"No contexto da convergência dos padrões contábeis, é inevitável que as
nações mais poderosas política e economicamente dominem ou "capturem" o
processo de padronização para garantir que eles sejam formulados de
acordo com seus interesses nacionais, em vez de no interesse comum dos
mercados de capitais globais. Assim, a verdadeira "internacionalização"
dos padrões pode não ser possível em realidade..." (Rachel Carnachan, p. 38)
Este artigo objetiva apresentar alguns fatos históricos recentes e relevantes sobre a formação do IASC/IASB e evidencia aspectos ainda pouco conhecidos pela maioria dos pesquisadores e estudiosos da Contabilidade brasileira, especialmente, acerca dos bastidores das negociações e das tratativas políticas em torno da sua criação e da condução do processo de elaboração das normas contábeis internacionais. Os elementos históricos, aqui apresentados, se referem também ao processo de formação de outras entidades e grupos de trabalho, como IFAC, G4+1, além de outros, que influenciaram decisivamente na criação do IASC. Os fatos históricos permitem inferir sobre o estressante processo político na condução da criação do IASC/IASB que deságuam, em contrapartida, no abandono dos princípios científicos positivistas para nortear a consolidação das normas contábeis internacionais. E a conclusão deste trabalho é de que a cientificidade contábil, nesse novo milênio, é determinada por organismos de representação de classe, eliminando quase que completamente a academia e os talentos individuais. Esses organismos são criados não para serem foros de discussão, mas para serem os determinantes, os agentes da condução da ciência da Contabilidade. A pesquisa é descritiva com abordagem qualitativa.
Palavras-chave: IASC/IASB; IFAC; G4+1; normas contábeis internacionais;
A primeira iniciativa bem sucedida de harmonização de padrões contábeis se deu logo após a Segunda Guerra Mundial, por interesse dos governos de diversos países: a padronização do sistema de contabilidade nacional[1]
Após a II Guerra Mundial foi anunciado o Plano Marshall (1947) e, no ano seguinte, foi criada a Organização Européia de Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OECD. Essas iniciativas levaram à convocação de profissionais da contabilidade e de políticos para tentar harmonizar as questões relativas às contas públicas, que, naquele momento, estavam completamente desequilibradas pela Guerra. O desequilíbrio e a desarmonia das contas dos países, sobretudo, da Europa, dificultavam a implementação de qualquer plano de recuperação econômica. Samuels and Piper (apud Botzem e Quack, 2005, p. 5) fazem o seguinte relato sobre esse período:
Desenvolver a cooperação econômica numa escala transatlântica e européia exigia um mínimo de dados estatísticos comparáveis sobre o desenvolvimento econômico e despesas públicas. O Programa de Recuperação da Europa, em particular, necessitava de tais dados como uma base para a coordenação e distribuição da ajuda americana. Em paralelo, governos nacionais na Europa moveram-se no sentido de um plano econômico para reconstruir e modernizar as economias nacionais [...] Em conseqüência, a harmonização de padrões da contabilidade nacional – uma questão que já tinha sido discutida no período entre guerras – tornou-se parte da agenda política das organizações intergovernamentais entre o final dos anos de 1940 e início dos anos de 1950. A OECD elaborou o sistema padronizado das contas nacionais. Em 1953, os dados já começaram a ser publicados de acordo com aqueles padrões. Ao mesmo tempo, a ONU decidiu organizar o sistema de acordo com suas convicções para poder produzir contas nacionais comparáveis. Os dois sistemas foram fundidos em 1956.
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