A maternidade no contexto do VIH/SIDA é marcada pelos desafios do enfrentamento de uma doença crónica e estigmatizante e pelo temor da transmissão materno-infantil do VIH (TMI). Este artigo tem como objectivo revisar a literatura sobre intervenções direccionadas ao contexto de pré-natal de mulheres vivendo com VIH/SIDA. Foram revisados fundamentos de intervenções em saúde, nas concepções de educação para saúde e abordagem sistémica, além de aspectos teóricos e práticos do aconselhamento. Também se realizou uma revisão sobre maternidade nesse contexto, o que possibilitou a identificação de temáticas a serem abordadas em intervenções:
a) Aspectos físicos e emocionais da gestação no contexto do VIH/SIDA.
b) Parto, puerpério e desenvolvimento inicial do bebé.
c) Família e rede de apoio social.
d) Convivendo com o tratamento da mãe e do bebé. Essa revisão permitiu que se criassem subsídios para a construção de uma intervenção Psicoeducativa direccionada às gestantes que vivem com VIH/SIDA.
Palavras-chave: VIH/SIDA; Gestação; Maternidade; Intervenções Psicoeducativas; Aconselhamento.
A gestação e a maternidade no contexto do VIH/SIDA são marcadas não somente pelos desafios ligados ao enfrentamento de uma doença crónica e estigmatizante como a SIDA, mas, principalmente, pelo medo e pela culpa diante da possibilidade de transmitir o vírus para o bebé. Em geral, essa é uma preocupação compartilhada por profissionais de saúde e famílias que convivem com o vírus. A tomada efectiva de atitudes para a prevenção da transmissão materno-infantil (TMI) do VIH depende de muitos factores que envolvem a equipa de saúde e as famílias acometidas, muitas delas em evidente situação de vulnerabilidade social. Nesse contexto, identifica-se a necessidade de intervenções que ajudam a diminuir as dificuldades e o sofrimento, auxiliando na promoção da saúde dessas pessoas.
O presente artigo aborda inicialmente as bases para a escolha de uma modalidade de intervenção para gestantes e alguns fundamentos teóricos de intervenções em saúde, com base nas concepções de educação para a saúde e da abordagem sistémica de saúde. Em seguida, discute-se a aplicação da técnica de aconselhamento como modalidade de intervenção. Por fim, são apresentados temas prioritários para gestantes vivendo com VIH/SIDA, que podem ser abordados em uma intervenção psicoeducativa.
Educação para a saúde e a abordagem sistémica
A educação para a saúde constitui-se em uma abordagem que visa à modificação de comportamentos, em prol da aquisição ou manutenção de hábitos saudáveis de vida. Além disso, nessa perspectiva, valoriza-se o desenvolvimento de habilidades para a utilização dos serviços de saúde e a tomada de decisões no nível individual e/ou colectivo, objectivando a melhorar os estados de saúde. Dessa forma, a promoção de saúde é considerada um processo no qual se busca incentivar a pessoa a adquirir um maior controlo da sua própria saúde. Isso implica trabalhar com as pessoas e não sobre elas, reforçando sua participação na definição de seus próprios problemas, bem como na tomada das suas decisões.
A abordagem sistémica de saúde corrobora essas proposições, na medida em que concebe o ser humano como em constante relação com seu contexto social, considerando a interacção pessoa-contexto como central. Trata-se de uma área destinada ao atendimento de famílias com problemas crónicos, tais como esquizofrenia, câncer, diabetes, infecção por VIH/SIDA, dependência química, entre outros. O pressuposto principal é que a doença afecta distintos sistemas simultaneamente: biológico, psicológico, social e interpessoal; esse caso, o atendimento deve ser interdisciplinar, tendo como premissa a ênfase nos aspectos positivos da família e na transmissão de informações.
Esse modelo de atendimento tem sido oferecido em forma de programas educativos, de apoio e orientação terapêutica às famílias, com o objectivo de melhorar as habilidades de enfrentamento, acelerar a reabilitação e, com isso, diminuir o estresse familiar. Busca-se identificar e enfatizar os pontos fortes das famílias, compartilhando com elas as informações existentes sobre a doença que as afecta.
Considerando o contexto de saúde pública, muitas vezes é necessária uma adaptação da prática do atendimento psicológico, tendo em vista a demanda de atendimento do maior número possível de pessoas em um período reduzido de tempo, mantendo-se a qualidade da atenção, priorizando o atendimento dos seguintes focos sistémicos: Estratégias que integrem as necessidades das pessoas e as construções teóricas da psicologia, a minimização da assimetria na relação de ajuda e a redução do estresse individual e social a partir do aumento da informação.
Página seguinte |
|
|