A guerra da Amazônia – de Carlos Bornhofen

Enviado por Graccho M. Maciel


Capitulo 2 Edit Novo Século 2004
O livro é um romance de ficção, não pretende ser uma história real, porém.

As causas do conflito

Essa história toda de guerra começou muito tempo atrás, mas grandes e importantes movimentos desse jogo de xadrez foram realizados em 2000. Os principais jogadores eram os governos brasileiro, americano e colombiano, e os narcotraficantes. A Colômbia estava perdendo a luta para os traficantes de droga. Os grupos de traficantes-terroristas dominavam a maior parte do território colombiano e boa parte dos escalões governamentais. O governo tinha menos dinheiro, menos gente e menos território que os traficantes. A Colômbia estava se tornando um peque no país feudal, onde cada feudo era controlado por um grupo de traficantes, que era vassalo de algum grupo maior que por sua vez, era vassalo não se sabe de quem. Mas eles efetivamente controlavam o país e as exportações.

O problema é que essas exportações eram de cocaína, e a principal via de escoamento era a Amazônia brasileira.

O grande compra dor todo mundo sabe: Estados Unidos da América. Aí é que começa o problema.

Os Estados Unidos resolveram apoiar o governo colombiano em sua guerra contra os traficantes, e isso foi ótimo. O que não foi nada bom foi a declaração do governo americano avisando ao mundo (e especialmente ao Brasil) que eles iriam tomar todas a medidas para o controle do tráfico de drogas em toda a Amazônia, fosse com o apoio dos países envolvidos ou não. Isso obviamente gerou um grande mal-estar nas comunidades latino-americanas, e algumas respostas diplomáticas foram dadas.

O governo americano pareceu recuar em sua política do vale tudo quando eles foram mundialmente avacalhados por sua completa incompetência em conduzir o próprio processo eleitoral que escolheria seu novo presidente. Assim, as coisas pareceram esfriar, mas ape nas pareceram, pois sob a névoa da eleição conturbada estavam acontecendo os preparativos para a grande operação na Amazônia. Aí é que eles mexeram conosco, pois a maior parte da floresta amazônica está em território brasileiro.

Outro movimento importante desse jogo aconteceu também em 2000. O mapeamento do código genético humano estava prestes a ser concluído, e havia muita discussão sobre doenças e tratamentos. Nesse ínterim, algumas empresas farmacêuticas iniciaram pesquisas na Amazônia sobre tratamentos baseados em substâncias produzidas por espécies nativas. A Amazônia é o maior celeiro de biodiversidade do planeta e contém inúmeras espécies que jamais foram catalogadas, e agora talvez jamais sejam. Tais espécies podem fornecer a cura para muitas doenças conhecidas e ainda por surgir. Naquela época falava-se muito sobre a criação de doenças em laboratório e sobre o surgimento de doenças a partir do desmatamento das florestas.

Uma forte corrente científica acreditava que com a decodificação completa do código genético humano e a dos códigos genéticos de vírus e bactérias causadores de doenças não seria mais necessária ou útil a pesquisa farmacêutica na Amazônia, uma vez que todas as experiências poderiam ser simuladas por computadores e os resultados seriam alcançados de forma mais eficiente, barata e rápida. No entanto, havia uma outra corrente que dizia exatamente o contrário. A partir do código genético humano seria possível chegar a muita coisa, mas haviam substâncias produzidas na selva que sequer eram conhecidas, então não se poderia simular sua ação enquanto elas não fossem completamente conhecidas e de codificadas, daí a necessidade de realizar uma vasta pesquisa e catalogação dos organismos da selva amazônica.

Sabia-se que muitos microorganismos viviam em harmonia no seu ambiente dentro da floresta e que, ao entrarem em contato com os seres humanos, provocavam epidemias arrasadoras. Isso era muito interessante para as grandes corporações farmacêuticas. Quem dominasse a biotecnologia amazônica seria capaz de curar muitas doenças e também obviamente causar muitas outras. Em um mundo onde se busca a longevidade, isso era o toque de Midas contemporâneo, além do potencial gigantesco para uma guerra biológica, tão combatida e ao mesmo tempo tão pesquisada.

A Amazônia contém mais de um décimo de toda a biodiversidade do planeta. Das espécies que vivem na floresta, sabe-se que pouco mais de dois por cento foram exaustivamente estudadas. Isso quer dizer que há inúmeras espécies que sequer foram catalogadas e, ainda, inúmeras outras que já são conhecidas, mas que nunca foram suficientemente estudadas até se ter todas as suas propriedades conhecidas. É aí que entram as indústrias farmacêuticas.

Enquanto algumas poucas indústrias farmacêuticas realizavam pesquisas autorizadas pelo governo brasileiro, muitas outras mantinham laboratórios clandestinos e espiões em nosso território. Eles obviamente usavam alta tecnologia e tinham recursos financeiros enormes para conduzir suas pesquisas e distrair autoridades locais. Assim, o tráfico de drogas e o tráfico de recursos biológicos estavam infiltrados na floresta amazônica. A questão é que o governo americano combatia com todas as suas forças o narcotráfico, porque isto estava destruindo sua sociedade de maneira mais rápida e avassaladora que qualquer mal conhecido, mas na outra mão o governo deles estava muito interessado na pesquisa de recursos biológicos, porque era altamente rentável e iria ajudar a consolidar sua supremacia mundial, tanto financeira quanto bélica.

Também ligada à supremacia financeira e bélica estava a grande reserva mineral do subsolo da floresta. Já era sabido que haviam grandes reservas de ouro, manganês, ferro, nióbio, alumínio, chumbo, cobre, diamante, e até mesmo urânio. Era o maior tesouro enterrado do mundo. Quem dominasse a floresta poderia iniciar pela exploração biotecnológica e, terminada esta, poderia explorar o potencial madeireiro, que é gigantesco. Quando a floresta finalmente fosse um deserto, haveria ainda o subsolo para enriquecer seu dono. Depois disso aquela vasta área seria um grande deserto esburacado, só isso.

Por enquanto, pelo menos, os interesses ainda estavam no combate ao narcotráfico e na dominação da biotecnologia. Esses dois movimentos, um aberto e outro sigiloso, levaram os governos locais a também movimentarem-se. A Colômbia estava com seu território coberto de plantações de coca e precisava desesperadamente acabar com isso. Essa era a realidade deles. O Brasil estava -- com a sua floresta salpicada de laboratórios farmacêuticos e servia como rota para o tráfico. Essa era a nossa realidade. As coisas se tornaram um pouco mais complicadas com a atitude tomada pelo governo americano em 2001.


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