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O povo americano estava pressionando o governo para que tomasse alguma atitude em relação à Amazônia. O povo só sabia da questão do tráfico de drogas, pois a espionagem biotecnológica era apenas uma suspeita e tema de algumas fantasiosas revistas de ficção científica. A outra preocupação deles era com a destruição da floresta. A imprensa americana dava notícias freqüentes da ação de grupos de exploradores na floresta que estavam destruindo os recursos naturais, que eram e são, de fato, recursos da humanidade e não somente do Brasil, pois uma vez que a floresta esteja destruída, todo o mundo sofrerá. As opiniões divergiam quando falava-se em exploração financeira desses recursos. Nós nunca aceitamos dividir o bolo com ninguém porque a floresta está no nosso solo e disso nós não iríamos abrir mão.
A Colômbia fez o seu movimento nesse jogo, que foi aceitar a ajuda americana. Quando as pressões aumentaram, o governo americano voltou a tocar no assunto da ajuda e houve um grande desembarque de tropas, tropas estas que supostamente estariam ali para entrar em guerra contra o tráfico de drogas. Isso foi em julho de 2001, época que eu descobri mais tarde como sendo o verdadeiro início do planejamento estratégico brasileiro, um ano antes do que eu imaginei no dia em que voltei ao exército. Nossos generais não são bobos, e viram o perigo do leão passeando no pasto do vizinho.
O movimento do Brasil foi aumentar as ações militares de treinamento e patrulhamento na floresta. A idéia era tanto coibir o tráfico de drogas e de biotecnologia quanto aumentar as habilidades de combate das tropas amazônicas. As três forças realizaram esse movimento conjuntamente, e agora tínhamos patrulhas aéreas, terrestres e fluviais cruzando toda a região, ainda que isso fosse nitidamente insuficiente. O espaço que era deixado entre a área vistoriada por uma patrulha e a área vistoriada pelas demais era imenso. Isso era resultado de uma política contínua de corte de verbas e sucateamento das forças armadas, especialmente na Amazônia. Durante anos nosso governo equivocadamente pensou que a integração da região seria alcançada com a construção de estradas e povoados. O único resultado alcançado foi a destruição ambiental. A região continuava aberta às investidas estrangeiras, tal como acontecia desde o descobrimento destas terras a leste de Portugal. Tivemos várias invasões desde os tempos da coroa portuguesa, mas o governo nunca aprendeu a lição.
Enquanto rodovias eram construídas e povoados erguidos, as forças de defesa eram obrigadas a diminuir sua ação na região por falta de dinheiro. Agora tentava-se reverter o quadro, mas os efeitos já eram visíveis. Se já dispuséssemos de uma efetiva presença militar na Amazônia, talvez essa coisa toda nem mesmo começasse. Agora era hora de se organizar, porque os americanos já estavam no quintal do vizinho.
O primeiro resultado do desembarque de tropas na Colômbia foi o conflito com os grupos do narcotráfico, que resultou numa tentativa de migração de alguns desses grupos para o nosso lado da fronteira. Com a atuação das tropas brasileiras na região, eles ficaram em apuros e resolveram lutar pelo território que já haviam conquistado no lado de lá da fronteira. Dessa forma o conflito dentro da Colômbia se acalorou e o governo brasileiro percebeu que estava no caminho certo; era essencial a presença das tropas amazônicas para evitar a invasão dos traficantes. Ao menos era o que parecia.
No interior do nosso território o resultado da ação brasileira foi a destruição de três grandes laboratórios clandestinos, todos realizando pesquisa biotecnológica ilegal. A destruição dessas unidades de pesquisa gerou descontentamentos em alguns grupos poderosos fora do Brasil. Esses acontecimentos foram no final de 2001 e inicio de 2002. As notícias sobre os laboratórios clandestinos tomaram as manchetes dos jornais e as atenções do Congresso Nacional que, numa ação conjunta com o Executivo, aprovou a criação de muitas novas vagas na Polícia Federal para a região amazônica junto com um aumento da verba de manutenção das forças armadas e a aprovação da aquisição de novos equipamentos e armamentos. Essa parte foi feita sem muito estardalhaço. O objetivo era manter o foco na ação de desbaratamento dos laboratórios, que já estava em curso, e não na preparação para um possível futuro conflito de maiores proporções. Mas os homens do alto escalão do governo já sabiam o que viria pela frente.
Nesse meio tempo, a opinião popular nos Estados Unidos começava a ficar dividida, pois já estava bem claro para o mundo todo que os laboratórios que estavam realizando a exploração na Amazônia eram em sua maioria americanos. Estava claro que não eram os brasileiros os únicos culpados pelo desequilíbrio na floresta, uma vez que esses laboratórios tinham vasta quantidade de animais servindo de cobaias para testes. Foram encontrados registros de que muitos animais haviam sido soltos no seu hábitat depois de contaminados para que fosse estudada a propagação de doenças em caráter epidêmico e suas formas de combate. Agora tínhamos outros vilões nessa história. As notícias eram alarmantes e havia a real possibilidade de termos que lidar com epidemias em humanos causadas por esses testes.
Ao mesmo tempo que isso se passava por aqui surgia na mídia americana uma rede de protestos contra as autoridades brasileiras, alegando que as pesquisas só trariam benefícios à humanidade, e que a intervenção do governo e a destruição dos laboratórios foram um prejuízo para toda a raça humana. Muitos alegavam que a existência de laboratórios farmacêuticos clandestinos era o fruto de uma política de portas fechadas que o governo brasileiro vinha mantendo. Se o Brasil permitisse a cooperação internacional, nada daquilo teria acontecido. O debate obviamente acalorou-se e surgiu um forte grupo no Congresso americano que era a favor da internacionalização da Amazônia sob a tutela americana. Outro grupo forte era o da não-intervenção, que obviamente se opôs ao primeiro. Pelo menos tínhamos alguém do nosso lado na terra do Tio Sam.
A guerra na Colômbia estava em pleno curso e o governo americano solicitou que o Brasil permitisse a construção de uma base temporária para os soldados deles na nossa Amazônia e que fosse aberto o nosso espaço aéreo para patrulhas militares americanas. Como já era esperado, nosso governo recusou o pedido e avisou que qualquer incursão não autorizada seria tratada como invasão militar.
Dois dias depois dessa declaração brasileira um caça americano foi abatido em nosso espaço aéreo, e isso fez o clima começar a esquentar. Os Estados Unidos exigiram um pedido de desculpas do nosso governo e alegavam que o incidente aconteceu em razão da insistente recusa do Brasil em permitir o efetivo combate ao narcotráfico. Parecia estarmos revivendo o incidente com o avião U2 americano que foi pego pelos soviéticos no auge da guerra fria. A diferença é que não havíamos tomado nenhum avião espião, mas derrubado um caça armado para destruição de alvos em terra sobrevoando território brasileiro. Mesmo sendo avisado da invasão, o caça continuou em seu curso sobre a nossa selva. Eles simplesmente desprezavam nosso potencial militar. Provavelmente, caso mandássemos alguns aviões para escoltá-lo, ele se mandaria rapidamente para o lado de lá da fronteira. Assim, o piloto ignorou os avisos e continuou sua patrulha, para azar dele, porque já estavam operantes várias baterias antiaéreas instaladas sob a cobertura vegetal amazônica.
A imprensa do mundo todo, inclusive a americana, rodava a gravação das conversas entre a torre brasileira e o piloto americano e também as conversas entre o piloto e seu comando na Colômbia. Esse foi um golpe de sorte. Nosso pessoal conseguiu interceptar e gravar a conversa toda. Como era um vôo de patrulha e eles já haviam feito vários desses sobre nosso território, não havia preocupações adicionais com interceptações nas comunicações, mas eles não esperavam por esse incidente.
As conversas gravadas demonstravam claramente que o piloto foi várias vezes advertido e que o seu comando ordenou que ele ignorasse a ordem brasileira e continuasse invadindo o nosso espaço aéreo e concluísse sua missão. Após a frase de último aviso da torre brasileira não havia mais nenhuma comunicação. O avião fora abatido. O uso da imprensa nesse caso nos foi muito útil e evitou uma ação de represália do governo americano, que agora estava envergonhado e pedia desculpas pelo ato de "insubordinação" daquele comando aéreo na Colômbia. Como sempre, a culpa era jogada nas costas dos mais fracos.
Durante o primeiro semestre de 2002 não houve nenhum outro incidente com tropas americanas, mas muitos soldados brasileiros estavam morrendo na guerra contra os narcotraficantes que fugiam para o nosso lado da fronteira com seus pequenos exércitos. Os americanos insistiam para que o Brasil permitisse a entrada de suas tropas em nosso território para ajudar no combate, enquanto nosso governo formalmente recusava todas as ofertas de ajuda, pois sabia-se muito bem que o interesse era dominar militarmente a região e depois proclamá-la área internacional sob a tutela americana. Os interesses econômicos em jogo eram enormes, não só os interesses dos grupos farmacêuticos, mas os interesses de diversos outros poderosos grupos econômicos.
Nesses assuntos, é sempre sábio lembrar Maquiavel que, em sua famosa obra O Príncipe, escreveu sobre o uso de tropas estrangeiras em problemas nacionais. "Essas tropas, se podem ser úteis e boas por si mesmas, quase sempre dão prejuízos àquele que lhes reclama a presença, uma vez que, caso percam, ver-se-á aniquilado e, caso vençam, ver-se-á delas prisioneiro". Era esse o medo do nosso governo. Caso os americanos entrassem na Amazônia e perdessem a luta para o narcotráfico, quem poderia vencer? Ou pior, caso eles vencessem e dominassem o território, quem garantiria a sua devolução para o nosso governo em vez da sua permanente dominação? O mais provável era a dominação estrangeira.
Os estudiosos das relações internacionais sabem muito bem que as posições assumidas pelos Estados não estão de forma alguma vinculadas à cooperação incondicional, ao bem comum e aos interesses superiores da humanidade. As relações internacionais são construídas sobre bases instáveis e os interesses são condicionados aos benefícios auferidos. Essas verdades foram infelizmente descobertas de forma demasiado tardia pelos governantes da Colômbia.
Em julho de 2002 a história da América Latina teve seu curso alterado. É verdade que já tivemos que conviver com muitos golpes de estado e ditaduras militares, mas nunca algo como isso. O governo americano tomou o poder na Colômbia, sob a alegação de que a máquina estatal colombiana estava corrompida pelo dinheiro do narcotráfico e que somente com uma intervenção total seria possível destruir as forças armadas do tráfico. Os americanos começavam sua investida por tomar o território amazônico. Peru, Bolívia e Venezuela viram-se na mira da máquina de guerra americana, mas todos sabiam que o próximo alvo éramos nós.
O Brasil formalmente repudiou o golpe, pois um dos pilares de nossas relações internacionais é a não-intervenção. Os Estados Unidos lançaram nota oficial relatando que o Brasil estava se sujeitando à mesma intervenção por não cooperar com os esforços americanos e que também havia fortes indícios de corrupção na máquina estatal brasileira em favor do narcotráfico. Nosso recente histórico acabou corroborando esta tese e o Brasil se viu acuado pelo gigante americano e sem ajuda internacional, uma vez que os Estados Unidos vetavam qualquer ação do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas que fosse contra seus interesses. Era o poderio americano mostrando todas as suas garras, e o recado estava dado.
A ONU era o organização internacional responsável por manter a paz dos poderosos e ricos. Sua própria estrutura já previa isso, uma vez que há membros permanentes no conselho de segurança e há a possibilidade de um único país poderoso vetar qualquer ação desse conselho, apesar do desejo de todos os outros em que algo fosse feito. Era o esperado. Estávamos sozinhos e os colombianos também. Sequer podíamos nos ajudar mutuamente naquele momento.
Apesar do repúdio oficial de diversos países, militarmente ninguém movia um dedo contra os Estados Unidos. A situação agora estava quase fervendo e o assunto na imprensa brasileira era a possibilidade de uma invasão americana. A imprensa americana também não falava de outro assunto, mas como é de praxe, eles tinham um grande grupo contrário à invasão. O governo americano estava ficando com pouca base no Congresso, pois muitos congressistas estavam se colocando contra a política oficial. O argumento deles era que seu país estava passando por uma crise econômica com desemprego e recessão, e não era hora para aumentar a dívida pública com gastos militares desnecessários.
Mesmo com o problema do narcotráfico, estava ficando claro que o interesse americano na Amazônia brasileira era outro e já haviam denúncias de manipulação de setores do governo por parte de grandes laboratórios farmacêuticos e companhias de mineração. O povo americano já fazia passeatas e protestos pedindo que o governo trouxesse de volta para casa os seus soldados. Muitos já haviam voltado em caixões, pois a guerra na Colômbia não estava nada fácil. A semelhança da floresta tropical brasileira com a floresta tropical asiática fazia os americanos pensarem no Vietnã. Eles não queriam começar o século XXI com um novo Vietnã na floresta tropical amazônica.
A imprensa americana incessantemente mostrava imagens do combate na selva colombiana. Os soldados americanos tinham superioridade tecnológica e maior preparo, mas os exércitos do narcotráfico detinham o controle da região e conheciam bem a selva. Mesmo com armamento inferior estavam dando muito trabalho às tropas americanas. As baixas nos dois lados aumentavam, mas para piorar as coisas as tropas do narcotráfico e as tropas da resistência colombiana se uniram contra as tropas americanas no grande esforço de libertação nacional. Ninguém conseguia imaginar as tropas do governo colombiano e os traficantes se unindo, mas agora eles não tinham mais um país seu e suas diferenças foram colocadas de lado para alcançar novamente a liberdade.
Para os americanos isso foi um terrível golpe, pois ao debandar para o lado dos traficantes as tropas regulares colombianas levavam armamentos e munição, além de promoverem atos de sabotagem durante sua fuga. Muitos soldados americanos perderam suas vidas nesse movimento e suas famílias pressionavam o governo, pois havia a tese de que se o governo americano não tivesse tomado o poder, as tropas não se teriam unido e os traficantes não estariam agora com tanta força. A tese fazia sentido e as coisas esquentavam ainda mais em Washington e em Bogotá.
Agora, em pleno território colombiano, estava formada a mais perigosa quadrilha da história da humanidade: o Exército Narco-Nacionalista Colombiano, que atendia pela sigla ENACO. Eles eram declaradamente favoráveis à destruição dos Estados Unidos da América por meio do descarregamento de toneladas e toneladas de drogas em solo americano até fazer desmoronar a sociedade inteira e tudo ficar reduzido a pó. PÓ de cocaína, obviamente. Nunca se teve notícia de algo assim, uma grande frente militar e criminosa ao mesmo tempo, pelo menos não com esse tipo de crime. A arma química deles chamava-se cocaína e eles queriam ao mesmo tempo contrabandear drogas, lucrar e vencer a guerra, tendo tudo isso montado sobre as bases do narcotráfico internacional. Seus planos incluíam a formação do primeiro Narco-Estado do mundo. Parecia loucura, mas como toda guerra é uma loucura, essa era apenas mais uma entre tantas.
O Brasil agora tinha dois inimigos reais, ainda que não declarados: o ENACO e o exército americano. Ambos em guerra do outro lado da fronteira e querendo montar bases do lado de cá da fronteira, tanto para atacar seu inimigo declarado quanto para expandir suas lucrativas atividades. Os americanos querendo dominar a Amazônia e os colombianos querendo dominar o mercado americano através da Amazônia. O conflito seguia.
Em agosto de 2002 houve um confronto entre tropas brasileiras e americanas na floresta, numa região próxima à fronteira. Houve algumas baixas nos dois lados e o governo americano expediu nota oficial alegando que tudo não passou de um grande e trágico engano. A tropa americana estava se deslocando para atacar uma posição dos narcotraficantes próxima à fronteira e entrou em território brasileiro por engano. Uma vez que a fronteira não é demarcada e que tudo está sob a copada das árvores, isso é fácil de acontecer. Se eles não estivessem cheios de aparelhinhos do Sistema de Posicionamento Global, chamados GPS, nós até acreditaríamos.
Na mesma nota eles alegavam que, ao se deparar com as tropas brasileiras, identificaram-nas como tropas dos traficantes e iniciaram o ataque. Os brasileiros responderam ao fogo e o combate estava travado. Nessa parte nós acreditamos porque eles são reconhecidos internacionalmente como péssimos reconhecedores de tropas. Duas semanas antes eles haviam feito quase a mesma coisa contra uma tropa deles, só que o ataque foi aéreo. O governo brasileiro não aceitou a desculpa do "engano" ao cruzar a fronteira, e em nota oficial informou que as tropas brasileiras haviam tido sucesso em repelir a incursão de tropas invasoras americanas em território nacional.
Essa noticia causou mais impacto do que o próprio confronto.
Ao classificar o ocorrido como tentativa de invasão, o Brasil colocou toda a comunidade sul-americana oficialmente em sobreaviso. A tensão aumentou o medo e a movimentação militar se tornou intensa da Venezuela ao Chile. De uma hora para outra todo mundo estava realizando exercícios militares e diversos tipos de manobras táticas. Todos negavam a preparação militar e cada governo atribuía à movimentação simples rotina militar de treinamento.
A imprensa brasileira promovia acalorados debates sobre o tema e a opinião pública estava do lado do governo. Por mais que o povo estivesse descontente com seus governantes, a grande massa preferia um mau governo brasileiro a qualquer governo estrangeiro, especialmente agora que estávamos todos acompanhando o que acontecia na Colômbia, a nova colônia dos Estados Unidos.
Estava chegando o dia 7 de setembro, a comemoração da Proclamação da Independência. Grandes desfiles foram preparados, passeatas foram organizadas, comícios foram montados. O Brasil estava apavorado com a perspectiva de um confronto, especialmente com os Estados Unidos, mas estava se preparando. Grandes lideranças se erguiam contra o imperialismo americano, e agora a nova moda das ruas das grandes capitais era usar roupas camufladas.
Os adolescentes sonhavam com as glórias da guerra e com os filmes que viam na televisão. Era uma grande besteira. Logo ficaria claro que não há glória nenhuma, há apenas morte e tristeza. O que muitos chamam de glória é a minimização do nosso sofrimento pelo aumento do sofrimento alheio, porque a guerra sempre traz sofrimento e o vencedor é apenas o que perde menos, porque todos perdem.
Quanto ao inimigo externo, a opinião pública brasileira não estava dividida, e a consciência de que era necessário defender nosso território tomava conta de todos. O assunto do momento era esse. Ninguém além de alguns adolescentes e alguns bandos de vagabundos queria o confronto, mas ninguém queria servir de saco de pancadas para as tropas americanas. Cada brasileiro já pensava em como seria a sua vida dali a um ano. Tudo estava prestes a mudar. Desde a guerra do Paraguai que o Brasil não entrava em confrontos militares por estas bandas sul-americanas, mas agora isso já estava começando. Devagar, mas estava.
Durante o mês de setembro não houve nenhum incidente grave na floresta, mas em outubro um destacamento inteiro de infantaria foi exterminado. Nenhum sobrevivente, mais de quarenta mortos. Eles foram encontrados por uma patrulha que saiu em sua busca depois que o grupo parou de se comunicar com a base. No local a patrulha encontrou as marcas do combate, mas nenhuma evidência de quem havia feito aquilo. Havia muitos sinais de que o inimigo tinha sofrido baixas também, mas todos os corpos deles foram removidos antes de o nosso pessoal chegar. Tudo o que foi encontrado foram cartuchos deflagrados de munição de fuzis usados tanto pelo ENACO quanto pelo exército americano. O governo americano atribuiu o ato aos narcotraficantes e o ENACO atribuiu a autoria aos americanos, e ainda convidou o Brasil a se juntar a eles na guerra.
O governo brasileiro suspeitava da autoria americana, mas, como não havia provas, teve que engolir a história assim mesmo. A suspeita era de que eles provavelmente haviam atacado outra vez o que não foram capazes de identificar, e acabaram com o nosso pessoal. Talvez eles houvessem tentado alguma outra ação na região e nossa tropa procurou impedir. Eram muitas as possibilidades, mas a única certeza que tínhamos era que nossos rapazes estavam mortos. A comoção foi intensa em todo o país e pela televisão eu via as imagens do acampamento destruído, dos corpos sendo transportados e das famílias chorando nos enterros cheios de homenagens militares. Em São Paulo, Brasilia, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador, Recife, Manaus, Belém e Santarém houve passeatas organizadas pela Frente de Defesa do Brasil, uma recém-criada entidade não-governamental que organizava a população civil contra a atuação estrangeira em nosso território, numa espécie de xenofobia disfarçada que disparava para todos os lados.
Nosso governo viu que era chegada a hora e iniciou uma campanha nacional de mobilização de reservistas das forças armadas. Os voluntários foram convidados a se apresentar, ninguém foi obrigado. Ninguém no governo confirmava os preparativos para o confronto, mas também ninguém desmentia. Os reservistas foram convidados a se apresentar nas organizações militares mais próximas de suas residências. O governo providenciaria o transporte para outras unidades, caso fosse necessário. Foi assim que cheguei ao meu primeiro dia de volta ao quartel, foi assim que nós chegamos às portas do conflito, Agora posso falar novamente sobre a volta às armas.
[Daqui segue a história do soldado André)
Agora vejam porque o solo da Amazônia é tão importante para Estados Unidos e Europa, vejam onde eles TINHAM minérios:
Autor:
Graccho M. Maciel
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