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O brincar nesse período torna-se a principal atividade da criança, pois através dele a mesma irá desenvolver sua aprendizagem construindo um paralelo com a realidade que a cerca. Ferland(2006) considera o brincar como a atividade própria da criança, cheia de sentido para ela, através da qual consegue desenvolver suas capacidades de adaptação e de interação, conquistando assim sua autonomia.
CAOT (1996), baseada em diferentes autores, propõe que o brincar é uma atividade completa, que proporciona um meio ou ambiente pelo qual a criança desenvolve habilidades cognitivas, sociais, comunicativas, autocuidado, solução de problemas e funções sensório-motoras.
O interesse pelo estudo do seguinte tema surgiu a partir da compreensão de que a criança é a principal agente do seu desenvolvimento e que o brincar é a atividade na qual a imaginação, fantasia e realidade interagem na produção de novas possibilidades de interpretação, de expressão, de ação e que é através dele que a mesma constrói as aquisições necessárias para seu desenvolvimento e aprendizado. Através pesquisa exploratória do tipo bibliográfica, realizada mediante levantamento de dados em livros, artigos científicos e periódicos este trabalho irá estudar o brincar no desenvolvimento infantil no período pré-operatório, caracterizar este período dentro do desenvolvimento infantil; delinear suas brincadeiras e suas peculiaridades assim como verificar como o brincar se torna um elo para o desenvolvimento infantil no período pré-operatório.
Para contemplar este estudo será realizado primeiro um apanhado geral a respeito do desenvolvimento da criança de 2 a 7 anos e seus aspectos motor, cognitivo e afetivo. No capitulo seguinte à importância do brincar no processo lúdico; o significado desse brincar no desenvolvimento infantil e os tipos de jogos, brincadeiras e brinquedos serão abordados para ser possível então no ultimo capítulo compreender a relação entre o brincar e o aprender no período de 2 a 7 anos.
Mediante tal explanação do tema espera-se contribuir para os estudos científicos relacionados ao desenvolvimento infantil e o brincar, ampliando a visão das possibilidades de utilizar o brincar como atividade estimuladora do desenvolvimento infantil, como um meio criador na qual a criança ao explorar passa a ser o autor principal da sua história.
A aprendizagem começa durante a infância viabilizando os sucessos ou insucessos do futuro, os primeiros anos de uma criança podem ser determinantes para um bom ou mau desenvolvimento, refletindo no adulto a qual a mesma irá se tornar. A criança que brinca não está apenas realizando uma atividade prazerosa ou comum a sua idade, mas está construindo alicerces para o seu aprendizado posterior garantindo benefícios permanentes para sua vida escolar e, posteriormente, no trabalho e na vida social.
Para Bronfenbrenner (1979/1996), o desenvolvimento humano está intrinsecamente interligado às mudanças e estabilidades que ocorrem nas características biopsicológicas da pessoa, em todo o seu ciclo vital e ao longo das gerações. Nessa perspectiva, as interações indivíduo-ambiente incluem fatores biológicos, genéticos, sociais e culturais que agem simultaneamente sobre o desenvolvimento. Tais fatores estão interligados ao longo da vida sendo marcados por diferentes estágios. A cada novo estágio de desenvolvimento ocorrerá o ganho de novas aquisições.
Durante séculos até os dias atuais pesquisadores vêm estudando os fatores que influenciam o desenvolvimento e como este ocorre. Para tornar este achado possível este processo foi dividido em fases. Para Mussem (1995), apesar de considerar o desenvolvimento gradual e contínuo alguns momentos ocorrerão maiores alterações como, por exemplo, o crescimento físico na infância e na adolescência é mais acentuado, e perceptível do que na idade adulta, que é um período de maior estabilidade. Dessa forma são consideradas como fases do desenvolvimento humano:
Pré-natal;
Infância de zero a 12 anos;
Adolescência - dos 12 a 18 anos ou 21 anos;
Idade adulta - dos 21 aos 60 anos;
Velhice - dos 60 ou mais.
As fases do desenvolvimento humano enumeradas anteriormente apresentam características que as identificam e permitem o seu reconhecimento. O estudo dessas características possibilita uma melhor observação, compreensão e interpretação do comportamento humano e de como se processam o ganho das aquisições referentes a cada fase, favorecendo condições para um desenvolvimento pleno.
Segundo Chudo (2008) o crescimento e desenvolvimento humano se iniciam logo após a fecundação, dentro do útero. Durante os meses em que o feto está intrauterino, ele desenvolve mês a mês todos os seus órgãos (cérebro, fígado, rins etc.), sistemas (nervoso, digestório, respiratório etc.), até que esteja completamente pronto para nascer.
Destarte, a partir do nascimento o desenvolvimento da criança poderá ser observado levando em conta tanto os aspectos fenótipos quanto genótipos e os fatores corporais, cognitivos e psicossociais, favorecendo assim uma maior compreensão a respeito da complexidade que envolve o processo do desenvolvimento infantil.
Como descrito por Vasconcellos (2011), no século XIX, a teoria da evolução de Darwin foi a mola propulsora para os avanços científicos acerca do desenvolvimento infantil. O instinto de sobrevivência das muitas espécies animais estimulou o interesse pela observação das crianças, para identificar as diferentes formas de adaptação ao ambiente e o peso da herança em seu comportamento. Na década de 1920, Arnold Gesell analisou o comportamento infantil através de filmagens, nas quais as crianças foram observadas em idades diferentes, estabelecendo pela primeira vez um desenvolvimento intelectual por etapas, semelhante ao seu desenvolvimento físico. Sigmund Freud insistiu no efeito das variáveis ambientais e na importância do comportamento dos pais durante a infância dos filhos. No século passado, na década de 60, Jean Piaget utilizou métodos de observação e experimentação que integram variáveis psicológicas e ambientais.
A partir de tais estudos surgiram diversas teorias do desenvolvimento, visto das mais diversas perspectivas como foi descrito por Rabello et al e Passos (2013). Segundo esses autores:
Para os teóricos Ambientalistas, entre eles Skinner e Watson (do movimento behaviorista), as crianças nascem como tábulas rasas, que vão aprendendo tudo do ambiente por processos de imitação ou reforço.
Para os teóricos Inatistas, como Chomsky, as crianças já nascem com tudo que precisam na sua estrutura biológica para se desenvolver. Nada é aprendido no ambiente, e sim apenas disparado por este.
Para os teóricos Construcionistas, tendo como ícone Piaget, o desenvolvimento é construído a partir de uma interação entre o desenvolvimento biológico e as aquisições da criança com o meio.
Tem a abordagem Sociointeracionista, de Vygotsky, segundo a qual o desenvolvimento humano se dá nas trocas entre parceiros sociais, através de processos de interação e mediação.
Tem ainda a perspectiva Evolucionista, influenciada pela teoria de Fodor, segundo a qual o desenvolvimento humano se dá no desenvolvimento das características humanas e variações individuais como produto de uma interação de mecanismos genéticos e ecológicos, envolvendo experiências únicas de cada indivíduo desde antes do nascimento.
Ainda existe a visão de desenvolvimento Psicanalítica, tendo como expoentes Freud, Klein, Winnicott e Erikson. Tal perspectiva procura entender o desenvolvimento humano a partir de motivações conscientes e inconscientes da criança, focando seus conflitos internos durante a infância e pelo resto do ciclo vital.
A teoria do desenvolvimento criada por estes celebre escritores e pesquisadores possibilitam traçar o que será chamado de perfil do desenvolvimento infantil, como foco deste estudo o desenvolvimento será descrito na faixa etária de 02 a 07 anos.
2.1 Desenvolvimento Motor de 02 a 07 anos
O desenvolvimento motor pode ser visto pelo desenvolvimento progressivo das habilidades de movimento, ou seja, a abertura para o desenvolvimento motor é dada através do comportamento de movimento observável do sujeito (GALLAHUE & OZMUN, 1995; 2001).
Em seu modelo teórico, Gallahue (2001), apresenta o desenvolvimento da transacionalidade, a interação indivíduo, ambiente e tarefa.
Com os domínios, cognitivo, afetivo e motor, o autor descreve seu modelo desde a fase dos movimentos reflexos até a fase dos movimentos especializados. O processo de desenvolvimento motor é apresentado através das fases dos movimentos reflexos, rudimentares, fundamentais e especializados.
Os movimentos para Gallahue&Ozmun (1995; 2001) podem ser caracterizados como estabilizadores, locomotores ou manipulativos, que se combinam na execução das habilidades motoras ao longo da vida.
Para Fonseca (apud PEREZ L., 1994, p.55), "a ontogênese da motricidade começa com o que denomina a primeira dimensão maturativa ou inteligência neuromotora...". Esta primeira dimensão é composta por comportamento inato e organização "tônico-emocional". A inteligência neuromotora, segue-se a inteligência sensório-motora. Esta fase vai dos dois aos seis anos e nela se incluem atividades motoras de locomoção, preensão e suspensão. A fase seguinte foi denominada de inteligência perceptivo-motora. Está relacionada com a noção de corpo, lateralidade, orientação no espaço e no tempo.
Segundo Papalia (2010), as crianças na faixa etária de 02 a 07 anos, considerada a idade pré-escolar, fazem grandes progressos em relação às habilidades motoras grossas como correr e pular uma vez que desenvolvimento das áreas sensoriais e motoras do córtex cerebral permite uma maior coordenação entre aquilo que a criança quer fazer e aquilo que pode fazer.
Nessa fase elas também adquirem habilidades motoras finas como abotoar e desenhar e desenvolve a preferência pelo uso da mão direita ou esquerda o que permiti uma maior independência na execução das atividades de vida diária. E um fator interessante é que o autor considera que nessa faixa etária o que favorece um melhor desenvolvimento físico e motor são as brincadeiras livres, ativas e não estruturadas.
Baseado em estudos e pesquisas relacionadas ao desenvolvimento infantil é possível criar um esquema que irá demonstrar de forma clara as aquisições motoras desenvolvidas por crianças de 02 a 07 anos. Segundo os autores Fonseca (1989); Gallahue, D. L. &Ozmun, J. C, (2001); Papalia, D. E. &Olds, S. W, (2010); Schmitz, E. M. et al, (2005) as aquisições motoras dessa faixa etária podem ser descritas da seguinte forma:
02 a 03 anos
A medida que o seu equilíbrio e coordenação aumentam, a criança é capaz de saltar ou saltar de um pé para o outro quando está a correr ou a andar;
É mais fácil manipular e utilizar objetos com as mãos, como um lápis de cor para desenhar ou uma colher para comer sozinha;
Começa gradualmente a controlar os esfíncteres (primeiro os intestinos e depois a bexiga);
Aprende a pular, subir, a pular sobre uma perna;
Corre e chuta na bola sem perder o equilíbrio;
Pode levar um copo cheio de água sem derramar;
Começo do controle do esfíncter vesical noturno;
Participa ativamente do vestir-se;
Dança ao som da música;
Anda para frente puxando um carrinho (5m);
Sobe e desce escada com apoio, sem alternar os pés;
Constrói uma torre com cinco cubos ou mais.
03 a 04 anos
Anda sobre a ponta dos pés;
Aprende a vestir-se e despir-se sozinho;
Adquire controle do esfíncter vesical noturno;
Realiza tarefas simples;
Anda de bicicleta de três rodas;
Agarra uma bola a um metro de distância;
É capaz de comer sozinha com uma colher ou um garfo;
Copia figuras geométricas simples;
Controla os esfíncteres (sobretudo durante o dia);
Anda para trás puxando um carrinho;
Sobe e desce escadas (seis degraus), sem apoio (sem alternar os pés);
Constrói uma torre com nove cubos ou mais;
Sobe e desce escada alternando os pés;
Lava e seca as mãos por conta própria;
Desabotoa botões.
04 a 05 anos
Salta, balança-se, desce sem apoio alternando os pés;
Rápido desenvolvimento muscular;
Grande atividade motora, com maior controle dos movimentos;
Consegue escovar os dentes, pentear-se e vestir-se com pouca ajuda;
Usa uma tesoura;
Vira as páginas de um livro eumetricamente;
Faz bolinha de papel com a mão dominante.
05 a 06 anos
Sobe em árvores;
Agarra uma bola jogada a 2 metros;
A preferência manual está estabelecida;
É capaz de se vestir e despir sozinha;
Assegura sua higiene com autonomia e é capaz de cuidar de casa;
Copia circulo e um quadrado.
06 a 07 anos
É vigoroso, cheio de energia e geralmente inquieto;
Coordenação desajeitada;
Lateralidade definida;
Consegue pular sobre um só pé e saltar com precisão dentro de pequenos quadrados;
Copia um losango.
Para cada fase do desenvolvimento motor são indicados estágios com idades cronológicas correspondentes esperadas. Estes estágios estarão intimamente ligados ao processo afetivo e cognitivo vivido pela criança, pois tais processos são integrados e qualquer atividade motora interfere, gera ou depende de uma atividade cognitiva, que por sua vez ressoa no afetivo dessa criança.
2.2 Desenvolvimento Cognitivo de 02 a 07 anos
Para Piaget e Inhelder (1995), as atividades mentais, assim como as atividades biológicas, têm como objetivo a adaptação ao meio em que vivemos.
De acordo com essa postura teórica, a mente possui estruturas cognitivas pelas quais o indivíduo se adapta intelectualmente e organiza o meio em que vive. Ou seja, através de acomodações e assimilações de esquemas, o indivíduo constrói o seu conhecimento a respeito do mundo.
O período pré-operatório (02 a 07 anos) tem início no desenvolvimento da criança, com o aparecimento da atividade de representação que modifica as condutas práticas, ou seja, a criança passa a fantasiar e imitar o que vê. De acordo com Piaget (1978), as primeiras reconstituições linguísticas de ações surgem junto à reprodução de situações ausentes, através da brincadeira simbólica e da imitação, quando a criança começa a verbalizar o que só realizava motoramente.
Isso acontece a partir do uso de objeto como se fosse outro (por exemplo, quando uma criança utiliza um cabo de vassoura como se fosse um cavalinho), de uma situação por outra (quando uma criança brinca de casinha representando situações da vida cotidiana). Nesse período a criança é egocêntrica, pois não possui esquemas conceituais e lógicos e seu pensamento é um misto de fantasia e realidade dificultando sua percepção sobre a real situação que a cerca, dessa forma a mesma não tem a capacidade de colocar-se no lugar do outro atribuindo seu próprio pensamento a objetos, é o que chamamos de animismo (por exemplo, quando uma criança diz que sua boneca está triste e chorando).
Outra característica marcante desse período é a irreversibilidade, para Rappaport (1981), o pensamento reversível é quando o pensamento é capaz de seguir uma série de raciocínios, uma série de transformações num determinado evento, e então inverter mentalmente a direção, para reencontrar um ponto de partida nãomodificado, ou seja, o estado inicial do evento. Um exemplo de tal pensamento é quando para uma criança do pré-operatório a mesma quantidade de água aumenta ou diminui quando mudada para um copo de forma diferente, ainda que ao voltar ao copo inicial continue a mesma. Ainda de acordo com a autora, temos como característica a centralização que se refere ao raciocínio centralizado, rígido e inflexível. A criança não pensa em diversos aspectos de uma mesma situação, como por exemplo, entender as relações de parentesco.
Já Fonseca (2004), defende que a principal aquisição desse período é a linguagem que irá contribuir para a interiorização dos esquemas representativos ou simbólicos.
A cada conhecimento adquirido pela criança pré-operatória (02 a 07 anos), ao mesmo tempo em que integra como conteúdo o que já foi apreendido, o enriquece com informações novas, o complementa com elementos próprios. Além de manusear os objetos, a criança estabelece relações entre eles, sendo assim, o manuseio de objetos é um conhecimento que antecede o estabelecimento de relações entre eles, e um complementa o outro.
Dessa maneira nesse estágio os esquemas sensório-motores (0 a 02 anos) já não são os únicos instrumentos de aprendizagem e desenvolvimento. A criança possui a capacidade de representação verbal e de pensamento. O pensamento da criança entre 02 e 07 anos é dominado pela representação imagística de caráter simbólico. A criança trata as imagens como verdadeiros substitutos do objeto e pensa efetuando relações entre imagens. Com os esquemas cognitivos pré-estabelecidos a criança dessa faixa etária encontra-se em uma fase da sua vida marcada por uma intensa mudança, essa é a fase pré-escolar que requer competências cognitivas específicas para um bom desempenho escolar.
Marcado por diversas características e aquisições o fundamento do pré-operatório baseia-se no aprendizado constante, na experimentação do real através do "faz-de-conta". É o momento onde a criança irá desenvolver estruturas para tornar-se parte do mundo como ser atuante capaz de desenvolver conceitos e compreender situações. O brincar nesse período torna-se a principal atividade da criança, é o seu momento de aprendizado, de fazer entender-se e de entender o mundo.
Segundo os autores Piaget (1976); Papalia, D. E. &Olds, S. W(2010); Vigotsky (1988); Batllori (2003), as aquisições cognitivas dessa faixa etária podem ser descritas da seguinte forma:
02 a 03 anos
Amontoa objetos em equilíbrio;
Pode reproduzir um círculo sobre o papel ou na areia;
Começa a brincar realmente com outras crianças e compreender que há gente fora do meio familiar;
Reconhece-se no espelho;
Fase de grande curiosidade, sendo muito frequente a pergunta "Por quê?";
À medida que se desenvolvem as suas competências linguísticas, a criança começa a exprimir-se de outras formas, que não apenas a exploração física - trata-se de juntar as competências físicas e de linguagem (por ex., quando faço isto, acontece aquilo), o que ajuda ao seu desenvolvimento cognitivo;
É capaz de produzir regularmente frases de 03 e 04 palavras;
Desenvolvimento da consciência de si: a criança pode referir-se a si própria como "eu" e pode conseguir descrever-se por frases simples, como "tenho fome";
A memória e a capacidade de concentração aumentaram (a criança é capaz de voltar a uma atividade que tinha interrompido, mantendo-se concentrada nela por períodos de tempo mais longos);
A criança está a começar a formar imagens mentais das coisas, o que a leva à compreensão dos conceitos - progressivamente, e com a ajuda dos pais, vai sendo capaz de compreender conceitos como dentro e fora, cima e baixo;
Por volta dos 32 meses, começa a apreender o conceito de sequências numéricas simples e de diferentes categorias (por ex., é capaz de contar até 10 e de formar grupos de objetos - 10 animais de plástico podem ser 3 vacas, 5 porcos e 3 cavalos).
03 a 04 anos
Imita uma cruz;
Desenha uma pessoa com cabeça, tronco e, às vezes, com outras partes do corpo;
Reconhece três cores;
Reconhece alto e baixo, atrás e diante;
Compreende a maior parte do que ouve e o seu discurso é compreensível para os adultos;
Utiliza bastante à imaginação;
Início dos jogos de faz-de-conta e dos jogos de papéis;
Compreende o conceito de "dois";
Sabe o nome, o sexo e a idade;
Repete sequências de 03 algarismos;
Começa a ter noção das relações de causa e efeito;
É bastante curiosa e investigadora.
04 á 05 anos
Desenha um homem com os principais membros;
Copia um quadrado ou triângulo;
Sabe contar nos dedos;
Pode reconhecer quatro cores;
Pode apreciar o tamanho e a forma, distinguir o grosso e o fino, sabe dizer sua idade;
Adquiriu já um vocabulário alargado, constituído por 1500 a 2000 palavras;
Manifesta um grande interesse pela linguagem, falando incessantemente;
Compreende ordens com frases na negativa;
Articula bem consoantes e vogais e constrói frases bem estruturadas;
Exibe uma curiosidade insaciável, fazendo inúmeras perguntas;
Compreende as diferenças entre a fantasia e a realidade;
Compreende conceitos de número e de espaço: "mais", "menos", "maior", "dentro", "debaixo", "atrás";
Começa a compreender que os desenhos e símbolos podem representar objetos reais;
Começa a reconhecer padrões entre os objetos: objetos redondos, objetos macios, animais.
05 a 06 anos
Desenha um homem com cabeça, tronco, membros e mãos, começa a lateralização;
Distingue direita, esquerda, ontem, hoje, amanhã, pergunta o significado de termos abstratos, distingue doce, salgado, ácido e o amargo;
Inventa brincadeiras e muda as regras durante a realização;
Fala fluentemente, utilizando corretamente o plural, os pronomes e os tempos verbais;
Grande interesse pelas palavras e a linguagem;
Pode gaguejar se estiver muito cansada ou nervosa;
Segue instruções e aceita supervisão;
Conhece as cores, os números, etc;
Capacidade para memorizar histórias e repeti-las;
É capaz de agrupar e ordenar objetos tendo em conta o tamanho (do menor ao maior).
Começa a entender os conceitos de "antes" e "depois", "em cima" e "em baixo", etc., bem como conceitos de tempo: "ontem", "hoje", "amanhã".
06 a 07 anos
Começa a ter organizado, memórias contínuas; a maioria das crianças aprende a ler e escrever, embora alguns não depois de 07 anos;
Reconhece direita e esquerda;
Gosta de hobbies e habilidades;
Usa o pensamento reflexivo;
Lida melhor com a realidade.
O desenvolvimento cognitivo acontece paralelo e como consequência da maturidade emocional da criança, pois são as conquistas afetivas e sociais que impulsionam a criança a elaborar e tentar novos meios de interagir com o meio, ocasionando uma relação recíproca e interdependente entre a emoção e a inteligência.
2.3 Desenvolvimento Afetivo de 2 a 7 anos
A Teoria das Emoções é de grande importância na obra de Wallon. Para o autor, a emoção é a exteriorização da afetividade, um fato fisiológico nos seus componentes humorais e motores e, ao mesmo tempo, um comportamento social na sua função de adaptação do ser humano ao seu meio:
[...] As emoções são a exteriorização da afetividade (...). Nelas que assentam os exercícios gregários, que são uma forma primitiva de comunhão e de comunidade. As relações que elas tornam possíveis afinam os seus meios de expressão, e fazem deles instrumentos de sociabilidade cada vez mais especializados (WALLON, 1995, p. 143).
O autor afirma ainda quea emoção, antes da linguagem, é o meio utilizado pelo recém–nascido para estabelecer uma relação com o mundo humano. Gradativamente, os movimentos de expressão, primeiramente fisiológica, evoluem até se tornarem comportamentos afetivos mais complexos, nos quais a emoção, aos poucos, cede terreno aos sentimentos e depois às atividades intelectuais.
As emoções são instantâneas e diretas e podem expressar–se como verdadeiras descargas de energia. Quando isto ocorre, elas têm o poder de se sobrepor ao raciocínio e ao conhecimento.
A afetividade evolui conforme as condições maturacionais de cada pessoa e com formas de expressões diferenciadas, que se configuram como um conjunto de significados que o indivíduo adquire nas relações com o meio, com a cultura, ao longo da vida. Os significados representam para cada pessoa as diferentes situações e experiências vivenciadas num determinado momento e ambiente social. Por este motivo afetividade não permanece imutável ao longo da trajetória da pessoa, ou seja, a afetividade corresponde à energia que mobiliza o ser em direção ao ato, enquanto a inteligência corresponde ao poder estruturante que o modela a partir dos esquemas disponíveis naquele momento.
Para Wallon (1995), a emoção precede nitidamente o aparecimento das condutas do tipo cognitivo e é um processo corporal que, quando intenso, pode impulsionar a consciência a se voltar para as alterações proprioceptivas, prejudicando a percepção do exterior. Em virtude de seu poder de sobrepor-se a preponderância da razão, é necessária, segundo Wallon, manter-se uma "baixa temperatura emocional" para que se possam trabalhar as funções cognitivas. Ao estudar a criança, ele não coloca a inteligência como o principal componente do desenvolvimento, mas defende que a vida psíquica é formada por três dimensões: motora, afetiva e cognitiva, que coexistem e atuam de forma integrada.
A integração entre as dimensões motora, afetiva e cognitiva, conceito central da teoria de Wallon, é claramente descrito por Mahoney (2000):
"O motor, o afetivo, o cognitivo, a pessoa, embora cada um desses aspectos tenha identidade estrutural e funcional diferenciada, estão tão integrados que cada um é parte constitutiva dos outros. Sua separação se faz necessária apenas para a descrição do processo. Uma das consequências dessa interpretação é de que qualquer atividade humana sempre interfere em todos eles. Qualquer atividade motora tem ressonâncias afetivas e cognitivas; toda disposição afetiva tem ressonâncias motoras e cognitivas; toda operação mental tem ressonâncias afetivas e motoras. E todas essas ressonâncias têm um impacto no quarto conjunto: a pessoa". (p. 15)
Além de Wallon, outros grandes estudiosos como Piaget atribuem importância à afetividade no processo do desenvolvimento. Segundo Piaget (1995), a criança de dois anos (final do período sensório motor) é afetiva e cognitivamente muito diferente do recém-nascido. Com o período pré-operacional (02 a 07 anos) surgem os primeiros sentimentos sociais em decorrência da linguagem falada e da representação. A representação permite a criação de imagens das experiências, incluindo as experiências afetivas. Assim os sentimentos podem ser representados e recordados o que não ocorria no estágio sensório-motor.
JáVygotsky (apud RATNER, 1995) salienta o fato de que as emoções e o intelecto searticulam em um sistema dinâmico e significativo, sendo mutuamente dependentes. Por exemplo, uma criança que já domina a linguagem, ao falar em público, pode gaguejar.
Tanto para Wallon como para Vygotsky, entre emoção e inteligência existeelaboração recíproca: as conquistas afetivas contribuem para o desenvolvimento cognitivo e vice-versa (DANTAS, 1992).
Segundo os autores Piaget (1976); Papalia, D. E. &Olds, S. W. (2010);Ratner (1995), Wallon(1995); Vygotsky (1988); as aquisições afetivas dessa faixa etária podem ser descritas da seguinte forma:
02 a 03 anos
Inicialmente o leque de emoções é vasto, desde o puro prazer até a raiva frustrada. Embora a capacidade de exprimir livremente as emoções seja considerada saudável, a criança necessitará de aprender a lidar com as suas emoções e de saber que sentimentos são adequados, o que requer prática e ajuda dos pais.
Nesta fase, as birras são uma das formas mais comuns da criança chamar a atenção – geralmente deve-se a mudanças ou a acontecimentos, ou ainda a uma resposta aprendida (as birras costumam estar relacionadas com a frustração da criança e com a sua incapacidade de comunicar de forma eficaz).
Gosta de elogios.
Medos de barulhos, movimentos rápidos, animais de grande porte, a saída da mãe.
03 a 04 anos
É capaz de se separar da mãe durante curtos períodos de tempo.
Começa a desenvolver alguma independência e autoconfiança.
Pode manifestar medo de estranhos, de animais ou do escuro.
Começa a reconhecer os seus próprios limites, pedindo ajuda.
Imita os adultos.
Manifesta uma grande variedade de emoções.
Não está pronto para jogos e competições; grupos não são bem formados.
04 a 05 anos
Os pesadelos são comuns nesta fase.
Tem amigos imaginários e uma grande capacidade de fantasiar.
Procura frequentemente testar o poder e os limites dos outros.
Exibe muitos comportamentos desafiantes e opositores.
Os seus estados emocionais alcançam os extremos: por ex., é desafiante e depois bastante envergonhada.
Tem uma confiança crescente em si própria e no mundo.
Tem dificuldade em distinguir fantasia da realidade.
05 a 06 anos
Pode apresentar alguns medos: do escuro, de cair, de cães ou de dano corporal, embora esta não seja uma fase de grandes medos.
Se estiver cansada, nervosa ou chateada, poderá apresentar alguns dos seguintes comportamentos: roer as unhas, piscar repetidamente os olhos, fungar, etc.
Preocupa-se em agradar aos adultos.
Maior sensibilidade relativamente às necessidades e sentimentos dos outros.
Envergonha-se facilmente.
Capaz de distinguir a fantasia da realidade.
06 a 07 anos
Se sente inseguro quanto á independência
Acha difícil aceitar críticas, culpa ou punição.
Tem dificuldade em perder querendo ser sempre o vencedor.
São facilmente distraídos.
Podem não interagir com o outro na tentativa de construir um senso de si.
A infância é uma fase do desenvolvimento marcada por intensas mudanças que vão desde o crescimento biológico ao aprendizado e a cada fase a criança adquiriaquisições motoras, cognitivas e afetivas, responsáveis por garanti seu desenvolvimento pleno assim como um bom desempenho na fase adulta. Conforme Filho (2004, p.10), cada criança tem seu modo de se desenvolver, ou seja, os limites fixados de idade são simples indicações, pois o desenvolvimento da criança é contínuo e insensivelmente progressivo.
Uma vez que as fases do desenvolvimento são constantes, e após uma fase, virá normalmente a outra, no entanto sem ter um limite cronológico. O que diferencia o desenvolvimento de uma criança para a outra e as aquisições que irão obter em cada fase desse desenvolvimento são os estímulos que lhes são dados e como esta criança irá transformá-los em aprendizado.
É importante destacar que o desenvolvimento é formado por conceitos básicos responsáveis por tais aquisições, são eles: maturação, desenvolvimento e aprendizagem.
A maturação está estritamente ligada ao crescimento que é resultante da multiplicação e da diferenciação celular que determina alterações progressivas nas dimensões do corpo inteiro ou de partes e segmentos específicos, em relação ao fator tempo, do nascimento à idade adulta.
Cada indivíduo tem um relógio biológico que regula seu progresso. O conceito de maturidade relaciona se com o momento biológico no calendário do tempo. O crescimento biológico e maturidade da criança, não prosseguem necessariamente em comum acordo com o calendário do tempo ou sua idade cronológica.
Assim, dentro de um grupo de criança do mesmo sexo e mesma idade cronológica, haverá variação na idade biológica, ou no nível de maturidade biológica. Isso geralmente acontece durante os estágios iniciais da adolescência ou durante o crescimento, mas é aparente também durante a infância.A maturação pode ser definida como um fenômeno biológico qualitativo, relacionando-se com o amadurecimento das funções de diferentes órgãos e sistemas (MALINA, BOUCHARD, & BAR-OR, 2009; PAPALIA & OLDS, 2000).
As características essenciais da maturação são:
Aparecimento súbito de novos padrões de crescimento ou comportamento;
Aparecimento de habilidades específicas sem o benefício de práticas anteriores;
A consistência desses padrões em diferentes indivíduos da mesma espécie;
O curso gradual de crescimento físico e biológico em direção a ser completamente desenvolvido (SANTOS 2007).
A partir do amadurecimento dos órgãos e sistemas a criança entra em processo de desenvolvimento com mudanças relacionadas à aquisição e o aperfeiçoamento de capacidades e funções, que permitem à criança realizar coisas novas, progressivamente mais complexas, com uma habilidade cada vez maior.
O conceito de desenvolvimento caracteriza-se pela sequência de modificações evolutivas em órgãos e sistemas do organismo humano que induzem ao aperfeiçoamento de suas complexas funções. Desse modo, o crescimento refere-se essencialmente às transformações quantitativas, enquanto o desenvolvimento engloba simultaneamente tanto as transformações quantitativas quanto as qualitativas e é resultante de aspectos associados ao próprio processo de crescimento físico, à maturação biológica e às experiências vivenciadas no atributo considerado: desempenho motor, emocional, social, cognitivo, etc. (ROCHE & SUN, 2003).
O desenvolvimento pode ainda ser entendido como uma interação entre as características biológicas individuais (crescimento e maturação) com o meio ambiente ao qual o sujeito é exposto durante a vida (FRISANCHO, 2009; GALLAHUE & OZMUN, 2006; MALINA et al., 2009; PAPALIA &OLDS, 2010; ROGOFF, 2005).
A partir das possibilidades resultantes da maturação e do desenvolvimento da criança esta adquiri experiências que são responsáveis pelo chamado processo de aprendizagem.
Aprendizagem é um processo inseparável do ser humano e ocorre quando há uma modificação no comportamento, mediante a experiência ou a prática, que não podem ser atribuídas à maturação, lesões ou alterações fisiológicas do organismo. Do ponto de vista funcional é a modificação sistemática do comportamento em caso de repetição da mesma situação estimulante ou na dependência da experiência anterior com determinada situação (SANTOS, 2007).De acordo com as proposições das teorias gestaltistas é um processo perceptivo, em que se dá uma mudança na estrutura cognitiva. Para que haja a aprendizagem são necessárias determinadas condições fatores fisiológicos, fatores psicológicos e experiências anteriores.
O aprendizado está profundamente relacionado com o desenvolvimento; embora haja um processo de maturação do qual depende o organismo para se desenvolver. É o aprendizado que possibilita o despertar de processos internos de desenvolvimento (OLIVEIRA, 2000). As potencialidades inatas seriam condições chaves para o desenvolvimento do indivíduo, entretanto não seria o bastante, uma vez que essas potencialidades não teriam força motora em relação a esse desenvolvimento.
Ou seja, se a criança não está madura para executar uma determinada atividade, não poderá aprendê-la, pois não disporá de condições para a sua realização, por que a aprendizagem depende da maturação (condições orgânicas e psicológicas) e do desenvolvimento das aquisições e habilidades.
É através da aprendizagem que o homem desenvolve os comportamentos que o possibilita viver. Uma das formas inatas de aprendizagem desenvolvida pela criança é o brincar, que além de proporcionar experiências e ganho de habilidades é fundamental para o desenvolvimento infantil global da criança de 02 a 07 anos, fase marcada por complexos processos de experiência, formação da personalidade, imaginação, realidade e fantasia. Que desencadearão condições satisfatórias para um desenvolvimento pleno da vida adulta.
Segundo Almeida (2013), o lúdico tem sua origem na palavra latina "ludus" que significa "jogo". No entanto a evolução semântica da palavra não se deteve apenas ao jogo, mas se difundiu por outras áreas sendo utilizado também como traço essencial do comportamento humano. Ou seja, o lúdico faz parte do comportamento humano e ganhou muita força ao ser relacionado ao brincar, comportamento típico da infância.
O lúdico está relacionado a tudo o que possa dar alegria e prazer, desenvolver a criatividade, imaginação e a curiosidade, permitindo a criança viver novas experiências, Ronca (1989) afirma:
"O lúdico permiti que a criança explore a relação do corpo com o espaço, provoca possibilidades de deslocamento e velocidade, ou cria condições mentais para sair de enrascadas, e ela vai então, assimilando e gastando tanto, que tal movimento a faz buscar e viver diferentes atividades fundamentais, não só no processo de desenvolvimento de sua personalidade e de seu caráter como também ao longo da construção de seu organismo cognitivo"(1989,p.27).
Para Santos (1999), o lúdico pode ser visto de diferentes aspectos, dentre eles temos:
De acordo com o aspecto sociológico: O lúdico tem sido visto como a forma mais pura de inserção da criança na sociedade. Brincando, a criança vai assimilando crenças, costumes, regras, leis e hábitos do meio em que vive. Nessa linha de enfoque, a apropriação da cultura e´ resultado das interações lúdicas, que se da´ entre a criança, o brinquedo e as outras pessoas.
De acordo com o aspecto psicológico: O lúdico esta´ presente em todo o desenvolvimento da criança, nas diferentes formas de modificação de seu comportamento. Segundo os psicólogos, portanto, a ação de brincar e´ um importante mecanismo para facilitar o desenvolvimento infantil. E´ na Psicologia, enfim, que se encontra o brincar como uma necessidade tão importante como o sono e a alimentação, o que garante uma boa saúde física e emocional.
O brincar está a todo instante sendo associado ao componente lúdico não apenas pelo fato de ser parte da ludicidade, mas por favorecer o processo lúdico na criança uma vez que o brincar proporciona experiência, exploração, desenvolvimento e aprendizagem. Para Santos (1999), o lúdico pode aqui, ser interpretado como um momento em que a criança tem os sentimentos de liberdade e de descontração. O momento em que ela busca estabelecer contato com o mundo que está a sua volta, estimulando a autonomia dentro de um contexto integral.
Neste contexto, Santos (1999) ressalta que "a palavra lúdico significa brincar". Nesse brincar estão incluídos os jogos, brinquedos e brincadeiras e o prazer proporcionado por tal experiência.
Brincando a criança une sua concepção a cerca do mundo exterior para formar seu mundo interior. A ação do brincar pode envolver completamente a criança, ao ponto de se entregar totalmente ao mundo de fantasia criado pela mesma.
"Brincar, jogar, agir ludicamente, exige uma entrega total do ser humano, corpo e mente, ao mesmo tempo. A atividade lúdica não admite divisão; e, as próprias atividades lúdicas, por si mesmas, nos conduzem para esse estado de consciência" (LUCKESI, 2000,p.02).
Através da atividade lúdica e do jogo, a criança forma conceitos, seleciona idéias, estabelece relações lógicas, integra percepções, faz estimativas compatíveis com o crescimento físico e desenvolvimento, e o que é mais importante, vai se socializando. Segundo Piaget (1976), o desenvolvimento da criança acontece através do lúdico. Ela precisa brincar para crescer, precisa do jogo como forma de equilíbrio com o mundo.
Durante as brincadeiras as crianças desenvolvem o seu caráter lúdico, expressando o prazer da vivência do jogo como, por exemplo, quando uma criança finge que é um príncipe ela demonstra-se:
"Literalmente "transportada" de prazer, superando-se a si mesma a tal ponto que quase chega acreditar que realmente é esta ou aquela coisa, sem, contudo perder inteiramente o sentido da "realidade habitual". Mais que uma realidade falsa sua representação é a realização de uma aparência: é "imaginação", no sentido original do termo". (HUIZINGA, 1993, apud, MARRACH, 1998, p. 08).
O lúdico faz parte da formação do homem com um todo unindo mente e corpo, o sensível e o inteligível e o brincar como atividade inerente ao homem serve como ponte de acesso para tal processo propiciando prazer, aprendizado e desenvolvimento.
3.1 Significado do Brincar no Desenvolvimento Infantil
A importância do brincar para a criança, não fica apenas na teoria como também foi assegurada por lei, segundo o artigo 31 da Convenção dos Direitos da Criança da ONU que diz o seguinte: "Toda criança tem o direito ao descanso e ao lazer, e a participar de atividades de jogo e recreação, apropriadas à sua idade, e a participar livremente da vida cultural e das artes" (UNICEF, 1990).
Mas o que é o brincar e por que tamanhas são suas implicações que foram asseguradas por lei? Segundo estudos da Psicologia baseados numa visão histórica e social dos processos de desenvolvimento infantil, que tem em Vygotsky (2007) um dos seus principais representantes, o brincar é uma atividade humana criadora, na qual imaginação, fantasia e realidade interagem na produção de novas possibilidades de interpretação, de expressão e de ação pelas crianças, assim como de novas formas de construir relações sociais com outros sujeitos, crianças e adultos .
Segundo o dicionário Ferreira (2003), brincar é "divertir-se, recrear-se, entreter-se, distrair-se, folgar", também pode ser "entreter-se com jogos infantis".Porém do ponto de vista de Oliveira (2000), o brincar não significa apenas recrear, mas sim desenvolver-se integralmente. Caracterizando-se como uma das formas mais complexas que a criança tem de comunicar-se consigo mesma e com o mundo, ou seja, o desenvolvimento acontece através de trocas recíprocas que se estabelecem durante toda sua vida. Todavia, através do brincar a criança pode desenvolver capacidades importantes como a atenção, a memória, a imitação, a imaginação, ainda propiciando a criança o desenvolvimento de áreas da personalidade como afetividade, motricidade, inteligência, sociabilidade e criatividade.
A partir de tais definições o brincar pode ser visto como uma importante forma de comunicação, é por meio deste ato que a criança pode reproduzir o seu cotidiano, através do faz de conta. O ato de brincar possibilita a construção do seu eu interno através do processo de aprendizagem da criança com o seu mundo exterior, além de facilitar a construção da reflexão, da autonomia, da criatividade, das aquisições motoras, cognitivas, sociais e afetivas.
De acordo com Borba (2006, p.38):
"É importante enfatizar que o modo próprio de comunicar do brincar não se refere a um pensamento ilógico, mas a um discurso organizado com lógica e características próprias, o qual permite que as crianças transponham espaços e tempos e transitem entre os planos da imaginação e da fantasia explorando suas contradições e possibilidades. Assim, o plano informal das brincadeiras possibilita a construção e a ampliação de competências e conhecimentos nos planos da cognição e das interações sociais, o que certamente tem consequências na aquisição de conhecimentos nos planos da aprendizagem formal".
O que é importante no brincar não é com o que a criança brinca, mas qual o significado que este brincar traz a ela e qual aprendizado a mesma irá obter com tal experiência. De acordo com Cerisara (2002), na brincadeira do período pré-operatório (02 a 07 anos), a criança pode dar outros sentidos aos objetos e jogos, seja a partir de sua própria ação ou imaginação, seja na trama de relações que estabelece com os amigos com os quais produz novos sentidos e os compartilha.
A brincadeira da criança dessa idade ainda é mágica e anímica, mas seu comportamento é mais complexo e fiel à realidade, dentro do brincar busca por vezes satisfação imediata de seus desejos, sendo que, diante da impossibilidade de realizá-los, desenvolve situações lúdicas imaginárias, nas quais pode satisfazê-los.
Para Piaget (1978) a brincadeira simbólica, faz-de-conta, ou jogo dramático, como é denominado, tem um papel preponderante no desenvolvimento integrado da criança, em seus aspectos cognitivos e afetivo-relacionais. Emerge dos jogos funcionais e contribui de maneira decisiva para que a criança aprenda a formar e a lidar com símbolos, por meio de sua imaginação, e sua memória. Contribui decisivamente para a assimilação da realidade. Por meio dela a criança realiza sonhos, revela conflitos e se auto expressa, reproduzindo papéis, imitando situações da vida real a seu modo.
Mas por que as crianças brincam? Segundo Winnicott (1971), as crianças brincam por diversas razões, como por prazer, para aumentar sua experiência, estabelecer contatos sociais, exprimir sua agressividade, dominar a angústia. Ou seja, o brincar além de proporcionar prazer é uma atividade que promove experiências e gera aprendizado.
O brincar possui características próprias que permitem o desenvolvimento nos planos cognitivos, social e de aprendizado.
Como ressalta Machado (2003, p.37):
"Brincar é também um grande canal para o aprendizado, senão o único canalpara verdadeiros processos cognitivos. Para aprender precisamos adquirir certo distanciamento de nós mesmos, e é isso o que a criança pratica desde asprimeiras brincadeiras transicionais, distanciando-se da mãe. Através do filtro do distanciamento podem surgir novas maneiras de pensar e de aprender sobre o mundo. Ao brincar, a criança pensa, reflete e organiza-se internamente para aprender aquilo que ela quer, precisa, necessita, está no seu momento de aprender; isso pode não ter a ver com o que o pai, o professor ou o fabricante de brinquedos propõem que ela aprenda".
Brincar faz parte do desenvolvimento infantil e do processo de aprendizagem, segundo Vygotsky (2001), a brincadeira contém todas as tendências do desenvolvimento de forma condensada; "a ação na esfera imaginativa; a criação das intenções voluntárias e a formação dos planos da vida real e motivações volitivas tudo aparece na brincadeira, que se constitui assim, no mais alto-nível de desenvolvimento pré-escolar", desenvolvendo capacidades essenciais para a vida em sociedade.
No brincar inserem-se importantes funções, capazes de auxiliar a criança no desenvolvimento, na aprendizagem e na interação com o meio, sendo considerada uma característica do comportamento infantil, visto que a criança dedica a maior parte de seu tempo ao brincar. À medida que brinca, a criança vai se apropriando de suas potencialidades, construindo interiormente o seu mundo. Aprende a agir, sua curiosidade é estimulada, adquire iniciativa e autoconfiança, proporcionando seu desenvolvimento (GOMES; CASTRO, 2010).
Com relação aos benefícios cognitivos da brincadeira, Moraes (2001) relaciona a capacidade de concentração, o desenvolvimento da lógica e da linguagem na criança. As brincadeiras ligadas a aspectos cognitivos geralmente envolvem números, charadas, utilizam o raciocínio lógico, o pensamento abstrato, a rapidez de raciocínio, e ao mesmo tempo, são combinadas com atividades que requeiram ação.
Tais benefícios cognitivos também são confirmados pela psicóloga e coordenadora da Brinquedoteca do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba (PR), Patrícia Bertolini que em uma entrevista citou: "A brincadeira é uma coisa séria. Só se torna um adulto completo, com bom desenvolvimento cognitivo, social e afetivo, quem brincou na infância" (TINTI, 2011).
Com relação aos benefícios físicos do brincar para as crianças, estes podem ser observados quando ao subir em árvores, andar de bicicleta, brincar de pega-pega, todas essas atividades fazem com que as crianças se movimentem muito mais do que o tempo de televisão ou computador, o que é muito comum nos dias de hoje, por isso a importância de fazer uma atividade física. Segundo Caspersen (1985), a atividade física é considerada qualquer tipo de movimento corporal que produz gasto energético acima dos níveis de repouso, o exercício físico caracteriza-se por ser planejado, estruturado e repetitivo, com o objetivo de desenvolver aptidão física e habilidades motoras, ou seja, representa atividades simples que vão desde levantar da cama, correr, pular, exercícios físicos mais complexos, como é o caso dos esportes e, portanto o brincar, principalmente nas brincadeiras ao ar livre.
Segundo especialistas, as atividades ao ar livre promovem o fortalecimento de várias partes do corpo. De acordo com o pediatra e hebiatra do Hospital Samaritano de São Paulo, Landi (2012), as brincadeiras são importantes para o desenvolvimento do sistema musculoesquelético, além de fortalecerem o sistema cardiorrespiratório, já que os pulmões são mais exigidos. A atividade física regular na infância ajuda a eliminar o desenvolvimento de fatores de risco que podem levar a doenças crônicas, como diabetes tipo 2, hipertensão e doenças do coração. É indicado ainda as crianças fazerem atividades físicas para até um total de uma hora por dia. Boas atividades que ajudam a evitar problemas graves de saúde incluem atividades aeróbicas e exercícios de fortalecimento muscular e ósseo. Correr, nadar, até mesmo academias, jogo de escalada, são atividades ao ar livre que ajudam as crianças a permanecerem saudáveis.
Landi (2012) destaca ainda que "com essas brincadeiras as crianças têm um contato maior com agentes estranhos ao corpo e assim podem criar anticorpos, que os protegerão de diversas doenças infectocontagiosas".
As brincadeiras não só proporcionam uma atividade física, lazer e diversão como também o desenvolvimento físico e a manutenção da saúde tanto para a infância quanto para a vida adulta diminuindo as chances de adquirirem doenças graves.
A brincadeira depende também do meio social ao qual a criança está inserida, sendo o primeiro deles a família. "A brincadeira é uma atividade que a criança começa desde seu nascimento no âmbito familiar" (KISHIMOTO, 2002, p. 139) e continua com seus pares.
O brincar proporciona a criança uma interação social onde os outros farão parte da sua brincadeira, aprendendo a exercer papéis sociais como imitação do mundo real. Segundo Moraes (2011), o brincar cria condições efetivas para o relacionamento social das crianças, visto que oferece uma forma livre e autônoma de interação entre as mesmas. Por meio dela, a criança é capaz de resgatar valores e sentimentos, como a responsabilidade, além aprender a importância da negociação, da conquista, de conviver com regras e a resolver conflitos.
A criança é capaz de entender o faz-de-conta e usar processos mentais de forma representacional a partir dos três anos de idade. E é nessa faixa etária que ela passa a dar maior importância ao grupo de pares. Sendo assim, as transformações realizadas sobre os objetos precisam ser acompanhadas pelos parceiros e, para fazer parte da brincadeira, deve haver a aceitação dos papéis e/ou formas de negociação. (BRANCO; MACIEL; QUEIROZ, 2006).
Ainda sobre a relação do brincar com o meio social, na perspectiva de Vygotsky (2007), que concebe o mundo como resultado de processos histórico-sociais que alteram, não só o modo de vida da sociedade, mas também o modo de pensar do homem, o jogo infantil e as brincadeiras são resultados de processos sociais. Neste sentido, o brincar é uma atividade sociocultural livre e origina-se nos valores, hábitos e normas de uma determinada comunidade ou grupo social. Sua natureza é sociocultural, na medida em que as crianças brincam com aquilo que elas já sabem ou imaginam que sabem sobre as formas de relacionar-se, de amar e de odiar, de trabalhar, de viver em grupos e sozinhas, de interagir com a natureza e com os fenômenos físicos, de um determinado grupo social, que pode ser sua família, a comunidade a qual pertencem e/ou outras realidades.
Segundo Analecta (2008), o papel do brincar emerge na sociedade contemporânea para resgatar os valores mais essenciais dos seres humanos, todos fundamentais e indissociáveis, tais como:
Ser potencial na cura psíquica e física;
Forma de comunicação entre iguais e entre as várias gerações;
Instrumento de desenvolvimento e ponte para a aprendizagem;
Possibilidade de resgatar o patrimônio lúdico-cultural nos diferentes contextos socioeconômicos;
Potencialidade criativa;
Inserção em uma sociedade regrada;
Oportunidade de convivência com os outros, de se colocar no lugar do outro (empatia), de ganhar hoje e perder amanhã, de liderar e ser conduzido, de falar e de ouvir;
Incentivo ao trabalho solidário, em equipe, a uma postura mais cooperativa e ecológica;
Caminho do conhecimento e descoberta de potenciais ocultos;
Estímulo à autonomia, à livre escolha, à transformação e à tomada de decisões.
O brincar permite à criança vivenciar o lúdico e descobrir a si mesma, apreender a realidade, tornando-se capaz de desenvolver seu potencial criativo. É também colocado como um dos princípios fundamentais, defendido como um direito, uma forma particular de expressão, pensamento, interação e comunicação entre as crianças (QUARESMA, 2013).
Desta maneira, o brincar é considerado um dos meios mais propícios à construção do conhecimento e aprendizado. Ele não contribui apenas no desenvolvimento cognitivo e psíquico, como também no nível motor, afetivo e social. A função do brincar na atividade infantil do período pré-operatório é vital para a constituição da atividade imaginária. Por meio da interação entre a experiência e a fantasia, na atividade lúdica, a criança constrói e/ou desenvolve noções, tais como as de si mesma e as da realidade.
3.2 Jogos, Brincadeiras e Brinquedos de 02 a 07 Anos
Os termos jogos, brincadeiras e brinquedos normalmente são empregados como se fossem sinônimos, porém são distintos apesar de não haverem muitas referências sobre essa distinção, demonstrando um nível baixo de conceituação neste campo e um desconhecimento do delineamento histórico aos quais estes termos estão inseridos. Como podemos observar, segundo o dicionário Ferreira (2003):
Jogo= Ação de jogar; folguedo, brinco, divertimento.
Brincadeira= Ação de brincar, divertimento.
Brinquedo= Objeto destinado a divertir uma criança.
Tais definições demonstram uma leve diferenciação, no entanto a ambiguidade entre os termos se consolida com o uso que as pessoas fazem dela.
O jogo pelo ponto de vista educacional, segundo Antunes (2003) significa divertimento, brincadeira, passatempo, pois em nossa cultura o termo jogo é confundido com competição. Ainda segundo o autor os jogos infantis podem até incluir uma ou outra competição, mas visando sempre a estimular o crescimento e aprendizagem com relação interpessoal, entre duas ou mais pessoas realizada através de determinadas regras, ainda que jogo seja uma brincadeira que envolve regras.
O jogo é essencial na vida da criança, pois prevalece a assimilação e a criança se apropria daquilo que percebe da realidade. O jogo não é determinante nas modificações das estruturas, mas pode transformar a realidade segundo Piaget (1978) que escreve a respeito do papel dos jogos na infância para a formação do adulto. Segundo ele: "O jogo constitui o pólo extremo da assimilação da realidade no ego, tendo relação com a imaginação criativa que será fonte de todo o pensamento e raciocínio posterior". Ainda de acordo com o autor o jogo infantil é dividido em três fases distintas: jogos de exercício (sensório motor), simbólico (pré-operatório) e com regras (operatório concreto e formal). Nas crianças de 02 a 07 anos o tipo de jogo é o simbólico, onde a criança, além do prazer, começa a utilizar a simbologia. A função simbólica já está estruturada e começa a fazer imagens mentais, já domina a linguagem falada. Exemplo: A criança tem a possibilidade de vivenciar aspectos da realidade, muitas vezes difícil de elaborar: a vinda de um irmãozinho, mudança de escola ou situações boas como: ser um super-homem, imitar a mãe ou pai. Ou seja, a criança representar papéis, situações, comportamentos, realizações e utiliza objetos substitutos.
Na visão de Vygotsky (1998) o jogo simbólico é como uma atividade típica da infância e essencial ao desenvolvimento infantil, ocorrendo a partir da aquisição da representação simbólica, impulsionada pela imitação. Desta maneira, o jogo pode ser considerado uma atividade muito importante, pois através dele a criança cria uma zona de desenvolvimento proximal, com funções que ainda não amadureceram, mas que se encontra em processo de maturação, ou seja, o que a criança irá alcançar em um futuro próximo.
Para Kishimoto (2002), a brincadeira é o jogo infantil, não existindo diferença significativa em termos estruturais entre ambas as atividades.
Já para Vygotsky (1998) o jogo traz oportunidade para o preenchimento de necessidades irrealizáveis e também a possibilidade para exercitar-se no domínio do simbolismo. Quando acriança é pequena, o jogo é o objeto que determina sua ação. No entanto a brincadeira traz vantagens sociais, cognitivas e afetivas. A brincadeira possui três características: a imaginação, a imitação e a regra. Elas estão presentes em todos os tipos de brincadeiras infantis, tanto nas tradicionais, naquelas de faz-de-conta, como ainda nas que exigem regras. Pode aparecer também no desenho, como atividade lúdica.
A brincadeira é a ação de brincar e segundo Vygotsky(apudBAQUERO, 1998), a brincadeira, o jogo são atividades específicas da infância, na quais a criança recria a realidade usando sistemas simbólicos, sendo uma atividade com contexto cultural e social.
Wayskop (1996), afirma que a brincadeira precisa perder o caráter de jogo e, assim, ganhar confiança para poder mostrar que é útil ao futuro da criança, para poder ser aceita como atividade infantil. Também acrescenta que a atividade do brincar tem sido reconhecida como uma forma mais livre e informal de educação de crianças em idade pré- escolar.
A brincadeira possui um papel criador nas mais diversas áreas da vida da criança segundo o referencial curricular nacional para o desenvolvimento infantil "as atividades lúdicas, através das brincadeiras favorecem a autoestima das crianças ajudando-as a superar progressivamente suas aquisições de forma criativa" (BRASIL, 1998, p.27).
E o que dizer a respeito das brincadeiras modernas realizadas através de games e equipamentos eletrônicos de alta tecnologia? Para Benjamim (2002),os games, jogos virtuais não têm a mesma dimensão simbólica de uma brincadeira com carrinhos ou bonecas. Prescindem da presença do outro, e da materialidade dos brinquedos. Obviamente, são formas que as crianças encontram de falar deste universo que as cerca, de apropriar-se dele ao navegar nas vias eletrônicas, mas a automatização que rege os jogos virtuais apresenta efeitos de apagamento do tecido social que se construiria em presença. Assim como as brincadeiras mudam conforme o tempo e o espaço assim também ocorre com os recursos utilizados para tal realização. Seriam estes recursos os brinquedos?
Como pode ser definido ou caracterizado o brinquedo? Para Kishimoto (2002), o brinquedo é diferente do jogo. Brinquedo é uma ligação intima com a criança, na ausência de um sistema de regras que organizam sua utilização. Ainda segundo o dicionário Ferreira (2003) brinquedo é "objeto destinado a divertir uma criança, suporte da brincadeira", sendo assim ele estimula a representação e a expressão de imagens que evocam aspectos da realidade.
Vygotsky (1998) relata sobre o papel do brinquedo, sendo um suporte da brincadeira e ainda o brinquedo tendo uma grande influência no desenvolvimento da criança, pois o brinquedo promove uma situação de transição entre a ação da criança com objeto concreto e suas ações com significados.
Já Kishimoto (2002, p. 21), relata que "O vocábulo brinquedo não pode ser reduzido à pluralidade de sentidos do jogo, pois conota criança e tem dimensão material, cultural e técnica." O objeto brinquedo é um suporte da brincadeira, é a ação que a criança desempenha ao brincar. Assim podemos concluir que brinquedo e brincadeira estão relacionados diretamente com a criança/sujeito e não se confundem com o jogo em si.
Brougére (1995), em seu livro "Brinquedo e cultura", também faz uma diferenciação entre jogo e brinquedo. Para este autor o brinquedo é um objeto que a criança manipula livremente, sem está condicionado á regras ou a princípios de utilização de outra natureza. O brinquedo é um objeto infantil; o jogo, ao contrário, pode ser destinado tanto a criança quanto ao adulto sem restrição de uma faixa etária, enquanto o brinquedo, para o adulto, torna-se sempre um motivo de zombaria, de ligação com a infância.
As brincadeiras assim como os jogos e os brinquedos trazem consigo diversas características relacionadas seja a cultura a qual a criança está inserida ou a sua faixa etária. A partir de tal observação Sendin (2011), criou o manual de atividades lúdicas. De acordo com o manual as crianças no início da faixa etária de 02 a07 anos ainda gostam de brincar sozinhas e deixar sua imaginação correr solta, mas já estão desenvolvendo habilidades sociais que lhe permitem brincar em conjunto com outras crianças da mesma idade. Muitas vezes brigam (mas logo fazem as pazes) e tem muita energia física para gastar em atividades mais esportivas e brincadeiras que envolvam correr, pular, nadar, andar de bicicleta, patins, etc.
Sua imaginação é muito fértil. Gostam de ouvir histórias e adoram brincar de faz-de-conta e representar todo tipo de papel, fingindo que são bichos e personagens de todo tipo, mas apreciam particularmente fingir que já são adultos. As crianças nessa faixa têm a importante tarefa de separar o mundo real da fantasia. Para isso, utilizam vestimentas, objetos, assim como modelagens, fantoches e livros de histórias. A criança já tem uma maior capacidade de concentração, paciência e persistência. Gosta de desenhar, montar quebra-cabeças, construir cenários (navio pirata, forte apache, casa de boneca) e começa a se interessar pelos jogos mais simples, como dominó, jogo de memória, loto, etc.
No final dessa faixa etária, já aos 07 anos, acriança continua tendo muita energia para gastar. Precisa se comunicar e interagir com os colegas.
Está na idade da sociabilidade e dos amigos, por isso vão tornando-se capazes de entender e respeitar as regras dos jogos coletivos, esperar sua vez e jogar para ganhar, mas também aprender a perder. Sendo importante a partir desta idade começar a inserir jogos que estimulam o raciocínio, desenvolvem a linguagem, a imaginação e a interação humana, podendo proporcionar momentos agradáveis em família ou com os amigos.
A partir de tais observações, baseadas em Sendin (2011), é possível detalhar melhor as brincadeiras e os brinquedos indicados as crianças da faixa etária de 02 a07 anos:
02 anos
Brinquedos que melhoram o desenvolvimento físico e a coordenação como veículos, musicais, esportivos, cozinha com comidinhas, veículos de controle remoto simples e de cenário com tema de animais são os mais indicados. Brincadeiras em parquinhos infantis, que envolvam peças ou apresentações musicais infantis, passeios ao ar livre e brincadeiras com textura da água, da areia, da grama e de outros materiais. Nessa fase, as crianças adoram dançar, cantar e pular.
03 a 04 anos
Brinquedos que estimulem à criatividade e a coordenação são os mais indicados. Brincadeiras com massinha, livro de historinhas, bonecas, figuras de ação e brinquedos educativos. Desenho, pintura, colagem e modelagem. É importante oferecer jogos de montar, lápis, tintas, papel, argila e giz de cera.
05 a 06 anos
Nessa faixa surgem os heróis e as brincadeiras que imitam o mundo adulto. Ofereça lousa, bonecas, casinhas, carrinhos, fazendinhas e imitações de objetos cotidianos, como telefone, caixa registradora e apetrechos de cozinha.
06 a 07 anos
Brincadeiras que estimulem a criatividade e a solução de problemas são as mais indicadas. Brinquedos que também ajudam na atividade física também são indicados como skates, patinetes e bicicletas. Época dos jogos com regras, que estimulam o raciocínio lógico. É importante oferecer jogos em geral (eletrônicos, de cartas ou tabuleiro), para lidar com vitórias e derrotas.
O período pré-operatório (02 a07 anos) é marcado por características peculiares e intensas que com o passar dos anos ganham força e desenvolvem-se através de experiências proporcionadas pelo brincar, principal atividade da infância, contribuindo assim para a formação da personalidade da criança e para o seu aprendizado. Piaget (2005), descreve o período pré-operatório como a transição entre a inteligência propriamente sensório-motora e a inteligência representativa. Para o autor essa passagem não ocorre através de mutação brusca, mas de transformações lentas e sucessivas. Ao atingir o pensamento representativo a criança precisa reconstruir o objeto, o tempo, o espaço, as categorias lógicas de classes e relações nesse novo plano da representação. Tal reconstrução estende-se dos dois aos doze anos, abrangendo o estágio pré-operatório e operatório concreto.
Uma das principais características desse período é o simbolismo que pode também ser considerado como uma emergência da linguagem. Em sua obra clássica sobre a formação do símbolo na criança, Piaget (1978) relata que a função simbólica é a capacidade de evocar objetos ou situações através de várias ações. A constituição da função simbólica, que possibilita diferenciar o significante do significado, permite o reforço da interiorização das ações. Ou seja, a criança tem a capacidade de recordar-se de objetos e ações através de símbolos ou da representação mental.
Mediante a perspectiva em Piaget, Cantelli (2000) afirma que a representação da criança é fundamental para o desenvolvimento da linguagem, socialização e da interiorização da ação, sua reconstrução no plano das imagens e para as experiências mentais. Por conta disso o simbolismo na criança está intimamente ligado às demais características marcantes desse período, podendo ser manifestado através da imitação, jogo simbólico, desenho e linguagem.
Piaget relata em um trecho sua idéia a respeito do simbolismo, demonstrando que ao brincar de faz de conta, ao representar a criança sente prazer, revelando para si e para o outro sua perspectiva a respeito da realidade.
Não é para aprender a lavar-se ou dormir que a criança assim joga. O queela procura é simplesmente utilizar com liberdade os seus poderesindividuais, reproduzir suas ações pelo prazer em oferecê-las emespetáculo, a si próprio e a outros, em suma, exibir o seu eu e assimilar-lhesem limites, o que ordinariamente é tanto acomodação à realidade comoconquista assimiladora. (PIAGET, 1976, p.158)
É através do simbolismo que a criança adquire aprendizado, internaliza ideias e sentimentos e reflete sobre os resultados, esse processo simbólico dá a criança a capacidade de representação e conduz a lógica.
Com a instalação da função simbólica a criança dá origem à imitação, no sentido original da palavra segundo Ferreira (2003) imitação significa reprodução de um modelo, e é responsável pelo desenvolvimento da inteligência representativa na criança. A inteligência representativa pode ser observada quando a criança brinca de faz- de conta, uma vez que já interiorizou a imitação e agora é capaz de elaborar imagens e torná-las substitutas dos objetos e ações que foram percebidas no seu meio.
A imitação para a criança é uma necessidade e não implica em uma cópia do que se vê, mas em uma assimilação e uma escolha que serão modificadas de acordo com a repetição assim relata Steiner (2000), ainda segundo o autor a imitação é inerente a criança da primeira infância sendo de grande importância para seu aprendizado e desenvolvimento. Por ser inteiramente imitativa a criança impregna-se dos modelos expostos no seu meio ambiente e aprende sobre comportamentos, a avaliar quais são adequados ou não para o ser humano, capta ensinamentos e fundamenta sua moralidade. Por isso a importância do adulto dar um bom exemplo a criança
Ainda a respeito da imitação, Goebel e Glöckler (2002) explicam que essa capacidade se dá por meio de percepções, pelo pensar e pela memória corporal. Os autores revelam ainda que essa capacidade está relacionada ao processo de linguagem, pois é através dela que a criança aprende a língua materna e aprende ainda gestos, costumes e até mesmo o modo de andar.
O grande responsável pelo desenvolvimento da imitação na criança é o brincar, segundo König (1997) brincando a criança cria um mundo e repete tudo que se passa ao seu redor, mundo este que permite que a mesma compreenda-se e diferencie-se.
Vygotsky (2007) compartilha da mesma idéia e enfatiza ainda que as crianças iniciam a brincadeira através de uma situação imaginária e que essa situação vai se desenvolvendo até que a mesma atinja o seu propósito:
É notável que a criança comece com uma situação imaginária que, inicialmente, é tão próxima da situação real. O que ocorre é uma reprodução da situação real. Uma criança brincando com uma boneca, por exemplo, repete quase exatamente o que sua mãe faz com ela. Isso significa que, na situação original, as regras operam sob uma forma condensada e comprimida. Há muito pouco de imaginário. É uma situação imaginária, mas é compreensível somente à luz de uma situação real que, de fato, tenha acontecido. O brinquedo é muito mais a lembrança de alguma coisa que realmente aconteceu do que a imaginação. É mais a memória em ação do que uma situação imaginária nova. À medida que o brinquedo se desenvolve, observamos um movimento em direção à realização consciente de seu propósito. É incorreto conceber o brinquedo como uma atividade sem propósito. O propósito decide o jogo e justifica a atividade, determina a atitude afetiva da criança no brinquedo (VIGOTSKY, 2007, p.135).
O simbolismo e a imitação são desenvolvidos durante as brincadeiras e dependem da capacidade da criança de abstração, por exemplo, quando uma criança batuca com uma colher em uma panela imaginando ser uma bateria a mesma realiza tal brincadeira por que abstraiu informações do objeto e da ação necessária para a reprodução do som (batucar) e outras ações como bater, puxar, chacoalhar necessárias para a reprodução de algum som em outros objetos. Essa capacidade desenvolvida e aperfeiçoada durante o brincar é chamada de abstração empírica.
Quando a criança participa de brincadeiras onde a mesma compara, reúne e ordena objetos significa que está desenvolvendo a capacidade de abstração reflexiva. Essa capacidade permitir que a criança realize correspondência entre os objetos, correspondências essas derivadas de ensinamentos de um adulto e mais tarde estabelecidas por seus próprios critérios seja por cor, forma, tamanho e etc.
Brincando de faz-de-conta imaginando que estão dirigindo um carro ou tocando algum instrumento, não só realizando uma ação, mas expondo suas idéias sobre esses objetos, as crianças estão desenvolvendo sua capacidade de pensar nos objetos sem vê-los e imaginar o que eles desempenham. Essa capacidade tão importante para a formação da imitação é chamada de abstração refletida e também é desenvolvida durante o brincar.
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