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De acordo com Gisbert (2002), algumas características do burnout são as seguintes:
No que diz respeito às consequências do burnout encontram-se tantas na literatura, que se torna difícil nomeá-las todas. Gil-Monte (2003), sistematiza as consequências do burnout a nível individual e organizacional. Ao nível do indivíduo podem existir sintomas como distanciamento emocional, sentimentos de solidão, alienação, impotência, omnipotência, ansiedade, cinismo, apatia, hostilidade, suspeição, agressividade, mudanças bruscas de humor, irritabilidade e problemas somáticos como alterações cardiovasculares, respiratórias, imunológicas, sexuais, musculares, digestivas e do sistema nervoso. Ao nível organizacional, registam-se uma deterioração da qualidade dos cuidados, diminuição da satisfação laboral, absentismo laboral elevado, aumento dos conflitos interpessoais entre colegas, utentes e supervisores e, portanto, uma diminuição da qualidade de vida no trabalho.
Existem muitos estudos sobre o burnout em enfermeiros onde são analisadas diferentes variáveis e apresentados resultados muito diferentes, o que demonstra a complexidade do fenómeno. No entanto, e de um modo geral, todos indicam que os enfermeiros são particularmente vulneráveis a esta síndrome.
Segundo Spooner-Lane (2004), os primeiros estudos que investigaram o burnout em enfermeiros mostraram que a síndrome estava positivamente correlacionada com a quantidade de tempo que os enfermeiros passam com os doentes, com a intensidade das exigências emocionais destes e com o cuidar de doentes com mau prognóstico. Os estudos mais recentes, diz a mesma autora, mostram que está associado a factores relacionados com o trabalho, tais como sobrecarga laboral, baixo nível de suporte, conflitos interpessoais, contacto com a morte e preparação inadequada.
Howard (1998) realizou um estudo junto de enfermeiras de hospitais canadianos e verificou que factores organizacionais como ambiguidade, conflito de funções e autonomia eram componentes importantes do fenómeno, e que variáveis pessoais como locus de controlo externo, identidade profissional e feminilidade levavam a experienciar o burnout.
Uma investigação japonesa feita por Imai et al. (2004) comparou o burnout entre enfermeiras psiquiatras comunitárias e enfermeiras de saúde pública e concluiu que ele era maior nas primeiras do que nas segundas, com uma prevalência de 59.2%.
Muller (2004) estudou a ocorrência de burnout em profissionais (enfermeiros, técnicos e auxiliares) num hospital brasileiro e verificou que os enfermeiros tinham maiores níveis de exaustão emocional quando comparados com os técnicos e auxiliares, sendo a exaustão emocional maior nos enfermeiros com menor tempo de experiência profissional.
Gil e Vairinhos (1997), referem os estudos de Nunes (1990) e Mendes (1996) sobre o burnout em enfermeiros portugueses. Nunes (1990) realizou um estudo em enfermeiros de hospitais centrais, distritais e centros de saúde e concluiu que apresentavam um nível médio de burnout, sendo este mais elevado nos enfermeiros hospitalares. O estudo de Mendes (1996), realizado com enfermeiros da área de psiquiatria, demonstrou que os factores pessoais eram mais importantes que os factores ligados ao ambiente e que, quanto maior a satisfação no trabalho, menor era a ocorrência de burnout.
Gil e Vairinhos (1997) estudaram os níveis de burnout em enfermeiros de serviços de urgência geral e psiquiátrica de hospitais centrais. Verificaram que os da urgência geral (jovens, maioritariamente do sexo feminino e solteiros, com nível de escolaridade superior e com pouca experiência profissional) tinham nível médio de burnout, enquanto que os da urgência psiquiátrica (mais velhos, maioritariamente do sexo masculino e casados, com nível de escolaridade mais baixo e mais anos de profissão) tinham um nível baixo.
O burnout surge nos enfermeiros de todo o mundo, em diferentes contextos de trabalho, levando-os a desenvolver sentimentos de frustração, frieza e indiferença em relação às necessidades e ao sofrimento dos doentes. Por isso, é importante desenvolver estratégias de prevenção e tratamento.
Segundo Gil-Monte (2003), as estratégias de prevenção e tratamento do burnout podem ser agrupadas em três categorias: individuais, grupais e organizacionais.
As estratégias individuais referem-se à formação em resolução de problemas, assertividade, e gestão do tempo de maneira eficaz.
As estratégias grupais consistem em buscar o apoio dos colegas e supervisores. Deste modo, os indivíduos melhoram as suas capacidades, obtêm novas informações e apoio emocional ou outro tipo de ajuda.
Finalmente, as estratégias organizacionais, muito importantes porque o problema está no contexto laboral, consistem no desenvolvimento de medidas de prevenção para melhorar o clima organizacional, tais como programas de socialização para prevenir o choque com a realidade e implantação de sistemas de avaliação que concedam aos profissionais um papel activo e de participação nas decisões laborais.
Portanto, é preciso que a prevenção e o tratamento do burnout sejam abordados como problemas colectivos e organizacionais e não como um problema individual.
No caso dos enfermeiros, medidas como evitar o excesso de horas extras, proporcionar condições de trabalho atractivas e gratificantes, modificar os métodos de prestação de cuidados, reconhecer a necessidade de educação permanente e investir no aperfeiçoamento profissional (por exemplo, formação em assertividade), dar suporte social às equipas e fomentar a sua participação nas decisões, etc., podem contribuir para a prevenção do burnout.
O burnout caracteriza-se por exaustão emocional, despersonalização e falta de realização pessoal. Pode avaliar-se através de diversos instrumentos, sendo o Maslach Burnout Inventory (MBI) o mais utilizado.
A síndrome tem consequências a nível individual e organizacional e está descrita como um problema de saúde laboral com alta prevalência nos enfermeiros.
Esta profissão confronta-se com escassez de pessoal, trabalho por turnos, contacto diário com a doença, o sofrimento e a morte, falta de autonomia e de participação nas tomadas de decisão, rápidas mudanças tecnológicas, respostas inadequadas das chefias aos problemas organizacionais (burocracia profissionalizada), etc.
A primeira medida para evitar a aparecimento do burnout é conhecer as suas manifestações. Assim, é preciso que todos os enfermeiros tenham conhecimentos sobre a síndrome, sendo também necessário que as organizações de saúde implementem medidas de prevenção e tratamento a nível individual, grupal e organizacional.
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SPOONER-LANE, R. - The influence of work stress and work support on burnout in public hospital nurses. Queensland: University of Technology, 2004. Tese de Doutoramento.
Lic. Mário Teixeira
Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica
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