Imagina-Som, Apropriação das linguagens sonora e musical no desenvolvimento do imaginário



  1. Introdução
  2. Das linguagens sonora e musical
  3. Do imaginário pelas linguagens sonoro e musical
  4. Conclusão
  5. Referências

INTRODUÇÃO

A expressão sonora é uma característica de qualquer cultura. Todos os povos se expressam através do som. No caso do Brasil, a diversidade cultural nos mostra inúmeras possibilidades de se produzir sons. Essas possibilidades estão implícitas nas diferentes condições naturais de cada região e nos objetos produzidos nelas. Dessa forma, cada ser humano de cada cultura se vê rodeado e envolvido por diferentes sons, produzidos pela natureza ou por objetos que o próprio homem cria. O desenvolvimento a caminho de uma consciência sonora do ambiente que nos rodeia implica, basicamente, no conhecimento de cada som e de suas respectivas fontes. Essa forma de ouvir pode ser considerada como uma escuta ativa.

Tive acesso ao show da Adriana Calcanhotto, chamado Adriana Partimpim, lançado em 2006, em CD e DVD. O show me tocou muito. De início achei que fosse destinado ao público infantil. Olhando a contracapa do CD, vi que a classificação do produto era livre. Em entrevistas publicadas em seu site, a artista diz que seu objetivo não era lançar um produto para crianças, mas um produto para a criança que existe em cada um de nós, independente da idade. Esse talvez fosse o principal motivo pelo qual eu continuei escutando o disco e vendo o show, cada vez com um olhar diferente, e me interessando cada vez mais pelas músicas, que por sinal não são infantis, mas apenas receberam uma "roupagem mais apropriada" para as crianças.

O show da Adriana Partimpim tem uma produção musical criativa, que explora na música a linguagem sonora pelo uso de fontes sonoras que não se incluem nos fins musicais tradicionais (sons de água, brinquedos, garrafas pet, tampas de garrafa, lixas de pedreiro, celular de camelô, etc), as quais realizam diferentes funções em cada composição. As diferentes funções que estes sons exercem (como a de descrever um movimento indicado na letra por um assobio ou de usar objetos como instrumentos ocasionais, por exemplo, quando uma colher é percutida no prato, ou quando são criados ritmos com lixas de pedreiro, garrafa pet, tampas de panela, semelhante à função da caixa de fósforos usada de improviso em uma roda de samba no bar) e os constantes diálogos das músicas com os gestos da cantora, objetos de palco e projeções, criam um universo musical que vai além da concepção ocidental, que tem a música como a única forma de expressão sonora, diferente de outras culturas, em que a música está sempre vinculada à cor, ao gesto, ou ao cheiro. Dessa forma o discurso musical não se limita apenas ao diálogo entre uma estrutura melódica convencional e a letra, já que essas fontes sonoras sugerem significados diversos, ambientando a composição pela sonoplastia. A ambientação cênica (correias das guitarras e violão que compõe os figurinos, brinquedos que além de cenário também são usados como instrumentos, projeções animadas e origamis gigantes e coloridos) também ajuda a compor a narrativa sonora, na medida em que há um dialogo entre elas. Essa particularidade do show, na minha opinião, ajuda na criação e no desenvolvimento do imaginário sonoro, trazendo ao receptor uma maior consciência dos objetos que os rodeiam e dos sons que estes objetos produzem, assim como as possibilidades sonoras de tais sons dentro de uma composição.

O padrão estético atribuído às canções se diferenciou do que foi, e ainda é lançado pela indústria cultural, a qual limita o desenvolvimento da criatividade musical na maioria das produções que ela massifica. Da mesma forma que o imaginário sonoro do público que se restringe pela ausência de discurso e pelas produções e reproduções repetitivas, que são baseadas na falta de conteúdo musical e sonoro e em refrãos óbvios, abordando a criança como se fosse um "ser" incapaz de pensar e trabalhar sua imaginação. Assim podemos cair mais tarde no que Leonardo de Sá define como Imaginação Ensurdecida conseqüência direta de uma escuta passiva do ambiente sonoro que nos rodeia. Na minha opinião, isso não é um problema que cabe só a esses produtos lançados por apresentadoras e animadoras infantis que, por ideologia própria ou talvez da emissora, têm essa visão ingênua da criança. É um problema que envolve também algumas instituições que se destinam ao ensino da música, baseadas em atividades limitadas aos padrões teóricos estabelecidos e não renovados, deixando de lado as atividades ligadas ao lúdico, ao criativo, à imaginação, próprias de qualquer ser humano, e desenvolvido espontaneamente na infância. A técnica, então, parece ser o único instrumento que pode ser ensinado e desenvolvido nessas instituições e o único fator que permite uma pessoa a praticar música. Por esse motivo, resolvi fazer um trabalho com o título de Apropriação das linguagens sonora e musical no desenvolvimento do imaginário e que focasse mais nas diferentes formas de se fazer música, partindo do princípio de que a música e seus princípios estéticos mudam na medida em que a sociedade se transforma. John Cage declarou que "música é sons, sons à nossa volta, quer estejamos dentro ou fora das salas de concerto.


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