Um dia vivi a ilusão de que ser homem bastaria
Que o mundo masculino tudo me daria
Do que eu quisesse ter
Que nada, minha porção mulher que até então se resguardara
É a porção melhor que trago em mim agora
É o que me faz viver (...)
("Superhomem", Gilberto Gil)
O ocidente já vive três mil anos de patriarcado e de um mundo dominado pela agressão e pelo poder.
Com todas as transformações sociais e culturais da nossa época, homens e mulheres se sentem inseguros e passam a questionar os seus valores e papéis. O feminismo foi um importante marco de ruptura em relação ao lugar que as mulheres ocuparam durante todos estes anos, possibitando-lhes ter voz e realizar seus desejos.
O feminismo, claro, deixou marcas também no homem. Fez com que ele se voltasse para dentro de si e se visse obrigado a perceber um lado que tem sido renegado e reprimido: o seu feminino, ou anima, como definiu Jung. Podemos entender este feminino como aquilo que se relaciona com o mundo inconsciente, o lado dos sentimentos, intuição, receptividade, emoções e criatividade. Bem como tudo aquilo que se dirige ao sagrado, à alma, ao mundo interior.
Este contato com o reprimido traz à tona uma ferida no homem, pois o coloca diante de um enorme conflito entre o que realmente possui interiormente e tudo aquilo que, por muitos anos, se esperou dele.
Este trabalho tem como objetivo compreender o significado da depressão no homem moderno.
Para tanto, se faz necessária uma análise do que significa o sintoma e a doença, considerando que esta passa do sofrimento e da dor para uma possibilidade de crescimento e desenvolvimento da personalidade.
Há uma reflexão de como estes sintomas podem ser para o homem um chamamento para o encontro com o seu mundo interior, representado pelo feminino, sua anima, e de como este confronto leva a uma autorealização.
Este estudo acompanha uma vivência prática de um grupo de psicoterapia de homens, realizado na UBS "Álvaro Ribeiro", no município de Santana de Parnaíba, permitindo assim comparar algumas questões teóricas com a prática, principalmente no que se refere às características dos pacientes e queixas por eles apresentadas.
Para a fundamentação do trabalho foram pesquisados vários teóricos da psicologia analítica, que desenvolveram estudos relacionados ao tema. A partir daí, foram sendo feitas relações entre as transformações dos papéis sociais com a teoria de Edward C. Whitmont, que tenta demonstrar como nosso mundo, dominado por tanto tempo por valores patriarcais, entra num momento em que o feminino vai ganhando espaço, no que se refere aos instintos, emoções, intuição. Este processo acompanha paralelamente a evolução da consciência, que saiu do matriarcado, passando para o patriarcado e, agora volta, com a Grande Deusa.
Palavras-chave: Depressão. Processo de Individuação. Anima.
O fenômeno da depressão atinge, cada dia, mais pessoas.
Podemos pensar que sua manifestação está associada a valores da sociedade moderna, a uma provável transição pela qual as pessoas estão passando, onde os princípios patriarcais já não cabem mais na vida tanto de homens quanto de mulheres.
A procura por tratamentos psicológicos e psiquiátricos tem aumentado muito. Em paralelo a isso, podemos observar como o campo de atuação da psicologia se amplia, não mais se restringindo aos consultórios particulares, mas passando a atender também às classes menos favorecidas. Nesse sentido, o atendimento é extendido aos órgãos públicos – tais como as UBS"s (Unidades Básicas de Saúde), Ambulatórios de Saúde Mental e CAPS"s (Centro de Atenção Psicossocial) – reflexo de uma mudança na visão da doença mental, cada vez mais afastada dos manicômios e, agora, tratada de outras formas, em geral bem menos violentas, buscando integrar o usuário ao convívio social.
Como profissional de saúde mental na UBS Dr. Álvaro Ribeiro, no município de Santana de Parnaíba, tenho tido uma demanda grande de pacientes homens e mulheres com queixas de depressão, ansiedade, síndrome do pânico, compulsões, entre outras. Um dos tratamentos realizados por mim nestes serviços é a psicoterapia em grupo. Este modelo de trabalho se apresenta como uma possibilidade interessante e necessária, já que a demanda para o serviço é muito grande. Mas, além disso, o trabalho em grupo se mostra muito produtivo no sentido de aliviar os sintomas mais rapidamente, pois permite que as situações trazidas pelo outro possam ser identificadas com as suas próprias questões; ocorre, assim, uma aceleração no processo de crescimento interior dos pacientes.
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