A finalidade do artigo é apresentar a síndrome de burnout, suas características, consequências, estratégias de prevenção e estabelecer a sua relação com o trabalho dos enfermeiros. Em primeiro lugar, aborda-se o conceito de burnout, suas principais características e consequências para a pessoa e o seu meio. Em segundo lugar, descrevem-se alguns estudos que analisam a relação entre o burnout e a prática de Enfermagem. Finalmente, descrevem-se algumas estratégias de prevenção e tratamento do burnout, reforçando-se a necessidade de encarar o fenómeno não apenas como um problema individual, mas também como problema organizacional.
Palavras-chave: Síndrome de Burnout; enfermeiros
O burnout, expressão inglesa para designar aquilo que deixou de funcionar por exaustão de energia, constitui actualmente um dos grandes problemas psicossociais, despertando interesse e preocupação por parte da comunidade científica e das empresas, devido à severidade das suas consequências, quer ao nível individual, quer ao nível organizacional. De facto, o burnout sendo um estado de esgotamento, decepção e perda do interesse pelo trabalho, produz sofrimento no indivíduo e tem consequências sobre o seu estado de saúde e o seu desempenho, pois passam a existir alterações pessoais e organizacionais.
Esta síndrome acomete, geralmente, os profissionais que trabalham em contacto directo com pessoas, sendo predominante nos profissionais de saúde (Maslach e Jackson 1981, cit. por Silva, 2000 e Borges et al., 2002). Os estudos demonstram que o burnout afecta os enfermeiros, em diferentes partes do mundo e em diversos contextos de trabalho, levando-os a desenvolver sentimentos de frustração, frieza e indiferença em relação às necessidades e ao sofrimento dos seus utentes (Spooner-Lane, 2004; Díaz-Muñoz, 2005).
Acredita-se que, se os enfermeiros conhecerem as características, consequências e estratégias de prevenção do burnout, poderão ter uma maior satisfação laboral e prestar cuidados de melhor qualidade aos utentes.
O termo burnout foi inicialmente utilizado por Brandley, em 1969, mas ficou conhecido a partir de 1974 através de Freudenberger, psiquiatra que trabalhava com toxicodependentes em Nova Iorque. Ele observou que alguns voluntários apresentavam uma progressiva perda de energia até chegar ao esgotamento e sintomas de ansiedade e depressão, e descreveu que eram menos sensíveis e compreensivos, desmotivados e agressivos em relação aos doentes, com um tratamento distanciado e cínico e com tendência a culpá-los pelos seus próprios problemas (Borges et al., 2002; Gisbert, 2002; Benevides-Pereira, 2003; Farina, 2004; Muller, 2004).
Desde então, os estudos tornaram-se gradualmente numerosos e há hoje na literatura diferentes denominações para o burnout. A síndrome é referida como: stresse laboral, stresse profissional, stresse assistencial, stresse ocupacional, neurose profissional ou neurose de excelência, síndrome do esgotamento profissional e síndrome de queimar-se pelo trabalho, o que muitas vezes dificulta um levantamento de pesquisas na área (Benevides-Pereira, 2003).
Segundo esta investigadora, a maioria dos autores está de acordo que o burnout é uma síndrome característica do meio laboral, que resulta da cronificação do stresse ocupacional e produz consequências negativas a nível individual, profissional, familiar e social.
Gil-Monte e Peiró (1997), cit. por Borges (2002), distinguem os estudos sobre o burnout segundo duas perspectivas: a clínica e a psicossocial. A primeira, define a síndrome de burnout como um estado de esgotamento, decepção e perda do interesse pelo trabalho, que surge em profissionais que estão em contacto directo com pessoas, como uma consequência do contacto diário. A segunda, entende a síndrome como um processo que se desenvolve na interacção de características do ambiente de trabalho e características pessoais.
Esta última perspectiva, que tem como referência o conceito de burnout de Maslach e Jackson (1981), é a mais aceite pela maioria dos investigadores. Segundo estes autores, esta síndrome é um conceito multidimensional que envolve três componentes: exaustão emocional, despersonalização e falta de realização pessoal (Gil e Vairinhos, 1997; Howard, 1998; Silva, 2000; Farina, 2004; Muller, 2004).
A exaustão emocional refere-se à falta de recursos emocionais e ao sentimento de que nada se tem para oferecer à outra pessoa. A despersonalização é o desenvolvimento de sentimentos e atitudes negativas, indiferentes e cínicas em relação às pessoas que entram em contacto directo com o profissional. Finalmente, a falta de realização pessoal é a tendência para avaliar o próprio trabalho de forma negativa: os afectados recriminam-se por não alcançarem os objectivos propostos, com vivências de insuficiência pessoal e baixa auto-estima profissional.
Maslach e Jackson (1981), construíram um questionário autoadministrado, o Maslach Burnout Inventory (MBI) constituído por 22 itens em forma de afirmações sobre os sentimentos e atitudes do profissional no seu trabalho e em relação aos utentes. Actualmente existem três versões do MBI: a versão dirigida aos profissionais de saúde, denominada MBI-Human Services Survey (MBI-HSS), constituída por 22 itens; a versão para profissionais de educação, o MBI-Educators Survey (MBI-ES) e o MBI-General Survey (MBI-GS), de carácter mais genérico e contendo apenas 16 itens (Gil-Monte, 2003).
Para Maslach e Leiter (1999), cit. por Muller (2004: 33), o burnout é "uma crise do indivíduo principalmente com o seu trabalho, não necessariamente com as pessoas envolvidas no trabalho". Segundo alguns autores, seria a última etapa do stresse.
Em resumo, a síndrome de burnout pode ser compreendida como um processo que se estabelece gradualmente, e se "inicia com o desenvolvimento de sentimentos de baixa realização pessoal e esgotamento emocional em paralelo. Posteriormente, em resposta a ambos, como uma estratégia de afrontamento ou defensiva, instala-se a despersonalização. Constitui-se em uma fase final ou um tipo específico de reação ao estresse ocupacional prolongado, que envolve atitudes e comportamentos negativos com respeito aos clientes, ao trabalho e à organização" (Borges et al., 2002: 193).
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