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Os autores Sampaio e Marins (2004) ressaltam que desde os anos 70, do século XX, acentua-se no país o agravamento das condições econômicas e a deteriorização do sistema público de ensino. Essa situação colabora, portanto, em efeitos negativos para o professor e para o aluno.
Gasparini e colaboradores (2005), diz em seus estudos que, na atualidade, a responsabilidade do professor enquanto mediador se extrapolou, pois, sua jornada foi ampliada visto que este além do papel de professor tem que participar de gestões e planejamentos, exigindo-se ainda a dedicação não somente com seus alunos, mas também com a família e a comunidade.
Com isso, exige-se uma preparação mais especializada do professor, fazendo com que os educadores atentem-se mais para a sua formação acadêmica, para que se sintam valorizados em relação ao que se espera do seu trabalho e até mesmo com a resposta que estes terão no desenvolvimento dos seus alunos. A título de exemplo, em 2002, o IV Congresso Nacional de Educação registrou índices que comprovam este déficit (quantidade de professores necessários e qualificados para a demanda atual). De acordo com a pesquisa da autora Souza et al.( 2003 apud GASPARINI et al., 2005) seriam necessários mais de 886731 professores para a educação infantil e 167706 para o ensino médio.
Segundo os estudos de Gasparini e colaboradores (2005), em tais circunstâncias os docentes acabam comprometendo sua saúde física e mental, diminuindo o rendimento e a qualidade do seu trabalho.
Sampaio e Marin (2004) afirmam que os efeitos que se dão em relação à precarização do trabalho docente, que não são recentes no país, abrangem todo o sistema de ensino, sendo constante e crescente na vida do professor e o aluno. Portanto, torna-se necessário compreender estas práticas curriculares. A falta de habilitação do docente, a precariedade e a má qualidade de material didático, se resumem em contratações de pessoal sem habilitação para lecionar. Com isso, suprem as necessidades das redes públicas.
O conjunto de medidas consideradas necessárias ao alinhamento do país às prioridades acordadas no âmbito Nacional, não poderão ser superestimadas, afirmadas nos parâmetros curriculares nacionais (PCN) elas são articuladas às avaliações externas, que se classificam as escolas e as obrigam redirecionar seu trabalho pedagógico (SAMPAIO; MARIN, 2004). Com base nessa realidade, Sampaio e Marin (2004) destacam o crescimento dos quadros do magistério, que se apresentam nos órgãos governamentais em tomadas de decisões para enfrentar tal precariedade, de modo que possam suprir, sobretudo as redes públicas de ensino na contratação de pessoal.
Para Santos (2008), as interfaces educativas indicam um universo de reações interpessoais, que tencionam a profissão do educador. Entretanto, o educador deve buscar alternativas pessoais para que estas proporcionem um caminho para a autorrealização, chegando ao processo de autoconhecimento, revelando o ser humano em todas as suas ações, configurando os seus saberes e objetivos.
O professor e a escola como um todo podem ser um elo muito importante entre o educando, a família e a sociedade, no intuito de observar ou até mesmo apontar soluções a problemas que interferem diretamente no objetivo maior da educação, que é a aprendizagem do aluno (SANTOS, 2008).
Segundo Libâneo (1998), o mundo contemporâneo pede uma participação mais efetiva da escola. O autor destaca a importância de a escola ser valorizada para que com ela, se reforce a luta contra a desigualdade e a marginalização social.
A valorização da educação geral propicia um educador preparado, com mais cultura, mais polivalente e flexível (LIBÃ,NEO, 1998). Com isso, o processo de valorização resulta em novas habilidades cognitivas, competências sociais e pessoais, ou seja, melhorando a convivência entre professor e aluno (LIBÃ,NEO, 1998).
Libâneo (1998) ressalta também que a vida contemporânea afeta as práticas de convivência humana, ou seja, com os avanços dos meios de comunicação mexem direto com o trabalho do professor, uma vez que os próprios alunos levam o seu cotidiano, a rua, a cidade, a televisão e os problemas para a classe. Desta forma, o professor precisa estar preparado para lidar com essas diversidades, procurando reciclar seu conhecimento, rever o cotidiano e refletir criticamente a realidade, buscando os fatores envolvidos.
Com base nos estudos de Patinha (1999 apud SAMPAIO; MARIN, 2004) e Paiva (2002), professores sem habilitação, que atuam em disciplinas de áreas diferentes, que muitas vezes não constam mais nas relações da Secretaria da Educação como habilitados, são classificados como PEB I (Professor da Educação Básica I), similares a professores primários, sendo um artifício administrativo para ocultar tais situações.
De acordo com Corsino (2006), se falando de currículo e ensino, pesquisas levam em discussão a lei nº 9.394/1996 do PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), onde o objetivo é tornar obrigatório o início do ensino fundamental aos seis anos de idade.
A inclusão da criança de seis anos no ensino fundamental provoca uma série de indagações sobre o que e como se deve ou não ensiná-las, nas diferentes áreas do currículo. A preocupação é com a singularidade de cada sujeito e não com a padronização de comportamentos e ações.
Corsino (2006) ainda afirma que o conhecimento se dá nas suas interações com o mundo sociocultural, tecendo os seus conhecimentos. Como resultado de estudo, a autora classifica a responsabilidade imposta a esses profissionais como um desafio, tanto na educação infantil, quanto no fundamental. Desafio este de observar e qual o significado nesse processo de interação visando o desenvolvimento de cada aluno.
A sensibilidade em cada produção infantil permitirá que o educador compreenda os interesses da criança, seus conhecimentos, respeitando seu grupo cultural. Contudo, essa visão possivelmente irá ajudar o educador a desenvolver um trabalho pedagógico focado em seu aprendente.
Entretanto, essa mudança na estrutura do ensino fundamental não deve se restringir na preocupação somente dos primeiros anos, visto que é um momento para repensar em todo o ciclo, tanto nos anos iniciais quanto os quatro anos finais.
De acordo com Correia e Martins (2012), nos últimos anos o número de alunos com dificuldades de aprendizagem teve um aumento considerável. Contudo, vale ressaltar a existência de um conjunto de fatores que contribuem para esse crescimento dentre eles a incompreensão do conceito por parte dos profissionais e também dos pais, a formação exígua dos professores, ou seja, falta de formação e com ela a falta de habilidade para trabalhar com a dificuldade de aprendizagem.
A pedagogia durante muitos séculos levou em conta apenas uma parte do ser humano: o sujeito epistêmico, que se dedica somente ao conhecimento, baseando-se nas capacidades ou habilidades que este indivíduo tem para conhecer (PAIN, 2009). Essa pedagogia não levava em conta que o indivíduo tem, ao mesmo tempo, uma história, algo que diferencia dos outros indivíduos, sua singularidade.
Segundo Pain (2009), no ambiente escolar se faz necessário o reconhecimento de cada aluno com a sua subjetividade, com o seu modo de aprender. Ou seja, considerar que ele é um ser humano único em desenvolvimento.
A realidade nos mostra uma generalização por parte de alguns educadores, olhando para um grupo de alunos como um todo, muitas vezes não permitindo a expressão desta singularidade, que pode se apresentar na forma de um erro ortográfico, mau comportamento, chegando muitas vezes estes alunos a serem rotulados pelo próprio educador, como alunos com problemas de aprendizagem.
De acordo com Pain (2008), no nível social, a aprendizagem é considerada como um dos pólos do par ensino-aprendizagem, cuja síntese constitui o processo educativo. Tal processo compreende todos os comportamentos dedicados à transmissão da cultura, inclusive os objetivados como instituição que, específica (escola) ou secundariamente (família), juntos promovem a educação.
A dificuldade de aprendizagem está cada vez mais em maior destaque, chegando a ser o assunto de congressos, pautas de reuniões de conselho nas instituições, preocupações estas vindas da maioria das classes envolvidas no crescimento, saúde e educação.
Medeiros, Loureiro e colaboradores (2003) assinalam que crianças com dificuldades de aprendizagem, enfrentam as situações cotidianas e as relações interpessoais, demonstrando condutas que indicam baixa capacidade de autorregulação, hostilidade e resistência a normas. Entretanto, pode-se considerar que existe uma correlação entre tais comportamentos, sendo eles fortes indicadores relacionados com a dificuldade de aprendizagem e a dificuldade em obter o sucesso em tarefas acadêmicas e nas relações sociais. De acordo com os autores acima, os alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem, continuam sendo alvo de resultados anuais de insucesso na vida escolar.
Segundo José e Coelho (2008), os problemas de aprendizagem referem-se às situações difíceis enfrentadas pela criança normal e pela criança com desvio do quadro normal, mas com expectativa de aprendizagem em longo prazo (alunos multirrepetentes). Considerando essas situações enfrentadas pelas crianças, o autor assinala que é imprescindível que o educador tenha em mente os princípios gerais do desenvolvimento, sendo um processo contínuo, começando das atividades mais simples para as específicas.
José e Coelho (2008) afirmam que, para um bom desenvolvimento, e para que se entenda o processo de aprendizagem e suas dificuldades, considera-se importante que faça parte deste desenvolvimento dois processos essenciais: a maturação (desenvolvimento das estruturas corporais, neurológicas e orgânicas) e a aprendizagem (resultado da estimulação do ambiente sobre o indivíduo, que se expressa, diante das suas vivências desenvolvendo diferentes formas de comportamentos em função das suas experiências). Ainda segundo os autores, o educador deve estar atento a essas etapas do desenvolvimento, colocando-se à disposição dos seus alunos na posição de facilitador da aprendizagem
Atualmente tem existido uma maior procura por soluções e por estudos sobre a dificuldade de aprendizagem. Dificuldade esta que tem se mostrado presente nos ambientes escolares e familiares. De acordo com Mendes (1992), os alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem à medida que não internalizam os conhecimentos ministrados no percurso escolar, são considerados por seus pais e principalmente professores como sendo os únicos responsáveis por esse acontecimento e desse modo, passam a desenvolver sentimentos de angústia, medo e insegurança e com isso, passam a contribuir para a baixa autoestima daquele que se encontra com esse déficit, como também naqueles que convivem com o indivíduo com dificuldade de aprendizagem.
Segundo Bandura (1992) diante de tais circunstâncias, geralmente essas crianças fixam-se mais em suas deficiências pessoais, nos obstáculos que irão encontrar e todos os tipos de resultados aversivos ao aprendizado, e desta forma os indivíduos que se percebem como ineficazes tendem a diminuir seus esforços e se esquivam rapidamente de situações de dificuldade. Bandura (1992) descreve a autoeficácia como sendo o senso da autoestima ou valor próprio, características consideradas importantes para o aprendizado. De acordo com o autor, os julgamentos de autoeficácia atuam como mediadores entre os fatores que influenciam o comportamento como, por exemplo, as aptidões, os conhecimentos, as realizações prévias e as habilidades.
Medeiros, Loureiro e colaboradores (2003) ressaltam que algumas crianças com dificuldade de aprendizagem apresentam um baixo senso de eficácia (competência para enfrentar problemas). Em dado domínio, tendem a evitar tarefas difíceis percebendo-as como ameaça pessoal. Essas crianças apresentam baixas aspirações e envolvimento com metas, não se atentando em como ter uma boa realização e desempenho.
Os autores Correia e Martins (2012) definem o conceito dificuldade de aprendizagem em duas perspectivas, sendo elas orgânicas (classificadas por desordens neurológicas que juntas interferem na recepção, na integração ou na forma da expressão de uma informação) e perspectiva educacional (dificuldade de aprendizagem que reflete num impedimento para a aprendizagem da leitura, da escrita, ou cálculo, gerando até mesmo um impedimento para as interações sociais). Entretanto, um aluno que apresenta tais dificuldades pode apresentar problemas em executar tarefas escolares, mas pode ter grandes habilidades em elaborar outras atividades.
Ainda com base nos estudos de Correia e Martins (2012), uma criança é considerada inapta para a aprendizagem quando ela não alcança os resultados proporcionais, isto é, considerando a sua idade e a sua capacidade cognitiva. Os autores ressaltam que a dificuldade de aprendizagem também envolve outros fatores, entre eles a hereditariedade (fator genético), ligado às famílias. Johnson (1998 apud CORREIA; MARTINS, 2012), assinalam outros conjuntos de fatores que são (os pré ou perinatais) que podem vir a ser a causa da dificuldade de aprendizagem no aluno.
É importante destacar que o excesso de radiação, o uso de álcool ou drogas durante a gestação, a incompatibilidade sanguínea (quando esta não é tratada), o parto difícil ou prolongado também fazem parte desses fatores contribuintes.
Os fatores pós-natais estão relacionados a traumatismos, tumores e derrames cerebrais, a desnutrição, substâncias tóxicas (por exemplo, o chumbo), a negligência e o abuso físico. Segundo Correia e Martins (2012), na maioria dos casos as causas da dificuldade de aprendizagem se encontram desconhecidas e deve ser desvendado o mais cedo possível. Com isso, os profissionais (principalmente os professores) e os pais devem estar atentos aos comportamentos das suas crianças, uma vez que não existem indicadores isolados para que seja identificada a dificuldade de aprendizagem.
Correia e Martins (2012) ressaltam alguns conceitos importantes para a aprendizagem dos alunos com dificuldade de aprendizagem, dentre eles a educação que se apresenta como um processo de aprendizagem e de mudanças que conduz o aluno através de outras experiências em que o mesmo é exposto nos vários ambientes onde interage.
A educação apropriada é citada pelo autor como resposta às necessidades educativas do aluno, ou seja, ela irá proporcionar ao aluno experiências que virão a ser construídas, através das suas realizações iniciais, com o intuito de aumentar o seu aprendizado tanto na vida acadêmica, quanto na vida social.
Segundo Mendes (1992), é necessário rever esta tendência de atribuir a responsabilidade somente ao aluno, o que é comum no cotidiano das escolas há muito tempo. No processo de ensino e no processo da aprendizagem existem dois sujeitos envolvidos: o que ensina e o que aprende e através dessa reflexão, é essencial pensar no que acontece com o aluno (possíveis motivos para sua dificuldade: defasagem cognitiva, alteração na dinâmica familiar, etc) e também com o professor (estratégias pedagógicas não adequadas às necessidades destes alunos).
Levando em consideração o aumento no número de alunos com dificuldades de aprendizagem e também o papel da escola no desenvolvimento dessas dificuldades, ressalta-se a importância da relação professor-aluno. Faz-se necessário pensar na importância dessa relação para o futuro da educação do nosso país.
De acordo com os estudos de Carlotto (2002), o professor passa a desempenhar vários papéis, que se apresentam muitas vezes contraditórios, exigindo muito mais do profissional. Essas exigências passam a cobrar do professor uma postura de conselheiro e amigo do aluno, sendo essa a forma essencial para a formação do cidadão.
Ainda com base no estudo da autora, alguns professores tentam manter a postura de autoritarismo, sendo apenas transmissor de conteúdos, resistindo a mudanças no decorrer dos tempos. Com isso, geram uma relação sem vínculos afetivos e assim, passam a não cumprir seu verdadeiro papel, que não é somente de transmitir conteúdos teóricos, regras e políticas educacionais e sim criar situações de forma inovadora para a troca de conhecimentos e valores.
Exige-se para ser professor uma gama de deveres a serem cumpridos e consequentemente, faz-se necessário que o profissional tenha plena consciência da importância do seu trabalho em desenvolvimento, para que com isso, consiga o respeito em sala de aula e interesse do aluno. Portanto, um professor comprometido e preparado para a sua função, estará atento ao primeiro sinal de dificuldade de aprendizagem que seus alunos apresentarem.
Correia e Martins (2012) corroboram que, as dificuldades de aprendizagem são geradoras de uma grande incompreensão por parte do sistema educacional e dos pais, deixando de existir o apoio que estes alunos necessitam, de acordo com as suas necessidades. É desta forma, segundo os autores, que tais consequências em muitos casos passam a ser nocivas para o aluno, criando situações que venham a prejudicar o desenvolvimento de um cidadão pleno, levando a comprometer seu futuro, levando a procura de caminhos diferentes do aprendizado e da educação, tais como a delinquência, a toxicodependência, o alcoolismo e ao desemprego.
A qualidade de ensino ministrado, o envolvimento dos pais, entre outros, a paciência e o apoio do professor, são fatores que determinam o sucesso escolar do aluno com dificuldade de aprendizagem (CORREIA; MARTINS, 2012). Para que esses primeiros sintomas em sala de aula não passem despercebidos é necessária uma postura atenta e ética para que esse aluno não seja deixado de lado.
No entanto essas crianças, envolvendo muitas vezes todas as faixas etárias, não conseguem acompanhar o currículo estabelecido, demonstrando seus fracassos com esses resultados. Essas crianças são classificadas como desinteressadas, preguiçosas e desatenciosas, rotuladas com essa problemática tanto pelo professor, quanto pela família e colegas de sala, sendo necessário o encaminhamento para um atendimento especializado, pois muitas vezes, não conseguem um lugar que a acolham no sistema educacional brasileiro. Existem planos de educação, metas de ensino que se resumem a números, resultando em propostas políticas em longo prazo, em reformas de educação, em busca de compreensão pelos baixos índices no resultado do ensino público. Enquanto isso, os alunos que já apresentam em seu início de aprendizagem esse déficit (dificuldade na aprendizagem), dependem unicamente de um olhar mais profundo daquele que está com ele a maior parte do dia, acompanhando o seu desenvolvimento, suas evoluções, fracassos e sucessos.
3.1 A INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA NAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
De acordo com Gervoni (2008), a família atual vive um momento especial dentro do que chamamos de pós-modernidade. Embora as transformações nos modelos familiares sejam constantes e aconteçam gradativamente através dos séculos, as duas últimas décadas parecem acelerar ainda mais as mudanças.
O período é de mais tolerância dos pais em relação a determinados comportamento dos filhos. Por conta das longas jornadas de trabalho, a família está hoje invertendo valores quanto à educação dos seus filhos.
Gervoni (2008) destaca em seus estudos que, sem perceber, os pais transformam filhos em bumerangues (arcos, uma arma de caça feita de madeira em forma de meia lua). Quando o alvo não é atingido, o bumerangue retorna às mãos do atirador e assim poupando-lhe a construção de uma nova arma. De acordo com o autor, na medida em que os filhos não são preparados para atingir os alvos da vida (a educação familiar, os estudos e uma vida social sadia), eles voltam para as próprias mãos, cheios de insucessos, entre eles o despreparo profissional e a falta de adaptação social.
A realidade tem mostrado aos pais, aos profissionais de ajuda e aos educadores, que a criança criada numa família disfuncional (que não consegue cumprir de forma regular suas funções) terá menos possibilidades de sucesso, desde a escola até os demais setores da vida. Ainda segundo Gervoni (2008), são constantes os modelos de "presença ausente", que se enquadram na educação permissiva, onde o "não" é pouco usado para os filhos, para não magoá-los ou compensá-los de algo que não pode dar; pais repressivos – que tolhem as ações, desfazendo planos e apagando sonhos de seus filhos. Com isso, vale ressaltar que tais consequências também são geradas pela falta de convivência no dia a dia, suprindo tais faltas "industrialmente". Ou seja, precisam mais da convivência familiar do que longos períodos na frente da TV, ou de qualquer objeto terceirizado artificialmente.
A família hoje se esquece que também é responsável pela educação dos seus filhos, deixando essa grande responsabilidade depositada nos professores.
É preciso que os pais se conscientizem que grande parcela de culpa sobre as dificuldades de aprendizagem vem do ambiente onde as crianças vivem, muitas vezes pela correria do dia a dia, deixando de ser um ambiente alfabetizador.
Vale ressaltar que no ambiente escolar, os pais daquelas crianças que estão em fracasso, raramente aparecem na escola se mostrando interessados pela vida escolar do filho. Famílias estas que desconhecem o que está sendo aplicado para seus filhos em sala de aula. Contudo, quando os pais são cobrados pela responsabilidade que lhes é atribuída, transferem-nas para o professor, mas sequer conhecem a agenda do filho.
A criança com esse perfil de família passa a não ter uma supervisão adequada em seus estudos e como consequência, fica desmotivada e sozinha, passa a não ter estímulos, pois somente tem a escola tentando fazer o seu trabalho e assim, a criança não se desenvolve.
Pereira e colaboradores (2005) ressaltam que é difícil para os pais perceberem a influência que exercem no comportamento dos filhos. Eles expressam como gostariam que os filhos se comportassem, mas não atentam para as consequências que fornecem a eles quando agem de maneira adequada e inadequada.
A criança deve ser capaz de pedir e aceitar auxílio na realização das tarefas escolares. O aumento das habilidades da criança melhora não somente as relações familiares, como também em relação à escola. É preciso união da escola e da família.
Hoje se faz necessário que uma criança aprenda com estímulo, não partindo somente do professor, mas que o ambiente (casa) seja também adequado para que este objetivo seja atingido, com isso existindo neste ambiente, exemplos bons a serem seguidos, pois a criança aprende pelo modelo.
Segundo Tiba (2006), filhos e alunos devem ser preparados para transformarem-se em cidadãos do mundo: éticos, competentes e felizes. A disciplina entra como qualidade de vida pessoal e social. Hoje os novos paradigmas de uma sólida educação contemporânea exigem que não se permita que as crianças façam em casa e em suas respectivas escolas o que não poderão fazer na sociedade.
Sem dúvida, em todos os ambientes é preciso disciplina na educação. Mas como dar aquilo que muitas vezes não se tem? As famílias são cobradas das escolas, das igrejas, da sociedade em geral, sobre limite e disciplina para seus filhos.
Alguns pais desconhecem o significado da disciplina, pois seus comportamentos diante dos filhos mostram o contrário daquilo que se quer aplicar, mostrando o que faltou para os próprios pais. A criança passa a crescer sem rumo, sem uma direção, com dúvidas, tornando-se vulnerável, sendo presa fácil para a marginalidade. Como destaca Tiba (2006, p. 22), "a força dos pais está em transmitir aos filhos a diferença entre o aceitável ou ao adequado ou não, entre o que é essencial e supérfluo, e assim por diante".
O essencial é algo inadiável, algo importante. O estudo se mostra algo essencial e a rotina de estudo nos dias de hoje se faz necessário nas famílias. O estudar não se resume somente em fazer tarefas na escola, juntamente com professores e colegas.
Estudar requer a supervisão familiar, o se mostrar interessado pelo que a criança já sabe fazer, nas suas conquistas acadêmicas, e pelo que a criança sente dificuldade em aprender e realizar. Uma família que não acompanha seu filho nessas tarefas, não participa desses momentos importantes no crescimento intelectual da criança. Uma mãe que supervisiona os estudos de seu filho consegue notar quando a criança está cansada, ou de olhar para a criança na saída da escola, sabe decifrar no rosto do seu filho, se algo está incomodando, se está feliz, se está alegre.
Esse convívio estreita os laços, fazendo com que a criança crie uma confiança em dividir com os pais suas conquistas, podendo compartilhar suas inseguranças, e muitas vezes o medo de aprender. Segundo Tiba (2006, p.49)
Cada criança tem o seu ritmo. Umas são mais concentradas que outras e gostam de ver o seu trabalho pronto. Outras querem ver logo o resultado, sem paciência. Estas precisam de maior atenção dos pais para que aprendam a ter prazer em cada etapa realizada.
A criança sente prazer em realizar sozinha sua atividade. Em muitas situações a mãe acaba atropelando a criança, fazendo por ela, podendo transmitir-lhe de que ela é incapaz. Essa atitude de tanta dedicação pode provavelmente ter outro efeito tal como diminuir a autoestima da criança, levando-a a privar-se da sensação de prazer obtida quando consegue mostrar para si mesma que é capaz. Mediante isso passa a entender que deste modo, poderá receber tudo pronto, sem esforço. Desta forma, esse entendimento errôneo é levado também para o ambiente escolar, fazendo com que a criança não se engaje em suas atividades, ficando na sala de aula apático, esperando que façam com ela na escola o que é feito em casa, tudo pronto de acordo com a sua vontade.
Segundo Tiba (1999, p. 50), "a responsabilidade é consequência da confiança que os pais depositam no filho para a realização de algo que lhe cabe naturalmente". O autor ressalta que os pais devem reconhecer a eficácia dos filhos em determinadas tarefas, permitindo e contando com a cooperação da criança, promovendo a autoestima, estimulando a criança a ter iniciativa e com isso abrindo espaço para uma relação mais próxima de convivência familiar.
Os momentos com os filhos, mesmo que sejam curtos, precisam ser de qualidade já que nos tempos de hoje, as famílias sentem mais dificuldade em dar devida atenção para seus filhos. O tempo se torna curto e a explicação geralmente é o trabalho.
Rizzini (2011) afirma que a qualidade de uma boa relação entre pais e filhos não centraliza na quantidade de horas e sim na qualidade da convivência. O que precisa é ter boa vontade e um pouco mais de tolerância entre as partes envolvidas. A autora ressalta que a instituição escolar tem como função social de ensinar (conhecimento) e a instituição família têm a função social de educar (valores). Para que se realizem essas funções de forma positiva, é necessário um trabalho integrado entre escola e família. Um momento para um filho não pode se dar junto de uma sessão de jornal das oito, nem juntamente com a novela das seis. O momento em que está com o filho, tem que ser por inteiro, corpo e mente.
De acordo com Machado (2011), ao entrar no universo infantil, o adulto fascina a criança. A autora ressalta a importância do momento entre pais e filhos e a sua comunicação.
Uma criança percebe quando ela está sendo enrolada, por um adulto. E essa sensação pode ser entendida como se ela fosse menos importante naquela família, que aquilo que ela gostaria de compartilhar é menos importante que aquele jornal ou novela.
Tiba (2006) ressalta que desde que surgiu a internet e o computador passou a "residir" no quarto dos filhos, as portas fechadas incorporaram novos significados. O jovem tranca-se no quarto não só para se isolar dos pais e ouvir no mais alto volume suas músicas preferidas, muitas vezes para conectar-se com o mundo interior.
Faz-se muito importante respeitar a privacidade dos filhos. Desde que sua privacidade seja de forma sadia para a criança ou o adolescente. Pode-se criar uma criança autoritária e desobediente por culpa dos próprios pais que por estarem ausentes da rotina do filho permitem, por um sentimento de culpa, que a criança faça tudo que desejar.
Tal comportamento dos pais é prejudicial à própria criança, que lá fora não encontrará facilidade. A escola então, também procura subterfúgios para "escapar" da culpa pelos possíveis fracassos escolares, entre as desculpas mais frequentes está a de culpar os pais pela falta de tempo no convívio com os alunos com problemas de aprendizagem, relacionamento, entre outros.
Buber (2006) atribui como uma lógica ou semântica da linguagem, o que faria da palavra um simples dado, o sentido da portadora de ser, sendo através da palavra a introdução do homem na existência. O diálogo, o saber ouvir, tem-se mostrado um elemento facilitador no aprendizado.
Quando se houve um aluno, aplica-se a teoria reflexiva, um processo de conscientização que desenvolve a partir do momento em que as pessoas e seus grupos discutem e passam a enfrentar seus problemas comuns, libertando-se do desgastante convívio, quando não existe o diálogo na sala de aula.
De acordo com Buber (2006), a falta de diálogo é um fator que contribui para a falta de estímulo. Quando um aluno é ouvido, se dá a troca de informações entre professor – aluno, demonstrando reciprocidade e aprendizado. Para o autor, a analogia dialógica e dialética, se fazem presente no processo do aprendizado, na dialética no sentido de estarmos sempre em contato com o outro na dinâmica de aprender. Na dialógica, não somente configurada na relação eu/tu, ensinante, aprendente, mas principalmente no exercício do diálogo, na troca de experiências.
O aluno que consegue dialogar no momento de suas dúvidas passa a confiar mais no seu desempenho e no seu educador. Muitos profissionais de forma consciente e inconsciente se colocam frente a frente a uma barreira, não deixando o aluno se expressar, dificultando a acessibilidade da procura para o esclarecimento de suas dúvidas e temores tanto no que se refere a atividades pedagógicas, quanto as suas dúvidas pessoais.
Pereira e colaboradores (2005) destacam a importância da participação dos pais, para que compreendam os déficits e as potencialidades dos filhos e com isso venha a auxiliá-los em suas reabilitações cognitivas, percebendo as necessidades orgânicas e afetivas. Frente a essas convicções, a colaboração dos pais e sua compreensão tornam-se um elemento facilitador para a relação professor e aluno.
Segundo Belloti e Faria (2010), o diálogo entre o professor e o aluno, desafia o aluno a pensar e a criar, estabelecendo um parâmetro entre os conteúdos estudados e as experiências vividas. Ao se falar em ambientes de aprendizagem, ressalta-se a grande importância do engajamento de tais profissionais em trabalhar de maneira que se estimule a vontade de aprender de seus alunos. Entretanto, que esta forma de trabalhar não comprometa as responsabilidades de envolvimento dos alunos, no que se diz respeito ao conteúdo a ser aprendido.
De acordo com Pain (2009), haverá sempre educadores que lutam por experiências inovadoras e essas experiências ficam como modelos, como possibilidades de transformação. Dessa forma, é possível levar adiante o novo, um conteúdo atual, apresentando um ensino de qualidade para todos independentemente de classes sociais.
Atualmente existe uma limitação, pois para os menos favorecidos não se garantem uma igualdade. Existe uma diferenciação entre ricos e pobres, ou seja, os alunos que mais precisam de um estímulo, de um olhar diferenciado, que necessitam que se faça valer seus direitos, que se encontra em situações de extrema pobreza e negligência, onde somente a escola se faz um ambiente de socialização, aprendizagem e até mesmo de alimentação, ou seja, fatores socioeconômicos, descritos pelos autores Pereira et al. (2005), dos quais os pais participam sem a perspectiva de uma mudança a curto prazo.
Em decorrência de posturas dominadoras, a escola nem sempre desempenha um trabalho satisfatório. Diante da falta de preparação de alguns profissionais, que ao apresentar novos elementos às crianças para pensar, muitas vezes os professores as impedem de se expressar, colocando o conteúdo de forma autoritária e instalando um regime dominador em sala de aula.
Segundo Tassoni (2000), experiências vividas em sala de aula ocorrem, entre os envolvimentos das pessoas, transformando-se um plano interpessoal, ou seja, externo. Através dessas experiências surge à mediação entre alunos e professores, (relação intrapessoal), um processo interno que passa a desenvolver autonomia no sujeito, fazendo parte de sua história individual. A autora assinala que no decorrer do desenvolvimento afetivo, uma relação entre o professor e aluno, assemelha-se como a relação entre mãe e filho, ou seja, assim como a mãe está sempre atenta aos comportamentos da criança por seu extinto materno, o educador também deve estar atento e cuidar do seu aluno.
Se o professor não dá a liberdade de expressão ao seu aluno, desta forma ele não o conhece, pois é somente dialogando que vai estar mais próximo. Mas, é preciso que esse diálogo seja compreendido pelos alunos de uma forma disciplinar, onde haja regras, respeito, tanto do docente para o discente e ou vice-versa. Essa relação se mostra, principalmente quando se envolve diferentes classes sociais. Como destaca Pain (2009);
Se o professor não pertence à mesma classe social do aluno, o preconceito pode aparecer, e nesse preconceito há um desejo que podemos expressar da seguinte forma: para que eu seja o que sou é preciso que o outro seja o que é.
É preciso uma reciprocidade, respeito ao aluno, e dele para com o professor, se transformando em troca de saberes. O educador precisa ser mediador, facilitando espaço de desafios, oferecendo às crianças a oportunidade para desenvolver suas capacidades e conquistar autonomia social e intelectual, tendo como eixo fundamental a ética, a justiça e os direitos humanos. Com isso, apresenta-se uma tarefa difícil de ser concluída, sobretudo aos percalços que as políticas educacionais e a organização produtiva nos impõem.
Mas, através de um olhar atento se pode mudar totalmente o foco da procura para grandes respostas no que diz respeito à aprendizagem. Uma postura incorreta, um lápis usado de maneira inadequada, a presença de sincinesias (contrações musculares involuntárias que ocorrem com o movimento voluntário de um grupo muscular diferente), o professor já deve ficar em alerta. Essa postura é essencial para que haja desenvolvimento das potencialidades próprias de cada criança. Ao demonstrar interesse pelo que a criança sabe fazer, de forma inovadora, com estímulos, desenvolvendo vínculos afetivos, buscando a causa e observando comportamentos e reações. Atitudes como estas, consideradas pontos fundamentais, fazem com que a criança volte para si mesma, aprendendo, se interiorizando, facilitando o desenvolver da sua inteligência. Com isso se estabelece um espaço de vivências e trocas, permitindo que a criança fale do seu mundo, através de gestos e brincadeiras, expressando suas fantasias e conflitos.
4.1 O BULLYING, CIBERBULLYING E A DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM
De acordo com Tiba (2006), o termo bullying vem do verbo inglês bully, que significa intimidar, tiranizar. Pawel (1975, apud TIBA, 2006), em sua monografia para titulação como terapeuta de aluno pela Federação Brasileira de Psicodrama, cita o fenômeno conhecido como bullying: "Não é uma violência explícita de alta periculosidade, mas de agressividades menos ostensivas, toleradas socialmente. [...] São atitudes hostis repetitivas, por exemplo, entre colegas de classe, motivadas por diferenças culturais, raciais, sociais, características físicas, etc."
Atingidas cronicamente, as pessoas acabam se isolando, com sua autoestima diminuída e com tendências a abandonar a escola – em casos mais graves, com tendência ao suicídio. Tiba (2006) assinala que o bullying só é interrompido quando existe a interferência de pessoas que possuem autoridade perante aqueles que o praticam. Feita a intervenção, enfrentando o causador do bullying, mostra aos alunos de forma educativa a aceitação, o respeito e a convivência com as diferenças.
Quando o professor não toma nenhuma atitude, pode ser interpretado o fato como uma aprovação, se estendendo e se agravando, tornando-se um ato mais violento. Em relação à sala de aula, o educador precisa ficar atento a tais comportamentos, principalmente quanto aquele aluno que já apresenta dificuldade no aprendizado. O bullying em sala de aula, frente à dificuldade de aprendizagem se faz como um fator significativo para o desenvolvimento negativo, desfavorecendo um desenvolvimento satisfatório no ambiente escolar.
Tais comportamentos podem se apresentar até mesmo de maneira inconsciente perante aqueles alunos que se encontram em condições saudáveis para o aprendizado, aqueles que estão dentro dos padrões normais em seu desenvolvimento cognitivo. Esses alunos que praticam o bullying apresentam necessidade de novos desafios.
Quando o ambiente escolar não se mostra em sintonia com essa busca, esses alunos passam a procurar algo que satisfaça a falta de conteúdo que venha preencher essa lacuna.
É neste momento que acontece na maioria das vezes o desenvolvimento desses comportamentos negativos diante dos colegas que sentem um pouco mais de dificuldade para aprender. Essas crianças são ironizadas, passando a ter vergonha de perguntar, se fechando no medo, indefesas, atrapalhando ainda mais seu desenvolvimento.
Fato esse que vem acontecendo com frequência no contexto familiar e no escolar, quando uma criança que não aprende é chamada de adjetivos pejorativos, como burra, orelhuda, etc. Sua autoestima que até o momento já não é estimulada, por suas inseguranças, passa a ter oscilações, e cada vez mais a criança passa a desacreditar na sua capacidade de aprender, se fechando frente à aprendizagem.
Com frequência o aluno indefeso possui distúrbios (ou diferenças) de comportamento: isolamento, choro fácil, dificuldade em reagir á provocações, maneirismos, deficiências ou anormalidades físicas, auditivas, visuais e de fala (TIBA, 2006).
Segundo Tiba (2006), pode existir rejeição também em virtude da cor da sua pele, de sua etnia ou religião. Sobretudo nesses casos, os professores devem aproveitar a oportunidade para ensinar os alunos que o respeito humano é ingrediente indispensável à convivência universal, ou seja, sem preconceitos.
Mediante esses comportamentos, pais e filhos devem ser orientados, por profissionais que possam ajudar na adaptação escolar, pois, nem sempre um aluno é frágil e quieto em casa, pois em seu habitat, sente-se protegido e todos a sua volta se adaptam ao seu jeito de ser.
Mas é preciso muito cuidado, pois os filhos devem ser educados para conviver não somente em família. O saber se defender se faz um fator primordial para uma boa vivência, sendo muito importante na aprendizagem.
Tiba (2006) assinala que uma criança segura consegue se expressar frente as suas dificuldades, procura dialogar com o professor. É desta forma que ela procura soluções frente aos desafios que principalmente a vida escolar lhe impõe. Já aqueles que se encontram tímidos, indefesos, e ainda vítimas de bullying, se fecham no seu sofrimento, criando-se um bloqueio na hora de aprender.
Segundo Lopes (2005), a escola é vista tradicionalmente como sendo um local de aprendizado, onde se avalia o desempenho dos seus alunos em tarefas acadêmicas. O autor cita o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e a convenção sobre os direitos da criança da ONU (Organização das Nações Unidas). Nestes documentos estão presentes os direitos ao respeito e a dignidade, e estes ao serem concretizados, promovem o desenvolvimento da pessoa para o exercício da cidadania.
A escola representa uma grande significância para crianças e adolescentes, e quando um aluno não está socializado em seu ambiente escolar, apresentam maior probabilidade de desenvolver resultados insatisfatórios, e com isso possivelmente comprometimentos físicos e emocionais (LOPES, 2005).
Lopes (2005) enfatiza que os relacionamentos interpessoais positivos e o desenvolvimento acadêmico estão relacionados ao desempenho do aluno. O autor destaca que esses alunos precisam sentir que estão sendo apoiados, para que tenham maiores possibilidades de aprendizagem.
Assim como o bullying, a vitimização também tem consequências negativas tanto a longo e curto prazo sobre todos os envolvidos, aos agressores, as vítimas e observadores (LOPES, 2005). A regularidade com que o bullying é praticado contribui para o agravamento dos seus efeitos, sendo assim, o medo, a tensão e a preocupação da vítima com a sua imagem, podem comprometer o desenvolvimento acadêmico do aluno, aumentando a ansiedade, a insegurança e o conceito negativo de si mesmo (LOPES, 2005).
Portanto o bullying só é interrompido pela interferência de pessoas autoridade sobre seus praticantes. O enfrentamento do bullying se dá como uma medida disciplinar e com isso prepara os alunos para a aceitação, o respeito e a convivência frente às diferenças que estes encontrarão ao longo de suas vidas. Em contrapartida, na atualidade se faz presente no ambiente virtual (a internet) o ciberbullying (bullying praticado pela internet, bastante comum em redes de relacionamento).
De acordo com Tiba (2006), a internet, praticamente ao alcance de todos os alunos, é muito usada para se marcarem encontros, passeios, comemorar datas, e até mesmo para a prática do ciberbullying.
A internet, por si só, é um veículo que pode ser usado para o bem e para o mal, conforme seus usuários. Seguindo a mesma linha de pensamento do autor, se faz necessário muito cuidado dos pais, frente a essas facilitações de relacionamentos que a tecnologia apresenta.
Crianças ainda pequenas, recém alfabetizadas, dominam as teclas dos aparelhos eletrônicos com destreza, e muitas vezes frente a essas demonstrações de inteligência, muitos pais deixam de supervisionar seus filhos, deixando-os muito a vontade, se tornando presa fácil aos perigos que rondam também o mundo digital. Perigos esses que a família em alguns casos desconhece, pois, muitos pais ainda não dominam o uso da internet.
É neste momento que crianças e até mesmo adolescentes, sentem-se com muita liberdade para aumentar seus contatos. E com isso muitas vezes, conversando com o próprio perigo, sem orientações, deixando-se levar por direções opostas, do que realmente é adequado para sua idade.
Com tais atitudes acabam se dispersando frente ao aprendizado, não dando tanta importância para o aprender. A leitura vai se tornando coisa do passado, os livros já não são mais procurados, transformando-se tal comportamento em dificuldades de leitura e escrita.
La Taille (1992) define a afetividade como não apenas uma das dimensões das pessoas, mas também como uma fase do seu desenvolvimento. Para o autor, a afetividade diferencia a vida racional. Partindo do início do crescimento, a afetividade e a inteligência caminham juntas. Portanto, se faz necessário a reciprocidade desses dois desenvolvimentos, para que através da afetividade, crie-se um espaço saudável para o desenvolvimento da atividade cognitiva e a exploração da realidade, adquirida com a maturação (LA TAILLE, 1992).
De acordo com Oliveira (1998 apud SOUZA, 2002), a afetividade tem profunda influência sobre o desenvolvimento intelectual, podendo promover a aceleração do ritmo de aprendizagem.
O afeto, segundo a autora, se apresenta de várias formas, como sentimentos subjetivos (amor, raiva, tristeza...) e nos aspectos expressivos (sorrisos, gritos, lágrimas...). Após desenvolver o vínculo afetivo, a aprendizagem, a motivação e a disciplina resultam em autocontrole e bem estar do aluno e com isso, a relação professor e aluno se fortalecem, contribuindo para a formação da autoestima OLIVEIRA, (1998 apud SOUZA, 2002).
Além disso, a autora ressalta também que a autoestima influi no aprendizado; a autoestima elevada contribui para a capacidade de aprender, assim como a baixa autoestima compromete o rendimento e a competência.
Jusani (2009) assinala que pouco tem se pensado sobre o valor da afetividade na aprendizagem, destacando também a importância de uma relação saudável e confiável entre educador e educando. Segundo o autor, o ser humano é fruto da sua interação com o mundo e através destas interações se dá a formação da sua personalidade e habilidade, adquirindo e reformulando conhecimentos a partir da sua relação com o outro e com isso, desenvolvendo os seus sentimentos.
Vale destacar que o professor deve observar o aluno como um ser humano em construção, respeitando seus conhecimentos vindos do ambiente onde convivem. Contudo, o despertar dos vínculos afetivos estreitam os laços entre professor e aluno, sendo eles essenciais para o processo cognitivo.
O educador necessita, segundo Jusani (2009), refletir, rever seus conceitos, sobre seus métodos e seus velhos paradigmas para despertar em seu aluno a vontade de aprender. De acordo com o autor, para que um educador tenha um bom êxito no processo de construção do conhecimento e no estímulo do seu aluno, é preciso bem mais do que metodologias modernas e titulações, o professor precisa ter consciência de que está em suas mãos a responsabilidade de construir o conhecimento do seu aluno, sendo a sua função tornar esse momento agradável e prazeroso.
A afetividade estende-se nas etapas evolutivas (BEAN, 1995 apud SOUZA, 2002) e o desempenho do aluno tende a ser de sucesso, pois a reflexão e o sentimento precedem a ação, demonstrando "força" nas expectativas positivas, diferente daquele aluno que se sente incapaz, ou seja, o aluno sente-se bem sucedido a cada sucesso alcançado, considerando-se mais competente.
Lopes (2009) ressalta que boas interrelações promovem um ambiente mais agradável e com isso facilitam a oportunidade de um processo de ensino aprendizagem mais eficaz, manifestando-se por meio de diálogo, troca, paciência, compreensão e tolerância.
Contudo, Libâneo (1998 apud LOPES, 2009) o professor deve adotar uma postura de afeto no contexto grupal, não se referindo para apenas uma criança.
Ainda com base nos estudos de Souza (2002), o desenvolvimento do ser humano não está somente pautado em aspectos cognitivos, assim a sala de aula pode ser vista como um grande laboratório para se observar e até mesmo questionar os motivos pelos quais levam o convívio escolar a ficar sem estímulo.
O ser humano tem a necessidade de ser ouvido e acolhido, acima de tudo em ser compreendido. Neste sentido, a afetividade está também ligada na construção da autoestima, sendo pautada em partilha de sentimentos e respeito mútuos.
5.1 A MOTIVAÇÃO
Segundo Santos, Antunes e Bernard (2008), o espaço escolar representa um ambiente de socializações, constituindo-se em um marco para trocas afetivas e cognitivas, importantes e decisivas para as transformações do indivíduo. De acordo com as autoras, sob o ponto de vista educacional, a existência de um autoconceito docente está associada na representação que o próprio docente tem de si, como ensinante e aprendente.
O educador que se permite um bom nível de autoconhecimento torna-se capaz de identificar suas próprias atitudes, seus pensamentos, de maneira que seu autocontrole e seu bem estar orientem suas atitudes. Segundo Hertas (2001 apud SANTOS; ANTUNES; BERNARD, 2008), motivação é um processo que precede a ação do ser humano, muitas vezes intrínsecas, ou seja, o valor de uma ação está acondicionado a um resultado.
Segundo Bini e Pabis (2008), os conflitos existiram e sempre existirão, mas os professores precisam aprender a proteger sua emoção diante destes conflitos. Quando um professor se irrita e se desgasta frente a uma situação, é porque deixou sua emoção ser atingida, isto é perdeu seu controle e com ele a sua autoridade perante seus alunos.
O diálogo ainda tem sido a ferramenta essencial, em conflitos de sala de aula, o descompromisso de crianças e adolescentes, muitas vezes pela falta de acompanhamento da família por questões profissionais refletem na vida escolar do aluno (BINI; PABIS, 2008). Com isso, se faz necessário a postura do professor motivador, que através do diálogo consegue aplicar a disciplina em sala de aula.
As pesquisas de Raasch (1999) enfocam-se nos aspectos cognitivistas, juntamente com a motivação intrínseca e extrínseca, fazendo-se o uso de recompensas. Como brindes simbólicos, elogios pelas tarefas executadas, dando autonomia aos alunos. Desta forma sentem-se capazes. Questões presentes em sala de aula como a organização, se fazem agentes motivadores. Segundo a autora, o esforço tem sido um grande indicador para a motivação, sendo utilizado se o aluno acreditar na capacidade do êxito.
Visca (1987 apud SÁ et al.,2008) assinalam que a psicopedagogia que inicialmente foi uma ação subsidiária da medicina e da psicologia, perfilou-se, como um conhecimento complementar, possuída de um objeto de estudo (o processo de aprendizagem) e de recursos diagnósticos, corretores e preventivos.
Segundo Sá et al. (2008), a psicopedagogia é uma área que estuda e lida com o processo de aprendizagem e suas atividades, e que em sua ação profissional, engloba vários campos do conhecimento. Os primeiros centros psicopedagógicos em sua primeira forma de atuação da psicopedagogia foram fundados na Europa, a partir da segunda metade do século XX. O objetivo desses centros era atender pessoas que apresentavam dificuldades de aprendizagem, por meio de integração de conhecimentos pedagógicos e apesar de alguns ramos de estudos, apresentarem mais desenvolvimento fora do país, hoje a psicopedagogia no Brasil tem se desenvolvido bem, sendo influenciados seus modelos teóricos e práticos fortemente pelos modelos Europeus e Argentinos (MERY, 1985 apud SÁ et al., 2008).
Para Weiss (2008) o psicopedagogo não necessita somente um domínio teórico em seu exercício, pois a profissão exige uma percepção mais aguçada, ou seja, mais crítica. O psicopedagogo necessita de capacidade para juntar informações, processar saberes, sabendo separar cada caso. Para isso, o profissional de psicopedagogia precisa de uma saúde emocional, para que possa transitar pelas famílias em relações muitas vezes complexas, em processos de organização, identificar o problema e identificar uma possível saída, lembrando que essa saída é muitas vezes baseada em hipóteses e, portanto, requer uma postura cautelosa.
Os psicopedagogos, segundo Bossa (2007), são profissionais que devem estar preparados para a prevenção, diagnóstico e o tratamento dos problemas de aprendizagem. O diagnóstico clínico é realizado através de desenhos, histórias, atividades pedagógicas, jogos, brinquedos, entre outros, e tais recursos constituem-se em instrumentos fundamentais que revelam dados sobre a vida do aluno.
Bossa (2007) também comenta a respeito do trabalho do psicopedagogo institucional, aquele que vai atuar junto à escola, junto aos professores e aos outros profissionais, para que de forma multidisciplinar possam contribuir para a melhoria no processo ensino-aprendizagem de forma preventiva.
Ainda na linha de pensamento da autora, os professores quando encaminham um aluno ao psicopedagogo, em muitas situações estão em busca de orientação, de auxílio, preocupados com o bem estar e o aprendizado daquela criança. Então não se pode generalizar quando se é comentado que para os professores se isentarem de suas culpas pelo fracasso do aluno, transfere-os para o psicopedagogo.
Bossa (1996) afirma que, como especialistas no campo da aprendizagem, é fundamental que o psicopedagogo conheça o conjunto de leis que regem o processo de construção do conhecimento, ou seja, de acordo com a capacidade mental de cada criança, respeitando o seu limite cultural.
O processo de estruturação mental visa garantir a adaptação do meio, resultado de uma equilibração enquanto que a inteligência se constrói através da organização do vivido, no qual o sujeito se esforça para chegar num objetivo, resultando numa interação contínua (OLIVEIRA, 1998). A autora ressalta que a aprendizagem nasce com a vida e com ela se desenvolve pouco a pouco se organizando o contexto vivido, internalizando a ação.
No mundo atual, para Weiss (1996), a escola enquanto instituição produtora de conhecimento, muitas vezes leva o aluno a baixar o rendimento escolar, sendo traduzidos por dificuldade de aprendizagem, sem se atentar para uma possível ação patologizante da escola. Entretanto, a autora chama a atenção para as formas de avaliação no cotidiano escolar, por muitas vezes não levarem em conta o processo de construção do conhecimento.
Ainda de acordo Weiss (1996), as instituições visam o produto final, não considerando elementos fundamentais como métodos de ensino, relação professor-aluno e os objetivos das mesmas. Ela afirma que sem a prontidão, a criança não desenvolve as habilidades básicas para o aprendizado. O desrespeito à criança no seu ritmo poderá gerar ansiedades que as próprias dificuldades formadas, poderão estancar o processo de aprendizagem (WEISS, 1996).
As diferentes formas apresentadas das queixas relacionadas às dificuldades de aprendizagem, trazidas pelos pais, pela escola ou pelo próprio cliente, requer uma profunda análise do psicopedagogo, nos seus diferentes significados (WEISS, 2008).
O psicopedagogo, segundo a autora, deve se atentar nas posturas, nas falas, e muitas vezes esclarecer se o motivo manifestado do diagnóstico pela escola é repetido pelos pais sem elaborações posteriores. É importante ainda fazer questionamentos sobre vínculos formados pelos educadores nas diferentes situações que envolvem o os âmbitos escolares e familiares (WEISS, 2008). Como destaca Fernández, 2008, p.01,
Se um aluno "está no mundo da lua", o problema do professor será o de trazer a "lua" ao mundo da criança, já que, se quiser expulsar a "lua" da aula, expulsará também o aprendente que há em seu aluno. Por outro lado, essas "luas" costumam ser habitadas pelas situações mais dolorosas da vida das crianças.
Segundo Fernández (2008), a psicopedagogia historicamente se relaciona com a enfermidade individual, em relação a perspectiva de recuperação, visando no que falta para o aluno no sistema educacional e ressalta a importância da afeição em sala de aula, do professor para com o aluno e com isso, aprender e entender dessas dolorosas luas que habitam em cada ser humano.
A preocupação do sistema educacional se apresenta focada no que existe para ensinar, enquanto poderiam aprender com as "luas" que habitam as crianças, deixando muitas vezes os professores impedidos de diferenciar o urgente do importante, ou seja, o que realmente se apresenta como dificuldade de aprendizagem e como e quando ela se manifesta (FERNÁNDEZ, 2008).
A autora ainda aponta que "muito mais importante que os conteúdos pensados é o espaço que possibilita fazer pensável um determinado conteúdo" (FERNÁNDEZ, 2008, p. 01). O psicopedagogo para que cumpra seu papel de forma ética e profissional, deve entender que quando uma criança não aprende automaticamente, ela está presa no sofrimento da não-mudança, pois quando um indivíduo renuncia a sua história, ou é impedido de construí-la, a primeira consequência que se apresenta após esse impedimento, é no enrijecimento de sua modalidade de aprendizagem, deixando para traz o seu processo de transformação.
Fernández (2008) ressalta que desta forma a postura do psicopedagogo é a de propiciar novas modalidades de aprendizagem para que essas se potencializem em possibilidades singulares de cada indivíduo, ou seja, para cada caso existente, oferecendo-lhe espaços para realizar novas experiências como aprendizes e com isso se favoreça o processo de aprendizagem.
O fracasso escolar afeta a criança na sua totalidade (FERNÁNDEZ, 2008). A criança que passa por essa experiência (vítima do fracasso escolar), sofre pela subestimação, ou seja, se entristece e adoece silenciosamente por não corresponder as expectativas dos pais e professores. É pertinente afirmar segundo a autora, que para essas crianças, os espaços escolares juntamente com seus professores costumam ser um lugar de reconhecimento de suas aptidões, onde procuram mostrar que são seres humanos capazes em suas habilidades e através dessas demonstrações, buscam um resultado, e esperam que estes sejam acompanhados de um estímulo positivo.
Fernández (2008) ainda afirma que a dificuldade de aprendizagem é uma realidade que aflige tanto individualmente quanto coletivamente. Sendo assim, se faz necessário um estudo minucioso no que se refere ao diagnóstico. A autora ressalta que tanto a desnutrição alimentar, a carência afetiva, a limitação do sistema de ensino e os fatores orgânicos não podem ser responsabilizados como únicos nos problemas de aprendizagem. A tarefa do profissional de psicopedagogia é a de ajudar a recuperar no aluno, o prazer de aprender.
Faz-se necessário pensar, segundo a autora, que a intervenção psicopedagógica precisa ser interdisciplinar, ou seja, trabalhar juntamente com outras disciplinas, em particular a pedagogia, com o intuito de somar estratégias e estudos e não com a intenção de copiá-la, muito menos de substituí-la. A dificuldade de aprendizagem deve ser vista pelo psicopedagogo como um enigma a ser decifrado, e para isso as queixas devem ser éticamente ouvidas e entendidas. Desse modo, Fernández (2008) coloca que o "não sei" sempre aparecerá como uma única resposta, e quando isso acontecer, o profissional deverá perguntar o que não está sendo permitido saber.
Ainda corrobora Fernández (2008) que essa escuta e esse entendimento não devem situar-se somente no aluno, professor, sociedade, e família, o psicopedagogo deve atentar-se nas múltiplas relações entre essas vivências e o mundo que o cerca.
Sá et al. (2008) complementam que o objetivo do psicopedagogo é o de conduzir a criança, o adolescente, o adulto ou a instituição a reinserir-se, reciclar-se numa aprendizagem saudável, desta forma resgatando seus interesses no processo do saber.
6.1 A MEDICALIZAÇÃO INFANTIL
A prática da medicalização infantil tem sido parte de grandes questionamentos, e segundo Fiore (2005), discurso esse consolidado pela medicina, adentrando no campo da aprendizagem. De acordo com a autora, a escola se apresenta como um dos maiores campos de atuação no fenômeno "medicalização infantil".
Fiore (2005) corrobora que tais ações tem sido a causa de consequências muito negativas e dolorosas, pois basta uma queixa de uma criança agitada ou desatenta, para que seja prescrito o medicamento de tarja preta (Ritalina). A autora assinala que tal medida é fruto de uma sociedade de urgências, que busca constantemente uma eficiência, considerando um método (o de medicar), que age nesses casos controlando a subjetividade da criança.
Segundo Fiore (2005), existem crianças que necessitam de atendimentos especiais, dentro do seu quadro particular de saúde. Mas, pelo crescimento da medicalização mundial, crianças consideradas normais acabam sendo transformadas em crianças doentes, e sendo assim, essa prática da medicalização por rótulos, acaba se tornando um impedimento na identificação de crianças que realmente precisam de um acompanhamento especializado, tanto no campo da saúde, quanto no âmbito escolar.
Para que se reflita a respeito, Fiore (2005) considera tais atitudes instigantes e questiona porque tais comportamentos naturais do indivíduo classificado como características da personalidade e de atributos existentes na subjetividade de cada ser humano, como a atenção, a agressividade, a timidez, a impulsividade entre outros, poderiam ser encaminhadas para tratamentos psicológicos, terapêuticos, hoje se resumem em atributos considerados patológicos, e com isso tratados na grande maioria das vezes, pela medicalização sem avaliações prévias, ou seja, sem conhecer fatores considerados determinantes no histórico de vida da criança. É muito comum nos dias de hoje, generalizar tais patologias, possibilitando a facilidade de prescrever tais medicações (FIORE, 2005).
O autor explica tais ações como sendo a lógica do consumo, onde através de alguns medicamentos, o indivíduo consegue o controle do padrão de atenção, seus impulsos, ansiedades e com ela o medo. Entretanto, Fiore (2005) ressalta e questiona: o remédio tarja preta cura o sofrimento? A procura de soluções rápidas, movidas pelo imediatismo está relacionada com a falta de reflexão. O ritmo de informações que temos na atualidade faz com que o sujeito não tenha tempo para reflexões, determinados por uma série de obstáculos e sofrimentos que correlacionam a pessoa com a sua interação com o mundo.
De acordo com Olivier (2011), o Metilfenidato (Ritalina), usada basicamente para o controle dos transtornos e déficits de atenção, também como moderador da hiperatividade, é um medicamento polêmico. Segundo a autora, pesquisas nos Estados Unidos mostram que essas substâncias contidas nesta medicação podem agir no cérebro como a cocaína (substância que estimula o sistema nervoso central, extraída da planta Erytroxylon ou simplesmente coca). Nesses estudos também foi descoberto que as crianças que apresentam hiperatividade e tomam essa medicação ficam mais vulneráveis a possibilidade de se tornarem toxicodependentes em relação a crianças que não tomam essa medicação.
Ferriani (1998) corrobora que historicamente a educação e a saúde sempre estiveram articuladas na formação social do ser humano.
Com essa mesma reflexão, o Brasil, segundo Souza (2007), se encontra uma epidemia de casos de medicalização infantil e o remédio passou a fazer parte do processo de educação, atribuindo ao organismo da criança a responsabilidade pelo aprendizado. De acordo com as pesquisas do autor, crianças estão sendo diagnosticadas de forma errônea, sem receber a análise e a atenção devida particularmente, desta forma sendo ignorada a sua subjetividade. Com tal atitude Souza (2007) afirma que por conta dessas "drogas" prescritas, em muitos casos desnecessariamente, alguns profissionais acabam transformando crianças em consumidores de tratamentos medicamentosos e terapias.
Segundo Collares (1989), estamos vivendo um retrocesso. A criança acaba sendo responsabilizada por não aprender e com isso sendo medicada. A autora ressalta que o remédio não deve ocupar o lugar da escola e nem o da família.
A sociedade assinala Souza (2002), está deixando de considerar o processo de escolarização que acaba produzindo em suas "falhas" o não aprender e o não comportar-se no ambiente escolar, quando diagnosticam uma criança com algum tipo de distúrbio.
De acordo com Bossa (2007), sob a óptica geral da aprendizagem, o descobrir e o aprender devem ser um momento de grande prazer na vida de uma criança, pois, se não é, algo está caminhando errado. Ainda completa Bossa (2011, p. 11)
[...] Não adianta combater a febre, que é sintoma, sem identificar a infecção, a causadora do sintoma. É assim com o problema aprendizagem escolar. É preciso identificar a causa, combatê-la e tratar o sintoma.
Diante do exposto, é importante refletir que, para se dar um grande passo visando a buscar transformações concretas na vivência entre o docente e o discente, é preciso muita observação e estudo. A vivência que se dá em sala de aula, no dia a dia das instituições, é muitas vezes pautada pelo instinto manipulador.
Essa investigação nos trará grandes chances de entendimento para alguns problemas que estão relacionados aos planos governamentais de formação dos professores, levando em consideração o quanto é importante o papel do educador na vida do aluno.
Entre o professor e o aluno deve existir uma relação saudável, de transferência de saberes, de cultura e afeto, não usando o abuso do poder. Segundo Lisondo (2004) a função do educador é fundamental para construir a subjetividade humana. Ele precisa ser um sujeito pensante com identidade estruturada para poder alfabetizar emocionalmente aos bebês e crianças pequenas, para que sejam um modelo de identificação para os adolescentes e jovens.
É grande a responsabilidade do professor. Faz-se necessário pensar no ato educativo e na convivência, assim como na aproximação do educador junto à família do educando. O saber ouvir e observar se mostra de fundamental importância neste processo, visando o trabalho em conjunto. Neste contexto interdisciplinar, entra o papel da psicopedagogia, que vem dar suporte ao trabalho do professor.
A psicopedagogia atua nas dificuldades de aprendizagem e suas causas, de modo preventivo e curativo, resgatando no aluno a vontade de aprender. O trabalho do psicopedagogo também se insere nas instituições de ensino, onde se estende os problemas de aprendizagem, se caracterizando como "fracasso escolar", onde crianças são vítimas deste estigma e junto dele são precariamente avaliadas, sendo levadas a tomar medicamentos na grande maioria dos casos, contribuindo para inibir o sintoma, sem deixar transparecer a causa e com isso, reforçando mais o fracasso escolar.
Contudo, vale enfatizar que a educação jamais poderá ser repressora, nem direta ou indiretamente, pois as buscas de supressões acabam gerando efeitos danosos a personalidade infantil. Vale ressaltar que o ato de ensinar, a convivência, o relacionamento interpessoal, precisam fluir de maneira desafiadora e prazerosa, direcionando seus objetivos para valores socialmente superiores e culturais, buscando o equilíbrio do aprendiz.
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A Deus por estar presente em minha vida em todos os momentos, colocando pessoas significativas que muito contribuíram para meus objetivos acadêmicos e crescimento pessoal. Verdadeiras demonstrações de afeto e amizade. Ao meu marido e filhos, pela compreensão da minha ausência, pela busca do conhecimento e o prazer de aprender. Agradeço a todos, em especial a professora e orientadora Dra Gisele Straatmann, pelo apoio e encorajamento contínuos na pesquisa, aos demais Mestres da Instituição CEUNSP, pelos conhecimentos transmitidos, a Diretoria e Coordenadoria Do Curso de Pós - Graduação da Universidade pelo apoio institucional. Temos desenterrado alegria. A terra de onde ela nasce foi asfaltada. O cimento que a asfixia está composto de tédio, brota aborrecimento, desesperança. Não é a tristeza a responsável por amordaçar a alegria. Tampouco a angústia. Ao contrário, sentir angústia é a prova de que por debaixo do cimento ainda resta terra fértil. Terra úmida, húmus humano por onde possa brotar a autoria que irá rachando o cimento. Pelo pavimento do tédio se deslizam a frustração, a anorexia, a bulimia, a inibição cognitiva, a "síndrome do pânico" e as drogas (as legais e também as receitadas). E os meninos, brincando á intempérie da asfaltada frustração dos maiores, talvez busquem a inquietude, hiperatividade e desatenção, algo de terra debaixo do alcatrão. O conhecer, escutar, perguntar, abrir os olhos, falar. Podem fazer sofrer, mas não matar a alegria é o reconhecermos com a possibilidade de mudar e mudar-nos. Esconder, fechar os olhos, tapar os ouvidos, calar, encapsular, medicamentar... Translada, desloca a dor e adoce. O contrário da alegria não é a tristeza, mas o aborrecimento, o omitir-se, o desaparecer. A alegria não é algo "light" que nos infantiliza, senão a força que permite a potência criativa, incisiva e indiscreta da criança que extraviamos na busca do êxito adulto. Alícia Fernández Garcia, Alda Cristina B. A importância do relacionamento entre o professor e aluno no processo de aprendizagem. Itu, 2012. 42 p.: il; 0,5mm Monografia de Especialização, apresentada ao Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP). Área de concentração: Psicopedagogia Clínica. 1. Relação professor e aluno. 2. Dificuldades de aprendizagem. 3. Psicopedagogia. 4. Família. Autor: Alda Cristina B. Garcia CENTRO UNIVERSITÁRIO NOSSA SENHORA DO PATROCÍNIO PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA Itu 2012
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