para o próximo mandato presidencial. Porém, para surpresa de todos, ele indicou outro paulista, Júlio Prestes, rompendo assim o acordo. Com isso, os representantes de Minas Gerais, sentindo-se traídos, aliaram-se aos Estados do Rio Grande do Sul e Paraíba em busca de vitória nas eleições presidenciais de 1930. Criou-se Aliança Liberal.
Apesar de todo o trabalho de mobilização de vários setores da sociedade contrários à permanência da oligarquia cafeeira, a Aliança Liberal não conseguiu vencer. As fraudes eleitorais, comuns à época, foram o grande entrave à vitória dos aliancistas.
Diante de mais uma derrota, a ação armada dos aliancistas só precisava de um motivo para explodir, e esse motivo aconteceu no dia 25 de julho: o assassinato de João Pessoa, presidente do Estado da Paraíba (cargo que hoje conhecemos como governador).
Teve início aí, a conhecida Revolução de 30. Sob o comando de Getúlio Vargas, o levante foi deflagrado às 17h30 do dia 03 de outubro de 1930 e logo se estendeu a outros pontos do País. Dois dias após o iníçio da revolta, o governo federal instalou Estado de Sítio e começou a convocar reservistas do Exército para combater o movimento. Porém, tanto a população quanto os próprios reservistas, estavam insatisfeitos com o governo em vigor. O que fazia da contra-revolta governista, uma aliada dos rovoltosos.
No dia 24, Vargas teve a notícia de que os generais Tasso Fragoso e Mena Barreto, juntamente com o almirante Isaías Noronha, haviam deposto do governo Washington Luís e tinham constituído uma junta governativa no dia anterior.
A junta tentou consolidar-se no poder.Contudo, Vargas, com apoio das tropas dos tenentes e dos aliados políticos, tornou-se o novo governante. Vargas chegou ao Rio de Janeiro, em 31 de outubro de 1930, mas preferiu receber o governo apenas em 3 de novembro do mesmo ano, um mês após o início do movimento revolucionário.
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